quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A busca do rigor e o estilo

A busca do rigor e o estilo.

“Os discursos que determinam o estatuto e o objeto das artes não são unânimes nem constantes. Sua segurança enquanto critério de julgamento já pode ser, num primeiro tempo, questionada: eles podem ser contraditórios tanto na atribuição do estatuto da arte quanto na determinação da hierarquia”. (COLI, JORGE. O que é arte. Ed. Brasiliense: Sao Paulo, 1995).
Há de fato, uma noção, em certas obras, seja cinematográfica, seja musical, ou visual, de permanência de estilo, ou padrão e há também uma notória evolução ou, qualquer modificação, no trabalho de algum artista. Cada qual possui suas peculiaridades, seus estilos e, por gosto, tradição ou orgulho, os mantém até o fim. Há outros que naturalmente mudam suas linhas, suas percepções, mas isso não pode ser visto sempre como ruim ou, em contra partida, como algo evolutivo. É uma situação neutra. Alguém que foi se deixando levar pelo tempo, por sua era, ou influência de novos artistas.
Sobre a citação de Jorge Coli, há de se concordar que o julgamento na arte pode ser contraditório e pecaminoso na questão hierárquica. Então a crítica, ou algum critério de julgamento, também deve ponderar ao que é permanente, ou o que veio a ser um ato contínuo, harmonioso, que deu luz à uma grande novidade. Há sempre dois viés que precisam ser analisados com minúcia. É algo um tanto paradoxal, pois a arte se define, digo superficialmente, em manifestação/ expressão da subjetividade humana, ou pode-se dizer, uma atividade realizada de forma consciente, controlada e que seja coerente, racional. Tudo bem que não é qualquer coisa que pode ser tida como arte, mas o que pode ser considerado arte? O belo, o perfeito, o agradável? Por isso esse complexo em dizer que tal obra é melhor que outra, ou mais bonita; que o trabalho de um artista é pobre em detalhes etc. Mas ainda assim belo ou não, não a arte não seria a expressão da cultura, a imaginação humana que ganha forma?
No exemplo da arte cinematográfica, temos filmes de alguns diretores que trazem suas marcas registradas. Jorge Coli cita Alfred Hitchcock. O diretor possui estilos próprios em seus filmes. Elementos que são suficientes que não nos deixa dúvidas sobre seus trabalhos: “esta obra é de Hitchcock”. Enquadramentos, música, atmosfera, etc. O mesmo se dá com outro diretor que, particularmente, aprecio muito: Woody Allen. Seus filmes são carregados de diálogos, muitas críticas, psicanálise e cotidiano; outro ponto que é sobre uma questão mais técnica: há um estilo de filmagem que só ele possui. É sua “identidade visual” (estilo). Sabe-se de cara que o filme é de Woody Allen. Há filmes em preto/branco, outros “carregados” em sépia; os cenários, por ele escolhido (marca registrada), romantizam qualquer situação, além do estilo de comédia que também é de praxe (e, diga-se de passagem, seus filmes ficam melhores à medida que ele envelhece). E o que falar da “fotografia”, ou as cores do cinema de Almodóvar? Todos testes diretores têm seu brilho, seu aspecto, mas nem por isso, um é melhor que o outro. São apenas visões de mundo, do abstrato, ou de uma sociedade, de um indivíduo, de formas diferentes.
Apesar das marcas diversas deixadas por cada diretor, há neles também um amadurecimento, uma evolução, conforme o tempo vai passando. Isso é natural. Todos nós, enchemos-nos de informações. O mundo a cada dia, parece uma máquina de fazer novidades, criar coisas e situações novas. Não há como parar no tempo. Se não pode considerar evolução, pode se dizer que seja uma inspiração, um propósito maior, que tenha levado o artista a experimentar um estilo diferente, que tenham deixado suas “marcas” de lado.
Além da citação no primeiro parágrafo deste texto, há outra importância sobre um trecho de Jorge Coli, na página 24, que é o fato de uma obra ser tida como melhor que a outra, eis: “além disso, a própria idéia de critério aparece como um esquema que perturba nossa aproximação da arte. Sabedores de que Calixto é menor do que Leonardo, dispomo-nos sumariamente a exaltar o segundo e a menosprezar o primeiro”. Diz mais adiante o autor, sobre o discurso da arte crítica, que esta carece objetividade. Com isso a crítica em si, ou até os apreciadores da arte em geral, buscam, frequentemente, por um rigor de estilos. Isso pode engessar a arte, ou a crítica que se faz dela.
Mudando o foco agora para a música, a presença de estilo, ou dessa insistência em alguma peculiaridade, se torna mais fiel. Exemplo, uma banda de rock, ou um trio musical regional, um compositor de samba, costumam manter seus estilos até o fim. A inconfundível guitarra de Carlos Santana, e também de Pepeu Gomes; o acordeão de Luiz Gonzaga, o rei do baião; o violão no samba de Agenor de Oliveira, Cartola. Mas não podemos dizer o mesmo do maestro Villa Lobos, que atravessou períodos diversos do país, inclusive regiões do país, onde a cultura era distinta uma da outra, e escreveu obras desde o modernismo, impressionismo até o popular, chorinho e samba. Desta forma que é dada a existência do estilo.
E por falar em estilo, de onde ele surge? Foi inspirado, ou serviu como inspiração? Pode-se dizer que Villa Lobos, se inspirou em algum compositor clássico, ou sua genialidade (que é fato), nasceu consigo? Luiz Gonzaga e o mestre Cartola, por exemplo, não tinham noção nenhuma de teoria musical, este último, mal sabia afinar seu violão. Foi através de Villa-Lobos que, então, Cartola passou a afinar seu instrumento através de um diapasão. A composição de obras tão lindas, letras tão sublimes e melodias, harmonias tão doces. Como pode, sendo que este homem só tinha concluído a antiga primeira série? E além disso, Cartola não sabia afinar um violão? Não! Ele não sabia. O sr. Aluísio Dias (1911 - 1991), violonista e compositor da velha guarda da Mangueira, cita uma situação entre Cartola e Villa-Lobos, reforçando a falta de conhecimento teórico do artista do morro da Mangueira, em (PAZ, Ermelinda Azevedo. Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira. Uma visão sem preconceito. Rio de Janeiro, Arte & Cultura Produções LTDA., 2004. 1ª edição, pág 84):
[...] O maestro aceitava o Cartola como era e admirava muito suas músicas. Ele ouvia o Cartola e dizia: ‘Mas como é que pode, às vezes está tudo errado, mas é tão bonito.
Como Cartola sabia que estava bela, a sua canção? De onde vinha seu estilo? Realmente, há inspiração, há uma série de apanhados de estilos, que podem se mesclar num só. Seria o caso de Cartola, e/ou Luiz Gonzaga?
O estilo, portanto, deve ser algo imutável? Ou mesmo que não se queira, ele se altera naturalmente com as épocas, com as culturas? É algo que se deve considerar.  E é bom lembrar, Jorge Coli, novamente, na página 28, “...a obra de arte não se reduz ao estilo”.
Gostaria de expressar um fato pessoal, e apesar de não ser nada formal, ou profissional, nem de nenhuma excelência, mas na questão da composição (arte escrita), e visual (a pintura, desenho), eu, particularmente, por experiência, não obtive nenhuma influência artística, tanto para escrever, quanto para desenhar. Seria uma influência metassensível, ou metafísica, segundo Platão?
Um profissional, amigo meu, desenhista, disse que minha “técnica”, ou “estilo”, seria a de “desenho acadêmico”. Eu nunca soube o que era este estilo. Há pouco tempo uma amiga pediu sua caricatura, eu não soube fazer, então a desenhei no “meu jeito”, e ela como já tinha noção de desenhos, à mão livre, me disse: “fizeste um desenho artístico. Podes se dedicar ao realismo, terás excelentes resultados”.
Eu possuo um estilo. Isso é fato. Mas será que amanhã, ou depois, conseguirei realizar um estilo diferente de desenho? Com treino, sim. Mas serei influenciado por algum artista já consagrado? E isso, por acaso, reduzirá o meu estilo de fazer arte, ou seja, a influência piorará minhas pinturas? Eu percebi que pude evoluir, na questão estética. Então, uma questão: isso, pode fazer com que minhas obras, humildes desenhos, sejam considerados obras de arte?
Ou, por exemplo, na arte da composição. O que escrevo será que é uma influência, uma cópia de algum autor? Mas como se nunca li nenhum poeta, ou texto lírico? O que classifica o que escrevo como poesia? Enfim, são estilos e análises, discursos que determinam o estatuto e o objeto de arte ou, um critério de julgamento por parte de um especialista, é quem podem definir mais acuradamente.
Há também o senso-comum, que pode aceitar o que é arte ou não, dependendo do impacto que a obra cause. Isso dependerá muito do rigor com o que é medido uma obra de arte e a afeição, ao estilo de cada autor, perante seu trabalho. Arte: expressão de emoções e idéias... À ela, caberá o período, as circunstâncias - presentes em cada cultura -, a questão estética e a sua real intenção de fato. Ela é dual, pode ser e não ser ao mesmo tempo.

Referências bibliográficas:
COLI, JORGE. O que é arte. Sao Paulo, Ed. Brasiliense, 1995. 15ª edição.

PAZ, ERMELINDA AZEVEDO. Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira. Uma visão sem preconceito. Rio de Janeiro, Arte & Cultura Produções LTDA., 2004. 1ª edição.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

O futebol e nossa "arte"

O futebol em si é uma arte.
Uma partida de futebol é um espetáculo.
Artistas são os jogadores,
ainda a torcida também.
Há performance em campo,
nas arquibancadas há música.
É tudo uma verdadeira exposição artística.

Mas à cada partida um torcedor morre.
Seja assassinado, seja por uma fatalidade qualquer, por descuido dos órgãos competentes.
Perde-se vidas, gera-se ódio
Quando não morre alguém, há agressão física de todo tipo.
Se xinga mais do que se grita “gol”;
se briga, mais do que se comemora;
até na comemoração aparece gente morta.

Há investimentos fortíssimos do governo, da TV e de empresas privadas para que este espetáculo seja cada vez mais belo e atrativo
Isto é arte… Futebol é paixão, é vida! (e morte também).

Eu ia gostar muito de ver o dia que uma ONG, um Movimento, o BrasiL, a população fechasse um estádio. Eu ia começar a entender certas coisas, se a grande maioria protestasse em frente a um estádio logo após uma pessoa ter sido assassinada, sofrido qualquer violência.
Eu ia me dar por satisfeito no dia em que não houvesse mais partidas de futebol justamente por conta da violência animalesca e gratuita que há em todas as partidas, dentro e fora de campo, diga-se de passagem.

EU NÃO VOU NEM COMENTAR DOS UFC's DA VIDA... DESTE TIPO DE A_R_T_E__M_A_R_C_I_A_L. NÃO VOU PERDER MEU TEMPO PENSANDO NESTE TIPO DE ARTE. MAS...

Se uma pessoa nua em uma performance é motivo de estopim para o caos social, ou uma exposição artística, o que dizer do público ou dos verdadeiros “artistas da bola” que se degladiam, se sangram e se matam, na frente de crianças, de pais e mães dentro e fora de estádios de futebol?

“Mas o futebol não promove violência. O futebol é um esporte! Quem comete violência são as pessoas, as torcidas, etc”
Sim!

O mesmo digo sobre uma exposição artística numa galeria, ou uma performance num museu: quem comete o crime, quem vê maldade, quem interpreta e julga conforme seus valores e costumes, é única e exclusivamente o expectador. A arte e o artista, não matam, não cometem crimes. Por exemplo: podemos julgar aquele ator vilão por incitar à violência, ou fazer apologia a algum crime? (o caso de uma novela onde há um traficante e sua mulher). Atores que interpretam, devem então receber julgamento por sua nudez diante das câmeras? Aquela dança sensual que cansamos de assistir aos domingos na TV aberta; "na boquinha da garrafa…", "Pau Que Nasce Torto", "Pimpolho" ... ; e aquela banheira que aparecia muito numa rede de TV paulista, em que "artistas" de sunga e biquínis, tinham de pegar um sabonete numa banheira minúscula cheia d'água? Eles foram censurados por aquilo que fizeram? Pediram a prisão deles? Ninguém nunca pensou em reclamar. Mas por que agora? Por que é que agora tudo é apontado como crime, e este mesmo crime é dado sempre ao mesmo "réu"?

Enfim... Quem não quer morrer, não vá a um estádio de futebol em dias de jogos; quem não quer se chocar, ou se sentir invadido, desrespeitado, que não vá ao Teatro ou ao museu, ou qualquer exposição artística; quem não quer ver putaria disfarçada na TV, com músicas de duplo sentido, com fortes conotações sexuais, eróticas, que vá ouvir rádio de música erudita ou ler um livro sagrado.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Algumas considerações



Não temos identidade
Colonizados, nós somos
O estado não é laico
Incomoda, o diferente, a nudez, o profano...
Tudo é dominado pelo arcaico

Querem vestir o nu
Querem "clarear" a sociedade
Os índios, querem catequizar
Querem acabar com a diversidade
Os pagãos, querem matar

O sagrado não é um corpo, mesmo que nu
O sagrado são: roupas, vestimentas, indumentárias, a batina, o terno, o ouro, a joia, a coroa

O sagrado é o certo, o profano o errado
Certo é você se curvar, obedecer
Errado é você escolher um lado
Um belo mundo onde não se pode viver

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Corrupção Virtual

Era um grupo de pessoas. Na sua maioria adultos. Pessoas formadas, trabalhadoras, bem orientadas e gozando de boa saúde. Todos com suas belas famílias, muitos país e mães de filhos, outros somente filhos e, todos já com responsabilidades perante aos que lhes são próximos e à sociedade. Mas dentro desta sociedade, estas pessoas criaram um grupo. Com a ajuda da tecnologia, da internet e uma ferramenta de comunicação, eles criaram um grupo onde pudessem conversar, ou seja, o lazer e a descontração na palma de suas mãos. Hoje, todos os que possuem um aparelho celular, com internet e um aplicativo para comunicação instalado, estão em algum desses grupos. Com certeza! Para diversas finalidades é até aceitável, e realmente, adianta a vida de qualquer um que precisa se comunicar.
Foi um grupo de estudos. Criado para que todas estas pessoas citadas acima pudessem se expressar, comunicar eventos, palestras, debates e coisas do tipo. Claro, rolava umas piadas, até umas paqueras, papo descontraído, uma animação só, mas tudo focado na ciência ali que os uniam.
Os criadores do grupo, chamados de administradores, convidaram diversas pessoas. Quem estivesse interessado a participar do grupo era só pedir que em minutos já estava inserido. O limite de usuários foi informado: não havia mais como incluir ninguém. 256 pessoas. Diversas cabeças, diversos estilos, todos com um único intuito. A afinidade era a mesma. O grupo tinha um nome bem peculiar e só entrava quem era convidado pelos demais e ainda assim tinha a aprovação da administração.
Os administradores enviaram algumas regras ao grupo, para não perderem o rumo e manterem todos com o mesmo propósito do seu início. Criaram um código de ética e conduta. Normal (apesar de, ainda, nos dias de hoje, século XXI, um grupo de pessoas ter de ser alertado, ser avisado de que haverá banimento, ou “puxões de orelhas” àquele que vier ofender, ou que venha a cometer um ato que possa prejudicar ao próximo, é um tanto surreal. Seria a mesma coisa ter de ficar lembrando a alguém, todo santo dia, que estupro é crime; que é um ato violento, horrível... Mas, enfim… O século se adentra rumo ao infinito, e o ser humano se adentra à regressão). Mas considerando o fato, houve-se entendimento e todos se declararam de acordo. Inclusive os próprios criadores do grupo estão sob este manto justo e igualitário, vale lembrar.
Primeiro dia, um administrador manda uma mensagem a todos: “Favor evitem comentários sobre FUTEBOL, POLÍTICA E RELIGIÃO. Sem ‘putaria’ e mensagem de bom dia” (Realmente essas mensagens de bom dia é um porre!). Nos outros dias, esse aviso rolou novamente na tela de todos os participantes. “Favor evitem futebol, política e religião, sexo…”.
Conversa vai, conversa vem, entra madrugada, amanhece o dia e um desavisado, - ou porque não leu as regras do grupo, ou se esqueceu, ou inocentemente - mandou uma mensagem em uma linda imagem: “Excelente fim de semana a todos. Que Jesus lhes abençoe”. Todos reclamaram, os administradores logo se posicionaram e a situação foi resolvida. O participante se desculpou e prometeu não repetir a atitude. (Tomara que ele tenha aprendido que não era somente para aquele grupo em questão. Que ele entenda que mensagens de bom dia é chato pra cacete e imagens virtuais “pesam”, ocupam lugar no dispositivo, e custam grana, pois muitos utilizam serviços de de tráfico de dados de alguma operadora. Tudo bem, é só não baixar a imagem, sabemos, mas é escroto pra cacete mensagens de “bom dia” em grupos).
Mais uma semana, e um outro desavisado, - ou por ter se esquecido, ou outra coisa qualquer - solta sua mensagem no grupo: “meu time é campeão! Os adversários podem chorar”. Mais uma vez houve uma comoção e até outros mais abusadinhos, responderam, ignorando toda a ética e a regra do grupo: “meu time que é o melhor, sai pra lá”. Houve novo alerta sobre as regras, muitos se indignaram, mas chegaram a um novo consenso e prometeram não mais mandar nada sobre futebol.
Amanhece. Já havia se passado um mês desde a discórdia sobre título do clube de futebol carioca no grupo. Mas uma nova notícia havia caído como uma bomba nos jornais e telejornais do país, na última madrugada. Milhões de reais foram descobertos na casa de um político. A pouca vergonha caiu nas redes sociais de todas as formas. Piadas, revolta, textos imensos… Algum administrador desavisado, ou porque não leu, etc, etc e etc, (mas se foi ele quem criou as regras… [?]) jogou uma imagem no grupo. A imagem era de um político. Mas não a do verdadeiro político que havia guardado milhões de reais debaixo do seu colchão. A imagem era de outro senhor. Só que o haviam associado aos milhões de reais encontrados no apartamento. Não se sabe se por falta de informação, de uma leitura mais acurada, interpretação de texto, óculos, atenção, qualquer coisa… Mas a imagem do político lançada não tinha nada com o outro que foi acusado de sonegar dezenas de milhões de reais.
Voltando ao grupo… Não só a imagem que foi o problema e sim o texto que ela continha. Pois é, o texto “falava de política”.
A imagem lançada no grupo foi a imagem mais comentada e a que mais incitou piadas em toda a história da internet somente dentro daquele grupo. Foi algo assim surreal. Havia pessoas que riam tanto, que a quantidade de letra “k”, em sequência, era tanta que o aplicativo travou. “Kkkk...” seria uma espécie de onomatopeia: o som da gargalhada na internet. Os servidores da empresa que entregava o serviço ao usuário final, queimaram. Com isso começou uma zona. Eram tantos textos falando mal do senhor político da imagem, que a sensação era de que se estava numa guerra entre Iraque x EUA. Mas estranho foi o fato de o verdadeiro político que foi encontrado com o dinheiro ter saído “ileso” dessas revoltas e piadas todas.
A palavra mais comum que rolava na tela do dispositivo era “corrupção”. Nessas horas realmente a sociedade, os trabalhadores, o povo parece estar acima do bem e do mal. Tudo o que ele diz, contra o sistema, é puramente lúcido e altamente plausível. Mas infelizmente este é tomado por uma opinião rasa, sem muito critério e completamente parcial. Pura ilação. E essas pessoas, não diferem de mim, de ti, dos participantes do grupo e também dos administradores.
Mas um dos usuários se pôs contra a opinião de todos. Ele conseguiu enxergar a relação entre a imagem do “político A”, com o outro “político B” dono dos milhões de reais. Ele também lembrou que houve injustiça, que as regras não foram seguidas conforme combinado. Uma vez que RELIGIÃO e FUTEBOL foram logo censurados. Já a conversa sobre POLÍTICA, por sua vez, não foi questionada, lembrando que estava na regra. Mas este usuário foi expulso do grupo.
Há três problemas ai. Um, o fato de terem ignorado a ética para com o assunto política; dois, a não punição para com o autor desta questão. Seria o fato de o assunto “política” ter vindo diretamente de um dos administradores? Ou criaram uma nova regra, liberando o assunto “política” e não repassaram ao grupo?; três, a punição completamente equivocada por parte do administrador e do consentimento dos demais. Enfim, isso é ridículo, pois se trata de um grupo de internet. Pessoas que, apesar de suas qualidades e valores, não estão no controle, no comando de uma nação, ou sequer uma comunidade de fato. É apenas um grupo de internet...
Todos reclamam de corrupção. Todos querem seu fim. Ninguém mais suporta este ato. Isso se deve ao fato de o corrupto, passivo ou ativo, estar mexendo no bolso do cidadão. Sim! Quando o bolso fica mais leve por estes e outros motivos criminosos, a histeria é colossal. Agora, quando o corrupto se torna o justo, o reclamão, o cidadão que não aguenta mais tanta roubalheira vinda do alto escalão, como fica?
Tomemos, por exemplo, este grupo de internet e transferimos-la ao peso de uma nação. Os administradores são os governantes, reis, parlamentares, líderes, capitalistas, seja lá o que vocês tenham em mente sobre quem controla, na verdade, um país. O povo, os súditos, são os demais usuários. Há leis, ou seja, regras impostas já pelos administradores; punições, julgamentos, méritos, eleições e etc. Enfim, tudo conforme o modelo de democracia como a república brasileira.
Este cidadão, agora é um líder. Controla uma nação. Está para consigo o poder. As leis e as ordens vem de seu andar. Agora este cidadão goza de uma cobertura, de luxo e regalias. No seu caso, para sua nação, são apenas três leis simples: Não falar, em público, sobre política, futebol e religião. O que houve durante o seu mandato, como líder da nação, foi uma transgressão às suas leis. Em dois casos sua intervenção foi cirúrgica. No terceiro e último caso, foi totalmente injusto e nitidamente uma falta de controle e critério para com todos.
Há corrupção. Fato! E ainda, a punição foi aplicada de forma incoerente. Pena esta que cabia ao seu próprio líder, pois além de ele ter mandado prender um cidadão (ou no caso virtual, ter excluído o usuário) ele ainda saiu ileso de um crime que ele próprio tinha ciência de que cometera. O que fazer quando o governante de um país transgride a própria lei? Neste caso, seria, a justiça, o que convém ao forte? (Sócrates discorda, em A República, Livro I, de Platão); ou seja, só há justiça, só há consentimento quando ela favorece, ou convém a quem tem poder?
Sem contar a distribuição de cargos (relação dos administradores do grupo), se dá somente àqueles que estão próximos do líder, ou, àquele que convém ao líder tê-lo do seu lado? Como um cidadão comum pode vir a se tornar um líder? Sabemos que há corrupção. Justiça só é feita quando convém ao governador geral desta pequena nação, logo… E aos que ameaçam o cargo, ou a integridade do líder? Por exemplo, houve um questionamento sério, lúcido, embasado, sob provas cabais, de que algo havia sido distorcido da realidade imposta. Só que quem distorceu as regras foi o líder. Pode um cidadão derrubar um líder nesta pequena nação fictícia? Lembrando que a justiça convém ao poderoso…


A corrupção está presente até nos simulacros do dia-dia de cada cidadão, mais simples que ele possa ser. Não precisa nem ser presidente, líder, governar nenhuma nação, comunidade. Basta apenas ter o poder, basta apenas “estar sobre”, que ela acontece. “O que convém” é o que está em pauta. O que é “melhor para” é quem decide o que é certo e errado; mentira ou verdade; criminoso ou inocente. Há corrupção até entre duas pessoas numa disputa de “par ou ímpar”, infelizmente. A desonestidade é um mal atuante, silencioso. Ele cega. Torpe os sentidos. Há aqueles que tem noção e mesmo assim o pratica. É gerado um prazer, uma satisfação tal para cometer esse ato, que não importa quem seja, onde esteja, que este crime, ou seja, a corrupção, tem de ser praticada. Coitada da nação em que os cidadãos reclamam da falta de honestidade, mas quando eles viram as costas são os primeiros a praticá-la, seja contra quem for, do jeito que for e a seu imenso prazer.

domingo, 3 de setembro de 2017

De fato a ventura não mora em mim


Eu sou um poço de amargura
Um ser beirando a insanidade, algo sem cura
Dizem: “coisas simples, diversão sublime;
a felicidade mora nas pequenas coisas”
Então, sendo assim, eu sou muito grande
Um cego à graça da vida
Nem se dono de toda riqueza eu fosse
Há escassez de gana
Nulo desejo para sorrir à vida
É tudo ilusório, falso
Tal qual no deserto caminhar
Com tudo o que ele representa
Mas delirar, banhando-se num lago
à sombra, no conforto destinado aos reis
Se é assim num deserto de areia
o mesmo se dá nos gélidos alpes
Lá de cima, onde tudo é cinzento e congelante
Iria uma miragem me aterrissar num belo campo
Em algum lugar ensolarado, na mata, regado de flores
Mas nunca, de fato, estarei num lugar assim
Onde eu realmente quero estar, sem quimera
Não! Estou sempre no oposto, na contramão
Então por que não dirigir no fluxo?
Não seguir em boa direção?
Nada que se deseja, se faz corretamente
estando, seja quem for, privado da razão
Confiaria em alguém desprovido de sensatez?
Mas, mais uma coisa…
Não cabe a ninguém a julgar o próximo, não é?
Quem és tu, quem sois vós, quem sou eu
para tomar alguém como louco?
Pensemos…
Mas de nós mesmos sabemos
Eu, somente eu. Tu somente tu
Cada qual sabe, no íntimo, de si próprio
Logo, cabe a nós tal conjectura
Eu sei o que sou
Eu sei o que de mal faço
De bem nada me restou
De anjo não vejo nenhum traço
Concluo escrevendo às escuras
Termino estas palavras sem nada enxergar
Ando no chão, com a mente nas alturas
Alço voos, com o chão a me esmagar
Cego à graça da vida
Impossível chegada
De uma difícil partida

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A (re)negação

Após algumas leituras de autores como Fiodor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, tentei expor, no papel, É CLARO, algumas coisas que me impressionaram, alguns temas tratados por estes estudiosos, filósofos, de maneira tão normal.

O extremo, ou alguma coisa que simulasse a dor maior ou qualquer ameaça à vida não é nenhuma leitura agradável ou de se louvar. (Apesar de ainda eu entender coisas do tipo. Pois, para mim, arte não está empregada só em flores e céu azulados com lindo Sol, sorrisos e leveza).

De fato é muito estranho desejar a auto-destruição. O desejo de acabar consigo mesmo, ou com sua própria essência, é insano demais. Mas isso acontece e são atitudes que levam a outras ilustres pessoas a se dedicarem, às vezes, a vida toda, estudando tais atos a fim de elucidar a população, aos demais, e também tentar de uma forma diminuir isso. (Na verdade o homem quer sempre vencer a morte, quer burlá-la, tornar-se Deus. "Trágico, se não fosse cômico")

A morte, diga-se de passagem, poeticamente falando, nao é necessariamente dar cabo à vida material. Pode ser tratada de uma outra forma. Pode simbolizar outro aspecto, pode significar o fim para varias coisas abstratas também. Ou alguma coisa material na vida de alguém. Ou, até mesmo alguém de fato. Que é o mais lamentável. 
Sobre esse tratamento para com este fenômeno terrível para quem está vivo, muitos, alguns gênios, na verdade, o fazem através da música, da pintura, da dramaturgia, cinema, ou na própria TV, (e em horário nobre. Até ao vivo a morte é transmitida...)

Aqui tentei expor algo sem cabimento, alguma coisa inimaginável dentro de uma mente sã (ou não?). Assusta, mas... É a vida (ou a morte) e repito, muitos fazem-na, tratam-na, como arte. Vide os autores que citei acima.
Lamento trazer-vos esta obra tétrica, funesta...
____

Aquela vontade de morrer...
Chega! Não aguento mais padecer
Sumir deste mundo salutar
Nunca mais aparecer

Doloroso será
ver a perfeita natureza de mim se afastar
O céu azul, o verde das matas
O mar, os rios
A fauna, a flora
Tudo onde o homem não pôs as mãos
Sentirei apenas por isso quando eu for embora

Eu sou a doença
Eu não tenho cura
Não adianta nenhuma crença
Nem nenhum ato de bravura

O alívio da melhora
A alegria que sucede a dor
Esforço não se requer para a cura
Não carece rezas ou simpatias
Tudo muda após a partida
Sozinho sem peso, sem culpa

Ninguém me contaminou
Ajudar alguns até tentaram
Sou o pior do que sobrou
O inútil que todos notaram

A invisibilidade impossível
É o sonho deste ser
Passar despercebido
Iluminado pela sombra
Escoado ao lugar mais calmo do mundo
No subsolo da Terra esse é o clima
Onde jaz apenas esculturas sobrepostas
Embelezando o cenário sete palmos acima

Não culpo a ninguém
O mundo é perfeito e belo
As pessoas o são também
Apenas crio para mim o inferno

Diversas tentativas, como num jogo viciante
Desde psicanálise, drogas, psicotrópicos
Até a Bíblia, guias e impecáveis roupas brancas
A derrocada é notória
Tal qual o ácido quando beija o estômago
Proveniente da latente alma inglória

Não consigo fazer nada
Desnecessário, não produzo, nulo causo
Uma vida desperdiçada
Viajante do caminho falso

Quando o espelho reflete a dor
Tudo ao redor se quebra, se despedaça como vidro
Mas continua intacto este objeto que a retrata
Eternizando a penosa imagem
Tão repulsiva quanto ratos e baratas

Não consigo mais me enganar
Nem a qualquer pessoa
A falsa vida há de acabar
Levada por uma pesada e lenta garoa

À uma formosa caminhada, difícil fica
O cérebro ganha peso de chumbo
O coração friamente se petrifica
O peito, no cais do báratro se ancora
A gravidade só puxa para baixo
Duas pernas apenas não resistem a essa natureza

Que angústia! Que dor horrorosa!
Os existencialistas estão certos:
A profunda ciência da vida torna-a penosa
E isto fez de mim o próprio dejeto

Na verdade, da vida não se deve achar um padrão
Deixar o caos tornar-se natural
Ser completamente idiota
Viver sem previsões, sem rotinas
Ser livre
Livre inclusive, para morrer
Despojar-se da dor, da inteligência letal
Deixar de viver, na verdade, é deixar de sofrer

Fatídico ser
Sou o coitado que sonha
No mundo real não se dá pra viver
Sentem por mim tamanha vergonha

Explorar é fantástico
A descoberta mais ainda
Mas análogo à Lua, existem dois lados
O iluminado, apreciável e o escuro, temível
Igual quando me conheci de verdade
Não foi brilhante, nem sequer legal
Foi melancólico, obscuro, triste realidade

Sem brilho, sem orgulho
O sangue mal corre minhas veias
Meu cérebro aturdido é um entulho
Valho menos que um grão de areia

Já passei da hora
Estou doido para ir embora
Não posso mesmo ficar aqui
Isso tem que ser agora

Troco a noite pelo dia
À madrugada, vida se possui abundantemente
É nela, ao menos, que sei que respiro
Que, vivo! Ouço meu coração pulsar
Me animam, estes fúteis eventos
Trocaria também isso tudo por um túmulo
Visto que ninguém iria incomodar a um sucumbido
Extinguir o silêncio, abortar a paz, daquele que jaz, seria o cúmulo

Que seja suave como uma brisa
Leve como uma pluma
A plataforma bem firme e lisa
Para que não haja dor nenhuma

O caminho para a glória é difícil é estreito
Logo, para a desgraça é livre, espaçoso
Não deveria haver sofrimento para se conseguir algo, qualquer coisa
Muito menos à felicidade
Caminhar por onde se quer eis a maior delas
Tudo o mais é incitação ao medo e à barbaridade

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...