Vamos perguntar à arte?
Uma das coisas que li recentemente e que, mudou minha vida, foi uma coisa muito simples e de poucas palavras: “Só o ser humano produz cultura”. Resumindo ai, bem superficialmente, assim que li a palavra “cultura”, esta, de pronto, me remeteu à arte. Sempre tive em mente, que arte e cultura eram a mesma coisa. Mas há uma diferença grande entre a arte e a cultura. Uma está inserida em outra, de fato. Mas eu gostaria de me limitar, bem mesmo, somente à arte. O meu primeiro questionamento, ou uma forma filosófica de se pensar arte, foi esta:
A arte tem o poder de:
Um: À vida, imprimir a morte;
Dois: Dar à morte, vida.
- Um quadro de Cézanne.
1. Alguém pode me dizer se a Monalisa (“Mona Lisa del Giocondo”, obra de Leonardo da Vinci, 1503) está viva naquele quadro? Se sim (quem iria pensar nisso? Mas tudo bem...), ela pensa, ela fala, respira, cria alguma coisa?
2. E as frutas, de Cézanne, na pintura “Still life, Jug and Fruits”, 1893-1894, elas não são tão reais, que queremos pegá-las e comê-las? Com alguns pincéis e poucas tintas, os crânios em “The Three Skulls”, 1900, do mesmo pintor, não são tão reais que amedrontam?
Arte… O que nos enxergamos como arte, afinal?
E o nu, que tem causado asco, recentemente. A nudez que agride e ofende a alguns. Mas nudez é uma forma de expor o corpo humano. Ou melhor, a nudez é nossa primeira natureza. A natureza do nosso físico, a matéria. O que leva à sociedade pensar que o nu é ofensa, ou pornográfico? O que está educando a essa sociedade, quem educa a quem, a ponto desse povo temer a nudez?
Arte… Porque tememos-na tanto?
As “revistas masculinas”, são as mais vendidas das bancas de jornais. Há nudez. Porém há apreciação. “O corpo nu, é belo!” - há quem o diga. Há quem colecione estas revistas. Seria erotismo, pornografia, ou apenas fotografia de um corpo desnudo?
Quem vê esta arte, tem a mesma intenção ou, interação, do artista que tirou tais fotografias e também da pessoa que cedeu seu corpo para tal?
A arte então seria um meio para se ofender, agredir ao próximo? Ou, a arte é como a justiça, cega. E não vê a quem, apenas é?
A arte apenas fica exposta e quem a traduz, quem a percebe e define, são as pessoas? Quais tipos de pessoas?
Quem nunca viu arte, está preparado, vamos assim dizer, para receber as primeiras impressões de uma música barulhenta, um objeto retorcido, ou um quadro surrealista, ou até mesmo um corpo nu, sem expressões?
A arte deve ser controlada, censurada, e ter somente uma intenção? Quem iria definir e controlar sua intenção, e sua exposição?
Seria uma ciência, os filósofos estudiosos no assunto? Ou seria o povo, todo e qualquer cidadão?
De quem é a arte, para quem é a arte?
Caso a população decida julgar o que é arte de fato, esta poderia estar de forma justa, definindo a arte somente, ou os seus traumas, seus pavores, suas afeições, seus preconceitos, seus costumes e suas morais, estariam embutidas nas críticas artísticas?
Qual sociedade estaria olhando para a arte? A dominada ou a dominante (elite)?
O que seria a arte, para uma sociedade cujo o controle é de uma classe que vive no topo do sistema financeiro-econômico? O que é arte, para aqueles que são a base dessa pirâmide, que subsistem nesse sistema?
E também, a posição política influi na arte? Uma pessoa extremamente conservadora, contrária à mudanças, vê uma pintura surrealista, ou ouve uma música contemporânea, da mesma forma que uma pessoa liberal, excêntrica?
Uma vertente política pode se apropriar da arte em si? A arte pertence a um grupo da política, dita de “direita”, ou a arte é da “esquerda”? Se sim, quem faz o que? Quem expõe o que ao público? Qual público? Com intuito apenas político, ou um forma de doutrina?
A arte é gosto?
A arte é apenas um olhar?
Arte é qualquer coisa, um objeto exposto?
Arte é perfeição, uma obra que devemos amar?
Um risco, à lápis, azul, numa folha perfeitamente branca, pode ser considerado arte? E esse risco, multiplicado por mil, numa tela, com outras cores em harmonia, pode-se considerar arte? Por exemplo, Catedral de Rouen, de Claude Monet e outra pintura da mesma catedral. Mas estes exemplos, aos olhos de quem? Da elite, uma classe dominante, ou de um simples cidadão?
Esses olhares dependem da cultura de cada povo, ou a arte é a mesma tanto para um siberiano, quanto para um parisiense? Ou melhor, o que é arte para um siberiano, e o que é arte para um parisiense? Tente visualizar onde vivem, as peculiaridades de cada sociedade, tanto da siberiana, quanto da parisiense. E o que eles produzem, o que vêem e o que ouvem...
E uma música, cuja sinfonia instrumental soa serenamente, é melhor do que uma música eletrófona, quase sem nenhuma pausa perceptível? A música é feita de sons e silêncio, notas músicas com suas devidas alturas e pausas, basicamente. E se uma pessoa qualquer se deparar com 4 minutos e 33 segundos de silêncio, isso poderá ser classificado como música? Sugere-se então que se ouça, ou busque informações sobre a música (sim, uma música), 4’33”, do compositor e maestro, John Cage. A música possui partitura, há apresentações e houve, pelo autor, a gravação da mesma. Então, a pergunta retorna: silêncio é música? Ou melhor: existe realmente, àquele que possui a faculdade da audição, o silêncio? Por mais que a 4’33” seja executada somente com pausas, ainda assim deixamos de ouvir as coisas ao nosso redor? Esta obra, de John Cage, deve ser considerada arte?
E por falar em música, o instrumento musical, além de produzir sons maravilhosos, (ou não), pode ser considerado, materialmente, uma obra de arte? Um Violino, sem produzir som, em repouso numa prateleira, por exemplo; sua madeira, suas medidas, os cortes, cada detalhe, visualmente é uma obra artística?
Seria obra de arte, um instrumento musical, para quem nunca o tivesse visto antes? Mesmo não sabendo sua utilidade? Se sim, um instrumento musical, que não produz música, pode imprimir arte àquele que o observa?
Retornando à 4’33”, de John Cage, todo o conjunto da obra, todo ambiente, um lindo piano de cauda, traje a rigor, uma sala de espetáculos, e claro, espectadores, mas a produção artística seria apenas o silêncio; um piano lindíssimo, relativamente, um objeto caro, projetado naquele momento para não produzir som nenhum, seria considerado um espetáculo visual, e arte, no que se refere a música?
Uma questão também muito importante, que devemos tratar junto a arte, é sobre alguém que tenha perda severa/ profunda de audição, não consegue ouvir música, obviamente. (Mas não se deve julgar ou muito menos impedir àqueles que possuem surdez de ir a um espetáculo musical, ou um simples show de rock, não é?) Então, como os ouvintes, entendem que o surdo está “ouvindo música”? Geralmente quem está produzindo música, é ouvinte, um tanto óbvio isso. Mas apesar de o surdo não ouvir, eles possuem outros sentidos também. Muitos surdos exprimem o entendimento da música através de luzes rítmicas, ou simplesmente pelo deslocamento do ar, causado pelas caixas de som, ou pelas “peles” dos bumbos, ou instrumentos de percussão qualquer.
A arte é limitada? A arte é apenas para alguns? A arte apenas é “alguma coisa” e, nós, que a percebemos, que a fazemos e, a entendemos, à nossa maneira?
Uma coisa importante e interessante a ser feita, em relação às simples perguntas sobre a arte e demais assuntos que permeia a isso tudo, é, no momento em que se obtém a resposta, pensar também em algo inverso, antagônico, literalmente. A arte não deve ser pensada somente numa direção, ou em favor dos ventos. Não! Ela deve atingir a tudo e a todos, de diversas maneiras. Devemos pensar em arte, mas acima de tudo observar; puramente, “cegamente”, livre de todo preconceitos e pré-julgamentos; não se deixar levar por um belo sentimento, a priori, e nem levar, ainda a priori, nenhuma má impressão. Arte é complexa? Muito mais complexa àquele que a observa, ou o seu observador que é complexo diante de um objeto simples de observação?
Eis a arte… Ela é, e não é ao mesmo tempo. Transcende, transforma, destrói, deforma. Uma coisa se sabe sobre a arte em geral: ela causa. Disso todos temos certeza. A arte existe, ela está ai desde tempos remotos, até hoje. A cada minuto. Arte, seja ela abstrata ou, tão material e real como a nossa própria vida, é, existe. Basta que tenhamos nossos sentidos para percebê-la.
A repugnância das famílias vem de ver uma criança tocando um Homem nu em uma exposição. Lutamos ferozmente contra a pedofilia que está por todos os lados, é querem fazer uma criança acreditar que é certo tocar em um homem nú. Não é certo! Não deixaria minha filha participar disso, logo eu converso insensantemente com ela sobre o que é certo e errado, vou incentiva-la a tocar um corpo de um homem nú?! Já levei a Ana a várias exposições e ela já cansou de ver quadros e esculturas nuas, mas aquela atrocidade não é cultura para uma criança. Só quem é pai e mãe sabe o quanto tentamos manter nossos filhos protegidos de conteúdos como estes. Isto não é arte e nem nunca será para uma criança.
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