domingo, 1 de outubro de 2023
Mundo Vadio
Nas entranhas deste mundo tão vadio e vasto,
A vida desfila, indiferente ao nosso desgosto.
Ela não tem a obrigação de ser benevolente,
E nos lembra com crueldade do que é iminente.
Relações, intricadas teias de ilusão,
Nos envolvem em expectativas de decepção.
As imperfeições humanas se revelam em cada momento,
E as promessas de felicidade são um mero desalento.
O desconforto espreita nas sombras da existência,
Nosso controle é uma ilusão, uma falsa potência.
Nada, absolutamente nada, perdura no tempo,
A transitoriedade é a única constante nesse firmamento.
Viver, oh doloroso fardo que carregamos!
Um constante lamento, um peso que somos.
Enquanto a angústia permeia cada instante,
O mundo ao redor segue alheio, indiferente.
No espetáculo da vida, o que é mais espantoso
é a inconsequência da existência, o caos tenebroso.
Pois tudo o que buscamos, tudo o que desejamos,
parece desaparecer, como brumas que se dissipam ao vento.
A grandiosidade dos nossos sonhos e planos,
Desvanece-se como sombras em raios atinais.
E diante desse abismo de ilusões e desencanto,
Somos meros anfitriões de um velório aos prantos.
Ó mundo, és surdo aos nossos clamores!
Ignoras nossas dores, nossos amargores.
Enquanto enfrentamos a insondável escuridão,
tu prossegues, impávido, em tua indiferença, em tua imensidão.
Assim, caminhamos nessa jornada melancólica,
onde a tristeza nos envolve, como uma névoa etérea.
Enquanto buscamos sentido nessa existência incerta,
encontramos apenas a fria resposta: a vida é deserta.
Que nossas lágrimas se misturem às águas revoltas;
que nosso lamento ecoe pelas montanhas mais altas.
Pois somos pequenas criaturas, presas ao destino,
neste universo vasto, indiferente ao nosso caminho.
Em meio à melodia triste do ode ao pessimismo,
Afundamos‐nos nas notas do nosso próprio abismo.
E que entre as síncopes da vida encontremos um espasmo,
Um vislumbre de força, num mundo tão desdenhoso e áspero.
sábado, 30 de setembro de 2023
Seja aqui e agora
Felicidade é categoria máxima
que alguém pode sentir.
Apenas um predicado, que vem numa caixa.
Lá está! Tão só em meio a um lugar repleto de gente
Cheio de tantas colocações,
cheio de si, de emoções,
que a si mesmo nem sente.
Vai ele… Perdido em caminho reto.
Vive escorado em muletas;
confunde céu com teto.
Desfila em sua categoria perfeita.
Belo dia, um espelho.
Encarou-se de repente.
Pensou num conselho.
E o fez a si carente:
Amigo eu, meu íntimo,
Exponha-te, apareça!
Cadê o você legítimo?
Surja, antes que eu me esqueça.
A ti não vejo, meu eu.
Por que não te refletes?
Não és um espelho meu?
Queres uma prece?
Seria isto um espelho?
Por que esta vastidão?
Não queres meu conselho?
És uma quimera, ilusão?
Medo eu não tenho, portanto.
Sinto que agora me encontrei.
Olhei para meu ser de pronto,
assim que das facetas larguei.
Agora me noto,
acordei do sono.
Sou o númeno,
não mais fenômeno.
O mundo é real.
Tudo é aqui.
Eu sou aqui.
Eu sou real.
Sou único,
sou diverso;
do meu jeito, porém,
no todo universo.
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
Terror noturno
O que eu sinto?
Um abrupto pesar,
porém intenso medo.
Não consigo respirar
nem guardar segredo.
Tudo me corrói,
me alucina.
Medo que destrói,
terror que me atina.
Não tenho coisas bonitas pra contar,
por mais que as tenha.
É possível me sabotar;
não há paciência que me detenha.
Meu pavor acordaria os mortos,
meu grito ecoaria nos confins.
Deterioraria os corpos,
os anjos fariam motins.
Já estou acostumado.
Sonhos, nem tenho mais;
dessa dose estou viciado,
pavor ao invés de paz.
O vento me confunde lá fora:
parece passos, traços, anúncio.
Ouço coisas... ou está silêncio?
De lugar nenhum quero ir embora.
Sim! Quero fugir, mas de quê?
De todos, do meu próprio ser?
Eu não estaria livre, certamente;
a solução seria não nascer.
Depois do breve espetáculo,
uma mão invisível surge.
Me põe num receptáculo
e a passageira paz urge.
Nesse eterno ciclo resido,
nesse breve embate sigo.
Ora apelo ao diazepina,
ora me vejo eu comigo.
Não há luz no fim do túnel,
não há palavra nem sentido.
Há o gosto amargo do fel
e a hora do meu eu inimigo.
sábado, 27 de maio de 2023
Ferro de Madeira
“Para mim não faz diferença que o tipo de homem mais míope, talvez mais honesto, certamente mais ruidoso que hoje existe, nossos caros socialistas, pense, espere, sonhe, principalmente grite e escreva mais ou menos o contrário; pois o seu lema para o futuro, SOCIEDADE LIVRE, já pode ser lido em todos os muros e mesas. Sociedade livre? Sim! Sim! Mas sabem os senhores com o que ela é feita? Com FERRO DE MADEIRA! Com o famoso ferro de madeira! E nem sequer de madeira…”. (Nietzsche, A gaia ciência, §356, trad. Paulo César de Souza, São Paulo, Companhia das letras, 2001).
O termo "FERRO DE MADEIRA" foi a expressão usada por Nietzsche para se referir a algo que parece sólido, forte e confiável, mas que na verdade é fraco e pode se desfazer facilmente. Em outras obras ele usa o termo "pés de barro" - como na Gaia Ciência e, salvo engano, no Crepúsculo dos Ídolos - como mesmo sentido.No entanto, no trecho citado acima, Nietzsche usa a expressão para criticar a noção de sociedade livre, afirmando que ela é feita de uma falsa liberdade, ou seja, de uma ilusão que se desfaz facilmente. (Logo, percebe-se que não há liberdade alguma).
A leitura das obras de Nietzsche é complexa e toca em questões profundas. Para compreender suas ideias, é necessário entender o contexto em que foram escritas e compreender suas críticas feitas em sua época. Apesar de ser um pensamento provocador e chocante, é fundamentado e tem um certo fundo de verdade. Nietzsche escreveu seus textos de maturidade enquanto estava doente, mas sua lucidez é notável e cabível nos dias atuais. Suas críticas podem deixar o leitor mais revoltado, seja com ele ou com seus algozes. Em resumo, CUIDADO! Nietzsche é um filósofo que pode machucar.
Rede da Vontade
A vontade move toda uma rede interconectada que também nos impulsiona. Cada nó representa uma singularidade ligada a outras através de conexões simbolizando interações e afetos mútuos. Essas conexões podem ser de dependência, competição, cooperação, entre outras.
quinta-feira, 30 de março de 2023
Saudade
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
Porre 2023: Escolas de Samba, meu Carnaval
"Nos confins do submundo onde não existe inverno/ Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno/ Atiçou o cão cá-trás, fez furdunço/ E Satanás expulsou ele do Inferno
O jagunço implorou lugar no Céu/ Toda santaria se fez de bedel/ Cabra-macho excomungado de tocaia no balão/ Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação [...] Eis o destino do valente Lampião"
Parabéns GRES Imperatriz Leopoldinense! 🇳🇬🏆🎉🎊 .
Festa em Ramos, Olaria e adjacências. Depois do jejum de 22 anos a Imperatriz volta ao topo. Sempre luxuosa, exuberante, pompas dignas de uma imperatriz realmente.
Que Samba, que Enredo! Que desfile! Fantasias e alegorias impecáveis! Comissão de frente uma das mais belas também (embora este ano veio nivelado por baixo heim. Quase nenhuma apresentou-se bem neste quesito - além de quase todos os outros - devido às muitas notas com perdas de 2 décimos em grande parte).
O carnavalesco Leandro Vieira é outro gigante. Ganhando vários títulos com trabalhos riquíssimos e com uma assinatura particular. Nada muito tecnológico, futurista, mas carnaval à moda antiga. Muito luxo e muita história do Brasil.
Além, também, do samba muito bem composto, muito bem gostoso de se ouvir e com uma riqueza de linguagem, de cultura nordestina, de cordel, de saber popular, que, confesso, achei muito criativo e ao mesmo tempo legal de se cantar: “O aperreio do cabra que o Excomungado tratou com má-querença e o Santíssimo não deu guarida”.
Ainda sobre composições, senti falta de boas assim em outras Escolas. Sim, estavam legais, mas deixaram a desejar. Venho percebendo isso há muito tempo e, inclusive, até Neguinho da Beija-Flor já comentou em entrevista sobre estas questões em respeito às composições e grupos de compositores. Sobre isso, eu já digo que o que acontece é "samba de fôrma", o próprio meio do samba diz ser "samba de escritório". Talvez, segundo alguns críticos, a causa das quedas de qualidade na produção, nas composições, se dê por este motivo: sambas feitos em formas já prontas - engessando a criatividade. Só que partindo disso, não sei se pode ser diferente, o fato de haver escritórios, porque, este método ou forma de composição tomou conta já, realmente, e não sei se há composições sem que sejam advindas destes escritórios - e confesso que algumas delas se destacam sim. Raro, mas sai umas coisas legais. Portanto, com escritório ou não, a Imperatriz se destacou estratosfericamente das demais co-irmãs no quesito Samba de Enredo.
Mas... Vamos mudar aqui o rumo da prosa. Como são as coisas não é? Vou falar a vocês que a Viradouro (que veio espetacular) perdeu por 1 décimo heim. E eu sei bem onde foi. Vamos lá...
Se a Bateria do Mestre Ciça - na Viradouro - não perde pontos consideráveis este ano... hummm sei não heim. Este 1 décimo ia sumir facilmente e a história poderia ser outra, com o título parando do outro lado da baía. Mas, o f*** é que o Mestre Ciça perde décimos todos os anos.
Daí vocês podem se perguntar: "Ué? Então o Ciça mereceu perder os pontos". Olha... Pera aí: Sim, o Ciça sempre perde ponto dos jurados. Fato. Como eu havia dito acima. "Mas aí! Prova-se que o cara não é bom" - vocês podem reforçar vossos argumentos. Ok.
Só que lhes digo, pode confiar, e o mundo do samba também, "O Ciça não é bom. Ele é ótimo!" É um mestre consagrado, um monstro! Sua bateria passa sempre muito limpa. As vezes sim tem um deslize, mas é nota a ser descartada. Porém, (eis um dos "badados do carnaval") rola um papo nos bastidores que ele aborreceu a Liga, foi malcriado com eles e seu castigo eterno ficou sendo este: você nunca será nota 40 (ou as notas 10 dos 4 jurados).
Agora, infelizmente, não se tem como saber a fé dos jurados, quando se trata de Ciça, porque suas justificativas são um tanto exageradas. As deste ano, ninguém sabe ainda, porque as justificativas não saíram. Mas, por exemplo, as últimas que temos (dos carnavais passados), são tão esquisitas que, enfim… a de 2022 foi assim, "A acentuação rítmica das caixas com os seus acentos característicos que configuram o “swing” peculiar da bateria ficaram sem o referido destaque” - Julgou Rafael Barros Castro.
Isso foi uma firula para tirar décimo. Esta situação nas caixas da Viradouro é algo muito difícil acontecer e, quem ouve e curte bateria sabe que não foi bem assim que aconteceu. Algumas escolas passaram cadenciadamente excedidas, bem "retas", sem muito destaque para suas acentuações e "swing", mas não perderam pontos. E cá entre nós: a maioria das baterias nivelaram-se de uma forma tão alta, que é bem raro elas virem sem "swing". Pode acontecer, mas é difícil e não foi o caso da Viradouro no carnaval passado - e creio deste ano também.
No caso do Ciça, o julgamento citado acima, só aquele jurado viu aquilo. O outro disse ter rolado desencontro entre carro de som e a bateria. E assim vão tirando décimos do Ciça - além de outras justificativas sem cabimento de outros carnavais.
Com estes "tira-décimos" todos os anos, o Mestre Ciça fica comprometido e acaba ameaçando, inclusive, um carnaval de uma Escola que às vezes vem exuberante, apoteótico, com pegada para ser campeão. Complicado isso e, infelizmente, hoje, (mais uma vez) a bateria do Ciça foi penalizada e de fato afastou a possibilidade de título à Escola de Niterói.
Olha, não quero dizer nada de que foi injusto, que tenha sido errado, nem nenhum julgamento, nem nada. Apenas relatar uma história e um fato curioso. Porque, não quero também ser injusto com a magnífica Imperatriz Leopoldinense (título muito merecido). Samba gostosinho, luxuosa, alegre, irreverente, histórica, legitimamente brasileira - sobre o Enredo do nordeste, com a figura de ninguém menos que Lampião.
Apolítica
Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...

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Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...
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Depois da pandemia ouvi relatos de que condições particulares de alguns indivíduos possuíam certas anormalidades e que vinham afetando negat...
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