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É assim que tem que ser?

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Manhã cinzenta, clima londrino. Mas não importa. Seja lá ou no Rio, eu estava sendo apunhalado por uma canção, mas sentia compaixão. Eu seguia.  Ia a qualquer lugar. Sem rumo, sem norte; sem Deus, sem lar; à própria sorte. Andorinhas voando, soltas no ar; de longe voltando, fugidas em par; órfãs de mãe e pai, Perdidas em meio ao concreto sujo. Em volta, tudo feio; nojento; caminhos, muitos se cruzam sob vento fedorento. Minha Cidade e Cor: angústia, medo. Vida incolor: dor logo cedo. Contudo, há beleza Notei na canção Ela que soava. Me acariciava. Ritmos e melodias, o coro dos enlutados e a letra mortuária; fria como o clima; - bucólico adro. Ó canto acappella!  E lamentos. J unto ao soar do sino, acima da cama de cimento, aos pés da bela capela, de magnífico altar. Vivamente percebi, ao longe senti, ali, todos uníssonos, em seus goles de saliva imbricando-se - e o nó na garganta; as lágrimas rolavam como chumbo abalavam. O chão verde tremia. Sobre ele, pessoas, de preto, vestidas. De

O Outono se foi

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Outono, impunha-se um Sol resplandecente. Céu límpido, explodia em azul bem nítido. Brisa fresca nos abraçava envolvente. Andorinhas voavam perto do ninho. Do céu a noite a se notar as lágrimas das estrelas; A Lua mais perto a brilhar, do beijo se expondo mais bela. Contudo, nada mais adianta, ó, Outono! Tudo arde. Joguem fora suas mantas! A brasa vai embora tarde. Ora o verão, ora o inverno. À sombra, o céu, fora dela, o inferno. O caos lá fora, e nós ao léu. Nos áureos tempos, havia Outono Hoje, somente nos calendários. Pois, ou se está o verão no trono, ou o inverno em solo mortuário. Hoje, não temos controle. Por sorte, sobre o passado temos um norte. Não é saudosismo frugal. Foi-se uma época descomunal. Havia-se maior ensejo com a bela estação autunal. O tempo, eterno presente. Nós que mudamos, envelhecemos. O tempo fica, não vai adiante. Nós que partimos, perecemos. O Outono sempre será. O inverno, o verão… Nós temos que mudar e respeitar cada estação. Portanto, antes de partir o

Perdido em si

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Eis que no vão das sombras, onde o ser se desvela, Em meio à névoa do cotidiano lamento, O homem vagueia, na angústia, na refrega, Perdido em si, em busca de alento. No peito, o eco do etéreo medo, Que ronda como espectro, silente e frio, Da morte, que se avizinha em segredo, Trazendo consigo o derradeiro vazio. Oh, pavor dos mortais! Oh, desespero! Na encruzilhada da existência efêmera, A cada passo o temor primeiro, da finitude que nos cerca e golpeia. Nas horas gélidas do dia que declina, O ser se afoga na miragem do amanhã, Na incerteza que espreita e domina, Sob a fumaça sombria da própria chama. Quanto mais próxima a hora derradeira, Mais nítida se torna a face da verdade, Somos frágeis, efêmeros, na vasta ribanceira, Da vida que nos arrasta, sem complacência ou piedade. E assim, entre suspiros e lamúrias, O homem se perde em sua sina, Na busca vã por fugidias aventuras, Sob o olhar impassível da morte divina.

O vazio essencial do mundo

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Ante a desolada vida, um grito sai de mim. Onde a esperança se esvai com astúcia, em um mundo hostil, um abismo sem fim, Somos frágeis, condenados à angústia. Venturas fugazes em estrelas cadentes, brilham por um minuto, depois se apagam. A frivolidade nos consome, implacável e ardente, deixando-nos perdidos, cegos, sem afago. Sabemos que somos frágeis, perecíveis, Que a morte nos espreita a cada esquina. Mas o mundo continua, indiferente e impassível, nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha. Neste vazio abissal, nosso rumo se perde, sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza. E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede, deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza. Pois, nosso fim não finda o mundo; nossa existência não torna o real; nossa importância não vale um segundo. O mundo sem nós se torna essencial.

A Dança da Verdade com a Mentira

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Na valsa da vida, onde a verdade e a mentira se encontram, Eu danço com passos incertos, sem saber o que é real. A aparência, uma máscara que esconde a essência, Distorce minha visão, tornando o falso natural. Sob um véu, a mentira se disfarça, Vestindo o manto da verdade, enganando meus olhos. Mas em meu coração, uma chama arde, Questionando tudo que meus sentidos alarde. Posso acreditar em uma mentira, achando-a verdadeira, Pois quem sou eu para julgar o certo ou errado? Minha lupa da verdade é falha, a erros está sujeita, e o que eu vejo pode ser apenas um reflexo alterado. Assim, danço com a mentira, com cautela e desconfiança, Pois sei que sua sedução pode me levar à tormenta. Mas também reconheço que a verdade pode se esconder por trás de uma fachada de engano, esperando ser descoberta. Na verdade, na dança da vida, não há certezas absolutas, Apenas sombras e luzes que se confundem entrelaçadas. Como um viajante num labirinto de ilusões à luta Busco a verdade, seja ela uma menti

O minúsculo poder

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Em meio à penumbra, um brilho surgiu,  Um anel de ouro, um presente do destino. Com ele, o poder de ocultar-me, Um sonho antigo, um desejo divino. Diante disso, a moralidade me reteve, Uma questão de certo e errado. Pois com o poder de desaparecer, Poderia fazer o bem ou o mal sem ser notado. Inicialmente, minha mente se agitou com uma torrente de possibilidades.  Eu poderia roubar riquezas, cair em vulgaridades. Porém, à medida que as horas passavam,  a questão moral me atormentava. Pois bem, usei anel. Um segredo profundo, enquanto minha mente corria idéias, sem parar. Mas em todas as possibilidades que passavam, a velha ética vinha me afrontar. Um dia, passei por um espelho dourado, Com ornamentos bem detalhados, um espetáculo para ser visto. Olhei para o meu reflexo, nada havia notado. Apenas um vazio, um espaço que sempre me via bem quisto. A princípio, pensei que o anel estava em minha mão, Porém não! - percebi com espanto. Eu era invisível, sim, mas não por um anel, Era minha es

A centelha que move a vida

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  A angústia emerge como um grito da nossa pífia sensação liberdade e da consciência necessária de nossa finitude. Ela transcende o mero estado emocional, revelando-se como catalisadora de questionamentos profundos sobre o propósito da vida e sobre o confronto inescapável com nossa própria dolorosa existência. De fato, a angústia se revela como a força motriz que impulsiona a roda da vida, incitando-nos a buscar significado e compreensão em meio às complexidades do ser. A angústia, portanto, é a centelha primeira que acende a luz da vida e vai queimando até os confins da nossa existência. (Imagem: Washington National Cathedral Gargoyle)