domingo, 17 de agosto de 2025
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segunda-feira, 11 de agosto de 2025
SOMOS VERDADEIRAMENTE HUMANOS? REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO EM MARX
Há algo profundamente inquietante no modo como vivemos, trabalhamos e existimos em sociedade. Essa inquietude silenciosa e muitas vezes invisível impingiu o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 — 1883) a desenvolver uma das críticas mais profundas à condição humana na modernidade. Em seus “Manuscritos Econômico-Filosóficos” de 1844 — publicados em 1923 — , Marx nos convida a refletir não apenas sobre o funcionamento da economia, mas sobre algo muito mais íntimo: o que nos torna verdadeiramente humanos?
Neste contexto, Marx rompe com noções econômicas de sua época, advindas, principalmente, do economista Adam Smith (1723 — 1790). Ademais, o filósofo alemão dialoga com outro filósofo conterrâneo, Friedrich Hegel (1770 — 1831) sobre concepções tradicionais — tanto metafísicas quanto teológicas. Além destes dois principais, tanto o economista quanto o filósofo, Marx se destacava diante dos demais pensadores que viam a natureza humana como uma essência fixa, imutável, criada por Deus ou moldada puramente pela razão. Contra essa visão, ele defende uma concepção dinâmica e histórica: o ser humano não nasce pronto, ele se faz, e esse processo se dá, sobretudo, através do trabalho. Trabalhar, para Marx, não é apenas uma prática visando a preservação do indivíduo ou, simplesmente, sobrevivência: o trabalho é um ato criativo, vital, existencial. É pelo trabalho (práxis) que transformamos a natureza e, ao mesmo tempo, nos transformamos — revelando que homem e natureza formam, na verdade, uma só unidade.”
Imagine, por exemplo, um artesão moldando a madeira para criar um violino. Cada curva esculpida, cada detalhe é mais do que técnica: é a expressão de sua subjetividade, de seu tempo, de sua história. Nesse processo, o ser humano se objetiva: coloca algo de si no mundo. O objeto criado carrega sua marca, seu gesto, seu gosto, sua humanidade. Porém, e se esse violino, ao invés de ser expressão humana e natural, tornasse-se uma mercadoria imposta, feita em série por máquinas, alheia ao artesão que o produziu? Eis aí o estranhamento — a essência do drama que Marx denuncia.
Nesse cenário, o capitalismo surge como um véu que encobre essa potência humana. Na chamada “economia política tradicional”, o trabalho deixa de ser uma atividade plena e passa a ser apenas um meio de subsistência. O trabalhador não se reconhece mais no que faz, não emprega mais sua história, sua cultura, o seu DNA (no sentido figurado, óbvio). O que deveria ser a mais profunda realização de sua humanidade torna-se uma prisão cotidiana, onde o indivíduo não pode mais, livremente, conceber os percursos da sua vida. O produto do trabalho já não lhe pertence. Ele se torna estranho diante daquilo que criou, como um pai que não pode reconhecer e cuidar do próprio filho.
Marx descreve esse fenômeno com dois conceitos centrais: alienação e fetichismo da mercadoria. De acordo com o filósofo a alienação é o distanciamento entre o trabalhador e sua obra. O trabalho, antes expressão de liberdade, vira uma obrigação mecânica, tornando-o banal — um “ganha-pão”. O trabalho (práxis) aliado à própria natureza, que deveria ser o espelho da criatividade humana, converte-se em instrumento de opressão. Diante disso, o homem perde a si mesmo no ato de produzir. O fetichismo da mercadoria, por sua vez, é talvez um dos mais trágicos disfarces da modernidade: os produtos criados pelo trabalho humano ganham “vida própria”, são adorados, valorizados, comprados e vendidos como se tivessem poder em si mesmos — enquanto o trabalhador, criador de tudo isso, permanece invisível, descartável. Em outras palavras, a mercadoria brilha, o ser humano se apaga.
Neste processo, o capitalismo inverte a lógica da existência humana: transforma sujeitos em objetos, e objetos em sujeitos. Os que detêm os meios de produção — os capitalistas — acumulam riqueza, enquanto os trabalhadores são reduzidos a números, a peças em uma engrenagem impessoal e insaciável. A famosa passagem do Manifesto Comunista ecoa com força aqui: “Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, opressor e oprimido…” — essas oposições revelam a perpetuação de uma luta que desumaniza.
Marx nos obriga a encarar uma verdade desconfortável: vivemos em um sistema que nos afasta de nós mesmos. E mais do que uma constatação teórica, isso é um grito. Um grito que vem do trabalhador exausto, da mãe que trabalha dobrado para sustentar os filhos, do jovem que não se vê no que faz. O trabalho — que deveria ser fonte de dignidade — é transformado em rotina opressiva, em alienação existencial.
Contudo, essa crítica não é um fim em si. Marx aponta para um horizonte. Ele acredita que essa realidade pode ser superada. Pois o ser humano, ao contrário das demais espécies, possui a capacidade singular de criar com consciência, de produzir não apenas para si, mas para os outros, em liberdade e solidariedade. Enquanto os animais produzem por instinto, o homem produz com intencionalidade, sensibilidade e propósito universal.
Assim, compreender a natureza humana, segundo Marx, é entender que ela se realiza na práxis, ou seja, na ação transformadora sobre o mundo. A humanidade não é uma condição pronta: ela é um processo histórico e coletivo. É na criação de ferramentas, de arte, de cultura, de linguagem e de relações que o ser humano se descobre — e se redescobre.
Enfim, ao olharmos para nossas mãos calejadas, nossos rostos cansados após o expediente, para nossas angústias diante de um mundo que nos exige produtividade constante, talvez possamos entender um pouco do que Marx quis dizer. Não estamos apenas sendo explorados economicamente — estamos sendo privados de nossa própria humanidade. No entanto, a esperança não foi extinta. Porquanto, se somos feitos históricos, também podemos nos refazer e nos readequar, transformando nossos destinos mais dignos e mais humanizados. Além do mais, a luta histórica em que nos encontramos não é apenas por salários mais altos ou melhores condições — é por um novo modo de ser no mundo. Um mundo onde o trabalho não estranhe, mas que agregue; não oprima, mas liberte. Talvez o maior legado de Marx seja esse: lembrar-nos de que ainda somos humanos — e que, apesar de tudo, podemos nos tornar plenamente aquilo que somos.
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
Medicina: Será que um dia iremos nos tornar um jacaré?
Brasil vive uma segunda pandemia, agora na Saúde Mental. Quadros de ansiedade e depressão aumentaram após a pandemia de covid-19.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
É assim que tem que ser?
Manhã cinzenta,
clima londrino.
Mas não importa.
Seja lá ou no Rio,
eu estava sendo
apunhalado
sentia compaixão.
Eu seguia.
Sem rumo, sem norte;
sem Deus, sem lar;
à própria sorte.
Andorinhas voando,
de longe voltando,
órfãs de mãe e pai,
Perdidas em meio
ao concreto sujo.
Em volta, tudo feio;
nojento; caminhos,
muitos se cruzam
sob vento fedorento.
Minha Cidade e Cor:
angústia, medo.
Vida incolor:
Notei na canção
Ritmos e melodias,
o coro dos enlutados
e a letra mortuária;
fria como o clima;
- bucólico adro.
Ó canto acappella!
aos pés da bela capela,
de magnífico altar.
ao longe senti,
ali, todos uníssonos,
em seus goles de saliva
as lágrimas rolavam
como chumbo abalavam.
Sobre ele, pessoas,
de preto, vestidas.
De luto e dor caiam.
Havia beleza e ruína.
A intempérie sina,
o tilintar do sino,
o ecoar das vozes…
Aquele que partira.
Todo aquele cenário,
todos com seus rosários.
A dilaceração,
e a emoção.
O “eu” em sacrifício;
o “ele” em sepulcro;
o “nós” alienados.
Mas todos buscando-se,
a si, meditando,
e alguns sem fé;
outros pensando,
"Aqui o jaz;
aqui voltarei, não de pé.
Sim… Belo, espero;
sem vida, porém em paz"
segunda-feira, 20 de maio de 2024
O Outono se foi
quarta-feira, 8 de maio de 2024
Perdido em si
Eis que, no vão das sombras, onde o ser se desvela,
No peito, o eco do etéreo medo,
que ronda como espectro, silente e frio;
a morte, que se avizinha em segredo,
traz consigo o derradeiro vazio.
Oh, pavor dos mortais! Oh, desespero!
Na encruzilhada da existência efêmera,
a cada passo ergue-se o temor primeiro:
a finitude que nos cerca e golpeia.
Nas horas gélidas do dia que declina,
o ser se afoga na miragem do amanhã,
na incerteza que espreita e domina,
sob a fumaça sombria da própria chama.
E quanto mais próxima a hora derradeira,
mais nítida se torna a face da verdade:
somos frágeis, efêmeros, na vasta ribanceira
da vida, que nos arrasta sem piedade.
E assim, entre suspiros e lamúrias,
o homem se perde em sua sina,
na busca vã por fugidias aventuras,
sob o olhar impassível da morte divina.
sábado, 4 de maio de 2024
O vazio essencial do mundo
Ante a desolada vida, um grito sai de mim.
Onde a esperança se esvai com astúcia,
em um mundo hostil, um abismo sem fim,
Somos frágeis, condenados à angústia.
Venturas fugazes em estrelas cadentes,
brilham por um minuto, depois se apagam.
A frivolidade nos consome, implacável e ardente,
deixando-nos perdidos, cegos, sem afago.
Sabemos que somos frágeis, perecíveis,
Que a morte nos espreita a cada esquina.
Mas o mundo continua, indiferente e impassível,
nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha.
Neste vazio abissal, nosso rumo se perde,
sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza.
E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede,
deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza.
Pois, nosso fim não finda o mundo;
nossa existência não torna o real;
nossa importância não vale um segundo.
O mundo sem nós se torna essencial.
Apolítica
Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...

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Em meio à penumbra, um brilho surgiu, Um anel de ouro, um presente do destino. Com ele, o poder de ocultar-me, Um sonho antigo, um desejo d...