Porre nº 1


Tratarei de escrever em porres, alguns temas que simplesmente vagueiam por minha cabeça. A cada porre, um bilhão de pensamentos. E como eu estou racionando tudo, não quero desperdiçar meus devaneios. Vou tentar moderar. Não quero vomitar tudo de uma vez, pois um porre não é lá algo muito prazeroso para ficar se esbanjando assim.

Dando início então, a um assunto qualquer, gostaria de falar sobre trabalho. E lembro uma vez, que, não sei quem foi que disse que trabalhar muito, arduamente, é digno e salutar. Algumas cabeças ilustríssimas entendem “relações de trabalho” como se fossem Matemática ou Física. Por exemplo: Se eu trabalhar carregando peso, ou fazendo esforço extra-humano, é mais honroso à trabalhar sentado/ parado. Parece que a dignidade vem na proporção do esforço feito no trabalho com pernas e braços. E o resultado: o salário no fim do mês, grana $². Mais força (Newton), mais sacrifício, maior salário $. Seria justo pensar assim? Karl Marx seria um bom nome para essa ideia, essa visão do bagulho, lá no século 19. Mas não quero falar dele, nem de nenhum outro, exceto Nietzsche (risos). Mas voltando a todo esse cálculo financeiro (Matemática), e a grandeza escalar e vetorial (Física), naturalmente, vemos que só o patrão enriquece e o funcionário só contrai dívidas, independentemente de muito esforço ou não. E isso se tornou tão natural que, não só algumas pessoas não enxergam, como se ofendem, sob tais argumentos.

Ademais, somos exemplos vivos do que venho a apresentar. Veja bem… Uma pessoa, que vou chamar de Frederico, trabalhou por 20 anos, carregando peso. Recebia x por seu, literalmente, esforço (x . Newton). Este, depois dos 20 anos e 1 dia, veio a se aposentar. No mesmo dia de sua aposentadoria, a empresa, qual o sr. Frederico vendia seu esforço, bate recorde de arrecadação. Ou seja, lucro $! E com isso outra filial surgiu. Frederico pagou suas dívidas e comprou uma TV de plasma, com o dinheiro da rescisão (e isso nos melhores dos mundos), uma vez que o recém aposentado recebeu os direitos trabalhistas de vinte anos de trabalho. (Ele comprou um televisor e não outra casa). Já a empresa, não tem aposentadoria, não recebe salários, não tira férias, mas, também, não se endivida... Pelo contrário! Continua recebendo, lucrando e faz com que entre ela e seus funcionários, se estenda uma distância equivalente entre a Terra e Antares.

Frederico continua a receber, agora como aposentado, algo equivalente a 2000 reais. Continua com as mesmas condições de outrora, porém com uma TV de plasma fazendo um lindo design em contraste com a parede sem sequer o reboco, em sua pequena sala. Mas é estranho, não é? Como pode, Frederico ter trabalhado tanto, se esforçado tanto e nunca ter ganhado o suficiente para ficar rico como os patrões de onde ele vendia seu trabalho? Ou nunca ter ganhado um salário jus à sua labuta? Tá, tudo bem! Surreal! O funcionário ficar tão rico quanto o seu patrão, somente pelo seu esforço braçal (pois é, surreal!). Mas, contudo, porém, humildemente, Frederico fazia suas economias. Ele guardou seus salários, deixou-os na poupança nos últimos anos antes de se aposentar. Agora, como aposentado vai poder desfrutar, com melhor disposição, sua renda. Melhorou não é? Vai rebocar sua casa, vai assinar um combo de TV, Internet e Telefone, vai lançar um plano de saúde, comprará meia dúzia de passarinhos, um cachorro e viverá até o fim da sua vida “daquele jeito”. E a empresa… Bem, seus donos, os filhos de seus donos e os netos, estarão vivendo, (ainda bem, nada mais justo) de iogurte de soja, queijo bri, chá verde, Playstation e Macbook, motorista particular, vista para o mar, mansão da "Barbie" com heliporto e os caralho. O que parece estranho é o fato de Frederico se incomodar muito com isso. Com essa inveja acumulada: “Por que eles têm, e eu não? Arre... Eu trabalhei tanto!” É Fred… Eles têm, porque eles nasceram com privilégios, e o senhor não. Deus o quis assim e amém!

O problema todo (Matemático ou não) nesse caso não é a inveja, e sim a meritocracia utópica produzida pelas camadas superiores da sociedade já dada. Os filhos do Frederico perpetuarão a vida simples, quiçá a pobreza, (dependendo do nível de exploração do mais rico); os filhos do dono da empresa, … Foda-se! Perpetuarão a desigualdade. Só que os ricos nascem em berços de ouro; os pobres no papelão prensado, compensado, reciclado das casas Bahia. Se simularmos uma pista de corrida, o “pole position” será algum puto endinheirado, barriga forrada com leite ninho sem lactose, pão integral 254 grãos, "Whey Protein" e já com carteira de ações, vaga em Harvard, posicionado a 1,0 x 10¹² km de distância do seu concorrente mais próximo.

Eu estive pensando seriamente no sr. Frederico (risos) e vi o quão difícil é entender como este senhor, apesar de um personagem fictício, lidava com as questões do tempo = Δt. (Ainda respeitando a Física e tocando agora a Filosofia). Mas por que caralhos apareceu tempo e Filosofia no assunto? É o seguinte, segura ai! Sr. Fred trabalhava, e só chegava em casa para dormir. Ele ganhava seu salário, mas não gastava quase, somente o supérfluo. Solteiro sem família… Não tinha custos a não ser consigo mesmo. O homem só fazia trabalhar, achando que, quanto mais trabalhasse, mais ia receber dinheiro.

Porém surge aí uma aporia (Ἀπορία). Vamos raciocinar agora. Teremos outra simulação aqui para entendermos o tempo: Se, você trabalha muito, para ganhar muito, conclui-se que o consumo do teu tempo (Δt) será todo e, completamente, para o seu trabalho, certo? Pois mais tempo trabalhando, mais dinheiro entrando. Então, onde, então, em que raios de mundo, haverá tempo (Δt) para você usufruir de toda a riqueza (Δ$), de todo salário acumulado? Quem sabe o Tio Patinhas pode responder? Se, só faz trabalhar, servir, servir e servir? Como vais gastar a grana toda que recebes no trabalho, se só tens tempo para o trabalho? Eu ouvi “férias”? A ganância é tamanha que alguns a negam. Máquinas Modernas Revolucionárias (M.M.R.), implantaram em alguns de seus funcionários, neurônios artificiais, programados, que fazem entender que, quanto mais horas/trabalho (h/Newton), mais salário/mês (Δ$/h), maior felicidade (Δfoda-se).

(Ah, o M.M.R. é uma fábula tá, gente? Por favor, desconsiderem. Não vão levar a sério essa invenção, ok?).

Contudo, deve ser muito bom mesmo, o Tio Patinhas, olhar todo o seu acúmulo de fim de mês, ou de um ano todo, e não saber o que fazer para gastar aquela porra toda. Tem gênios que conseguem sim! Gastam em um dia, o que amontoou em 10 anos ininterruptos. Uma vez que não consegue-se gastar o salário gordo de um mês, se em um mês o trabalhador só tira uma mísera folga. Será então nesta folga que a pessoa, aflita e ansiosa irá consumir? Seria o mesmo que pegar todo o seu capital (Δ$) e dizer: “toma patrão, estou lhe devolvendo tudo o que o senhor me deu no decorrer desta jornada maravilhosa aqui com o senhor.” A lei da oferta e do consumo: "eu lhe pago, por sua insubstituível força de trabalho (Newton), e você me devolve comprando bens produzidos por mim e por meus empresários colegas (Δ$.Δt)". Mas ai, espertamente, o Tio Patinhas faz o que? Tira férias, para ter mais tempo para torrar sua grana. E ele faz isso. Gasta tudo nas suas férias. Viaja para o exterior e pega a riqueza que foi produzida por ele aqui, em sua pátria amada, salve, salve, e dá para seu colonizador (EUA/Δescravo). Matemática, Física e Filosofia interessante, não?

Então, por falar em Filosofia, pura e unicamente, alguém pensou aqui e resolveu fazer uma pergunta: “Por mais pobre e simples que seja o sr. Frederico; por mais humildes que sejam os seus filhos; por mais que não tenham nada, exceto uma TV de plasma, cama de papelão e parede sem reboco, se eles são dotados de felicidade, o que importa isso tudo. É tudo materialismo, e o que vale é a felicidade. Estado de consciência, boas qualidades de emoções e sentimentos, blá blá blá… Felicidade não está numa televisão ou em uma cama “king size” de mogno, ou em bem nenhum. Felicidade está em outro lugar. No céu, no ar, no mar, no inferno… Mas não em coisas materiais”.

Uma vez que a felicidade brotou neste trecho, para nossa alegria, vamos então nos fundamentar e tentar destrinchar esse tema, empiricamente falando, ou seja, com base no que temos em mãos agora. Sobre a felicidade: Posso me inspirar numa pirâmide (Δ). De pronto ela me lembra um psicólogo (Δpsi). Ele se chama Abraham Maslow (1908 - 1970). Na base de sua ideia hierárquica encontramos o que ele chamou de "Necessidades fisiológicas". São necessidades que se relacionam com o cidadão, a pessoa, o ser humano.

Quando pensamos em necessidades, o que é que nos vem à mente, exceto a vontade de mijar, cagar, beber pra cacete e fazer sexo? ... Pense! ... Se alimentar. Comer. Almoçar e jantar. Pois bem. Tire o prato de comida de qualquer ser vivente, e veja o que acontece. Não dá para ser feliz com fome. Não se encontra felicidade sem se ter perspectiva do que se irá comer tão logo. Não existe qualquer alegria quando se está passando fome.

Maslow quebra qualquer hipótese que diz que a felicidade é somente algo que se busca fora de si, ou em algo subjetivo, imaginário, extrafísico. Não somente! Repito, não somente! Por mais que o ser humano tenha sua fé, sua crença, um poder enorme dentro de si, não é racional e nem são, dizer que existe alguém feliz quando se está passando fome. Necessidade fisiológica básica, na pirâmide de Maslow, a mais marcante é a fome. Pois a pessoa que não é agraciada com o simples e natural ato de se alimentar, tende a não evoluir, a não passar a outro nível na pirâmide louca lá do psicólogo. Com fome, nada evolui, sequer se estabiliza. Tudo perece. Vide qualquer forma de vida. Todos precisam se alimentar.

Por fim, Frederico se alimenta bem, por sinal, e é o que está mais próximo de passar fome, em relação aos seus patrões ou os filhos dos mesmos. Por quê? Olha só! Um miserável, ou aquele que ganha menos que um salário mínimo, nos dias de hoje, sobrevive com 3 dígitos. Um milionário, um dono de terras, um mega empresário, vive de rendas, ou sei lá, vive exorbitantemente, perfeitamente, maravilhosamente bem e, sua Matemática está em torno de 7 dígitos e uns quebrados. Entre estes dois encontra-se nosso personagem virtual, sempre pensando, calculando em torno dos 4 dígitos. Nesse raciocínio, Frederico vive mais próximo da classe milionária, não é? 4 dígitos, para 7... É mais próximo do que 3 dígitos para 7. Matemática! Mas veja bem. Abra esses dígitos e veja quem está mais próximo a quem? Milionário > 1.000.000,00; Frederico = 2.000,00; miserável < 950,00. Frederico se acha um "classe média" perante um pobre, necessitado. Porém Fred é tão pobre quanto o necessitado que vive de assistência do governo. E também é pobre de espírito, esse tal de Frederico, ao pensar desta forma, porque, repito, o mundo quando "der voltas", vai esvaziar, tão logo, a  sua geladeira e as suas panelas, e não dos seus patrões donos dos negócios milionários.

(E a título de curiosidade, a segunda camada da teoria de Maslow é a Segurança: estabilidade, liberdade, família, moradia, emprego, saúde, recursos...)

Continuo no próximo porre...

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