sábado, 4 de maio de 2024
O vazio essencial do mundo
Ante a desolada vida, um grito sai de mim.
Onde a esperança se esvai com astúcia,
em um mundo hostil, um abismo sem fim,
Somos frágeis, condenados à angústia.
Venturas fugazes em estrelas cadentes,
brilham por um minuto, depois se apagam.
A frivolidade nos consome, implacável e ardente,
deixando-nos perdidos, cegos, sem afago.
Sabemos que somos frágeis, perecíveis,
Que a morte nos espreita a cada esquina.
Mas o mundo continua, indiferente e impassível,
nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha.
Neste vazio abissal, nosso rumo se perde,
sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza.
E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede,
deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza.
Pois, nosso fim não finda o mundo;
nossa existência não torna o real;
nossa importância não vale um segundo.
O mundo sem nós se torna essencial.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
A Dança da Verdade com a Mentira
Eu danço com passos incertos, sem saber o que é real.
A aparência, uma máscara que esconde a essência,
Distorce minha visão, tornando o falso natural.
Sob um véu, a mentira se disfarça,
Vestindo o manto da verdade, enganando meus olhos.
Mas em meu coração, uma chama arde,
Questionando tudo que meus sentidos alarde.
Posso acreditar em uma mentira, achando-a verdadeira,
Pois quem sou eu para julgar o certo ou errado?
Minha lupa da verdade é falha, a erros está sujeita,
e o que eu vejo pode ser apenas um reflexo alterado.
Assim, danço com a mentira, com cautela e desconfiança,
Pois sei que sua sedução pode me levar à tormenta.
Mas também reconheço que a verdade pode se esconder
por trás de uma fachada de engano, esperando ser descoberta.
Na verdade, na dança da vida, não há certezas absolutas,
Apenas sombras e luzes que se confundem entrelaçadas.
Como um viajante num labirinto de ilusões à luta
Busco a verdade, seja ela uma mentira disfarçada.
O minúsculo poder
Com ele, o poder de ocultar-me,
Um sonho antigo, um desejo divino.
Diante disso, a moralidade me reteve,
Uma questão de certo e errado.
Pois com o poder de desaparecer,
Poderia fazer o bem ou o mal sem ser notado.
Inicialmente, minha mente se agitou com uma torrente de possibilidades.
Pois bem, usei anel. Um segredo profundo,
enquanto minha mente corria idéias, sem parar.
Um dia, passei por um espelho dourado,
Com ornamentos bem detalhados, um espetáculo para ser visto.
Olhei para o meu reflexo, nada havia notado.
Apenas um vazio, um espaço que sempre me via bem quisto.
A princípio, pensei que o anel estava em minha mão,
Porém não! - percebi com espanto.
Eu era invisível, sim, mas não por um anel,
Era minha escolha, uma decisão que eu havia tomado.
Havia ali, por fora, um ser sem forma, um não-ente.
distante do mundo, angustiado e sozinho.
Um vazio ambulante, um filhote esquecido no ninho.
O anel da invisibilidade, fruto da maldade.
Um símbolo da escolha que eu havia feito.
Preferi a maldição acima da bondade.
sexta-feira, 22 de março de 2024
A centelha que move a vida
A angústia emerge como um grito da nossa pífia sensação liberdade e da consciência necessária de nossa finitude. Ela transcende o mero estado emocional, revelando-se como catalisadora de questionamentos profundos sobre o propósito da vida e sobre o confronto inescapável com nossa própria dolorosa existência. De fato, a angústia se revela como a força motriz que impulsiona a roda da vida, incitando-nos a buscar significado e compreensão em meio às complexidades do ser. A angústia, portanto, é a centelha primeira que acende a luz da vida e vai queimando até os confins da nossa existência.
quarta-feira, 13 de março de 2024
Ato primeiro: amizade colorida
domingo, 1 de outubro de 2023
Eu só queria comprar pão
Notei que estava saindo pão quente - devido ao forte cheiro de pão no forno - e fui tentado a comprar mais. Percebi que a fila do pão estava enorme. Nela estavam: uma barriga, com bastante tecido adiposo; uma salsicha, tomando água de salsicha com gás; muitas crianças, parecia dia de São Cosme e Damião; um playboy, que se sentia na fila da entrada VIP da boate, e, por fim, o próprio dono da padaria. Isso não seria uma imensa fila, mas a quantidade de crianças era desesperadora.
Comecei a ficar impaciente, pois o tempo passava e o meu sagrado café tardava em sair. A barriga, a primeira da fila, perguntou, aos berros, quem ia servir o pão, pois via-se que não tinha nenhum atendente na padaria. O padeiro, obviamente, estava aparvalhado fazendo mais pão. Era notório que ele só fazia aquilo na vida, porque a padaria tinha vários prêmios de "pão fresquinho na hora". Eram exibidos com orgulho, como troféus, por toda a parede do estabelecimento. Já a salsicha, entediada, pediu mais uma garrafa d'água com gás a um quadro que estampava a foto do funcionário do mês - que na verdade era do próprio dono da padaria. O então funcionário perguntou-a: tenho água de salsicha, pode ser? Este, no quadro, era o dono, que na verdade estava no final da fila e não largava sua mala de viagem. Eis o paradoxo: quem realmente atendeu à salsicha? O funcionário do mês estampado num quadro ou o dono da padaria, funcionário do mês, na fila do pão?
Os mais chegados costumam dizer: Todo dia o dono da padaria tenta sair rumo ao exterior. Partir em uma viagem que parece ser longa, mas nunca acontece de fato. Sempre surge um imprevisto, uma intempérie - como por exemplo comprar o excelente pão fresquinho da manhã para desjejum de sua longa viagem. Então, para não ficar fazendo e desfazendo suas malas todos os dias, ele deixa a mesma pronta e a carrega para cima e para baixo.
Até que, do nada... No celular de alguém soou aquela notificação da Shopee. Após o alarme alguém disse, “pronto! Vai sair o pão" - pensamos coletivamente. De dentro da padaria, lá onde ficavam os fornos, vinha um cachorro imitando uma cacatua que imita cães. Vinha anunciando que o pão ia sair e perguntava quem era o primeiro da fila. A salsicha entrou por dentro da barriga e, de uma metamorfose heróica, surgiu um grande rosto réplica do grego Aquiles - mas com longa barba ruiva e vermelho de raiva, em formato de empadão fatiado (aqueles deliciosos empadões cortados em formato triangular, com o recheio escorrendo…) questionou a tez do pão: está muito branco.
Já os pães, sendo servidos por um cachorro - um lindo lavrador do sul de Santa Catarina, assentado pelo MST, que imita cacatuas que imitam cães -, começaram a saltitar ao saberem que iam partir para uma viagem alucinante. Despejado todos os pães na sexta - que já era noite - o playboy se empolgou. Não por causa disso ficamos felizes, mas porque a cesta era enorme e cabia ali uns 300 pastéis de feira e mais uns 200 pães. "Enfim…" - pensamos - "Vamos comprar nossos pães!" Então o playboy se pronunciou: tem duzentas crianças nesta padaria. Então, por favor, paremos para pensar... Todos reclamaram. E sugeriram o andar da fila. Então o pão começou a sair da sexta e caírem já sem desculpas na segunda. A partir daí, a fila, para pagá-los, começou a crescer. O caixa era alguém (ou algo) dentro de uma caixa fazendo o caixa na padaria. Fiquei curioso… Seria alguém da DiSantini?
De repente, um alvoroço. Olhei para aquela creche toda e pensei: "Fodeu! Acabaram-se os pães!". E realmente havia acabado. Tinha um pão para cada mão das criancinhas. E, nesse instante, o cachorro-cacatua, que trouxera os pães da então última fornada, os colocou na sexta e saiu correndo, porque já estava atrasado. Dizia ele (ou latia, ou imitava uma cacatua que imitava cães… Sei lá, você que escolhe): "Cacete, au, au! Já é a segunda feira que irei hoje. Não aguento mais! Estou com pressa. Fui! Au, au..." Enquanto o cão saía para a feira, após ter batido seu ponto, uma gata assumiu a panificação.
Entre assobios e elogios ela ia vagarosa e elegantemente para dentro da padaria fazer seu trabalho. Alguns ratos saíram em disparada lá de dentro e foram em direção à rua. Um deles dizia - em inglês - enquanto fugia: "A patroa chegou!". "Mas ela é uma gata!" - dizia outro.
Enquanto isso, a fila permanecia com a mesma configuração. Exceto pela saída do playboy. Mas estavam, ainda, as duzentas crianças - querendo mais um pão cada uma; o Aquiles empadão fatiado - que retornou à forma anterior, de barriga e de salsicha, já separadas - eu, mais o dono da padaria com sua mala.
Alguns momentos depois de três rodadas de duzentos pães servidos, a fila vagarosamente andou. Só que para trás - ninguém mais sabia se tinha que se dirigir ao caixa, se estavam na DiSantini ou se iam em direção à sexta-feira de pão.
Nisso, houve uma pequena confusão e eu passei a ser o segundo na espera. O dono da padaria, que ficou sendo o primeiro, nobremente me cedeu seu lugar: "Não como pão, mas prefiro pão…" - disse ele meio que pra si mesmo olhando cabisbaixo, estranhamente. Sem entender muito, enfim, consegui meu pão. Um apenas. Era um pão por CPF. Enfim, cheguei ao caixa. Em pouco tempo estaria em casa.
Enquanto isso um dos ratos, fumando uma guimba, olhou para mim - eu na fila pagando a mercadoria e ele lá fora - perguntou-me em inglês: Ei, como as crianças conseguiram os seus pães? Cada uma recebeu dois. Respondi: Com seus CPFs, oras! Mas ele insistiu: Como? Se é só um pão por CPF? Eu retruquei: Sim! Mas estas crianças são da "geração X" e possuem também os CPFs dos seus pais, além dos seus personagens prediletos”. O rato continuou: E o dono da padaria aceita CPF de terceiros? E ele odeia geração X…
E continuou o rato:
- Ah, prazer, meu amigo! Me chamo "Pig", sou de Nova Iorque.
- Pig? "Pig" em inglês quer dizer porco.
- Então... - disse-me o rato.
Enfim, como eu não sou o dono da padaria, me limitei à conversa. O rato saiu convencido de ter me vencido nos argumentos, dando uma última tragada na sua guimba e, logo em seguida, jogando-a dentro da padaria, saiu de tal forma como um maquinista sai do trem após chegar na última estação do ramal Belford Roxo ou de Brooklyn.
Dei-me conta de que não só não paguei pelo pão, como também perdi a vez na fila. Como o pão ficou frio na minha mão, ou melhor, gelado, retornei à fila da cesta do pão novamente. No caso só girei em torno de mim mesmo e pronto: já estava na fila certa.
Já se passavam ali… Não sei se horas, ou dias. Mas o que anunciou a passagem do tempo foi quando todos olharam e, em uníssono, disseram “Olhem, está chovendo! Que tempo doido, não falei?” Nesse ínterim, eu saí da fila e fui olhar ao redor. Logo quando eu botei o pé fora da padaria a chuva cessou. Não porque eu botei o pé na rua, mas creio que por falta d'água mesmo ou, talvez, racionamento por parte da natureza. Contudo, novamente, todo mundo em uma só voz, ao virem o fenômeno disseram, “Olha a chuva parou! Que tempo doido, não falei?” Percebi que quem fazia chover, ou parar de chover, eram aquelas vozes entoadas de uma só vez e não minha vontade de olhar o fenômeno ou de pisar na rua.
Ciente de que eu estava perdido no tempo, quis ver se com minha pressa fazia-o correr até os dias atuais... Péra?! Qual dia seria o atual? Alcançaria, eu, o dia em que eu saí de casa para comprar pão? Mas qual dia? Qual vez? Porque eu saí duas vezes para comprar pão com diferença de minutos entre uma saída e outra. E se eu voltasse, sem querer, à época em que eu era adolescente quando saia para comprar pão? Afinal, qual dia em que eu não saí para comprar pão? Comecei a chorar de medo. Talvez com pena, ou não, o caixa da padaria veio me dar uma palavra amiga.
- Caro, tome aqui este livro, ele lhe trará conforto e respostas.
- Obrigado, boa pessoa. Nesta fila e nesta situação, nada melhor que uma leitura.
O livro sugeria uma capa bem acolhedora de uma mãe - meio que estilo “pin-up” -, mas o bebê em seu colo parecia um pão. A obra em questão era “Meu Filho, Meu Tesouro” (1946), de Benjamin Spock.
Finalmente, ao caixa perguntei se tinha café e manteiga, afinal, na verdade, me faltavam estes ítens para o meu completo café matinal e não mais o pão. Fui muito bem atendido. Recebi a manteiga, que vinha em forma líquida dentro de um botijão, de gás, além do café, em uma pequena xícara, que sorria, tinha lindos olhos e vírgulas...
Fiquei com vontade de comprar mais pão que estava saindo, fervendo, da 50ª fornada. As crianças até quiseram me emprestar um dos CPFs delas para que eu levasse uns 5 pães no mínimo, mas eu ia fazer render outra rodada de pães e isso ia levar não sei quantos meses ou anos. Eu já ia para a 50ª leitura do livro emprestado, então, deixei para lá. Até porque eu não aguentava mais ler sobre crianças e vê-las todas na minha frente.
Sendo assim, depois de tudo muito custoso, protegi meu único pão e arrisquei sair novamente. Para mim, era só atravessar a rua que eu estaria em casa, mas fiquei receoso com a chuva, ela me observava com sorriso de canto de boca, tipo a pintura da Mona Lisa. Nesse ínterim, eis que um carro pára na minha frente e me oferece uma carona. Eu avisei que não precisava, pois era só atravessar a rua. Mas quando olhei bem para dentro do carro e vi quem era, aceitei o convite imediatamente. Franz Kafta. O próprio! Assim, o próprio livro. E não a Metamorfose, mas sua biografia escrita por ninguém menos que o ex-ministro da educação. O livro dirigia e no banco de trás estavam, uma carta ao pai e um monte de kaftas frias no palitinho. Conversamos um pouco, pois o livro precisou fazer algumas manobras perigosas para me deixar na porta de casa. Ignorando a biografia, tive muito contato mesmo foi com as kaftas e a carta ao pai. Não ousei lê-la, mas joguei todas as kaftas dentro de um envelope, porque elas não paravam de falar "quando certa manhã o senhor Gregório do Vivier acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama transformado em um kafta gigante, oh!".
Cheguei em casa anos depois, ou talvez algumas horas. Não sei precisar… - mas o que importa? Que diferença faz se você perde anos ou segundos para comprar pão? O que na verdade é o tempo, senão o prazer pela compra e, consequentemente, a sua mais refinada degustação e que envolve todo o processo de ir a padaria comprá-lo, chegar em casa e comê-lo?
Então, quando eu ia começar a lanchar, já eram umas quatro horas da tarde, eis que surge uma chamada de vídeo, vinda do aplicativo Telegram, de Dr. Freud - com aquela mesma cara de sempre, me questionou: "Você tem de escolher: ou a figura materna, ou a paterna; ou você toma leite, ou café". Chamada encerrada. Refleti muito. Quando voltei-me ao celular, para respondê-lo por texto, havia uma curiosa mensagem de um hacker se passando por mim: "Estou com arquivos que não possuem lógica alguma. Estão completamente privados de qualquer lucidez e não só: as mensagens são uma afronta à razão. Posso lhe confiar?".
Aceitei, porém com desdém. E a mensagem, com data de ontem, dizia:
"Meu caro, não estou com a mínima vontade de escrever para você. Nem para ninguém. Isto aqui, na verdade, é uma simplória introdução. Mas eu deixei o gravador ligado e, enquanto gravava, liguei o rádio e fiquei trocando de estação. Este é o arquivo em .MP3 original e há a transcrição em texto também. Ouça o que eu obtive - está transcrito identicamente do áudio para o texto - e leia-o. Segue:
… É mais para dizer que a fiz. Porque minha vontade mesmo era mandar todo mundo ir pastar. Ficam me pressionando, oras! Que saco! Porém, se você analisar isto com cuidado, poderá lhe ser muito útil. Preste atenção! Deverás tomar uma decisão por meio da insanidade (que é positivo, isso), sobre uma questão que lhe será imposta com muita seriedade, confesso. Entretanto o farás assertivamente. Veja bem, a questão é a seguinte: Não dê ouvido à razão. Nem ao Freud. Não leia nenhum dos dois Wittgenstein's (que na verdade são 5, mas os dois primeiros são evidentes) e, por favor, pare de assistir Geraldo Luís, aos domingos. É notório que isso está te angustiando. Deixe-me te lembrar uma coisa, deixe-me te dar um conselho (sei que vou parecer um bêbado anônimo): esqueceste-te de comprar o café e a manteiga na padaria, lembra-te? Você só comprou um pão por conta do teu CPF (cacete, isso não é um conselho!). Outra coisa, por fim: Escolha café com leite e bloqueie o Dr. Freud das tuas redes sociais e app de conversas. E se quiser afrontá-lo de verdade, escolha um capuccino. Ah, mais uma coisa: Você usa muita vírgula. Poupe-as um pouco mais. Cordialement (em francês) seu admirador, M.F."
Prontamente, já com o aplicativo aberto, perguntei sobre a veracidade da mensagem e se realmente ela se dirigia a mim; se podia haver uma mínima alteração, edição qualquer nas palavras do remetente, uma vez que foi transcrita do áudio e tudo mais; e das vírgulas realmente estarem bem empregadas e etc. Então o hacker respondeu: "Sobre isso, eu não sei lhe dizer. Não tenho mais nada aqui comigo, porque, como lhe disse, fui mudando as estações de rádio. Mas, no fundo, no fundo, acho que isso foi obra de um hacker. Já quanto às vírgulas, elas já operam sob a nova lei que flexibiliza as relações de trabalho. Fique tranquilo. Elas irão receber o que lhes é justo e irão se aposentar, quem sabe algum dia."
Após mais este fato, ou melhor, após todos estes casos acima, fui dormir com medo. Tive pesadelos. Acordei com os conselhos do meu amigo Wittgenstein estalando na cabeça. Ele dizia, este amigo vienense, "primeiro, meu caro, o mundo é tudo que é o caso; segundo, o que é o caso, o fato, é a existência de estados de coisas". Então, quando acordei, me deparei com a TV ligada. Passava o programa do Domingo Show, de Geraldo Luís. Ele contava intrigantes histórias de estados de coisas no mundo. Neste dia a história da vez era sobre o conjunto de fatos em uma padaria onde que a fila do estabelecimento era enorme e levava meses - quiçá anos - para terminar, além do paradoxo do último homem ser, realmente, o último da fila.
Mundo Vadio
Nas entranhas deste mundo tão vadio e vasto,
A vida desfila, indiferente ao nosso desgosto.
Ela não tem a obrigação de ser benevolente,
E nos lembra com crueldade do que é iminente.
Relações, intricadas teias de ilusão,
Nos envolvem em expectativas de decepção.
As imperfeições humanas se revelam em cada momento,
E as promessas de felicidade são um mero desalento.
O desconforto espreita nas sombras da existência,
Nosso controle é uma ilusão, uma falsa potência.
Nada, absolutamente nada, perdura no tempo,
A transitoriedade é a única constante nesse firmamento.
Viver, oh doloroso fardo que carregamos!
Um constante lamento, um peso que somos.
Enquanto a angústia permeia cada instante,
O mundo ao redor segue alheio, indiferente.
No espetáculo da vida, o que é mais espantoso
é a inconsequência da existência, o caos tenebroso.
Pois tudo o que buscamos, tudo o que desejamos,
parece desaparecer, como brumas que se dissipam ao vento.
A grandiosidade dos nossos sonhos e planos,
Desvanece-se como sombras em raios atinais.
E diante desse abismo de ilusões e desencanto,
Somos meros anfitriões de um velório aos prantos.
Ó mundo, és surdo aos nossos clamores!
Ignoras nossas dores, nossos amargores.
Enquanto enfrentamos a insondável escuridão,
tu prossegues, impávido, em tua indiferença, em tua imensidão.
Assim, caminhamos nessa jornada melancólica,
onde a tristeza nos envolve, como uma névoa etérea.
Enquanto buscamos sentido nessa existência incerta,
encontramos apenas a fria resposta: a vida é deserta.
Que nossas lágrimas se misturem às águas revoltas;
que nosso lamento ecoe pelas montanhas mais altas.
Pois somos pequenas criaturas, presas ao destino,
neste universo vasto, indiferente ao nosso caminho.
Em meio à melodia triste do ode ao pessimismo,
Afundamos‐nos nas notas do nosso próprio abismo.
E que entre as síncopes da vida encontremos um espasmo,
Um vislumbre de força, num mundo tão desdenhoso e áspero.
Apolítica
Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...

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Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...
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Depois da pandemia ouvi relatos de que condições particulares de alguns indivíduos possuíam certas anormalidades e que vinham afetando negat...
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