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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Apolítica


Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas.

Depois dos tristes fatos ocorridos na política global, entre guerras, assassinatos e violências diversas, viu-se uma debandada - agora da esquerda - não por julgarem a oposição superior, mas porque descobriram que ambas as tribos partilham da mesma capacidade de desumanizar. O choque não foi contra o outro, mas contra a própria ilusão de pertencer a uma comunidade moralmente pura.

Durante muito tempo, a crença sustentava que “o nosso lado” era o da empatia, da justiça, da liberdade - enfim, do amor. Essa crença conferia identidade e sentido. Mas, ao assistir a desumanização de indivíduos não como antagonistas de ideias, mas como ser humano, a ilusão caiu. Descobriu-se que a tribo da moralidade superior também se deixa guiar pela mesma cegueira que acusa no adversário.

Esse despertar é assustador. Ele obriga a perceber que construímos parte de nós em torno de uma mentira coletiva. Pois, não é possível carregar uma narrativa por muito tempo. Alguma contradição sempre aparece. Com isso, ou mente-se para sempre - criando malabarismos para justificar-se - ou leva um susto e muda. Mas o susto carrega uma promessa: a de libertar-se da lógica tribal. Pois se nenhuma comunidade possui o monopólio da moralidade, a liberdade começa quando nos tornamos capazes de pensar sem as correntes ideológico-partidárias.

É preciso lembrar que renunciar às identidades tribais não é renunciar à política, muito menos à própria identidade. Ao contrário, é o caminho para reencontrar o espaço público como lugar plural, onde o outro não é inimigo, mas oposição - quer discorde dele, quer não. Assim sendo, nota-se que a verdadeira liberdade nasce dessa renúncia: quando o pensamento deixa de ser ditado pelo medo de trair a tribo e se abre para a condição humana comum.

Logo, se há um legado possível diante da violência, talvez seja este: a consciência de que nenhuma tribo nos salvará. Apenas nós, em nossa capacidade de agir sem ilusões de superioridade, podemos reconquistar a liberdade da mente e o sentido da política.

domingo, 17 de agosto de 2025

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas, que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade viesse pirateada, com todas as etapas e funções desbloqueadas, atualizadas e traduzidas para o grego, enquanto eu descansava em minha mansão de frente para o mar Egeu.

De volta ao Oceano Atlântico, mais precisamente à Baía da Guanabara, é de se admirar tamanha ousadia: o pós-estruturalismo nos prega situações dignas de… se amar. Sabe-se que tem aquele cara que é viciado em leitura — e até aí, tudo bem. Mas, convenhamos… Passar 24 horas por dia agarrado às brochuras dos cânones franceses pós-modernos, como se a retina estivesse em ininterrupta sociedade com a benzoilmetilecgonina, é dose! Essas e outras situações foram constatadas, pelo menos nos últimos 4 anos, que tais indivíduos chegavam a níveis transcendentais a ponto de uma socialista-psicóloga ter que consultar a bibliografia inteira de Michel Foucault antes de postar que o verbo “vencer” é opressor demais para ser enunciado.

Se Foucault estivesse vivo, provavelmente teria um canal no YouTube e uma conta no Instagram para explicar como o poder opera por meio dos stories e reels.

O pós-estruturalismo oferece ótimas ferramentas para desvelar o mundo como ele é e escancarar toda sua complexidade fluida - e asquerosa. Imaginem só, um mundo moldado por uma pessoa que não para de tagarelar coisas aleatórias? Numa hora tu estás diante do belíssimo Estádio do Flamengo lotado por sua torcida. Daí, você se vira. Poucos segundos depois, quando você olha de volta, dá de cara com uma imponente mesquita com arquitetura da “Magic Kingdom” da Disney World; ao fundo uma imensa roda-gigante, enquanto que os líderes religiosos vestidos de Mickey Mouse, MC Pipokinha, Bumblebee e Optimus Prime, andam pra lá e pra cá pregando aos berros: Meditem! Meditem!

Partindo disso e admitindo que o discurso constrói a realidade, temo que o meu mundo tenha sido erguido sobre fundamentos linguísticos por ordens diretas do tipo “Vai chupar um canavial de rola”. O resultado seria uma civilização peculiar, em que o setor primário da economia teria forte apelo oral e as aulas de geografia envolveriam mapas agrícolas extremamente constrangedores. Imaginem! Até uma Bolsa de Valores de commodities, só que com cotações baseadas em produção de… Bem, prossigamos.

O pós-estruturalismo já nos avisou também: não existe significado fixo, permanente. O que há, de fato, é só um jogo infinito de interpretações. Traduzindo para a vida prática: você nunca sabe se a pessoa disse “Vá chupar cana” ou “Vá chupar rola”. E ainda tem gente que acha que isso é um problema moderno. Não, é um problema antigo. Desde a época das primeiras civilizações, dos nossos antepassados longínquos. Evidentemente, o vulgar “vá chupar um canavial de rola” já foi proferido pelos mais diversos idiomas, pelas mais remotas civilizações. Só que agora as redes sociais deram ao discurso o equivalente a um megafone interplanetário.

Pois é! Vivemos em um tempo onde o discurso não é apenas o que você diz à algumas pessoas, mas o que você posta e o mundo inteiro lê ou vê imediatamente - e, mais recente ainda, agora o mundo inteiro fica perplexo diante das conflitantes peripécias que a Inteligência Artificial produz. Sem contar o fato de que o que você posta não é exatamente o que você quer dizer, mas o que você acha que ficará bonito com um filtro e a mesma dancinha de sempre, é claro! É a “vida líquida” - conceito de Zygmunt Bauman; já eu, chamo de “mundo rosa” -, aquele em que todos estão felizes, são inteligentes e incrivelmente bem iluminados. E o que ilustra muito bem são o Instagram e o TikTok. Eis a nova Metafísica: todos têm uma essência muito próspera e meticulosamente editada por filtros, efeitos e, claro, discursos/ linguagens vazias sob uma dancinha asquerosa.

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...