domingo, 15 de março de 2020

Fugindo de mim mesmo

Ora acho que o mundo me ama
Ora sei que todos me odeiam
Mas o amor é ilusão que se emana
E sei daqueles que me rodeiam
Eu mesmo tenho um desapreço
por mim e vontade nula somente
Anseio o avanço dos ponteiros
e que eles parem exatamente
no momento de minha liberdade
Enquanto presidiário de mim mesmo
A lucidez não se desfaz totalmente
A acidez também na mesma medida
Mas talvez eu fique, solenemente
Até mesmo na hora da minha partida
Na verdade sei muito de mim
Até quando me desconheço
Sei quanto é meu valor, meu preço
Sou uma moeda de dois lados bem pesada
Cara, uma face imóvel prateada
Coroa, um número que nao vale nada

sexta-feira, 6 de março de 2020

Nossos votos, nossas escolhas?


Muito se fala em escolhas no entanto
Ah se pudéssemos escolher!
Se de fato isso pudesse acontecer
Não estaríamos fadados ao perecimento
a um atroz destino doentio

No mundo só haveria de ter felicidade
caso o poder da escolha pudesse se verdade
Mas não… Vê-se que não é assim
Só há guerra, exploração, destruição
Quer saber? Pergunte-se:

O que se deseja de bom construir?
A intenção em extinguir é mais forte?
(Talvez estejamos sem sorte)
Será que de fato algo nós elegemos?
Se sim, com isso novamente pergunto:

Somos doentes, todos juntos?
Vide as atrocidades que cometemos
Tudo bem, algumas escolhas fazemos
Isso é bem óbvio, contudo
é tudo muito supérfluo, que é bem quisto

Porém há algo elementar
Que ao luxo não podemos nos dar
Ao de escolher o rumo
não somente da vida pessoal
mas do mundo a nossa volta

Quanto a este não me refiro a sua natureza, à Terra em si.
E sim ao modo como consumimos o planeta,
de como nos tratamos, nos relacionamos também
Isso tudo é uma escolha?
É doente o nosso princípio? Nossa intenção?

Ora não deliberamos os instintos
E o que dizer do uso da razão?
Seu mal uso é o motivo dessa aversão
Há uns que persistem, resistem
Outros, em fazer o mal insistem

O universo agradece a nossa atuação
Há calor no inverno, há frio no verão
Foi uma escolha cabal?
Decidimos assim, então
à marcha fúnebre na direção do canhão?

Afinal de contas, as escolhas têm poder?
Se sim, medo de humano tenho de ser
Teria medo de ser qualquer ser vivente
Teria medo de ser essa Terra linda azul
Bela por si só porém cheia de gente doente

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Onde estamos?





Enfim, ao inferno cheguei
Tudo aqui me é familiar
logo percebi e estando cá
Não muito me abismei:
Do famoso lugar de onde vim
Igualmente aqui tudo é afim

Eis o inferno, portanto
Onde se há discursos fraternos
amigos sinceros, mas muitos prantos
É um explorando o outro
Esteja de trapo, uniforme ou de terno
A maldade está nos quatro cantos

Visando apenas o próprio bem
o acúmulo de riquezas é a meta
Não é daqui que as facções vêm
nem os profetas, nem os poetas
Ou qualquer sociedade secreta
Pois as coisas aqui são abertas


Tudo às claras, transparentes, brancas
De “boa intenção” têm tantas
Ludibria-se a quem aqui manda
Todos roubam, são corruptos
Aliciam, desvirtuam, são sujos
Por qualquer coisa matam

Há também aqueles “isentões”
Pregam a paz, geram revoltas
Mas tudo por alguns milhões
Sejam de "likes", grana, "visualizações"
Estes motivam findar o sistema
Até que seria muito legal

Imagine! Ao inferno dar um fim?
Só que não, não será assim
Outros o assumirão de forma natural
A tudo que lhes convém promovem
Todos igualmente anseiam o poder

Por ele matam e até morrem

Pense: estar no controle do inferno…
É belo, porém, arriscado
Almejado se é por tantos outros mil
Um covil não só de lobos
mas de amarga gente vil
Deste lugar nem me despeço

Ora, apesar de todo esse retrocesso
Aqui jaz o futuro de outrora
O que foi ontem não seria o agora?
E o que está por vir, o futuro
Não seria de novo o passado?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Conheça-te



Um jovem guerreiro estava muito mal
Ele não sabia a fonte do seu problema
Coisas turvas como um lamaçal
Correu à janela do castelo com um tema
A vista era de uma lua quarto crescente, linda Iluminando parcialmente tudo à sua volta
Ofuscada por tenra nuvem e resistente
Majestosa, imóvel, imóvel eternamente
Como se disponível para seus lamentos
À Lua, não adiantou resmungar

Então, o jovem, pôs-se a, com um grilo, uma conversa tentar
Mas antes, a si mesmo questionou:
"A certeza é uma condição para o conhecimento?"
O grilo achando que a pergunta lhe era direcionada, respondeu:
"Há muito existiu um homem
Ele tinha certeza de ao menos uma coisa…"
Curioso, o cavaleiro, ao grilo retorquiu:
"quem seria esta pessoa?"
Ignorando sua pergunta continuou o inseto:
"a lua nos ilumina, correto?

Porém, ela não tem certeza disso
E a luz que de si emana, não é sua
Esta lhe é emprestada
Uma realeza sem luz própria, a Lua
Que pelo Cosmo, fustigada
Porém, tem ciência de si mesma
E como ela tem certeza disso, coitada?
Por conta do rei Sol
Que a ela se apresenta com rara beleza
Levando a paixão à Lua jovem princesa"

E o grilo não parava de falar:
"há momentos em que o Sol se esconde
E a nobre alteza, fica sem companhia
Na penumbra morrendo de frio
Não tendo certeza de quando virá novamente o brilho 
Além do mais, seu conhecimento lhe deprime
Ainda que com pouca ciência disso
Vê a si mesma como uma bola fria
Ora cheia, ora vazia
escura e solitária na vastidão do universo

Uma triste princesa com sua importância
Incerta vagando ao léu
Deposita seu amor na esperança
Numa cega confiança
Que, um dia no infinito céu
Se juntará ao Sol, seu estimado
Tendo assim eternamente sua companhia
Inocente Lua fria…"
Ao grilo o guerreiro agradeceu mais sossegado
E consigo pensou profundamente:

"Será que a falta de certeza em alguma coisa
é o que na minha vida me priva de certo conhecimento?
E se o conhecimento, na verdade, não passa de uma ilusão?  
Não é isso o que me deixa, angustiado e frustrado, então?
Será que carece-me esperança, fé?
Poderia eu deixar tudo de lado
Não se é habitual nadar contra a maré
E talvez fosse melhor nem distinguir o certo do errado
A tudo esquecer, um pouco espairecer
Deixar a vida viver e segui-la a seu lado
Apenas ser, estar, sentir o caminho
Seja parcialmente iluminado, ou não
Seguir àquele qual ilumina todo o meu chão 
Ir ao acaso com os que me cercam
Desde uma majestosa e solitária Lua a um grilo tagarela bem esperto

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

A fúria dos Titãs



Do alto da montanha presencio
Tempestade ao norte e ao sul
Sua eletricidade me causa arrepio
Nuvens densas sob o céu azul
Estas, açoitadas por dois Titãs
com chicotes de prata em chamas
Iluminam-se, deveras espantadas
Caóticas contendas luzentes
que o céu cruzam subitamente
Incomensuráveis estouros ecoam
Violentos, à barreira do som transcendem

Gotas de suor respingam do céu
São milhões delas cintilantes
O monte fica qual uma noiva sob véu
Devido aos esforços dos gigantes
Talvez sejam doces lágrimas
Pois em suas histórias de mil páginas
Deuses guerreiam por aqueles que oram
e no lugar dos mortais, Eles choram
Assim a Terra treme e todo meu corpo
É uma força muito impressionante
Eu, mero mortal, sentir a fúria dos gigantes

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Onde fica o cemitério?



Rock and Roll, músicas obscuras, sinistras, gênero musical peculiar. Death Metal, Black Metal, Grind Core, Gothic Metal e etc… Uma bela adolescente, rotulada como "roqueira gótica", inteligente, intelectual; com ar rebelde, mas bem caprichosa; boa vivant, uma mulher independente... Esta jovem moça curtia - além das músicas citadas - livros de grandes escritores existencialistas, os de terror também e filmes do gênero. Além do mais, era costumeiro passar a noite em cemitérios com amigos roqueiros em alguns fins de semana. Ela não possuía medo algum enquanto no cemitério ou medo de o que poderia surgir como sobrenatural, sombrio e etc. Afinal seu hobby era lidar com esses assuntos, seja na música, no cinema ou literatura. Tornou-se hábito. 

Então, passaram-se alguns anos.

Eis, numa dessas belas noites no cemitério ela avistou algo disforme, de aparência horrenda no pé do cruzeiro das almas. O ser não refletia luz alguma, muito menos dotado sua própria (natural em visões mediúnicas, em se tratando de seres - como o nome já diz - iluminados); a aparição era muito opaca, muito escura... Se contorcia, como que movimentos parecidos de alguém sofrendo muita dor e, na medida que esvaia, paradoxalmente, se recompunha; ora como uma fumaça, indo em direção ao céu, ora como uma chama preta plasmática se retraindo para o interior da Terra. 

A jovem não conseguia identificá-lo. Sequer via o que poderia ser um rosto claramente; algo como se fosse uma boca aberta como num gesto de um grito doloroso, as mãos saindo do que seria o tórax do ser; "pernas" se debatiam; assim como o que seria a cabeça também. Só a jovem roqueira conseguia ver tal cena, de fato. Ninguém mais. Por mais que ela apontasse, explicasse o que se apresentava a ela, seus amigos não conseguiam enxergar nada além do cruzeiro das almas - que permanecia solitário, solene. Então, ela desmaiou de tanto medo que sentiu. Seus amigos se atentaram à gravidade da coisa, deixaram o lazer no meio da madrugada e levaram-na para casa. 

Enquanto no seu quarto, após muita reflexão, adormeceu como um anjo. Acordou beata. Queimou tudo o que foi discos, camisas e livros. Largou todos os seus costumes, sua ideologia e foi para a igreja evangélica. Só que a coitada ainda permanecia vendo tais fenômenos parecidos com o que viu no cemitério, até mesmo dentro da igreja; ou dentro das igrejas católicas, nos terreiros de umbanda ou candomblé que ela passara a frequentar depois de ter largado a igreja evangélica achando que não solucionaram seu caso. Por onde ela ia, volta e meia, se deparava com cenas e fenômenos de tal natureza. Não só em locais de cunho religioso.

Por fim, o “problema” não era a música, filmes ou os livros - pensava a jovem - muito e seus amigos. Puta da vida, voltou a comprar suas camisas de rock, ouvir suas músicas "pesadas”; voltou a ler seus livros prediletos, assim como os filmes do gênero de terror, suspense… Readotou sua filosofia de vida de outrora, qual era muito feliz e sentia-se viva. Então a pergunta que ficou no ar, por conta dos amigos, foi esta: Vais frequentar cemitérios conosco? Ela respondeu: E por que não? Dentro e fora dele para mim agora é tudo uma coisa só.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Trovoada sem estrondo


É no silêncio que minha voz entoa;
retumbantemente afora ecoa,
advinda da mais pura fonte.

Pensamentos — não mais que lamentos,
tormentos, quaisquer ócios do dia —
traduzem-se em música, em poesia.

Fatos de outrora, enevoados,
rompem ansiosamente tais barreiras;
voando como venenosos dardos,
abrem-me à fronte uma clareira.

Momentos dolorosos, tristes,
que no inconsciente dormem,
despertam em minha vigília,
advertindo-me à noção do ser humano.

E, por ser humano, a dor compartilho.
Dói, contudo…
O que seria da alegria, não fosse a dor?
Do perfume, sem a flor?
Ou do dia sem a noite?

Nada é tão desesperador.
Vivem: o infeliz, o injusto e o sádico —
todos em perfeita harmonia.                

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...