sexta-feira, 19 de julho de 2019

ATO I - Larghetto




Um velho moribundo
Num quarto simples
Isolado do mundo
Pobre ao lamento
Paredes cinzentas-amareladas:
Dado a ação do tempo
Mais as velas iluminadas

Ao lado do inquieto homem
Uma escrivaninha rústica
Sobre ela, A divina comédia
Um copo d’água e um terço

O sofrimento, a dor
Desconforto, pavor
Porém lúcido, pobre velho
À espera da barca
Anseia sua chegada
Sua partida
Sua vida ir embora
Mundo afora
Uma viagem prometida
Ao eterno, ao nada…

Ao longe rasgando o ar
Nuvens se abrindo
O clima a esfriar
Se configura um violino
Inconfundíveis cordas
Suavemente atiçadas por crinas
Doce som, do fino aço
À velha madeira ecoar
Tocando em larghetto
Em perfeita harmonia
Com as batidas do coração
do senhor acamado - já em atenção

Ritmo solene
Respeitando a ocasião
Não um qualquer, se aproxima
Alegremente se adentra
Não somente no rústico quarto
Mas na animosidade do idoso
Executando uma reconfortante obra
O diabo sorri e continua...

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A música sem vida ou a vida sem música?

Sabe aquela música que você ouve desde criança?
Que, já nas primeiras melodias, te remete a tão maravilhosas sensações; lembranças ou sonhos em lugares esplêndidos; pessoas maravilhosas momentos fascinantes, sabe?
Pois é! Hoje esta mesma música já não faz mais sentido. Não traz mais essas memórias, ou esses acalentadores pensamentos.
Note, no dia em que a música que lhe apraz não mais fizer sentido;
não lhe inspirar e, pior, angústia trouxer...
Saiba que é o anúncio do perigo.
Talvez a chegada da hora. 
Pois, tem música que serve como termômetro em nossas vidas:
Medem o nosso humor, as nossas emoções e até pretensões.
Percebemos que algo de bom se foi em nossa vida, quando essa música tocada não nos toca mais.
Ela soa como um disparo e nos acerta como um tiro letal.
Não sei o que é pior: se é perder um amigo ou o tesão pela música favorita; se é desgostar de um grande amor ou se o amor pela grande música da tua vida, vem a perecer...
Tudo pode vir a acontecer, tudo se é contornável.
Contudo, não o dissabor pela música tema da vida; a melodia principal, a trilha sonora que vibra no íntimo da alma.
Antes surdo do que em perfeita audição; antes moribundo a ter que, a música da tua vida ouvir e, por ela, nada sentir.
E o medo de ouvi-la novamente e estar ciente de que nada de bom se lembrará e que nada de prazeroso sentirá.
Somente dor e desespero 
Isso é triste e devastador...
Portanto evitá-la é o melhor dos prazeres.
Um prazer horrível, eu sei, porque a consciência de que o pior está por vir é iminente.
Quando a música não faz mais sentido, é porque a vida já não tem mais valor.
Pobre daquele, que não tem olhos para admirar, boca para cantar e ouvidos para sonhar. 
O que só se ouve, no entanto, são explosões.
Todas geradas por um interno conflito.
Uma guerra travada por dois exércitos,
sob o comando de um só general.
Em ritmo marcado, em meio aos gritos desesperados, eis o fim da batalha.
Bem como também o da bela música.
Então, nada mais resta:
é a hora do eterno silêncio chegar e desta vida partir.



quinta-feira, 20 de junho de 2019

Corpus Christi

Boa intenção, caridade
Respeito, gesto fraterno
Alegria e amabilidade
Isso tudo há no inferno
Pensamos no mal e no bem
Esquecemo-nos do primeiro
De atitudes que vão além
Se o bem mudasse algo
Do Senhor viveríamos ao lado
Porém nem fingindo inocência
Dor, ou qualquer amor
Não conseguimos enganar:
Primeiro, a nós mesmos
Segundo, ao Criador
Terceiro, por fim, o destruidor
Não se engana a Deus, nem ao diabo!
Ser humano imundo, coitado
Verme consumidor
Onde pisa corrói, distorce
Juntos, sociedade
Unidos, atrocidades
Mentiras viram verdades
As verdades, de fato,
são escondidas em atos
Ato falho
E o desejo inato
De corromper-se
Deixar-se levar facilmente
Lutando uns contra os outros
Contra vizinhos, parentes
Por terra, lama, lixo
Grama, grana, luxo
Ser humano…
Verme, praga, câncer…
Doença maligna
Imune a cura
É falha qualquer tentativa
Solução falida
Nem com intervenção divina
Porque o inferno é aqui
Deus não entra
E nem sai qualquer humano
Mesmo quando Ele tenta
Nós, vis, O expulsamos
E ainda vibramos!
Iludidos, fodidos
Nem com muita reza
Ladainhas, procissões
Velas, tambores
Muro das lamentações
Nem o nosso fim é a solução
Ainda achamo-nos caridosos
Amorosos, unidos
Não passamos de invejosos
Raça genocida, povo suicida
Somos tão ruins
Fadados à eternidade
Nem extinção teremos
A falsidade como excelência
É o ódio que nós temos
da nossa própria existência

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O inverno não tira férias


O uivar dos ventos chega a ensurdecer
É frio, e este atravessa os limites do corpo
Tocam as folhas, arrancando-as dos galhos
Violenta tempestade, esconderá o amanhecer
Parece não ter fim o sopro voraz da natureza
Também não anseio o alvorecer,
A luz… Um novo amanhã não basta
Prefiro a noite calma, a silenciosa madrugada
Esta torna melhor os meus sentidos
Em meio à escuridão, acende a chama interior e manifesta
A tudo ouço e vejo, mesmo o coração partido
Milhões de sensações vão além
Lembranças explodem, melhores até de quando as vivi
Elas vão e vem, como o vento e as folhas esvoaçadas
Da rústica janela de minha casa a tudo aprecio
Ora com medo, ora com bravura
Ainda não tão escuro, à luz da Lua
Brota a síntese destes opostos
Esta loucura ante a um belo quadro natural
Vivo, surreal, do qual me encanto, me espanto
E não me canso de olhar
Horas que não passam, perduram
Semelhantes a um emocionante longa metragem
Que a gente torce para que não chegue ao fim
Porém quando acaba, tudo desaba mesmo assim
É uma noite que deve permanecer eterna
É uma eternidade que logo, logo, se findará
Quando o raiar do sol brilhar, o vento se dissipar e as folhas sentarem
Lá ao fundo, os pássaros irão cantar: "Bom dia! Como passaste nessa noite fria?"

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Para fora de Peloponeso



Comigo não se preocupe
Deixe-me trilhar sozinho
Por favor me desculpe
Sou o dono do meu mundinho

Olha... Não estou apaixonado
E também não estou querendo me matar
Apenas escrevo como num ditado
Com prazer, sem esforço, sem me cansar

Sabiamente irei atravessar os rios da vida
Seja a pé ou a nado; muito ou pouco
Não me siga, meu querido, minha querida
Pois não quero ficar ouvindo você é louco!

Quem caminha aprecia melhor
Quem se apressa, só vê o pior
Me esforço muito para não correr
A fim de não ver sangue, e sim suor

terça-feira, 30 de abril de 2019

Porre nº... Ah sei lá, deve ser o 5


“O grande isolamento é cercar-se daqueles que pensam igual a você.” Hannah Arendt.
Começo com um pensamento de uma grande filósofa que, nos dias de hoje, dentro do mundo virtual e, fora dele, se encaixa perfeitamente.

Primeiramente, há uma tarefa de "pôr os pingos nos is", OU SEJE, separar o CONHECIMENTO de OPINIÃO. Segundo, a necessidade que se tem de pingar, é deveras urgente.

Por falar em pingos, hoje há uma enxurrada de opiniões na internet, e consequentemente nas ruas, em tudo que é lugar que, por mais que seja comum, remete algo ao pensamento: onde está a verdade nisso tudo? Ou, quiçá, algo no mínimo coerente. De onde vem a fonte de todo esse "conhecimento"? Parece que há apenas uma inteligência por trás disso tudo. Um ser, ou um grupo pequeno de seres (terráqueos, diga-se de passagem) que propagam saberes a sui generis por aí. Os que vivem entorno desses sábios são afetados, isso é certo. Porém não se pensa diferente da fonte. E o que é pior, não conseguem mais pensar.

A internet surgiu há pouco tempo despontando como a revolução das revoluções no conhecimento humano. Em outros tempos, o iluminismo, o renascimento, marcaram e deram novo rumo à humanidade. Hoje temos a Internet como essa nova luz, esse novo "clarão" do conhecimento, do saber científico, ou até mesmo filosófico.

Será? A ciência ao invés de libertar, aprisiona; a ciência, tanto salva - e é notório que após a revolução industrial a expectativa de vida só cresceu a cada período e a mortalidade reduziu efetivamente - quanto mata: vide as guerras, as doenças cancerígenas, doenças causadas por estresses, infartos, úlceras e psicoses? Hoje o ser humano só se mantém de pé por conta de um Rivotril, Omeprazol, Losartana, Captopril... (Parece até música do Arnaldo Antunes). Quer mais tecnologia e avanço científico? O que dizer do poder destrutivo (sim, pode findar toda vida animal na Terra) de uma bela bomba atômica ou a de hidrogênio?

Esse é o poder da rede mundial de computadores, - que hoje chamamos de a "internet das coisas". É a grande Meca da informação. Nem mais a Rede Globo está com esse poder, rs. (Engraçado que coisa de 5 anos atrás, meu foco era a "mafiamília" Globo: eu achava que a Globo fornecia (des)cultura e (des)saber às pessoas. Nada além de lixo audiovisual). Agora internet, ganhou seu lugar. Ela é como a bíblia, ou o Al Corão para os cristãos e muçulmanos respectivamente e não mais emissora de TV nenhuma: saiu nas redes sociais? Pronto! É a verdade. A nossa cultura se nivelando por baixo. Atualmente a TV (qual era tão ridícula sua programação) irá passar a ser uma referência no entretenimento e na fonte de opinião sensata e, consequentemente, do saber? A Internet ainda detém tal posto. Agora as verdades ditas, ou as opiniões postadas, por mais que tenham sido buscadas no Google, não são democratizadas. 

Esse meio em que buscamos nos informar, na verdade segrega, aumenta as diferenças entre as pessoas. Agora mesmo, vejo muitas diferenças sendo expostas em formas de queixa e choramingo, até mesmo entre familiares. O que existe é um monte de ilha humana espalhada pelo orbe. Cada indivíduo, conectado a si mesmo, por si mesmo, com sede e fome de um clique em sua autoafirmação.

E essa é a grande bomba atômica virtual. É o paradoxo em que se encontra a ciência e seu avanço: ou nos estagnamos e voltamos ao período onde havia uma única verdade, imposta à força pelos poderosos, ou, nos emancipamos disso através do conhecimento, do saber, junto à tecnologia. Todavia, essa nossa “ferramenta”, ou nossa “arma”, está nos levando ao mesmo período medieval do pretérito - no sentido estrito e falido do saber. Porquanto, a informação é controlada, a verdade nós é imposta, o conhecimento é escondido, e o saber… Bem, o saber é devastado.

Enfim... Continuo amanhã, tá bom amiguinhos? A ressaca bateu... Sei que estou devendo uns parágrafos a mais, de fato, entre CONHECIMENTO e OPINIÃO, que apresentei lá no começo, mas preciso ler mais NIETZSCHE e a BÍBLIA e, também, assistir mais vídeos do professor, filósofo, Olavo de Carvalho e mais pronúncias do excelentíssimo presidente Jair Bolsonaro, com a finalidade de buscar mais informações, mais argumentos, mais sabedoria e transferi-los aqui para este impávido, porém, desprezível Blog, beleza?

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Insano e salvo

Da escuridão de minh’alma
Brilha uma gota de sincero cristal
Como no céu, cintila D’Alva,
E o orvalho que brota ao natural

Em meio ao silêncio, o breu
Eu sou o centro do universo
A Lua a me banhar do céu
Um paraíso! Mas eu o reverso

Tudo é tão verde, de fato
Montanhas, cachoeiras,
Até o fumo, as ruas, o mato
As lágrimas e minhas doideiras

Caminhos de terra
As trilhas esguias
Flores de primavera
E eu no pior dos dias?

Sim, é um triste dia:
A ave que voou para eternidade
o amigo que deixou a alegria
Sim, aqui jaz a serenidade

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...