Trechos e contextos - Sujeitos.

Dentre três concepções de sujeito, há duas interessantes. A primeira, pode-se dizer do "sujeito cartesiano" - o advento do indivíduo no "centro do Universo". Grande parte da história da Filosofia Ocidental levou essa concepção de sujeito, que consiste em reflexões sobre seus poderes e capacidades depois de uma espécie de deslocamento de Deus do centro do Universo e de toda uma Filosofia, até então, pautada Nele. Sobre isso, partindo do sujeito que pensa e age por si, até a uma concepção de Deus, Descartes elaborou duas substâncias distintas. Pode-se dizer que são “matéria” e “mente”. Sobre a mente - adiantando muito o assunto -, o filósofo francês pôs o sujeito individual no centro das tomadas de decisões e capacidade para produzir, constituído por sua capacidade para raciocinar e pensar - o famoso "(eu) penso, logo existo". Desde então, esse vinha sendo o sujeito racional, pensante e consciente no centro do conhecimento.

(HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Laparina. 2015).


Diferentemente do sujeito descrito acima, a segunda concepção vem afirmando que ele é tratado como aquele que não é dono de seu discurso, nem de sua vontade. Ou seja, sua consciência é produzida fora dele. O que leva ao sujeito a não saber o que diz, nem o que faz, ou seja: “não pensa”, logo “não existe”. Considerando isso, quem fala é um sujeito anônimo, social, coletivo; um sujeito dependente, repetidor. Ele tem apenas a ilusão de ser a origem de seu enunciado. Fato que a ideologia utiliza para fazê-lo pensar que é livre, que diz o que deseja. Isto é, esse sujeito está, de fato, inserido numa ideologia, numa instituição da qual é apenas porta-voz - uma antena repetidora. Porque há um discurso por trás dele, que o utiliza como replicador, sem filtros, de discursos já prontos. Os enunciados não têm origem no sujeito, e são em grande parte um emaranhado que já se perderam de sua origem, apenas vagam por aí. Ademais, por fim, os sentidos que os enunciados carregam são consequência dos discursos que pertencem a outras instâncias, as RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS.

(KOCH, Ingedore. Desvendando os segredos do texto; Cortex Editora).

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