domingo, 8 de abril de 2018

Porre nº 2


Este porre vai ser um paradoxo em relação ao primeiro. Um porrezinho suave, nada além da conta. Enquanto assisto aqui o velho sabiá indo pra gaiola; coleiros cantando a razão; bem-te-vi jogando alpiste fora; e o patinho nadando no lixão. Se liga só! O espaço qual vivemos está se alterando. O pássaro está indo para a gaiola, as cobras estão soltas. Alguns répteis, e outros insetos, apresentam-se contra toda fauna. Algo perdeu a sua essência. Existe um movimento muito forte, uma onda. Há uma guerra, seja visível, palpável ou não, ela está presente também no âmbito metafísico, na essência de cada cidadão e que essa força a tudo sintetiza. Tudo se move e se constrói. Se molda, se refaz. Tudo acontece como em um embate. Explico: Nada existiria sem uma oposição, sem as contradições. Mas a medida que o tempo passa, esse choque, essa reação, se torna mais violenta. Quer dizer, os opostos, ou estão muito distantes um do outro vindo a se encontrar numa velocidade muito grande, ou estão relativamente próximos, mas carregados com muita potência reativa.

Nada se destrói, apenas se resume, se personifica. Da mesma forma que, hoje somos, mas amanhã não mais. Nos mesclaremos a algo, seja materialmente ou em essência, em espírito. Não o espírito, segundo Alan Kardec, mas o espírito conforme definiu Hegel. A realidade como espírito, como um todo. Mas que esta não deixa, também, de ser uma parte em uma outra, formando um todo. Um conjunto contido em um outro maior, e assim sucessivamente. A realidade qual estamos é como um movimento, processos, e não somente como coisa única, estável. Hoje estamos felizes, mas acordamos tristes. Ontem consumimos. Hoje não mais.

Todavia, para isso, não pense individualmente. Pense em um mundo inteiro assim. Acordando, indo dormir, pensando, se contradizendo, se chocando. Ora consumindo, ora economizando; amando, odiando. Esse duelo, essa dialética toda, se apresenta como um organismo, um movimento, uma substância. Tristeza, alegria, vitória, derrota. O céu e o inferno. Liberdade, prisão... O que realmente nos cabe, referente a estes opostos? O que é ser feliz, ou estar triste? Estar no céu é realmente sublime? Não existe sempre um "céu" melhor do qual se está inserido? Pensando assim, o inferno vai ser sempre o agora, não é? O que nos mantém presos, e o que é liberdade? Qual a síntese nisso tudo?

Isto posto, por falar em felicidade, será que ela, de fato, existe? Por acaso, se encontra, a felicidade, em uma nota de Real? Você vai à loja e pede 1 kg de felicidade, ou no supermercado 2 metros de alegria, ou vai na concessionária e compra 3 graus de paz? E estaria realmente preso aquele que vive isolado, enclausurado, cerceado? E quem está livre, realmente pode ir e vir sem problemas? Pensar, se expressar, se realizar? Se você concorda com o “sim”, ótimo! Digo, então, que não estamos pensando matemática, filosófica e fisicamente por igual, mas respeito a tua assertividade.

Então, escrevi essa idiotice toda, porque, recentemente, li na internet, que uma jovem fez plásticas e operações, algumas mudanças, ou melhor uma reforma estética em seu corpo. Gastou uma fortuna para ficar parecida com uma modelo famosa. A jovem menina fez muito sucesso com isso e, inclusive, foi convidada para aparecer com todo o seu charme e sua beleza em uma revista. Ou seja, ela fez um audacioso e lucrativo investimento. Bingo! O investimento certo, acarreta em lucros. Lucros, para alguns, é sinônimo de alegria. Ou simplesmente a felicidade, a realização da moça em exibir-se, isso também conta. Mas existe pessoas que não conseguem, não só ver alguém feliz, como também, ficam desesperados ao se depararem com alguém que ascende social e financeiramente.

A felicidade baseada em bem material é supérflua, é rasa. Mas será mesmo que ela existe? Não estou aqui para dizer que sim, ou que não. Cada qual que seja feliz com o que quiser, como quiser. E se quiser ser infeliz também, maravilha! Mas o que leva a uma pessoa a sentir ódio por outra que está feliz, ou com grana? Seria egoísmo, tipo “se ela conquistou, então está tirando o que no futuro poderá ser meu"; "se ela tem, então é algo que na verdade me foi tomado”. É uma hipótese superficial? Não sei, não fiz pesquisas, estou no segundo porre.

Retornando, então, ao caso da jovem modelo, ainda na rede social, que dentre os milhares de comentários, eu parei meus ardidos olhos em um destacado que pareceu-me poesia: “Ela gastaria muito menos se fosse em uma biblioteca estudar, e ficasse parecida com alguém inteligente [...] e porque não encara uma louça pra lavar, ou uma pilha de roupas pra ficar igual a uma mulher digna [...] ela podia “subir uma laje”, suar seu “corpito” por um salário honesto”. Nessas horas vejo Nietzsche se contorcendo no túmulo, como se placas tectônicas quisessem fazer embaixadinha com uma bola de futebol.

E por acaso estou pensando aqui, tentando imaginar, Nietzsche jogando bola. E o mais fantástico: este belo filósofo alemão, marcando o oitavo gol no Brasil, na copa de 2016. Realmente fiz uma viagem. Humano, demasiado humano... Seguindo essa "viagem", fui ao século 19, época do querido filósofo. Tão logo, me aprofundei mais no tempo e, lhes digo, um tempo não muito legal na nossa história. Muito pior que o "7 a 1". Não no Mineirão, ou Maracanã, não! Foi na Vila, mas não a Belmiro. Século 16, Vila de São Vicente. Por quê? Para explicar os tempos atuais.

Sabe-se que a escravidão ainda existe, nos moldes modernos. Mas como os casos do Brasil Colônia (1530 - 1822), nem tanto (será?). E o Brasil foi o último país no mundo a frear esse modo escravista e o fez por puro interesse de classes abastadas. Por lucros. Foram 300 anos de… Sei lá! Não tenho adjetivos. Nos dias que correm, ainda há pessoas (que são meros escravos dos modos de produção capitalista), que possuem a doce alma de senhor do engenho. Ouve-se: “por que não vai capinar um terreno? Vai catar latinha, isso sim é ganhar dinheiro honesto!". O brasileiro não esqueceu o período colonial, e o período colonial não esqueceu o brasileiro. E o pior quando se ataca às mulheres, pensamentos tão nefastos quanto qualquer modo de escravidão: “Por que ela não vai lavar uma louça para se tornar uma mulher digna?”

Eu vejo muitas pessoas dignificando coisas tão violentas... Não é legal você sofrer para trabalhar, não é legal você trabalhar para sofrer (tá, isso foi papo do primeiro porre). É que tem-se mania, ainda hoje, em achar que o carinha lá suado, carregando peso, martelando uma parede ou catando latinha, como subsistência, é digno e nobre. O machismo entoa: "uma mulher, para realizar um trabalho honesto, tem de ser na cozinha". (Onde parece que é a sua especialidade, prática de magnânimo orgulho). Ademais, aquela que vive da arte, por exemplo, reforçam os machistas: "não é uma pessoa lá tão admirável assim, porque deve ser tudo drogada, de vida fácil. Trabalham à noite, com vagabundos...".

Degustar as “corretas” palavras de pessoas “maravilhosas” que “entendem” tudo sobre trabalho e dignidade, moral e ética, quando dizem que “fazer trabalho sem suar, não é trabalho. É a inutilidade de um salafrário”, é indigesto! Desses ofícios que citei acima, não me refiro a eles sob o olhar de não se orgulhar em fazê-lo. Não! Pelo contrário! Deve-se realizá-lo com um propósito maior, salutar, com amor, ao coletivo e não como um meio de se ganhar um trocado do "sinhozinho", ou em troca de um prato de comida, ou somente para mostrar a uma parcela da sociedade que está trabalhando para não ser tido como bandido. Ninguém precisa provar nada a ninguém. E volto ao papo do porre número 1: Prato de comida, é obrigação estar na mesa de todo e qualquer ser humano, ou melhor, alimentar-se é um direito sagrado, natural a qualquer ser vivente.

Qual prazer o camarada sente quando se depara com outro, carregando saco de cimento debaixo do Sol, catando lixo, capinando um terreno? Tudo bem, isso é trabalho, ok? Não estou aqui para dizer o que é digno ou não; o que é o trabalho perfeito, ou um trabalho desmerecedor. Não! Cada qual sabe o que faz. Acrescento que qualquer trabalho nada mais é do que a venda de sua força. Mas não é isso… Pois me flagro em situações, provenientes de algum desalmado, incitando a um coitado, muitas vezes desempregado, geralmente baixa renda, pobre, desocupado, que este vá varrer um quintal, lavar um carro, ou um banheiro. Que caralhos a pessoa tem de pensar que trabalho é modo de servidão? E o pior: lavar, varrer, martelar, sofrer debaixo do sol, em troca de que? Em troca de nada, óbvio! Pagar bem ninguém quer? Contratar, CLT, sindicatos, benefícios, qualidade de vida, ninguém oferece, né?

Tirando o fato do camarada estar sem fazer nada, ou se faz algo que lhe convém, ou da menina que quer se expor e fazer disto um meio de lucrar, o trabalho sem receber nada justo em troca é uma oportunidade da classe social abastada anotar na sua agenda de que estes são vagabundos. Daí surgem as poesias "vai trabalhar, vai encarar um tanque cheio de louça; por que não varre um chão?". Então, trabalhar de graça é digno, é honroso e ficar sem trabalhar, ou ficar parado é coisa inútil? (Estou vendo que não saí do porre nº 1). Assim sendo, a servidão é o dilema da escravidão moderna. Ou seja, servir a outrem é um ato de pura integridade. Agora, receber por isso... "Bem. Veja bem... Eu posso lhe oferecer almoço como forma de pagamento ou, lhe dou direito ao consumo de algum serviço" e etc.

Concluo que, quem pensa assim é o verdadeiro preguiçoso, desgraçado, capitão do mato. Se o carro está sujo, o dono do carro que o lave, oras! Não se precisa de um despejado para isso. O mato cresceu? O dono do terreno que o capine, ou limpe, oras! E não uma mulher que está sem fazer nada. Pois ordenar qualquer caboclo dar um trato no quintal, acaba sendo o preguiçoso, na verdade, o mandão. E ainda possuem a petulância: "Não estás fazendo nada! Tá reclamando de que? Pelo menos está 'trabalhando'". Na verdade a veia escravista desse desumano, em estar vociferando a alguém sem trabalho, estafado, como se fosse um coronel tratando com seu escravo de estimação, está exposta e jorrando sangue azul. Se vê o racismo e o escravismo estalando na alma de pessoas assim, infelizmente. Atualmente, se deparar com comentários desse tipo é repugnante. Comentários tão normais, para quem o produz, de subserviência, de humilhação ao próximo, que chega doer os ossos. E tal atitude, geralmente, é voltada a um negro, à mulher, ou alguém das camadas mais baixas da classe social, desprovido de qualquer fortuna. Lamentável!

sábado, 7 de abril de 2018

Porre nº 1


Tratarei de escrever em porres, alguns temas que simplesmente vagueiam por minha cabeça. A cada porre, um bilhão de pensamentos. E como eu estou racionando tudo, não quero desperdiçar meus devaneios. Vou tentar moderar. Não quero vomitar tudo de uma vez, pois um porre não é lá algo muito prazeroso para ficar se esbanjando assim.

Dando início então, a um assunto qualquer, gostaria de falar sobre trabalho. E lembro uma vez, que, não sei quem foi que disse que trabalhar muito, arduamente, é digno e salutar. Algumas cabeças ilustríssimas entendem “relações de trabalho” como se fossem Matemática ou Física. Por exemplo: Se eu trabalhar carregando peso, ou fazendo esforço extra-humano, é mais honroso à trabalhar sentado/ parado. Parece que a dignidade vem na proporção do esforço feito no trabalho com pernas e braços. E o resultado: o salário no fim do mês, grana $². Mais força (Newton), mais sacrifício, maior salário $. Seria justo pensar assim? Karl Marx seria um bom nome para essa ideia, essa visão do bagulho, lá no século 19. Mas não quero falar dele, nem de nenhum outro, exceto Nietzsche (risos). Mas voltando a todo esse cálculo financeiro (Matemática), e a grandeza escalar e vetorial (Física), naturalmente, vemos que só o patrão enriquece e o funcionário só contrai dívidas, independentemente de muito esforço ou não. E isso se tornou tão natural que, não só algumas pessoas não enxergam, como se ofendem, sob tais argumentos.

Ademais, somos exemplos vivos do que venho a apresentar. Veja bem… Uma pessoa, que vou chamar de Frederico, trabalhou por 20 anos, carregando peso. Recebia x por seu, literalmente, esforço (x . Newton). Este, depois dos 20 anos e 1 dia, veio a se aposentar. No mesmo dia de sua aposentadoria, a empresa, qual o sr. Frederico vendia seu esforço, bate recorde de arrecadação. Ou seja, lucro $! E com isso outra filial surgiu. Frederico pagou suas dívidas e comprou uma TV de plasma, com o dinheiro da rescisão (e isso nos melhores dos mundos), uma vez que o recém aposentado recebeu os direitos trabalhistas de vinte anos de trabalho. (Ele comprou um televisor e não outra casa). Já a empresa, não tem aposentadoria, não recebe salários, não tira férias, mas, também, não se endivida... Pelo contrário! Continua recebendo, lucrando e faz com que entre ela e seus funcionários, se estenda uma distância equivalente entre a Terra e Antares.

Frederico continua a receber, agora como aposentado, algo equivalente a 2000 reais. Continua com as mesmas condições de outrora, porém com uma TV de plasma fazendo um lindo design em contraste com a parede sem sequer o reboco, em sua pequena sala. Mas é estranho, não é? Como pode, Frederico ter trabalhado tanto, se esforçado tanto e nunca ter ganhado o suficiente para ficar rico como os patrões de onde ele vendia seu trabalho? Ou nunca ter ganhado um salário jus à sua labuta? Tá, tudo bem! Surreal! O funcionário ficar tão rico quanto o seu patrão, somente pelo seu esforço braçal (pois é, surreal!). Mas, contudo, porém, humildemente, Frederico fazia suas economias. Ele guardou seus salários, deixou-os na poupança nos últimos anos antes de se aposentar. Agora, como aposentado vai poder desfrutar, com melhor disposição, sua renda. Melhorou não é? Vai rebocar sua casa, vai assinar um combo de TV, Internet e Telefone, vai lançar um plano de saúde, comprará meia dúzia de passarinhos, um cachorro e viverá até o fim da sua vida “daquele jeito”. E a empresa… Bem, seus donos, os filhos de seus donos e os netos, estarão vivendo, (ainda bem, nada mais justo) de iogurte de soja, queijo bri, chá verde, Playstation e Macbook, motorista particular, vista para o mar, mansão da "Barbie" com heliporto e os caralho. O que parece estranho é o fato de Frederico se incomodar muito com isso. Com essa inveja acumulada: “Por que eles têm, e eu não? Arre... Eu trabalhei tanto!” É Fred… Eles têm, porque eles nasceram com privilégios, e o senhor não. Deus o quis assim e amém!

O problema todo (Matemático ou não) nesse caso não é a inveja, e sim a meritocracia utópica produzida pelas camadas superiores da sociedade já dada. Os filhos do Frederico perpetuarão a vida simples, quiçá a pobreza, (dependendo do nível de exploração do mais rico); os filhos do dono da empresa, … Foda-se! Perpetuarão a desigualdade. Só que os ricos nascem em berços de ouro; os pobres no papelão prensado, compensado, reciclado das casas Bahia. Se simularmos uma pista de corrida, o “pole position” será algum puto endinheirado, barriga forrada com leite ninho sem lactose, pão integral 254 grãos, "Whey Protein" e já com carteira de ações, vaga em Harvard, posicionado a 1,0 x 10¹² km de distância do seu concorrente mais próximo.

Eu estive pensando seriamente no sr. Frederico (risos) e vi o quão difícil é entender como este senhor, apesar de um personagem fictício, lidava com as questões do tempo = Δt. (Ainda respeitando a Física e tocando agora a Filosofia). Mas por que caralhos apareceu tempo e Filosofia no assunto? É o seguinte, segura ai! Sr. Fred trabalhava, e só chegava em casa para dormir. Ele ganhava seu salário, mas não gastava quase, somente o supérfluo. Solteiro sem família… Não tinha custos a não ser consigo mesmo. O homem só fazia trabalhar, achando que, quanto mais trabalhasse, mais ia receber dinheiro.

Porém surge aí uma aporia (Ἀπορία). Vamos raciocinar agora. Teremos outra simulação aqui para entendermos o tempo: Se, você trabalha muito, para ganhar muito, conclui-se que o consumo do teu tempo (Δt) será todo e, completamente, para o seu trabalho, certo? Pois mais tempo trabalhando, mais dinheiro entrando. Então, onde, então, em que raios de mundo, haverá tempo (Δt) para você usufruir de toda a riqueza (Δ$), de todo salário acumulado? Quem sabe o Tio Patinhas pode responder? Se, só faz trabalhar, servir, servir e servir? Como vais gastar a grana toda que recebes no trabalho, se só tens tempo para o trabalho? Eu ouvi “férias”? A ganância é tamanha que alguns a negam. Máquinas Modernas Revolucionárias (M.M.R.), implantaram em alguns de seus funcionários, neurônios artificiais, programados, que fazem entender que, quanto mais horas/trabalho (h/Newton), mais salário/mês (Δ$/h), maior felicidade (Δfoda-se).

(Ah, o M.M.R. é uma fábula tá, gente? Por favor, desconsiderem. Não vão levar a sério essa invenção, ok?).

Contudo, deve ser muito bom mesmo, o Tio Patinhas, olhar todo o seu acúmulo de fim de mês, ou de um ano todo, e não saber o que fazer para gastar aquela porra toda. Tem gênios que conseguem sim! Gastam em um dia, o que amontoou em 10 anos ininterruptos. Uma vez que não consegue-se gastar o salário gordo de um mês, se em um mês o trabalhador só tira uma mísera folga. Será então nesta folga que a pessoa, aflita e ansiosa irá consumir? Seria o mesmo que pegar todo o seu capital (Δ$) e dizer: “toma patrão, estou lhe devolvendo tudo o que o senhor me deu no decorrer desta jornada maravilhosa aqui com o senhor.” A lei da oferta e do consumo: "eu lhe pago, por sua insubstituível força de trabalho (Newton), e você me devolve comprando bens produzidos por mim e por meus empresários colegas (Δ$.Δt)". Mas ai, espertamente, o Tio Patinhas faz o que? Tira férias, para ter mais tempo para torrar sua grana. E ele faz isso. Gasta tudo nas suas férias. Viaja para o exterior e pega a riqueza que foi produzida por ele aqui, em sua pátria amada, salve, salve, e dá para seu colonizador (EUA/Δescravo). Matemática, Física e Filosofia interessante, não?

Então, por falar em Filosofia, pura e unicamente, alguém pensou aqui e resolveu fazer uma pergunta: “Por mais pobre e simples que seja o sr. Frederico; por mais humildes que sejam os seus filhos; por mais que não tenham nada, exceto uma TV de plasma, cama de papelão e parede sem reboco, se eles são dotados de felicidade, o que importa isso tudo. É tudo materialismo, e o que vale é a felicidade. Estado de consciência, boas qualidades de emoções e sentimentos, blá blá blá… Felicidade não está numa televisão ou em uma cama “king size” de mogno, ou em bem nenhum. Felicidade está em outro lugar. No céu, no ar, no mar, no inferno… Mas não em coisas materiais”.

Uma vez que a felicidade brotou neste trecho, para nossa alegria, vamos então nos fundamentar e tentar destrinchar esse tema, empiricamente falando, ou seja, com base no que temos em mãos agora. Sobre a felicidade: Posso me inspirar numa pirâmide (Δ). De pronto ela me lembra um psicólogo (Δpsi). Ele se chama Abraham Maslow (1908 - 1970). Na base de sua ideia hierárquica encontramos o que ele chamou de "Necessidades fisiológicas". São necessidades que se relacionam com o cidadão, a pessoa, o ser humano.

Quando pensamos em necessidades, o que é que nos vem à mente, exceto a vontade de mijar, cagar, beber pra cacete e fazer sexo? ... Pense! ... Se alimentar. Comer. Almoçar e jantar. Pois bem. Tire o prato de comida de qualquer ser vivente, e veja o que acontece. Não dá para ser feliz com fome. Não se encontra felicidade sem se ter perspectiva do que se irá comer tão logo. Não existe qualquer alegria quando se está passando fome.

Maslow quebra qualquer hipótese que diz que a felicidade é somente algo que se busca fora de si, ou em algo subjetivo, imaginário, extrafísico. Não somente! Repito, não somente! Por mais que o ser humano tenha sua fé, sua crença, um poder enorme dentro de si, não é racional e nem são, dizer que existe alguém feliz quando se está passando fome. Necessidade fisiológica básica, na pirâmide de Maslow, a mais marcante é a fome. Pois a pessoa que não é agraciada com o simples e natural ato de se alimentar, tende a não evoluir, a não passar a outro nível na pirâmide louca lá do psicólogo. Com fome, nada evolui, sequer se estabiliza. Tudo perece. Vide qualquer forma de vida. Todos precisam se alimentar.

Por fim, Frederico se alimenta bem, por sinal, e é o que está mais próximo de passar fome, em relação aos seus patrões ou os filhos dos mesmos. Por quê? Olha só! Um miserável, ou aquele que ganha menos que um salário mínimo, nos dias de hoje, sobrevive com 3 dígitos. Um milionário, um dono de terras, um mega empresário, vive de rendas, ou sei lá, vive exorbitantemente, perfeitamente, maravilhosamente bem e, sua Matemática está em torno de 7 dígitos e uns quebrados. Entre estes dois encontra-se nosso personagem virtual, sempre pensando, calculando em torno dos 4 dígitos. Nesse raciocínio, Frederico vive mais próximo da classe milionária, não é? 4 dígitos, para 7... É mais próximo do que 3 dígitos para 7. Matemática! Mas veja bem. Abra esses dígitos e veja quem está mais próximo a quem? Milionário > 1.000.000,00; Frederico = 2.000,00; miserável < 950,00. Frederico se acha um "classe média" perante um pobre, necessitado. Porém Fred é tão pobre quanto o necessitado que vive de assistência do governo. E também é pobre de espírito, esse tal de Frederico, ao pensar desta forma, porque, repito, o mundo quando "der voltas", vai esvaziar, tão logo, a  sua geladeira e as suas panelas, e não dos seus patrões donos dos negócios milionários.

(E a título de curiosidade, a segunda camada da teoria de Maslow é a Segurança: estabilidade, liberdade, família, moradia, emprego, saúde, recursos...)

Continuo no próximo porre...

quinta-feira, 29 de março de 2018

O pobre livro do saber

Hoje a capa de um livro se apresenta mais interessante
Seu verdadeiro conteúdo jaz, esquecido na estante

Não há mais inspiradores versos
Perderam-se seus valores
Valores esses que estão inversos
em páginas frias, ausentes de cores

Não é saudosismo
E nem um desgosto com presente
Também não se anseia o iluminismo
Quiçá o absolutismo novamente

Expressar-se é o ponto chave
Contudo isolado da razão
Instintos traduzem a novidade
Pai de uma melhor opinião

Pensar penoso é
Interpretar é desumano
Quem pensa ganha a fé
Quem tem fé vive reclamando

A filosofia morreu!
Questionamentos mais, não há
Tem-se um livro aberto ao breu
Sem páginas para folhear

domingo, 25 de março de 2018

A reviravolta do agora

O tempo urge...
Quereis ainda ser os conformados?
Os indivíduos controlados?
É tempo de revolta!

De se virar a mesa
Da ida sem volta
Transmutar valores
Tornar o padrão em caos

É hora de pecar, senhoras e senhores!
Não deveis agradar a ninguém
Quiçá prestar contas, penhores
Nem na hora da vossa morte, amém

Se lhes devem? Não os pagueis
Se lhes tomarem? Os roubareis

Não deem ouvidos aos seus ideais
Vos acusam de viverem às escuras
Mas não sabem, pobres mortais
Vivem cegos sob a luz da usura

À tinta no papel, monogamia
Na distração da lei, é orgia

Viveis! Do jeito que quereis vós
Não rendeis homenagens aos céus
Não te apegais a uma santa muleta
Desfaçais dos apertados nós!

A vida é aqui, agora
A Terra é onde pisais
Deixais Deus de fora
Pois serdes ainda animais

Deus é infinito
Imortal
Sem fim, nem início
Atemporal

O que conheceis além de vosso tempo?
O que sabeis da eternidade?
Nada disso vos cabe
Estais com grave enfermidade

Respireis! É o que sobrais
A cabeça não abaixarais
Vivais como reis e rainhas
Sem julgamentos, sem morais

sábado, 24 de março de 2018

Um, descomplicado, mundo

GONZALES, Rolan. Mundo Surreal 2008.


Vamos criar um mundo?
Ou melhor, um planeta?
O que podemos instituir em um segundo?
Quantas cores usaremos na paleta?
O ar, o fogo, o mar
Terra, água… Não importa a ordem
O que primeiro criar?
Não importa o sentido
Basta apenas sonhar
Como a primeira vez de um arco-íris
da inédita palavra dita
do inesquecível primeiro beijo...
Deixe este mundo eclodir
Deixe o que há de mais belo brilhar
Sinta o doce aroma no ar
Seguremos as mãos da natureza
Assim eliminando toda a tristeza
Explícito é o anseio do novo mundo brotar
Ouça o silêncio; sinta a fragrância
Aprecie as cores, o verde em abundância
O cinza, o preto, o branco também.
À ausência de som, adicionaremos tons
Maiores, menores; sustenidos, bemóis
Intervalos consonantes, dissonantes
Alguns lentos como raios, outros rápidos como caracóis
A gravidade não será necessária
Nosso planeta será somente um adereço
Iremos voar junto ao mar
Caminhando, às nuvens tocar
Moldá-las, desenhá-las como quisermos
Voaremos nadando
Nadaremos voando
Não importa a ordem
O caos é bem-vindo
Tudo que desce, sobe (e não o contrário)
Não faremos políticas
Nossa terra não semeará prisões
Haverá jardins de flores pacíficas
Assim não colheremos corrupções
Não seremos subversivos
Sem religião, porém com fé
Sem mitos, sem deuses
Sem amém ou axé
Tendo uns aos outros desde já
a fraternidade não tardará
Não haverá ódio, nem frio ou calor
Contudo faremos um imponente Sol,
o mistério da Lua, além de muito amor
Nada terá valor, somente o abstrato
Sem dinheiro, nem capital
Haveres, só intelectual
Não poderemos ter relógios
Se não, faremos um mundo precipitado
Eterna será a construção do nosso habitat
A partir de agora até o…
Fim

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Levado para bem longe


Caminhando pela grama empoçada após a chuva
Ao longe se ouve trovoadas
É fim de tarde e o céu está quase escuro
No horizonte o sol se põe lentamente
Ele pinta uma faixa do céu na cor rosa-alaranjado
É uma linda imagem
Até a cor azul bem escura, vem o céu degradando
Os raios iluminam um destino a trilhar
São só calmarias, não tocam o solo
Não estouram, não fazem assustar
A estrada não tem fim
A tempestade se movimenta
Dos passos certos e rumo definido
O sonho acabou de nascer
Novos ares exalando jasmim
Um belo jardim que há de florescer
se afasta, ao longe se vai
Não olha para trás, não se lamenta
Somente o que fica é o coração latente
De um ser simples, daquele que chora
Que se emociona e vive esmeradamente
Prefere contemplar à natureza a viver da riqueza
Não julga, não dá motivos
É o mais completo indivíduo
Não sente dor ou incerteza
A estrada se estende
A noite cai
A pessoa andarilha vai…
A pé, seguindo a tempestade de outrora
Sem medo de errar
Apenas para ao fenômeno novamente apreciar
Suas cores tocar
Sua luz sentir
Seus trovões escutar
Novamente, à grama molhada pisar
Eis um novo viajante
Os clarões e as calmarias servindo de guia
Para mais uma viagem fascinante

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Resenha: O Idiota


O ocidente e o oriente se mantém tão distante, que, parece que esse “outro lado” é um outro mundo. Não só a distância quilométrica os separam, mas também a filosofia, religião, a cultura em si, e etc. A Rússia é um país que atinge esses “dois polos”: Ásia e a Europa. O ocidente e o oriente mesclados. Sua cidade mais populosa é Moscou. No mais, ao extremo oriente, a cultura já muda bastante, – a sibéria, a fronteira com Cazaquistão, a Mongólia e a China, são exemplos. Para os ocidentais, lá, tudo parece remoto, inóspito, frio, cinza, monótono. Mas não… Pelo menos, os autores russos, deixam qualquer leitor com as mãos suando e o coração quente. E um deles é, um dos mais importantes, senão o maior escritor e romancista de todos os tempos, Fiódor Dostoiévski (1821 – 1881).

Racionalismo, niilismo, miséria, violência, transtornos mentais, humilhação, sadismo, livre arbítrio e suicídio, são temas quais os personagens deste autor enfrentam em seus livros. Existencialismo e, sempre trágico, – as vezes chega a ser cômico – o autor nos leva a um universo literário muito bem detalhado, rico em situações descontroladas, beirando a loucura entre um ou outro personagem. Duas obras, de Dostoiévski, que merecem destaques, são: “Crime e Castigo” e “Irmãos Karamázov”. Mas há uma obra, muito bem recebida pelos críticos da época, e qual é o motivo desta resenha, se chama “O idiota”, datada de 1868.

Pois bem, como o título sugere, o que pensamos ser um idiota, o personagem principal, na verdade é o cara mais lúcido e puro da história toda (ou não? Cabe vossa reflexão). Na verdade, o “idiota” é um príncipe, chamado Liév Nikoláievitch Míchkin. – Um adendo, sobre a palavra “príncipe”, o autor, denomina, lá na Russia, àquela época, o seu personagem algo como “vossa excelência” aqui para nós brasileiros. É uma forma honorável, ou carinhosa, de tratamento. – As vezes dá a pensar que ele não é nada idiota, mas pelo contrário, um salafrário, usurpador (há quem, já leu o livro, pensou nisso também, com certeza). Mas o desenrolar nos mostra outro caminho. O livro nos leva a crer que o homem bom e puro, abastado de compaixão, um verdadeiro cristão, irá sofrer numa sociedade corrompida, mesquinha e vulgar, e que será alvo de todo revés possível, desde humilhação à inveja. Ou seja, o jovem príncipe, torna-se um idiota, – a julgar a sociedade em que ele se encontra – onde seus próximos possuem outros costumes e modos bem díspares dele.

A tal idiotia do príncipe é explícita, logo no início. É relatada pelo mesmo, no trem, no rápido de varsóvia. Encontram-se mais dois passageiros, na mesma cabine, junto à Míchkin, num cenário muito estranho, vulgar, quase que hostil. É uma Rússia, além de fria, óbvio, bem nacionalista; dividida entre religiosos e ateus, militares orgulhosos – que prezam a família e os negócios – e, também, outros personagens salafrários e golpistas, pobres, niilistas, porém muito avarentos.

Ainda no trem, o Míchkin, retornando da Suíça, – onde lá recebera cuidados de um especialista por conta de sua doença – mais os dois homens nada amistosos a caminho de Petersburgo, combinaram de se encontrarem no futuro para uma boa prosa, bebidas, mulheres e coisas típicas de pessoas comuns daquela época. Todos descem do trem e, a partir daí, começam a aparecer diversos novos personagens. O que deixa a história muito interessante e intrigante. Todos loucos, porém cada qual com sua história e compassivos ante ao príncipe

Mais adiante, sua doença, é posta em cheque, quando o mesmo relata seu contato com as crianças, tanto na Suíça, quanto na Rússia. Ele exalta as crianças, a pura inocência e a verdadeira alma que elas possuem. Um dos pontos altos em sua personalidade, indicando completa lucidez. E também não só o personagem principal, mas como os outros, também, têm bom contato com elas, havendo, portanto, uma notória simpatia e carisma entre um adulto e uma criança em diversas passagens.

Afanássi Ivánovitch Totski, Parfen Rogógin e Gavrila Ardaliónovitch Ívolguin, Chtch (sim, não possui vogais), Nastasya Filippovna, entre outros, vão surgindo e enfeitando a longa história do príncipe. Para nós brasileiros, é um tanto difícil até decorar estes nomes, inclusive, pode dificultar a leitura. Sugiro se apegar a alguns apelidos que o próprio autor adota aos personagens. No mais, se acostuma.

Sobre Nastasya Filippovna, que é uma das pivôs de todo o romance, não quero comentar muito sobre seu caso, pois temo em fazer spoiler. Mas os que parecem mais loucos do livro, sentem completa aversão ao dinheiro, porém possuem uma mente brilhante e abdicados de quaisquer riquezas materiais; são ricas em espírito. Por exemplo, esta linda jovem queima uma quantia grande de dinheiro, que lha é oferecida; o príncipe não se importa muito com sua abastada situação ao longo da história e acaba virando alvo dos interesseiros e o jovem príncipe não vacila em dar, ou emprestar seu dinheiro. Outra coisa interessante é que o príncipe tem compaixão pelo sofrimento da dama, Filippovna. Pensa-se que é amor, (pode até ser), mas, mais tarde acaba Míchkin sentindo paixão por outra, – filha caçula de um general.

Algo muito triste nesse livro é que o próprio Dostoiévski o escreveu em meio a crises de epilepsia. E há uns relatos sobre as mesmas no livro que… É bom estar preparados(as) porque, o relato é tenso; assim como a questão da pena de morte por guilhotina, ricamente detalhada, e friamente posta em questão, fazendo-nos pensar o que é mais atroz: o crime cometido por um condenado, ou a pena de morte imposta a ele? Incrivelmente e, infelizmente, uma condenação a morte se deu ao próprio Fiódor Dostoiévski, ao longo de sua vida. Inclusive a rara suspensão à mesma condenação que ele sofrera, também faz-nos refletir. É de se tirar o sono.

Então, prezados leitores, preparem um chá de camomila, de erva doce, desliguem-se do mundo e apreciem o diferente, o estranho, o anormal, o simples e o idiota. Uma obra prima, humanista, existencialista, da literatura russa, um romance clássico! Sua leitura e posterior releitura, em tempos diversos, sempre nos trará questões que venham nos atinjam no âmago, não importando se estivermos no ocidente, ou no oriente. A simplicidade e o carisma do personagem principal nos deixam ainda com vontade de mais leituras. Apesar do título da obra, acho que cada leitor se identificará, sui generis, com o querido príncipe. Com o príncipe, óbvio, e não com os idiotas.


Referência bibliográfica

DOSTOIEVSKI, FIODOR. O Idiota. Editora 34. 2010.
_____. Os irmãos Karamázov. Editora 34. 2008.
_____. Crime e Castigo. Editora L&PM. 2016.

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