O espírito imortal.
Hoje é dia dos finados. Respeitemos todos aqueles que estão vivendo fora do corpo material. Tenhamos ótimas lembranças ou, no mínimo, respeito.
E sobre este dia queria lembrar um diálogo de Sócrates (Atenas, c. 469 a.C. - Atenas, 399 a.C), do livro Fédon de Platão.
Na véspera da execução, conseguiram seus amigos subornar o carcereiro (desde aquela época já existia essa prática), que abriu a porta da prisão. Críton, o mais ardente dos discípulos, entrou na cadeia e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates!
- Fugir, porquê? - perguntou o preso.
- Ora, não sabes que amanhã te vão matar?
- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
- Sim, amanhã terás de beber a taça de cicuta - insistiu Críton - vamos, mestre, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Críton - respondeu o condenado - que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim ...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou:
- Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou:
- Achas que isto aqui é Sócrates? ... Pois é isto que eles vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates! ...
E ficou sentado na cadeia aberta, enquanto Críton se retirava, chorando, sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre.
No dia seguinte, quando o sentenciado já bebera o veneno mortal e seu corpo ia perdendo aos poucos a sensibilidade, Críton perguntou-lhe, entre soluços:
- Sócrates, onde queres que te enterremos?
Ao que o filósofo, semiconsciente, murmurou:
- Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates ... Quanto a esse invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu... EU SOU MINHA ALMA...
E assim expirou esse homem, que tinha descoberto o segredo da Felicidade que nem a morte lhe pôde roubar. Conhecia-se a si mesmo, o seu verdadeiro Eu. Divino. Eterno. Imortal...
Sócrates assim como seu discípulo, Platão, tinham a ideia de que a alma é imortal.
Platão dizia que a Alma é o sopro vital, presente em todos os seres. É definida como aquela que tem capacidade de mover por si mesma. Está dividida em três partes: a racional, localizada no cérebro. O ímpeto, localizado no peito. Os apetites, localizados no ventre.
Morrer para o filosofo é libertar-se do cárcere do corpo.
O corpo como túmulo da alma, significa que o corpo e a alma são duas existências distintas. Uma existência aparente (corpo) e uma existência real (alma). O inteligível (alma) é capaz de conhecer por meio das reminiscências, e o sensível (corpo) participa do inteligível.
Há uma separação entre corpo e alma, sendo o homem um misto, e não uma unidade desses dois aspectos. O aparente se altera, morre e o inteligível permanece, pois é uma realidade estável.
(...)
O material (corpo) é modelado, é o que recebe a essência ou forma divina, se altera e se destrói. Essa alteração é como uma resistência à informação divina, o que justifica sua destruição e morte.
Então meus queridos, eu não creio que NÓS possamos morrer de verdade, ter um fim. Não! Isso nunca me passou pela cabeça. (Relembrando Sócrates: Ninguém pode matar a mim, eu sou minha alma, sou imortal...)
Reflitamos sobre este dia e esvaziemo-nos de angústias, remorsos, raiva, indignação, incompreensão e pensemos somente em paz, amor, harmonia e fraternidade por nós e pelos que já deixaram a matéria.
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