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Por exemplo

O que dizer do sofrimento? Muitos querem escondê-lo, porquanto, explícito é. Nada irá satisfazê-lo, enquanto se carece de fé. Será? Portanto, qual seria o apelo, se, se nadam contra a maré? Por favor: Fé, apelo ao Senhor? Nada disso é labor. Necessário é: Amor. E com o pé estar; o chão que faz andar; sentir o sabor; da vida, do sangue... Da flor. Ciente de tudo: Do pesar à alegria. Sê cético, e razoável. Mantenha-se, sem festa ou louvor. Entretanto, apenas uma coisa: Vida sem dor. Por quê? Sofrimento, lamento e apelo: É dor, é pavor.

Soneto em dó maior

Tamanha saudades sinto de mim. De épocas em que o céu me acalentava; que, mesmo em terra, parecia que nele eu pisava; quando em minha torre, a vastidão de um imenso jardim. Hoje, só, sinto minha falta; mergulhado estou, num momento de reflexão. Com a baixa estima em alta, algo segue contra qualquer comunhão. Os pensamentos se colidem com o nada; Ao fundo, Tchaikovsky flutua sem sentido; sigo sem o eixo das abscissas e ordenadas. Sinto-me como a um violino partido, numa sinfonia bem orquestrada; ou num pequeno soneto destruído.

Hoje fui honesto

Rompi com a dissimulação. Como é bom! Dar um passo a frente, sem olhar a direção; seguir serenamente. Sem medo das ruas, das encruzilhadas; do sinal fechado… A mente turva? Por hoje, não mais. Seguir em frente ou fazer a curva? Tanto faz... Ser, vontade, pulsão. Acabar com os filtros; saber que o devir é mera ilusão. O ser é. Seu estado é bruto. Não precisa acreditar, ter fé, para depois ficar de luto. Mudar-se para a sociedade; transformar-se para si mesmo: Um ato vil, de desonestidade, o autêntico ser funesto. Não preciso viver na vitrine; não desejo me modelar. O mundo é uma dada cabine, qual eu pretendo estourar. E muito grato, não pretendo mudar. E não vou por alguém caminhar; atravessar os rios da vida. Por mim sim. O farei. Sou o autêntico veleiro. No verão, ou no inverno; sem a tentação ou algum padroeiro; sem céu, nem inferno.

Hoje eu menti

À uma escultura, não me declarei. Não fui capaz de dizer, eu sei, o quanto ela é bonita, estática! Espirituosa, maravilhosa, estética. Devido a essa incapacidade eu menti. A mim mesmo, enganei. Disse então em tom de ilusão: Não me declarei por um motivo; um motivo fútil, bobo, sem noção. Tramei uma escultura bruta; indigna de qualquer exposição. E passei a acreditar nesta burla. Que pecado! A loucura mora ao lado (ou dentro). Não, melhor dizendo: A loucura sou eu! Me ludibriar, e achar salutar... A que ponto cheguei? Por que fingir? Por que mentir? Declarar-se é saudável, é viver! Neste mundo espúrio, revolucionário é ser autêntico. Porém hoje, só hoje, eu menti. Há veracidade em minha confissão, pelo menos. Mas a confusão, tenho em mente. Amanhã mentirei novamente? Serei sincero? Não há uma resposta lúcida agora, mas não mentir, espero.

Sem nome

Infância; uma época; alegria. Amadurecimento; outra época; melancolia. A tristeza atual se deve a um passado magistral. Visto que, quando criança, a tudo se detém; dona do mundo, do céu, do Sol e das estrelas. Porém não se discerne o que é perder; não se sabe, que as coisas perecem; nem possui o tato para as diversas mudanças. Mas chega uma hora... E a sensação é sempre de que algo fora arrancado. Fica aquela saudade; é sempre doloroso largar a inocência. Infância; uma época; melancolia. Amadurecimento; outra época; alegria? Pode-se existir júbilo se há um passado mau? Visto que, quando criança, nada se tem; dona do mundo, do céu, do Sol e das estrelas? De fato, sabe-se somente o que é perder; não só, também, que todos perecem; nem possui o tato para as diversas mudanças (óbvio). Mas chega uma hora... A sensação é sempre de nenhuma bem-aventurança. Surge, então, um leve desapego (eis a questão): É sempre doloroso largar a infância?

Nietzsche, um soneto diante de tudo

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Não preciso abrir os olhos para ver Nem para chegar tão cedo, correr A bruta consciência não sou eu O leve pensamento não é meu O que é que na verdade eu sou? O suave som que desliza pelo ar? O revolto rio que encontra o mar? No tempo, a potência no apogeu Nenhum céu ditoso sobre mim paira Ou sob uma terra infausta piso Que a Terra suba ou que o céu caia O que é o bem, o que é o mal? Quem está acima de um ou de outro? Ninguém é mais digno por sua moral

Sempre a essa hora

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Sei que é noite porque está escuro Sei que está silêncio porque não há barulho O céu chora gotas de diamantes O tempo suspira como dois amantes Tudo se encontra estático Parece o mundo estar inativo Desde a uma criança sem brinquedo num pátio A um apaixonado coração partido “Eppur si muove”, sabemos Galileu Porém, agora, nem se move uma folha Será que o tempo morreu? Ou nos encontramos dentro de uma bolha? Essa quietude não amedronta Nem a nada, também, ela anima Não a considero como uma afronta Tendo como prova esta rima