Ya zhenshchina, ou seja, Eu sou uma mulher.

Instalei um aplicativo, desses de aprender idiomas, pois preciso aprender a língua cirílica o mais breve possível. Tendo em vista uma excelente oportunidade de trabalho como adestrador de ursos, na Sibéria, é deveras urgente.

Peguei meu celular, pus meu fone nos ouvidos e fui praticando. Básicos exercícios (quem já usou sabe como é): “Ele é da Rússia”, “Eu falo russo”, “Ela trabalha em Moscou”, etc. Ainda nas escadas do prédio, surge uma tradução a ser realizada via gravação de voz: “Eu sou uma mulher”. O app retornou com uma mensagem: “não foi possível detectar o áudio, aperte ‘aqui’ e envie novamente”. Tudo bem, vamos nós: “Eu sou uma mulher” - retumbantemente efusivo.
Atrás de mim ouço voz, risadas. Tirei o fone dos ouvidos e me virei. Era o casal vizinho. “Cara, que palhaçada é essa? Virou mulherzinha agora? Porque eu não vejo nada aí; cadê os peitinhos, tem vagina agora?” “Fala sério! Esse pessoal da esquerda invertendo valores, fazendo do mundo que Deus nos deu um verdadeiro inferno. Por isso que o Brasil está assim” - concluiu sua esposa. Em meio à inquisição de seus demônios incubados, eu virei a tela do celular para eles e fiquei parado fazendo pose de madame à espera do Uber Black. Eles disseram: “Não estou entendendo, teu macho não gostou da foto?” - riram. Continuei parado apontando-lhes a tela do celular com o app ainda confirmando a excelente tradução “Eu sou uma mulher”.
Finalmente ao virem, explicitamente, do que se tratava, puseram os demônios entre as pernas e partiram resmungando, ainda sem darem o braço a torcer: “Deve ser um hacker…” - comentou o marido. “Não amor, é fake news! Você não sabe como é a esquerda?” - acrescentou a mulher. “Ele deve ter adulterado o conteúdo, são todos corruptos” “E o Lula? Pois é, e o Lula?”

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