quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Medicina: Será que um dia iremos nos tornar um jacaré?



Depois da pandemia ouvi relatos de que condições particulares de alguns indivíduos possuíam certas anormalidades e que vinham afetando negativamente, não só seu organismo, como também o que se pode dizer do seu mental. Acalmem-se! Não se trata de uma revisão da Metamorfose, de Franz Kafka. Não está sendo flagrado por aí nenhum Gregor Samsa atualizado para versão réptil. Porém, vem acontecendo quadros clínicos com alguns pequenos detalhes nos prontuários de muitas pessoas. Comigo, inclusive. Notei isso desde a reação da minha primeira dose da vacina contra COVID-19. Tive sintomas que nunca experimentei - incluindo o estado psicológico mais deprimente enquanto doente e sem vontade nenhuma de levantar enquanto acamado.

Sabemos que aqui no Rio de Janeiro possuímos um carma com mosquitos. A dengue (e outras gangues) costuma trazer novidades patológicas, porém, foi depois da COVID-19 que as coisas começaram a ficar estranhas. Uma das coisas que ocorre é febre baixa - ainda que pareça normal -, dores em partes estranhas do corpo e uma condição psicológica diferente mesmo. Nós, portadores da sabedoria popular, estamos estranhando o que vem acontecendo conosco e, graças às redes sociais (e às fofocas também, por que não?), tomamos coragem para expor essas situações com a nossa saúde. Não estão relatando sintomas diferentes, mas estão diferentes a forma como eles aparecem e porque eles aparecem.

Por exemplo, depois da pandemia, por ventura, tive infecção gastrointestinal. Normal, acontece. No entanto, fiquei por três dias sem ter qualquer cólica. Coisa que nunca havia me acontecido. Outro ponto é que fiquei com dores no corpo (especificamente nas pernas), catarro, tosse seca, por cinco dias sem ter muita febre - acontecia exatamente à noite e não passava de 37,9º. Novidade também. Uma coisa interessante é que minha garganta nunca mais inflamou. E quero avisar que quando ela inflamava, eram 5 dias com febre altíssima! Só que, naquela ocasião, eu agia, era mais ativo. Agora, há algo, psicologicamente falando, que prega na cama e enquanto a febre/ gripe não vai embora, não dá disposição. Sequer fome!

Ademais, não diferente dos meus casos pessoais, ouço e leio relatos nesses sentidos também. Logo, não acontece só comigo. Agora, o mais preocupante, é que independentemente de gripe, febre ou doença por infecção, há com certa frequência uma desorientação repentina, um estranhamento consigo mesmo. Um estado psicológico diferente de quando se era acometido por alguma doença. Enfim, parece que o modus operandi das doenças mudou e temos que enfrentar quadros de doenças com outro espírito. Tem-se, portanto, aquela gripe que derruba, não só o físico, como também o psicológico. Pode anotar na lista de remédios, além dos antigripais, antibióticos, também antidepressivos.

Com isso dito, não quero afirmar que por causa da vacina agora estamos diferentes ou que viramos jacaré - muito menos a barata de Gregor Samsa. Não é o caso!!! Contudo, estou querendo apontar que estamos num determinado momento, diante duma situação, que ainda não sabemos de fato o que está acontecendo ou para onde estamos indo. Possivelmente, estejamos já tão abalados psiquicamente que, com o acometimento de um pequeno vírus, tudo o que consideramos mentalmente normal, se torne uma grande torrente nebulosa. Vejam: “Lapsos de memória, depressão e ansiedade podem estar relacionados às sequelas cerebrais da covid-19”, segundo o portal do Conselho Nacional de Enfermagem.

Brasil vive uma segunda pandemia, agora na Saúde Mental. Quadros de ansiedade e depressão aumentaram após a pandemia de covid-19. 

Não há provas de uma ligação direta entre um vírus que causa um resfriado com uma eventual depressão ou burnout na pessoa infectada; nem distúrbio no sono ou qualquer outro sintoma de saúde mental. Contudo, os diversos fatores aos quais estamos inseridos, principalmente com o fenômeno pavoroso que foi a pandemia, potencializou questões psicológicas que já lidávamos. Foi o somatório do estresse que já estávamos situados cotidianamente mais uma brusca perda de parentes, amigos, isolamento social e, naturalmente, a imaginação de uma catástrofe brutal com o planeta.

Por conseguinte, a título de conhecimento, as vacinas de COVID-19 aplicadas ao redor do mundo ainda estão em fase observação. Diante disso, acredito que possamos descartar vírus que estejam causando doenças mentais. Os cientistas ainda estão coletando os dados desde a primeira delas, que foi aplicada em Janeiro de 2021. Com isso, é de conhecimento geral que há novos sintomas surgindo em pacientes vacinados contra a COVID-19 e isso gera sempre um alerta, não só na comunidade científica, quanto na população. 

Ademais, uma questão: o paciente - vacinado ou não - é de extrema valia nesta guerra toda contra os vírus. Porque, somente o indivíduo sabe e pode descrever o que está acontecendo consigo, até mesmo diante de um resfriado qualquer: quem sabe o que se passa com seu corpo é o próprio indivíduo, e não o médico. Neste cenário, somente depois dos relatos dos pacientes é que se fazem as análises e se buscam as soluções. Por isso que é de extrema importância procurar um médico e relatar a ele tudo, mas tudo mesmo, o que se passa consigo. Devemos sempre ser pró-ativos e antecipar estas questões à medicina.


É preciso que se reitere: se há sequelas no corpo, há que se buscar atendimento adequado para tal; se há, além disso, problemas de ordem psicológica, o paciente deverá cuidar, além do problema físico, também da saúde mental com um psicólogo/psiquiatra. Pois, como vimos, está tudo ainda muito nas penumbras, além de cada dia surgir algo novo diante da contenda contra os vírus.

Dessa maneira, é notório que estamos como que de braços esticados procurando tatear alguma superfície - sequer temos noção se ela existe ou está próxima. O que há de fato é muito trabalho ainda no campo da saúde a ser realizado - com a ajuda da população - e, com certeza, aliado à alta tecnologia. Não me refiro somente aos melhores remédios e exames operados por I.A. ou robótica, não, mas prevenções e eficiência no remediar das causas.

Vejamos como um conjunto de ações e contribuições de áres distintas podem nos ajudar numa melhor qualidade de vida. Em Março de 2020 - em plena pandemia - o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han escrevia em sua coluna, no El País, que a Ásia já estava com a situação controlada enquanto o Ocidente fechava aeroportos - e só, como medida de “proteção”. Em contrapartida, na China, já se estava trabalhando com detecções dos últimos focos de infectados com ajuda da tecnologia e da eficaz medicina daquele país. Diz Han, “Quando alguém sai da estação de Pequim é captado automaticamente por uma câmera que mede sua temperatura corporal. Se a temperatura é preocupante, todas as pessoas que estavam sentadas no mesmo vagão recebem uma notificação em seus celulares [...] Se alguém rompe clandestinamente a quarentena um drone se dirige voando em sua direção e ordena que regresse à sua casa”. 


Provavelmente, no “mundo de amanhã”, saberemos do que mudou, do que resistiu, do que foi mérito da tecnologia ou do que foi obra da ação individual de cada um. Todavia, é assim que a medicina avança, que nós evoluímos e vamos deixando como legado uma vida sempre melhor e mais saudável diferentemente daquele que nos foi deixado. Neste sentido, até agora viemos sempre encontrando as melhores soluções possíveis para nossos maiores desafios. 


Acredito, por fim, que a medicina fará outra nova revolução no combate às doenças-por-vir e a tecnologia (se não nos destruir [risos]) fornecerá tudo o que precisamos para, inclusive, prevenirmo-nos de quaisquer ameaças microscópicas e também aquelas ameaças invisíveis, que pairam por sobre nossa cabeça nos atormentando, nos deixando ansiosos, depressivos e nos tirando o tranquilo sono de cada noite.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

É assim que tem que ser?




Manhã cinzenta,
clima londrino.
Mas não importa.
Seja lá ou no Rio,
eu estava sendo
apunhalado
por uma canção, mas
sentia compaixão.

Eu seguia. 
Ia a qualquer lugar.
Sem rumo, sem norte;
sem Deus, sem lar;
à própria sorte.

Andorinhas voando,
soltas no ar;
de longe voltando,
fugidas em par;
órfãs de mãe e pai,
Perdidas em meio
ao concreto sujo.

Em volta, tudo feio;
nojento; caminhos,
muitos se cruzam
sob vento fedorento.
Minha Cidade e Cor:
angústia, medo.
Vida incolor:
dor logo cedo.

Contudo, há beleza
Notei na canção
Ela que soava.
Me acariciava.
Ritmos e melodias,
o coro dos enlutados
e a letra mortuária;
fria como o clima;
- bucólico adro.

Ó canto acappella! 
E lamentos.
Junto ao soar do sino,
acima da cama de cimento,
aos pés da bela capela,
de magnífico altar.

Vivamente percebi,
ao longe senti,
ali, todos uníssonos,
em seus goles de saliva
imbricando-se -
e o nó na garganta;
as lágrimas rolavam
como chumbo abalavam.

O chão verde tremia.
Sobre ele, pessoas,
de preto, vestidas.
De luto e dor caiam.

Havia beleza e ruína.
A intempérie sina,
o tilintar do sino,
o ecoar das vozes…

Aquele que partira.
Todo aquele cenário,
todos com seus rosários.
A dilaceração,
e a emoção.

O “eu” em sacrifício;
o “ele” em sepulcro;
o “nós” alienados.
Mas todos buscando-se,
a si, meditando,
e alguns sem fé;
outros pensando,
"Aqui o jaz;
aqui voltarei, não de pé.
Sim… Belo, espero;
sem vida, porém em paz"

segunda-feira, 20 de maio de 2024

O Outono se foi



Outono, impunha-se um Sol resplandecente.
Céu límpido, explodia em azul bem nítido.
Brisa fresca nos abraçava envolvente.
Andorinhas voavam perto do ninho.

Do céu a noite a se notar
as lágrimas das estrelas;
A Lua mais perto a brilhar,
do beijo se expondo mais bela.

Contudo, nada mais adianta,
ó, Outono! Tudo arde.
Joguem fora suas mantas!
A brasa vai embora tarde.

Ora o verão, ora o inverno.
À sombra, o céu,
fora dela, o inferno.
O caos lá fora, e nós ao léu.

Nos áureos tempos, havia Outono
Hoje, somente nos calendários.
Pois, ou se está o verão no trono,
ou o inverno em solo mortuário.

Hoje, não temos controle.
Por sorte, sobre o passado temos um norte.

Não é saudosismo frugal.
Foi-se uma época descomunal.
Havia-se maior ensejo
com a bela estação autunal.

O tempo, eterno presente.
Nós que mudamos, envelhecemos.
O tempo fica, não vai adiante.
Nós que partimos, perecemos.

O Outono sempre será.
O inverno, o verão…
Nós temos que mudar
e respeitar cada estação.

Portanto, antes de partir
olhe para cima.
Reflita-se sobre um espelho d’água.
Perceba-se neste atual clima
e não deixe a natureza com mágoa.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Perdido em si



Eis que no vão das sombras, onde o ser se desvela,
Em meio à névoa do cotidiano lamento,
O homem vagueia, na angústia, na refrega,
Perdido em si, em busca de alento.

No peito, o eco do etéreo medo,
Que ronda como espectro, silente e frio,
Da morte, que se avizinha em segredo,
Trazendo consigo o derradeiro vazio.

Oh, pavor dos mortais! Oh, desespero!
Na encruzilhada da existência efêmera,
A cada passo o temor primeiro,
da finitude que nos cerca e golpeia.

Nas horas gélidas do dia que declina,
O ser se afoga na miragem do amanhã,
Na incerteza que espreita e domina,
Sob a fumaça sombria da própria chama.

Quanto mais próxima a hora derradeira,
Mais nítida se torna a face da verdade,
Somos frágeis, efêmeros, na vasta ribanceira,
Da vida que nos arrasta, sem complacência ou piedade.

E assim, entre suspiros e lamúrias,
O homem se perde em sua sina,
Na busca vã por fugidias aventuras,
Sob o olhar impassível da morte divina.

sábado, 4 de maio de 2024

O vazio essencial do mundo




Ante a desolada vida, um grito sai de mim.
Onde a esperança se esvai com astúcia,
em um mundo hostil, um abismo sem fim,
Somos frágeis, condenados à angústia.

Venturas fugazes em estrelas cadentes,
brilham por um minuto, depois se apagam.
A frivolidade nos consome, implacável e ardente,
deixando-nos perdidos, cegos, sem afago.

Sabemos que somos frágeis, perecíveis,
Que a morte nos espreita a cada esquina.
Mas o mundo continua, indiferente e impassível,
nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha.

Neste vazio abissal, nosso rumo se perde,
sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza.
E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede,
deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza.

Pois, nosso fim não finda o mundo;
nossa existência não torna o real;
nossa importância não vale um segundo.
O mundo sem nós se torna essencial.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

A Dança da Verdade com a Mentira




Na valsa da vida, onde a verdade e a mentira se encontram,
Eu danço com passos incertos, sem saber o que é real.
A aparência, uma máscara que esconde a essência,
Distorce minha visão, tornando o falso natural.

Sob um véu, a mentira se disfarça,
Vestindo o manto da verdade, enganando meus olhos.
Mas em meu coração, uma chama arde,
Questionando tudo que meus sentidos alarde.

Posso acreditar em uma mentira, achando-a verdadeira,
Pois quem sou eu para julgar o certo ou errado?
Minha lupa da verdade é falha, a erros está sujeita,
e o que eu vejo pode ser apenas um reflexo alterado.

Assim, danço com a mentira, com cautela e desconfiança,
Pois sei que sua sedução pode me levar à tormenta.
Mas também reconheço que a verdade pode se esconder
por trás de uma fachada de engano, esperando ser descoberta.

Na verdade, na dança da vida, não há certezas absolutas,
Apenas sombras e luzes que se confundem entrelaçadas.
Como um viajante num labirinto de ilusões à luta
Busco a verdade, seja ela uma mentira disfarçada.

O minúsculo poder



Em meio à penumbra, um brilho surgiu, 
Um anel de ouro, um presente do destino.
Com ele, o poder de ocultar-me,
Um sonho antigo, um desejo divino.

Diante disso, a moralidade me reteve,
Uma questão de certo e errado.
Pois com o poder de desaparecer,
Poderia fazer o bem ou o mal sem ser notado.

Inicialmente, minha mente se agitou com uma torrente de possibilidades. 
Eu poderia roubar riquezas, cair em vulgaridades.
Porém, à medida que as horas passavam, 
a questão moral me atormentava.

Pois bem, usei anel. Um segredo profundo,
enquanto minha mente corria idéias, sem parar.
Mas em todas as possibilidades que passavam,
a velha ética vinha me afrontar.

Um dia, passei por um espelho dourado,
Com ornamentos bem detalhados, um espetáculo para ser visto.
Olhei para o meu reflexo, nada havia notado.
Apenas um vazio, um espaço que sempre me via bem quisto.

A princípio, pensei que o anel estava em minha mão,
Porém não! - percebi com espanto.
Eu era invisível, sim, mas não por um anel,
Era minha escolha, uma decisão que eu havia tomado.

Havia ali, por fora, um ser sem forma, um não-ente.
Por dentro, um fantasma vivo, um animal decadente;
distante do mundo, angustiado e sozinho.
Um vazio ambulante, um filhote esquecido no ninho.

O anel da invisibilidade, fruto da maldade.
Um símbolo da escolha que eu havia feito.
Preferi a maldição acima da bondade.
Hoje carrego este fardo, um peso que me prega no leito.

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...