A ESTRANGEIRA
Lembra-te, estrangeira, estavas comigo
Eu também era todinho teu
Saímos de um rústico abrigo
Rumo a luz, para bem longe do breu
“Olha o que temos à frente
Uma bela e vasta campina
Tão verde, de chão tão quente
Pronta para deitarmos-na em cima”
Eis que você se jogou na grama rasa
Deitada com um olhar faceiro
Como quem não quisesse nada
Convidou-me a ser seu parceiro
O campo tinha suas ondulações
Ficamos tão bem acomodados
A terra, dócil, pegou-nos no colo
Porém para manter-nos acordados
Não seria justo caírmos no sono
Na verdade nem havia como ou porquê
Estávamos ávidos demais não tinha como
Queríamos muito a uma coisa só fazer
Era algo como que programado:
Olhávamos nos olhos sem piscar
Com isso ficávamos arrepiados
nossos rostos começavam a corar
Você tocava suavemente meu rosto
Minha mão contornava tua cintura
Beijavamo-nos sem pressa, com gosto
Com todo o cenário: arte, bela pintura
Nossos corpos ardiam como magma
Ofegantes parecíamos dois tornados
Transpirávamos como a uma enxurrada
Gemidos e sussurros um som orquestrado
Na aromática relva rolávamos
Como folhas soltas ao vento
Daquela forma nos amávamos
Apenas nós, por nós, sedentos
O Sol era única testemunha
Seus raios a nós banhavam
Nu, riscavam-me gramas e unhas
Nua, tua úmida tez se bronzeava
Nossos movimentos tremiam a Terra
Chocávamo-nos fortemente contra o outro
Parecíamos, estrangeira, estar em guerra
Não por petróleo, território ou ouro
Em meu corpo queria-te plenamente
As pulsações marcavam nosso ritmo
Tu também me desejavas internamente
Explorando lentamente todo teu íntimo
“Está tudo bem intenso, marcante
Sentiste-me quente, latejante
Tu, estrangeira, rosa desabrochada
Macia, lisa, cheirosa e molhada”
Eis uma bela manhã que não terá fim
Estamos ainda aqui, deitados, pensando
descansando agora em um florido jardim
Com nossos tesões ainda pulsando
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