quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
Novos ciclos e nossas culturas permanentes
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
Como eu vejo a Filosofia
domingo, 11 de dezembro de 2022
Nietzsche e os conceitos de transvaloração dos valores e o além-homem
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
O DIA EM UM SEGUNDO
Amanheceu, os raios do sol anunciam.
Os pássaros cantam, filhotes piam…
Há um movimento natural nas coisas pela manhã
e o pobre silêncio da madrugada anterior é amordaçado
Tirânico e real, novo dia
Eis que ele surge e nos coage ao movimento, a seguir em frente, a viver
Porém não é o que pretendo fazer
Não preciso obedecê-lo
É a escuridão e a madrugada, que me atentam
Me deixam com calor; em graus, à beira dos “40”
A mim elas se perpetuam
Sejam em vigília, sejam em meus sonhos
É uma vontade imensa que a intensa noite jamais termine
Não porque ela é agreste, acolhedora e silenciosa (e o é de fato),
mas por estar-lhe atado
Me comprazo e daqui não arredo
Quando nos segredos das sombras me adentro, desejo
que o Sol, em um segundo, porcorra;
voe por minha cabeça, se esconda atrás da montanha
para que de novo anoiteça.
Assim, que retornem o silêncio e a escuridão
Entidades que me confortam o ser
Porque herdo o silêncio e abandono o que cansa os olhos
É o que mais gosto nas noites e madrugadas
Essa vontade de não ter vontade
Refletindo sem fazer nada
Ficar inerte, sem contato,
nem inteiro ou pela metade
Simplesmente não ser
Passar a não existir, porém presente, ciente
Embora que triste durante o dia,
mas feliz à noite com o imortal elixir
É durante esse momento que surge a veia anárquica
Tirar seu poder, fazê-lo ruir
Sair da teoria e por tudo em prática
Até aos confins noturnos, viajar
Nele estar e deixar meu suspiro
Eternamente noite, Lua, estrelas
Sonhos, alegrias, brincadeiras
A noite é uma criança
Nunca cresce, envelhece, sequer morre
Eu a torno assim e assim também me tornei:
Um Deus que nem atingiu a puberdade
Que tem diante de si toda eterna noite, espaço-tempo e liberdade
Jean-Paul Sartre: a liberdade. Somos livres mesmo?
Vou tentar ser breve no conceito filosófico de Jean-Paul Sartre, francês (1905 – 1980). Filósofo da corrente Existencialista, mas existencialismo ateu. Lembrando que para o filósofo francês, a existência de Deus, ou divindades não é ponto focal para sua filosofia. Sartre fala sobre a Liberdade. Seu pilar filosófico, naturalmente. A liberdade pertence a essência do humano, lhe é intrínseca. Não só somos livres, contudo, estamos condenados a isso. Condenados a sermos livres. Mas não é uma liberdade no senso-comum; não é essa a qual temos ciência, como de costume. Ou seja, fazer tudo o que der na telha quando as oportunidades nos batem à porta. Não é bem isso.
Todavia, existem outras definições: liberdade é você não ser servo da sua mente, inclusive da vontade desenfreada de ser livre. Ou melhor, segundo Kant, liberdade é você sobrepor a razão às pulsões, não se tornando refém delas. Entretanto, outro caso, não podemos nos tornar refém da razão em detrimento das pulsões – assim falava Nietzsche, contrapondo-se ao iluminista. Maquiavel definia a liberdade como ser fiel ao seu próprio Estado; para Etienne La Boétie, era simplesmente não servir, nada fazer ante a um governante, um tirano ou a quem quisesse lhe extinguir a liberdade ou pleno direito a escolhas por si só.
Mais um pouco sobre esse tema, temos uma alegoria e um fato: Primeiramente, o carcereiro e o preso, tanto um quanto o outro, estão condenados. Quiçá o carcereiro mais ainda que o preso, pois que o preso pode estar se sentindo mais livre do que muitos imaginam. Segundo, o genial, astrofísico Stephen Hawking, uma vez disse num documentário – desses de TV à cabo -, qual ele fazia parte: “Apesar de eu estar preso a esta cadeira e não mover nenhum músculo, minha mente é completamente livre e alcança os confins do universo.”
Tendo uma ideia já do que somos e podemos, na perspectiva de Sartre, podemos partir para uma próxima premissa: a escolha. Toda liberdade se submete à escolha – paradoxal essa submissão, totalmente avessa à liberdade. Então, ainda assim, por mais que não queiramos a nada escolher, ainda assim estamos fazendo uma escolha. Estamos condenados a isso. “Condenados a ser livres” – diz Sartre. Contudo, a partir desse ponto é que surgem alguns problemas, porque, escolhas requerem descartes, negações, deliberações e em paralelo a isso, responsabilidades Somos humanos, não advindo de nenhuma divindade, bastamo-nos por nós mesmos. Somos autossuficientes e responsáveis e somos a consequência das nossas escolhas.
É verdade, somos humanos. Sofremos – a morte e o sofrimento são os queridinhos da Filosofia, diga-se de passagem. Nossas escolhas geram angústias, crise. Não há como fugir disso: devemos escolher. E escolher é responsabilidade. Escolher é renunciar, é deixar algo. Isso nos custa e machuca muito. Imagina a gama de coisas que renunciamos durante o nosso dia-a-dia e, dentre essas, devemos optar por somente uma? O quanto de coisas descartamos, não é? E fica aquela reflexão: será que fiz a escolha certa? Isso veremos mais adiante*. A partir daí temos duas situações: Optarmos por algo, porém com certas angústias e futuras responsabilidades ou delegamos aos outros a escolherem por nós. Primeiro que, ao se escolher algo, da mesma forma os outros também o fazem. Daí há um choque de interesses, conflitos. Por exemplo, todos anseiam ao mesmo fim, ou a um idêntico desejo, ou objeto… Isso não é sadio. Acaba que um torna o outro como um inferno em suas vidas. Eis a famosa frase “o inferno são os outro”. E, em segundo lugar, todos nós nos burlamos. Com isso solicitamos ou deixamos que o próximo faça escolhas por nós – devido a conta das nossas angústias por tanto rejeitar opções -, jogando a própria sorte aos riscos de uma pessoa escolher errado por nós. E por que mais esse “sofrimento”? Porque aquele que não vive minha existência, minhas dores, minhas vontades, minha existência, não pode fazer uma perfeita escolha por mim. Para que haja liberdade devemos ter o poder da escolha; para a escolha, somente o indivíduo, sua deliberação, sua vontade intrínseca.
Sobre a escolha certa*: a alusão ao “preso e o carcerário” que Sartre tenta nos passar a ideia de liberdade: o preso reflete: “o carcereiro está tão preso quanto eu. Uma grade, dois homens. Quiçá eu ainda sou mais livre do que ele”. (Isto não se encontra escrito exatamente em Sartre [risos]). Sim, na verdade, a prisão ou a privação não está remetida somente ao corpo ou ao espaço físico, mas ao ato de pensar, se pronunciar, de ser/ estar. Ninguém pode nos impedir de pensar, de refletir, de desejar, sonhar e etc. Isso é liberdade para Sartre. Então, essa noção de liberdade é o estado de consciência, de uma escolha assertiva e, a partir disso, viver bem com ela. Esse movimento é um processo intrínseco que só o indivíduo pode passar, pode saber. Entretanto, lembrando que a liberdade é um fardo, gera responsabilidades.
Por fim, existe alguns entraves, alguns percalços externos que supõe-se atrapalhar nossa caminhada, nossa liberdade. Saiba que nada disso é impedimento. Nenhuma ação é impedida. Vide a alegoria do preso e o carcereiro, a vida de Stephen Hawking? Algo nesse mundo os impedia de escolher? De serem livres? Uma pessoa cega, por exemplo, tem privação de sua liberdade? Não enxergar o mundo não a faz completamente inútil. Esta pessoa ainda exerce plenamente suas faculdades, que lhe são inatas: os outros sentidos. Ela pode estudar braile, música, dança, trabalhar com as mãos, utilizar todo seu potencial intelectual e etc. Esses conceitos de Jean-Paul Sartre não são para reforçar e justificar àqueles que carecem de necessidades básicas. Pelo contrário! A liberdade não se afrouxa ante a necessidade, ela se relaciona. Seja de um cego, seja de um paraplégico. O conceito de liberdade, nesse caso de necessidade, não diz respeito àquilo que se precisa, mas àquilo que não pode ser diferente do que é. Uma pessoa pobre, talvez de uma favela, está privada, completamente, de fazer suas escolhas, de ser livre? (Cabe reflexão). Porém são nesses casos que a liberdade, segundo Sartre, torna-se um potencial para o indivíduo. Para o filósofo francês, isso é engajamento, é a autonomia da pessoa posta à prova diante de si; de livrar-se daquilo que ela não controla; de transformar-se, aliada à liberdade, ao poder de escolhas. Sempre haverá uma escolha, se intrínseca, se assertiva, haverá sucesso. Afinal, somos livres. Condenados a ser livres, não é? Portanto, é aproveitar sabiamente
A ESTRANGEIRA
Lembra-te, estrangeira, estavas comigo
Eu também era todinho teu
Saímos de um rústico abrigo
Rumo a luz, para bem longe do breu
“Olha o que temos à frente
Uma bela e vasta campina
Tão verde, de chão tão quente
Pronta para deitarmos em cima”
Eis que você se jogou na grama rasa
Deitada com um olhar faceiro
Como quem não quisesse nada
Convidou-me a ser seu parceiro
O campo tinha suas ondulações
Ficamos tão bem acomodados
A terra, dócil, pegou-nos no colo
Porém para manter-nos acordados
Não seria justo caírmos no sono
Na verdade nem havia como ou porquê
Estávamos ávidos demais não tinha como
Queríamos muito a uma coisa só fazer
Era algo como que programado:
Olhávamos nos olhos sem piscar
Com isso ficávamos arrepiados
nossos rostos começavam a corar
Você tocava suavemente meu rosto
Minha mão contornava tua cintura
Beijavamo-nos sem pressa, com gosto
Com todo o cenário: arte, bela pintura
Nossos corpos ardiam como magma
Ofegantes parecíamos dois tornados
Transpirávamos como a uma enxurrada
Gemidos e sussurros um som orquestrado
Na aromática relva rolávamos
Como folhas soltas ao vento
Daquela forma nos amávamos
Apenas nós, por nós, sedentos
O Sol era única testemunha
Seus raios a nós banhavam
Nu, riscavam-me gramas e unhas
Nua, tua úmida tez se bronzeava
Nossos movimentos tremiam a Terra
Chocávamo-nos fortemente contra o outro
Parecíamos, estrangeira, estar em guerra
Não por petróleo, território ou ouro
Em meu corpo queria-te plenamente
As pulsações marcavam nosso ritmo
Tu também me desejavas internamente
Explorando lentamente todo teu íntimo
“Está tudo bem intenso, marcante
Sentiste-me quente, latejante
Tu, estrangeira, rosa desabrochada
Macia, lisa, cheirosa e molhada”
Eis uma bela manhã que não terá fim
Estamos ainda aqui, deitados, pensando
descansando agora em um florido jardim
Com nossos tesões ainda pulsando
Tudo bem?
Eu sei que pode
Quem melhor pode me ouvir
que eu mesmo?
Sei que tem horas
que não se escuta nada
Deixe a chuva cair
O vento soprar
Atente-se aqui
ao que tenho a falar
Vendo nossa flor murchar
O que é força, relaxar:
O desatino jaz
Está acomodado
Não nos deixa em paz
Se sente coroado
Aquele nosso sono pesado
Só há parede para amparar:
A angústia predadora
Nos caça todo dia
Das atitudes pecadoras
dos corações que ela partia
Precisas me ouvir,
precisamos conversar
Agora que você me ouviu
É a tua hora de falar
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