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A centelha que move a vida

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  A angústia emerge como um grito da nossa pífia sensação liberdade e da consciência necessária de nossa finitude. Ela transcende o mero estado emocional, revelando-se como catalisadora de questionamentos profundos sobre o propósito da vida e sobre o confronto inescapável com nossa própria dolorosa existência. De fato, a angústia se revela como a força motriz que impulsiona a roda da vida, incitando-nos a buscar significado e compreensão em meio às complexidades do ser. A angústia, portanto, é a centelha primeira que acende a luz da vida e vai queimando até os confins da nossa existência. (Imagem: Washington National Cathedral Gargoyle)

Ato primeiro: amizade colorida

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Desenvolver um sistema filosófico para abordar questões tanto pretéritas quanto atuais, considerando os diversos contextos, é deveras desafiador - como fazer uma peça teatral. É um trabalho árduo, ardiloso e muito difícil e... delicioso. Assim sendo, pode-se aventurar nos palcos da Ética, da Lógica, da Estética, da Epistemologia ou adentrar-se no abismo Metafísico. No entanto, é importante que qualquer indivíduo estimule em si mesmo um sistema filosófico, um mero ato de filosofar; ter sua linha de pensamento, seu método de palavras e escritas onde que neste sistema encontra-se o mínimo de respostas à problemas conflitantes, seja dentro de um domínio específico e variante - levando em conta as circunstâncias do nosso tempo -, seja de uma forma mais abrangente e fixa - recorrendo a outras antigas épocas. É preciso filosofar. Deve-se ir de encontro para ser encontrado. Como um ator indo de encontro a sua personagem. Para tanto, é necessário um verdadeiro amigo - não necessariamente uma pe

Eu só queria comprar pão

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HOJE cedo saí de casa, atravessei a rua e fui comprar pão. Fi-lo rapidamente. No entanto, trouxe pães frios, aqueles já do fim da cesta. Ao chegar em casa e depois de esquentar a água, pôr a mesa para o café, vi que não tinha manteiga e nem café. E, cá entre nós, comer pão sem manteiga e café é pior do que fazer sexo com bonecas infláveis da Shopee. Então, eis que voltei à padaria para comprar o que mais faltava para o meu café da manhã. Notei que estava saindo pão quente - devido ao forte cheiro de pão no forno - e fui tentado a comprar mais. Percebi que a fila do pão estava enorme. Nela estavam: uma barriga, com bastante tecido adiposo; uma salsicha, tomando água de salsicha com gás; muitas crianças, parecia dia de São Cosme e Damião; um playboy, que se sentia na fila da entrada VIP da boate, e, por fim, o próprio dono da padaria. Isso não seria uma imensa fila, mas a quantidade de crianças era desesperadora. Comecei a ficar impaciente, pois o tempo passava e o meu sagrado café tarda

Mundo Vadio

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Nas entranhas deste mundo tão vadio e vasto, A vida desfila, indiferente ao nosso desgosto. Ela não tem a obrigação de ser benevolente, E nos lembra com crueldade do que é iminente. Relações, intricadas teias de ilusão, Nos envolvem em expectativas de decepção. As imperfeições humanas se revelam em cada momento, E as promessas de felicidade são um mero desalento. O desconforto espreita nas sombras da existência, Nosso controle é uma ilusão, uma falsa potência. Nada, absolutamente nada, perdura no tempo, A transitoriedade é a única constante nesse firmamento. Viver, oh doloroso fardo que carregamos! Um constante lamento, um peso que somos. Enquanto a angústia permeia cada instante, O mundo ao redor segue alheio, indiferente. No espetáculo da vida, o que é mais espantoso é a inconsequência da existência, o caos tenebroso. Pois tudo o que buscamos, tudo o que desejamos, parece desaparecer, como brumas que se dissipam ao vento. A grandiosidade dos nossos sonhos e planos, Desvanece-se como

Seja aqui e agora

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Ele parece feliz, sabe fingir. Felicidade é categoria máxima que alguém pode sentir. Apenas um predicado, que vem numa caixa. Lá está! Tão só em meio a um lugar repleto de gente Cheio de tantas colocações, cheio de si, de emoções, que a si mesmo nem sente. Vai ele… Perdido em caminho reto. Vive escorado em muletas; confunde céu com teto. Desfila em sua categoria perfeita. Belo dia, um espelho. Encarou-se de repente. Pensou num conselho. E o fez a si carente: Amigo eu, meu íntimo, Exponha-te, apareça! Cadê o você legítimo? Surja, antes que eu me esqueça. A ti não vejo, meu eu. Por que não te refletes? Não és um espelho meu? Queres uma prece? Seria isto um espelho? Por que esta vastidão? Não queres meu conselho? És uma quimera, ilusão? Medo eu não tenho, portanto. Sinto que agora me encontrei. Olhei para meu ser de pronto, assim que das facetas larguei. Agora me noto, acordei do sono. Sou o númeno, não mais fenômeno. O mundo é real. Tudo é aqui. Eu sou aqui. Eu sou real. Sou único, sou d

Terror noturno

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O que eu sinto? O que me toca? Talvez um certo instinto, um medo que me corta? Um abrupto pesar Porém intenso medo Não consigo respirar, nem guardar segredo Tudo me corrói, me alucina Medo que destrói Terror que me atina Não tenho coisas bonitas pra contar Por mais que as tenha, é possível me sabotar Não há paciência que me detenha Meu pavor acordaria os mortos O grito ecoaria nos confins Deterioraria os corpos Os anjos fariam motins Já estou acostumado Sonhos, nem tenho mais Dessa dose estou viciado Pavor, ao invés de paz O vento me confunde lá fora Parece passos, traços, anúncio Ouço coisas ou está silêncio? De lugar nenhum quero ir embora Sim! Quero fugir, mas de que? De todos, do meu próprio ser? Eu não estaria livre, certamente A solução seria não nascer Depois do breve espetáculo Uma mão invisível surge Me põe num receptáculo E a passageira paz urge Nesse eterno ciclo resido Nesse breve embate sigo Ora surge o anjo Clonazepan Ora me vejo eu comigo Não há luz no fim do túnel Não h

Ferro de Madeira

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  “Para mim não faz diferença que o tipo de homem mais míope, talvez mais honesto, certamente mais ruidoso que hoje existe, nossos caros socialistas, pense, espere, sonhe, principalmente grite e escreva mais ou menos o contrário; pois o seu lema para o futuro, SOCIEDADE LIVRE, já pode ser lido em todos os muros e mesas. Sociedade livre? Sim! Sim! Mas sabem os senhores com o que ela é feita? Com FERRO DE MADEIRA! Com o famoso ferro de madeira! E nem sequer de madeira…”.  (Nietzsche, A gaia ciência, §356, trad. Paulo César de Souza, São Paulo, Companhia das letras, 2001).   O termo "FERRO DE MADEIRA" foi a expressão usada por Nietzsche para se referir a algo que parece sólido, forte e confiável, mas que na verdade é fraco e pode se desfazer facilmente. Em outras obras ele usa o termo "pés de barro" - como na Gaia Ciência e, salvo engano, no Crepúsculo dos Ídolos - como mesmo sentido.  No entanto, no trecho citado acima, Nietzsche usa a expressão para criticar a noção