sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Amor e anarquia
Amor e anarquia 2
– Foi daí quando decidi que não ia acabar como você. Desde então toda minha vida tem girado em torno disso. Cada passo, cada pensamento, tudo o que eu faço é para você…
– Eu sei disso, eu entendi. Eu sei disso…
– Você desapareceu nos seus próprios pensamentos e em fantasias em vez de ficar comigo. Você achou mais importante ficar preocupado com a situação política do mundo do que ficar comigo. Como pode fazer isso?
– Eu queria me rebelar, eu acho. Mas sabendo que podia fazer isso, fiquei preso em algum lugar no meio de tudo isso.
– Eu nunca vou ser como você…
– É… Eu também torço por isso. Eu ficaria muito chateado se você fosse como eu.
Um diálogo da série “Amor e Anarquia”. Netflix.
Nele, tal pai, tal filha, dialogam: suas rebeldias são da mesma estrada, porém de “mãos” opostas.
Além do mais, mais uma lição, atentem-se: O que muito promete libertar, aprisiona. O que oferta muito progresso, limita ou regride.
Vejam, geralmente os lados extremos das ideologias políticas partidárias são tão prejudiciais – expostas no diálogo – a ponto de um pai esquecer que tem uma filha e (não sei o que pode ser pior) de ele vir a terminar em um centro psiquiátrico por conta de sua ideologia, que o aprisiona, que o impede de ver quão belo é o mundo e as pessoas – inclusive sua família.
Lhes digo, vivam! Mas apenas as suas maneiras. Sem ordens, sem hierarquias, sem ideais superiores que buscam um mundo perfeito e belo em um lugar desconhecido – quiçá inexistente -, através de promessas surreais, incompatíveis com vossas realidades.
Vivam aqui e agora. Vivam para vocês. Para suas famílias, seus próximos. Sejam leves consigo mesmos, livres, estejam bem.
Além do mais, não procurem ninhos de vespas ou covis de lobos como aperfeiçoamento intelectual ou como prática caridosa do dia a dia – de boa intenção o inferno está cheio! Você mesmo(a) pode fazer isso sozinho, por si só e, melhor, sem nada em troca; sem o peso de chumbo da moeda de troca que lhe cobram em cada sua investida.
Todavia, tudo bem que o façam, que pratiquem caridades, que ajudem ao próximo, que se ajudem também. Mas que isso tudo seja como em Mateus, versículo 6: sem trombetas, ou de pé nas sinagogas fazendo anúncios, buscando “likes”, “hastags”, reconhecimentos coletivistas e ou plaquinhas como aquelas de funcionários do mês… O mundo não precisa de vocês se autopromovendo através de “caridades”, ninguém precisa saber que você é bom. Apenas você. E o seja!
Por fim, vivam somente do seu jeito, sem mais! Busquem-se, aceitem-se por si só e não pelos outros. Deste modo, encontrarão, assim, de verdade, a liberdade e o progresso em vosso íntimo: o seu mundo perfeito interior, o seu mundo interior perfeito.
Trechos e contextos
O que está em jogo na questão das identidades?
[…] uma situação concreta e do que está “em jogo” nessas contestadas definições de identidade e mudança, vamos tomar um exemplo que ilustra as consequências políticas da fragmentação ou “pluralização” de identidades.
Em 1991, o então presidente americano, Bush, ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana, encaminhou a indicação de Clarence Thomas, um juíz negro de visões políticas conservadoras. No julgamento de Bush, os eleitores brancos (que podiam ter preconceitos em relação a um juiz negro) provavelmente apoiaram Thomas porque ele era conservador em termos de legislação de igualdade de direitos, e os eleitores negros (que apoiam políticas liberais e questão de raça) apoiariam Thomas porque ele era negro. Em síntese, o presidente estava “jogando o jogo das identidades”.
Durante as “audiências” em torno da indicação, no Senado, o juiz Thomas foi acusado de assédio sexual por uma mulher negra, Anita Hill, uma ex-colega de Thomas. As audiências causaram um escândalo público e polarizaram a sociedade americana. Alguns negros apoiaram Thomas, baseados na questão da raça; outros se opuseram a ele, tomando como base a questão sexual. As mulheres negras estavam divididas, dependendo de qual “identidade” prevalecia: sua “identidade” como negra ou sua “identidade” como mulher. Os homens negros também estavam divididos, dependendo de qual fator prevalecia: seu sexismo ou seu liberalismo. Os homens brancos estavam divididos, dependendo, não apenas de sua política, mas da forma como eles se identificavam com respeito ao racismo e ao sexismo. As mulheres conservadores brancas apoiavam Thomas, não apenas com base em sua inclinação política, mas também por causa de sua oposição ao feminismo. As feministas brancas, que frequentemente tinham posições mais progressistas na questão da raça, se opunham a Thomas tendo como base a questão sexual. E, uma vez que o juiz Thomas era um membro da elite judiciária e Anita Hill, na época do alegado incidente, uma funcionária subalterna, estavam em jogo, nesses argumentos, também questões de classe social.
A questão da culpa ou inocência do juiz Thomas não está em discussão aqui; o que está em discussão é o “jogo de identidades” e suas consequências políticas. Consideremos os seguintes elementos:
* As identidades eram contraditórias. Elas se cruzavam ou se “deslocavam” mutuamente.
* As contradições atuavam tanto “fora”, na sociedade, atravessando grupos políticos estabelecidos, quanto “dentro” da cabeça de cada indivíduo.
* Nenhuma identidade singular – por exemplo, de classe social – podia alinhar todas as diferentes identidades com uma “identidade mestra” única, abrangente, na qual se pudesse, de forma segura, basear uma política. As pessoas não identificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe; a classe não pode servir como um dispositivo discursivo ou uma categoria mobilizadora através da qual todos os variados interesses e todas as variadas identidades das pessoas possam ser reconciliadas e representadas.
* De forma crescente, as paisagens políticas do mundo moderno são fraturadas dessa forma por identificações rivais e deslocantes – advindas, especialmente, da erosão da “identidade mestra” da classe e da emergência de novas identidades, pertencentes à nova base política definida pelos novos movimentos sociais: o feminismo, as lutas negras, os movimentos de libertação nacional, os movimentos antinucleares e ecológicos (Mercer, 1990).
* Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida. Ela tornou-se politizada. Esse processo é, às vezes, descrito como constituindo uma mudança de política de identidade (de classe) para uma política de diferença.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Laparina. 2015
33 anos depois – um número bem simbólico – Exu é vingado! Parabéns à G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio
Em 1989 – data marcante em comemoração dos 100 anos da República no Brasil -, a G.R.E.S Beija-Flor de Nilópolis fez um desfile revolucionário. Este desfile histórico, com o enredo “Ratos e urubus, larguem minha fantasia!”, falava sobre o lixo, críticas sociais, favelas, moradores de rua e tinha como seu principal – vamos dizer – protetor, Lebara, ligado a Exu. Por uma infelicidade, os jurados justificaram “palavras de outras línguas” e “incompreensibilidade” na letra do samba e tiraram nota da escola dizendo não haver contexto. A Beija-Flor amargurou o segundo lugar. Uma pena… Bastava saber que Candomblé lidava com isso e quem era Lebara e o seu significado (em yorubá). Ou seja, o refrão “Leba larô ô ô ô ô / Ébo lebará laiá laiá ô”, tirou o título da Escola naquele ano.
Em contrapartida, a campeã, G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense trazia o “luxo e a nobreza” do Império e a passagem para a República; a abolição da escravidão sob a lei assinada pela princesa Isabel e uma nova vida de liberdade e alegria para os ex-cativos. (Contestadíssimo, atualmente, esse fato. Mas não vem ao caso). Com o samba “Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós”, bravamente, a Imperatriz foi a campeã daquele disputadíssimo ano.
Particularmente, achei um resultado injusto. A Beija-Flor deveria ter ganhado. Para mim, com todo respeito à gigante Imperatriz, o título deveria ficar em Nilópolis. Até hoje se comenta aquele desfile. Quem narrou, ficou em êxtase; quem estava lá, viu algo surreal, viu uma história sendo contada se transformando em história. Que carnaval! Acompanhei, com meus 10 anos de idade, mas em casa, pela TV.
Hoje, enfim, temos Exu novamente em destaque, mas agora ocupando o título máximo da festa popular, o único rei em sua coroa por direito. Sua celebração vai ser regada à cachaça, acaçá vermelho, farinha de milho amarelo mergulhada no dendê (rs), pimenta, cebola, muita carne e muita alegria! Eis o mínimo que se deve ter como celebração, hoje, na GRES Grande Rio. Lindo desfile, linda homenagem, justíssimo título! Salve Exu, Salve Lebara, Salve o Candomblé, a Umbanda e todas as demais religiões de cunho africano.
Trechos e contextos - Sujeitos.
Dentre três concepções de sujeito, há duas interessantes. A primeira, pode-se dizer do "sujeito cartesiano" - o advento do indivíduo no "centro do Universo". Grande parte da história da Filosofia Ocidental levou essa concepção de sujeito, que consiste em reflexões sobre seus poderes e capacidades depois de uma espécie de deslocamento de Deus do centro do Universo e de toda uma Filosofia, até então, pautada Nele. Sobre isso, partindo do sujeito que pensa e age por si, até a uma concepção de Deus, Descartes elaborou duas substâncias distintas. Pode-se dizer que são “matéria” e “mente”. Sobre a mente - adiantando muito o assunto -, o filósofo francês pôs o sujeito individual no centro das tomadas de decisões e capacidade para produzir, constituído por sua capacidade para raciocinar e pensar - o famoso "(eu) penso, logo existo". Desde então, esse vinha sendo o sujeito racional, pensante e consciente no centro do conhecimento.
(HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Laparina. 2015).
Diferentemente do sujeito descrito acima, a segunda concepção vem afirmando que ele é tratado como aquele que não é dono de seu discurso, nem de sua vontade. Ou seja, sua consciência é produzida fora dele. O que leva ao sujeito a não saber o que diz, nem o que faz, ou seja: “não pensa”, logo “não existe”. Considerando isso, quem fala é um sujeito anônimo, social, coletivo; um sujeito dependente, repetidor. Ele tem apenas a ilusão de ser a origem de seu enunciado. Fato que a ideologia utiliza para fazê-lo pensar que é livre, que diz o que deseja. Isto é, esse sujeito está, de fato, inserido numa ideologia, numa instituição da qual é apenas porta-voz - uma antena repetidora. Porque há um discurso por trás dele, que o utiliza como replicador, sem filtros, de discursos já prontos. Os enunciados não têm origem no sujeito, e são em grande parte um emaranhado que já se perderam de sua origem, apenas vagam por aí. Ademais, por fim, os sentidos que os enunciados carregam são consequência dos discursos que pertencem a outras instâncias, as RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS.
(KOCH, Ingedore. Desvendando os segredos do texto; Cortex Editora).
Soneto onde o vento parou na curva
Aos meus olhos ela se põe
Como uma santa ao devoto
Delicadeza que nela eu noto
Além do mais que ela expõe
Deveras pura é sua tez
Me atenho à forma sinuosa
Bela, porém, curva perigosa
Acidento-me em minha timidez
Gosto quando encara sem pudor
Não és lá uma santa eu sei
Contudo tem tamanho valor
Em seu ardente olhar esbarrei
Tudo em meu corpo é só calor
Confesso, amor, logo me apaixonei
terça-feira, 15 de novembro de 2022
O Mal
Confesso que, após assistir ao filme, fiquei muito crente na existência de um mal; um mal que nos ronda, que nos observa e nos tenta. Obviamente um mal externo que eu não sabia explicar, mas tinha fé que existia. Estranhamente, eu nunca ousei questioná-lo; jamais tive a coragem de enfrentá-lo ou, sequer, ignorá-lo por completo. Criei a ideia de mal e passei a temê-lo, a respeitá-lo. Concebi algo inexistente.
Entretanto, com o passar do tempo, através do exercício filosófico natural da nossa existência, em princípio, percebi que ao longo da nossa existência houve um processo de idealização em respeito a este tema: o mal.
A começar pela Ilíada, de Homero, através dos seus belos registros, houve, na Grécia antiga, uma exaltação à bravura, aos guerreiros, à busca pelo reconhecimento e pela eternização de seus feitos. Não havia espaço para fracos, medrosos, covardes. As lutas eram marcadas somente entre os nobres homens e, inclusive, deuses. Sim, deuses brigavam, tramavam e apoiavam, alguns, os gregos e, outros deuses, os troianos. Via-se também que os deuses conviviam, estavam presentes. O Olimpo era aqui na Terra, um pouco acima das nuvens; havia morada também de outros deuses nas profundezas dos mares e da Terra.
Dentro desse universo, podemos ver que não havia um fundamento moral, uma verdade, não havia ideia do mal - do que era a maldade - e, consequentemente, do bem - e suas bondades. Já nos primeiros cantos da Ilíada, via-se invasões de terras, povos escravizados e mortos de formas cruéis. No entanto, aquilo tudo era o que era. Os jogos entre os deuses; as batalhas interpessoais; as belas escravas, Criseida e Briseida, sendo manipuladas em disputas; Helena deixando seu marido, Rei de Esparta, numa fuga com Paris… Tudo sem o mínimo senso de moral, de zelo; nenhum princípio era posto à frente das atitudes, nenhum respeito mútuo e tudo aquilo com a aprovação ou retaliação dos deuses.
Séculos depois, ainda no ocidente, com o decálogo de Moisés ao advento do cristianismo, algumas noções foram ganhando forma e lugar. As leis que Deus teria dado a Moisés seriam uma forma de compreender todas as nossas ações enumeradas em dez deveres. Eis as leis definitivas para que o indivíduo levará consigo para se ter uma vida virtuosa. Esta espécie de princípio da moralidade foi se alastrando, se estabelecendo e, a partir daí, algumas coisas foram postas em margens opostas do rio da vida. Bem e mal foram inculcados nas mentes daquela época: virtude e vício, certo e errado, pecado e obediência e, por fim, Deus e o Diabo. Aquele que não caminhar nas linhas definitivas dos mandamentos, será considerado um pecador, um violador das leis e portanto, o mal - sem contar o mundo das ideias e o mundo dos sentidos, onde que se foi criado um mundo externo para aplicar neles todas as imperfeições que assombravam a nossa realidade mundana.
Mais séculos à frente, um filósofo chamado Immanuel Kant, tratou de reduzir praticamente todas as nossas atitudes em uma só, em um só “mandamento”, ordinariamente a chamada de "regra de ouro”. Eis o seu famoso conceito de imperativo categórico. Isso é até coerente, porque, o ser humano não podia estar limitado a apenas dez atitudes a cumprir para se estar dentro das benesses mundanas e suas relações. Isso até procede, porque, em vista dos dez mandamentos, o que dizer de uma pessoa que não viola nenhuma lei, mas que de alguma forma prejudica o outro? Não há um terceiro excluído neste jogo de bem e mal da moralidade cristã: ou a pessoa é boa, porque segue os mandamentos, ou é má porque as viola. Porém , nossas atitudes são milhares… O nosso agir, nossas relações. Somos afetados diversas vezes, quiçá em um único instante. Então, apenas dez leis não seriam suficientes para julgamentos certeiros sobre milhares de ações. Dessa forma, sendo impossível ampliá-las ao infinito, o sensato foi resumi-las em uma só. Uma que abarcasse todas as nossas atitudes. Uma lei que pudéssemos dizer: o que eu fiz foi bom. Com este único “mandamento”, Kant sintetizou todas as nossas ações, de todas as pessoas e de todos os lugares e tempo.
Para não me estender muito, pararei em Kant para retomar ao questionamento que me fez demolir algumas destas questões supracitadas aceitas como verdades irretocáveis sobre o bem e o mal. Supondo, primeiramente, que existam fora da nossa psiquê: seriam eles entidades fora da nossa realidade, questões externas a nossa existência? Se sim, teremos que assumir um “fora” da nossa realidade. O que seria impossível, pois uma realidade primeira não pode criar outra realidade fora dela. Aceitável seria uma realidade criar algo para dentro de si, em seu universo. Logo, descarta-se a possibilidade de haver um bem e, concomitantemente, o mal externamente, transcendente.
Em segundo lugar, supondo que o bem e o mal são imanentes, que estão em nossa realidade, então, não foram criados por nada externamente a nossa existência. Se isso procede, quem cunhou o bem e o mal? Como e quando se bateu o martelo sobre o que é o bem e o que é o mal? E mais: isto já veio escrito, anterior a nossa existência? Quem o escreveu? - e, se alguém ditou estas regras antes mesmo de nossa existência, já cai na contradição de algo ter dito do bem e do mal fora da nossa realidade - pois entendemos que não há nada exterior a ela. No máximo pode-se dizer que o bem e mal são criações de convenções das próprias pessoas.
Mas agora, outra questão: se bem e mal foram criados, o foram em algum momento; então, que momento foi esse? Por quais pessoas? Algum papa, algum rei, antigos filósofos, os primeiros habitantes da Terra? Será que o pensamento destes, seja do indivíduo, seja de um coletivo, abarca todo e qualquer ser humano de cada canto deste planeta e de tempos diferentes? O que seria bom para os hindus de 3 mil anos atrás também era para os egípcios da mesma época? Quem era a medida para todo o bem e o mal a ponto de eternizá-los como bem e um mal supremo? Qual era a régua, qual balança que se usou para medir o bem e o mal? Então, com certeza, pode se dizer que esta aplicação de bem e mal é subjetiva; é um julgamento individual e diversifica-se com o tempo, com as vivências, com contextos distintos. Logo, não se tem uma equidade para se dizer o que que é bom para um indivíduo ou para um povo em espaço e tempos díspares.
Portanto, uma moralidade que traz a ideia do que é bom e o que é mal está, analogamente, em uma correnteza, em um fluxo quase que heraclitiano, onde que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio - quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou: a mesma coisa se dá com esta sensação de bem e mal. Não há uma ideia fixa, eterna de bem e mal. Estes quesitos morais, adotados por aqueles que acreditam em algo superior transcendente, estariam - caso entende-se que há um bem e um mal exterior - em constante devir. Sendo assim, seria correto afirmar que a ideia de bem e mal são fincadas em bases nada firmes, sob fortes correntezas.
Ademais, é importante entender que, o que existe, de fato, é a nossa potencialidade, nosso agir, nossa relação para com o próximo e que vão se modificando conforme o tempo vai perpassando nossas vidas e trazendo outras, com novas experiências e potencialidades - dado que não existe nada sobrenatural, nada além da natureza, externamente, que rege os acontecimentos do mundo. Esta questão, pois, traz-nos um problema. Se cremos que nos acontecimentos há uma ordem para além de nosso mundo, entendemos que esta ordem precisa ser obedecida, compreendida, que nos conforta e, assim, possamos seguir nesta ordem de mundo perfeitamente. Isto porque acaba surtindo, em nós, um efeito moral, pois esta ordem é vista como a verdade plena. Agora, se acontece um evento fatídico, por exemplo, uma injustiça, qual não se consiga compreender, aplicamos-na a este ordenamento verdadeiro externo, com finalidade de uma busca lógica, racional, para que expliquemos e nos consolemos diante da triste injustiça. Portanto, julgamos o que é mau àquilo que não conseguimos compreender, aquilo que foge a nossa compreensão.
Por fim, com base nestes conceitos da negação do bem e do mal, Spinoza e Nietzsche entendem de formas semelhantes o conceito em si, porém há uma leve distinção entre eles. Para Spinoza, o bem e mal são medidos por nosso estado de alegria ou tristeza e que, tais estados, sob a ação dos afetos, podem amplificar ou não nossa potência de agir. A partir disso o filósofo holandes diz que ainda que tenhamos um conhecimento real do que é o bem e o mal, não poderemos refreá-lo - não enquanto conhecimento real, mas sim como um afeto. Portanto, para Spinoza, bem e mal é um julgamento subjetivo em meio a afetos sob uma rede complexa de potencializações. Por outro lado, para Nietzsche, bem e mal surgem de interesses de classes, precisamente, da maior potencialização de uma classe em detrimento de outra. Assim, sua investigação se dá de forma histórica e crítica da maturação dos conceitos morais nas sociedades. De fato, o conceito de bem e mal, nasce do antagonismo das classes sociais, onde Nietzsche procurou investigar a historicidade das alterações que a moral veio sofrendo. Neste sentido, ele percebeu que as palavras bem e mal expõem uma a psiquê com origem no platonismo onde despontou o espírito de ressentimento contrários aos valores naturais da nobreza e da classe guerreira; isso provocou as classes inferiores, que tentavam usar tais valores para si invertendo-os. Além disso, é com o advento do cristianismo que consolida-se a ideia de que o que é bom é aquilo que é humilde e sem força em contrapartida daquilo que é forte e nobre, que é tido como algo ruim e, consequentemente, mal. Portanto, para Nietzsche, bem e mal é pensado de forma que o homem é, por natureza, um ser dominante, porque, lhe é intrínseco os instintos de dominação. Além do mais, a partir de uma perspectiva geral, há um julgamento mútuo, objetivo, entre as redes complexas de potencialidades das que dominam e das que são dominadas.
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