segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A paz que sucede a guerra



“Não! Não era vermelha a sua vestimenta!”, “Não pode ser… Era sangue!”, “O príncipe, lutando?” - esses eram os burburinhos dos cidadãos local, que, em fuga, avistavam um alvoroço ao longe. Subindo um monte que cercava a cidade, os moradores se refugiavam para fora dos muros da cidade. O monte, rico em vegetação, também servia abrigo para estes casos. Era bastante provido de alimento. Abaixo deles, ao longe, ocorria uma batalha sangrenta. Tingido de vermelho, continuava o jovem guerreiro e, príncipe, a lutar em defesa de seu povo, de sua nação. Portava um escudo de madeira maciça; nas bordas havia um belo acabamento de prata bruta, muito bem polida, contornando o objeto de defesa na arte militar da época; no centro, inclusive, uma espécie de brasão brilhava feito a luz do Sol. Sua espada era simples, como o próprio portador, apesar de príncipe. Jovem, de alta estatura, tez negra, olhos serenos, porém carregados de fúria, ou seja, o sangue corria em seus olhos naquele momento, usava uma destacada e longa espada, afiadíssima, à mão esquerda. Muito bem acabada. Parecia recém forjada; outra espada menor tinha em sua mão direita, braço qual portava o pesado escudo. As armas, ou melhor, o metal em si, naquela região, era o mais resistente e mais puro de todo o mundo, assim como o tecido também era muito suntuoso, oriundo da natureza. A Mãe-África abençoava seus filhos ricamente. Não era atoa que havia invasões em terras alheias periodicamente; fossem por motivos de secas, ou cheias; doenças nefastas ou por simplesmente ganância a meros recursos naturais ou, simplesmente por causa do luxo. Havia sempre motivos para um povo atacar a outro. Inclusive o próprio príncipe, que bravamente defendia os seus, que possuía extenso exército e um belo e fidedigno povo, conquistou-os através, também, de lutas.

Em regiões da África era comum povos famintos, miseráveis, devido aos infortúnios da própria natureza, na maioria dos casos, aceitarem um novo rei, ou um líder. Muitos peregrinavam em busca de um novo vilarejo, na esperança de criarem seus filhos saudavelmente. Passavam daí, a servir em troca de terra, alimentos, plantio, colheita, enfim, melhores condições de vida. Aceitavam o trabalho imposto e eram muito bem recompensados, inclusive, primeiramente com terras. A terra na África é sagrada, e ninguém tinha o direito de possuí-la, sequer negociá-la. O súdito que nascesse sob império do seu senhor, este já teria liberdade para possuir grande extensão de terras, e podia livremente trabalhar para ter seu sustento. Tanto indivíduo de classe mais elevada, ou de “sangue nobre”, quanto um lavrador, todos estes possuíam o mesmo direito, o da terra.



Ao rei de Ejigbo, só lhe era devido parte da produção, como uma espécie de dízimo. Havia prestação de contas em praça pública, e no final das contas, literalmente, havia uma feira  livre onde todos pudessem expor suas mercadorias, e artesanatos. E o montante do dízimo, de todas as produções, que geralmente eram verduras, legumes e grãos, iam para suprir o exército, o reinado em si e àqueles que se encontravam privados de saúde ou trabalhos pesados. Contabilizando crianças e mulheres gestantes, principalmente. Realmente este era um reinado muito honesto. Tanto o rei, quanto o seu filho, eram extremamente inteligentes. Pacíficos. Mas o jovem príncipe, contudo era mais idealizador e revolucionário. É contraditório citar alguém como pacífico, sendo que se encontra banhado de sangue, em plena batalha. Mas é importante e justo afirmar que este jovem “príncipe-guerreiro” não entrava em batalha alguma. Na verdade ele não prezava por guerras. Lutava de outra forma, para que futuras brigas não acontecessem. Era totalmente pacificador, conciliador. Realmente ele evitada disputas, brigas e guerras em geral. Sabia apenas se defender, claro, mas atacar, nunca! Mas quando ia à luta não era para perder. Ele desconhecia a derrota: tanto física, quanto intelectual. 



Bem mais jovem, o príncipe, na primeira vez que lutou não usou nenhuma arma, não estendera sua mão contra ninguém. Sua luta fora contra a fome. Que matava aos milhares na época. Há relatos de que numa triste noite o, até então príncipe, em seu cavalo, passava por uma aldeia a caminho do castelo de seu pai. Ele nunca havia escutado tanto lamento e visto tanto sofrimento. A escuridão caia sobre o povoado alheio. Era uma região bem remota, quase o príncipe não tomava aquele caminho. Mal a luz da Lua conseguia iluminar aquela terra. O senhor daquela aldeia, e todos os seus líderes, haviam sido levados pela morte. Esta era chamada pelo nome de Iku. De tudo faziam para que Iku não levasse mais nenhuma pessoa. Ofertavam animais, num ritual de desespero, em troca de mais vidas naquela terra e maior prosperidade. Nada impedia a subtração das vidas. Eis que, com o sentimento em ajudar ao povo, o jovem príncipe, deixara seu cavalo, e ia a pé ver com os próprios olhos o caos instaurado no lugarejo. Um homem, destemido, alto, fortíssimo, todo de branco, tão iluminado que os caminhos da escura noite reluziam, portando armas, caminhando por sobre aquele solo bucólico, chamou a atenção de todos, inclusive de Iku. 



Iku, então, passou ceifando a vida de uma criança. E tome dor. E choros, lamentações... Com ar de imposição e intimidação, Iku deu o seu recado: “quem manda aqui sou eu”. O belo príncipe ignorou ao fato e perguntou a um dos guerreiros da pequena cidadela: “O que os faz morrer? Por que Iku os leva?”

Não sabemos, meu senhor... – respondeu o rapaz, já abatido e pálido.

Como assim? O que fazem aqui, quais seus costumes, seus modos? Ofenderam a Deus?

Não sei lhe explicar muito bem. Sei, somente, que nada nesta terra dá frutos. A única coisa que plantamos aqui é milho…

Cadê estes milhos? 

Próximo aquele córrego – apontou o garoto.

Aquele rio, é fétido! Vocês consomem água dali?

Sim senhor!

E o milho está seco demais, quiçá impuro! - indignava-se o príncipe.

Como devemos lhe tratar, oh príncipe?

Osum, olhou nos olhos de seu amigo, e disse em tom firme: Iyan.




Iku, naquele momento, cercou o jovem príncipe, e soprou em seu ouvido: “queres ser o próximo?” Iyan, em voz alta, ignorando a morte, sem desafiar a ninguém, nem desejar nada em troca, prometera voltar e findar os óbitos e toda aquela desgraça. Iku o desafiou, e deu a ele um prazo. Mas que somente o príncipe saberia a hora certa. “Irei embora assim que tu me acompanhardes” - convidou Iku. E o príncipe o respondera: “Irei daqui, mas sem a ti. E voltarei, tão logo, mas trazendo comigo muito ferro e muita força!”. Iku se esvaiu na noite escura sem dizer quando voltava e nem o que faria. Neste exato momento o céu fez brilhar as estrelas, a Lua iluminou caminhos. Imediatamente o príncipe retornou ao reino de seu pai e lá convocou sete homens. Cavalgou uns dias até o próximo reino e, à sua amiga, explanou toda a situação. O príncipe iria contar com a ajuda de uma linda mulher que possuía poderes magníficos. Sim, feiticeira nata! Mas é importante frisar, que ela não tinha ciência de seu poder. Somente o rei Lufan, de Ejigbo, sabia do seu segredo, mas não lhe contava, pois não era chegado o tempo. Mas a presença da linda donzela, bastava para afastar qualquer mal, feitiçaria, infortúnios, mazelas e etc. Dócil, meiga, tenra, amorável, sua bondade para com o príncipe não tinha limites, nem indagações. Ela topara a “aventura” e partiram então, montados em seus cavalos. Ela toda produzida, parecia que ia se casar com o príncipe; montada no ouro, joias belíssimas. Iyan brincava com os penduricalhos da linda negra, dizendo que os tilintar de suas joias ia despertar a todos na África. Após um dia de viagem, somaram-se ao grupo, em meio a caminho e partiram para a aldeia sinistra.



Passadas algumas manhãs, e tensas noites, já no alvorecer eis que o jovem guerreiro adentrava já avistava a aldeia de longe, com seus soldados fiéis. Um deles, seu amigo desde a infância, e outro componente, a mulher mais linda que toda aquela aldeia já havia visto. Se aproximando, ao sentir a presença dos guerreiros, Iku chegou ameaçando levar seu melhor amigo. Este caíra do cavalo e sob um estado inconsciente ficou falando palavras incompreensíveis. O povo o socorreu e lhe deu amparo através de orações. Iyan partiu para a luta. Carregava consigo muitos sacos de um estranho objeto, à primeira vista. E outro saco de uma espécie de raiz. Jogou-os no chão e convocou a todos.

Não houve tempo o suficiente para forjar teus ferros e armas, guerreiro? Vais me atacar com esses objetos coberto de terra, lama, nesta linda e quente manhã?” - caçoava Iku.

Forja? Quem falou em armas ou algo do tipo?

Dissestes que iria trazer ferro e força! E me vens com isso? E essa mulher? Consegue segurar uma espada? Vejo que ela segura uma flor. Vais me dar flor? Eu até gosto... - ria Iku.

Isso que trago comigo realmente não é espada, lança, arco ou flecha. É a terra! Veio da terra! Carrega, mais ferro do que qualquer espada desta cidadela. Eis aqui em minhas mãos um alimento, rico e nutriente.

Irás me derrotar com isso?

Já o derrotei, morte! Vá! As pessoas irão se alimentar. Apreciarão o inhame. Ficarão de pé! Lutarão contra ti. Viverão e herdarão à terra.

Com aquele rio podre? - questionou Iku.

Deixe comigo, meu príncipe – intrometeu-se sutilmente Osum, caminhando elegantemente, sensualmente até a beira do rio, com belos e vivos lírios em suas mãos.




“Homens!” - ordenava o príncipe. Seus soldados começaram a cavar o chão com pedras. A cada estocada, era um estrondo que fazia tremer a terra em toda África. “Que bom exemplo, - comentou Iku - cavando sua própria cova?” “Não! São sete poços” – respondeu o príncipe. Sete homens furaram tão profundamente que descobriram poços d’agua. Fonte pura, límpida, de água. De vida. Iku, deu-se por vencido. Já havia soldados da aldeia de pé e a postos, prestes a servir ao seu novo príncipe. Isso não agradara muito a Iku, pois achava-se traída. “Você barganhou! Me enganou!” - dizia a morte. Diante da sabedoria do jovem príncipe, Iku decidiu-lhe ajudá-lo e também se tornara mais simpática ao jovem guerreiro, que, por sua vez, não usara arma nenhuma. Iku, deu-lhe mais sabedoria e tornou-lhe líder daquele povo, daquela aldeia. Tudo prosperou, e o povo se multiplicou. O rio, agora possuía água cristalina, tão pura que alimentava a quem o bebesse; tão mágico, que, quem se banhasse, teria sua alma lavada. Ciente disso, o pai do jovem guerreiro ordenou que seu filho fosse em busca de suas terras e reinasse seu amado povo. Eis que o já então nomeado, e justamente príncipe, foi o principal defensor de sua cidade, Ejigbo, em sua primeira guerra com armas.



E foi nesta linda e maravilhosa, próspera e rica Ejigbo, que a batalha se dava, devido a uma invasão de outros povos. Riqueza! Era o brilho nos olhos de povos mais rudes. Iyan, príncipe de Ejigbo, lutava como um “louco”. Nunca atacara a ninguém; vencera e enganara até a morte; mas quando era ameaçado, e quando atacado violentamente, a resposta era mais violenta do que pensavam os adversários. Apenas com seus homens fieis, cerca de sete guerreiros, os pilares de seu reino, o então ex-general do exército de seu pai, Lufan; querido príncipe de Ejigbo, altivo, nobre senhor, maior reino em plantações de inhame, o príncipe estocava um golpe e se defendia de outro. Era assim: uma porrada, e uma proteção com seu escudo. Eram tantos golpes, que sua espada perdia o fio. “Essa navalha cega, toma” - esbravejava o guerreiro. Ora chegava a ser confundido com outro guerreiro sanguinário, pavoroso, extremamente forte, impávido general do melhor e mais forte exército e melhor amigo de Iyan, quase que irmãos. Falo do famoso inventor e forjador de armas, o general e invícto rei de Irê. 



Mas nesta batalha, Iyan, incansável, incontrolável e insano, já estava tomado por algum espírito da guerra. Seus inimigos não mais sofriam um profundo e fatal corte, da bainha da espada de ferro nobre. Não! Eles, bizarramente, eram partidos ao meio, mutilados, tamanha força era o golpe de fúria do príncipe, e tamanha era brutalidade. Sua espada estava cega, não cortava, dilacerava. Isso o irritava, pois Iyan era um tanto perfeccionista. Gostava de tudo como a natureza impunha. Uma espada, para ser espada, tinha de estar afiada, logo, ele não usava mais espada. Para Iyan, espada sem fio, era um pedaço de ferro, ou metal. O príncipe largava a batalha quer onde estivesse e voltava correndo ao castelo de seu amigo, rei de Irê, para mais forjas. Este, exímio forjador, era tido como o dono dos metais e ferros de toda África. Não só forjava armas e ferramentas, como também as usava com maestria. E quando da chegada de Iyan em seu castelo, todo ensanguentado, com olhos esbugalhados e irado, o general, que é famoso por ser cruel, impiedoso e carniceiro, ficou tão sem ação e tão temeroso ao seu amigo príncipe Iyan, que prontamente lhe ofereceu para a batalha:


Fique! Eu irei em teu lugar. Governe Ifé, caso eu não volte... – estava tão desnorteado, que o rei de Ifé, cogitou uma possível derrota sua.

Onde que tu irás ser abatido em campo de batalha, Ogum? O que há com você? Virou tolo agora? Por acaso tu és general a ser derrotado?

Mas é que…

Faça, agora, neste momento, mais armas para mim. É uma ordem!

Estou só, meu irmão… Não darei conta.



Ogum estava confuso. Nunca havia visto seu amigo, melhor amigo, querido amigo, banhado em tanto sangue em suas lindas vestes brancas. Ogum, na verdade, era o soldado, e posteriormente o general que se banhava em sangue; que era tomado por ira em qualquer situação. Este sim, que tinha a fama de “brigão” (no sentido carinhoso da coisa) e não o contrário. O general nunca esperava isso do melhor amigo e se sentiu impotente. Ficou ansioso, indócil, pois não podia saber de alguma guerra, ou uma briga qualquer que logo queria se meter. Então, sedento, se sentiu na obrigação de lutar no lugar do amigo, enquanto este planejava, criava táticas e ações. Na verdade sempre fora assim desde quando os dois se conheceram. Mais inteligente, Iyan, arquitetava as batalhas, os cercos, os caminhos, todos os detalhes; o general executava com perfeição. Afinal, como soldado, Ogum, o que mais sabia fazer era acatar ordens. Até o dia em que se tornou general e tomou gosto por dar ordens. Mas ele agora que se via ordenado a executar ordens e duras ordens. Coitado do general se ele a recusasse ou questionasse qualquer coisa.


Peça ajuda de tua mulher – comandava Iyan.

Ela está atarefada, meu amigo… E no mais, estou sem lenhas para fogueira. Como irei à forja das armas?

Eu já trouxe lenhas. Ordene-a a “soprar” o fogo enquanto tu cria as espadas.

Mas…

Agora, Ogum!



O general solicitou a inegável e perfeita ajuda de sua mulher, que prontamente ela se fez presente. Sua mulher fazia uma “calorosa” diferença, na produção. Justamente “soprando”, ou seja, abanando a fogueira com intuito de se aumentar a intensidade do fogo, gerando mais calor, gerando mais forjas, ou seja, mais armas. Ela tinha um poder de “criar” ventos. E com isso vinham tempestades, carregadas de raios. Ogum tinha ciúmes de sua mulher, também guerreira, com seu melhor amigo. Ogum tinha ciúmes até de seu cavalo, de sua espada... Isso era natural do general. Mas nesse caso ele tinha um pouco de razão, pois, sua mulher, como guerreira nata, apreciava guerreiros também. Foi assim que eles se conheceram, por sinal, lutando. E quando a mulher de Ogum, bateu seus aguçados olhos de águia em Iyan, ela ficou um tanto enfeitiçada. Aquele jovem enorme, bufando, irado, ensanguentado, porém de vestes brancas… “Quem vai a uma guerra de branco, a não ser que seja pedir a paz? Que homem corajoso!” - pensava ela. Primeiro ela fez lhe oferecer um banho fresco, e repouso. Com suas afáveis mãos, tocou os ombros do jovem príncipe. Grosso, naquele momento de fúria, e sede por batalha, Iyan lhe deu um fora e pôs a guerreira mulher aos trabalhos, deixando a sem graça e sem reação. Ogum, abriu um leve sorriso no canto da boca, acalmando-se e ciente de que não havia disputa pela frente, com seu melhor amigo.



A ira do jovem príncipe, que se veste de branco, é de uma força que talvez nem ele próprio saiba o que é estar nessa natureza. Ninguém se arrisca a contrariá-lo, muito menos a afrontá-lo. Em seu dia-dia, Iyan é um homem doce, cativante, criativo, engraçado, educado ao extremo, generoso e muito prestativo. O seu negativo atinge ao extremo disso tudo. É algo inexplicável. Seu amigo, Ogum, sempre diz: “você é oito, ou oitenta!” Apenas seu amigo Ogum é capaz de acalmá-lo. Ou o carinho de uma bela mulher… As vezes.



Sem querer perder mais tempo, e nem tirar mais tempo de seus amigos, o príncipe de Ejigbo, então, ordenou a todos: “Não quero ver ninguém parado. E eu não quero saber de banho...” - ralhava enquanto esmagava, num pilão, inhames para seu consumo. Aquilo era sua energia, sua força, sua essência. Não atoa que seu nome Iyan, quer dizer “inhame pilado”. E assim, pronta suas armas, partia em seu cavalo incansável, o jovem príncipe. Toda vez que ele voltava da batalha, sem dizer uma palavra, Ogum e Iansã, corriam para a forja e acabamento de novas armas. Iyan deixava espadas antigas amontoadas, inúteis, para que destas, fossem preparadas outras novas. Forjava-se com vísceras, carnes, sangue e tudo mais. “Sinta teu próprio sangue, da tua própria arma, da tua própria alma, seu tolo” - gritava enquanto abatia seus inimigos na batalha por suas terras. E assim seguiu até que Iyan, o Oxaguiyan, tivesse limpado os campos em Ejigbo. Não havia ninguém de pé. Somente o próprio, imponente... 


Vida de Plástico


Tudo me é possível
Basta eu querer para ter:
Bens de consumo, materiais
Bens não duradouros
Coisas legais e ilegais
Vindos dos Estados Unidos
E de outros matadouros

Tenho ideais
Tenho amigos
Todos parecem ser legais
Mas não eu comigo

Digo, pois: a razão morreu
Assim como a fé
Não há ninguém como eu
Feito de barro no pé
Que ignore o futuro
Não lamente o passado
Nem nunca diz: eu juro
Mesmo quando pressionado

Vida de plástico
Inserida em um ideal
Do grande mundo fantástico
Pobre mundo real
É como um grande elástico
Só que firme ao peso de metal

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Rá rá rá...


Só eu quem acho graça?
Da fome, miséria e desgraça.
Da gasolina, do ônibus, do pão.
E no fim, meu time levantando a taça.


Sim, é engraçado sim:
O pobre dentro do aeroporto;
e daquele mar sem fim
de desempregados como loucos.


E o que dizer do favelado?
Perambulando pelos corredores
em busca da licenciatura ou bacharelado.
Pasmem, coitados, tentando ser doutores.


É para rir, não é?
Daquele que nada tem.
Seja um calçado no pé,
seja a grana para o trem.


Estou aqui rindo com o vizinho.
Do alto da varanda Gourmet.
Apreciando um bom vinho
felizmente, rindo de você.

Não se sintam ofendidos.
Vós sois igualmente fodidos.
Sentem cheiro de merda,
mesmo com nariz entupido.

Uns ganham mais,
outros ganham menos.
Porém ninguém é capaz,
se matam com mesmo veneno.



sábado, 27 de outubro de 2018

Sem título

Oh! Nobre senhor.
Sempre bem trajado.
Grande Rei Xangô,
Seguro em seu machado!

Não há justiça,
nem igualdade.
Apenas cobiça,
E muita falsidade.

Oh! Grande general.
Forte, infalível.
Guerreiro imortal,
Ogum, invencível.

Nunca houve paz.
Guerra dos mundanos.
Convivência mordaz,
por milhares de anos.

Oh! Grande mãe.
Rainha do mar.
Doce e gentil,
Odoyá, Yemanjá!

Todos se odiando:
seja amigo ou irmão.
Escravizando, matando:
sem amor, sem paixão.

Oh, que beleza rara!
Meiga, delicada…
Vem das águas claras,
Oxum, a mãe dourada.

O ódio vence a sutileza;
o espinho à flor;
as águas sem clareza,
lamas e muita dor.

Não lhes julgo.
Não é isso…
Nem os culpo,
por causa disso.

Nós quem falhamos,
como humanos.
Difícil assumir,
que nós erramos.

O que faremos para mudar?
O que esperar do futuro?
Rezar para tudo terminar?
Recomeçar um novo mundo?

Um mundo sem nós, claro!
Não podemos estar presentes.
Que nada venha do barro,
ou da costela de um ente.

Deixemos o mundo a sós,
(ele se reerguerá sem nós).
A verdadeira vida voltará a fluir.
E, melhor, nos tornaremos pós.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Homem ou lobo?






Jesus foi tido como um faccioso.
Condenado, açoitado, crucificado.
Pela leis dos homens, criminoso.
Já Barrabás, um salteador, liberado.

Pilatos, às mãos lavou.
Ao povo ainda questionou:
MAS QUE MAL FEZ ELE?
“Seja crucificado!” O povo mandou.

Barrabás sorriu
e andando saiu.
Mas Jesus não.
Diante do Estado, caiu.

Sim, o povo o derrubou.
Sacerdotes, comerciantes,
Herodes, todo mundo ajudou.
Até o romano governante.

O povo enganado pela elite,
submissos, sem autoridade,
ultrapassaram todos os limites.
Talvez por diversão, ou maldade.

Como gado, repetem a tudo.
Recitam falácias e ódio à toa.
Pregam um inocente, contudo
libertam uma má pessoa.

E hoje, o que pensar disso tudo?
Quando isso terá um fim?
Decerto nunca neste mundo,
pois, sempre agimos assim.

Já dizia o dramaturgo Platus
(Parece que foi ontem):
“Homo homini lupus”,
ou seja, o homem é o lobo do homem.

domingo, 21 de outubro de 2018

Então, dane-se!


A vida.
A morte.
A partida.
O norte.

O leste.
O oeste.
Talvez o sul.
Ou o nordeste.

O que pode ser?
E o que não pode?
Apenas prazer.
Algo que incomode.

Não é frio.
Nem quente.
Não é trio,
ou um somente.

Muito menos dois,
ou mais...
Nem depois,
Nem atrás.

Não acende,
nem apaga.
Não se sopra,
nem se traga.

Não dói,
nem corrói.
Não é amor,
e nem destrói.

É falso,
ou verdadeiro?
É fausto,
ou grosseiro?

É escuro,
ou claro?
É futuro?
Ou passado?

O que pode ser?
E o que não pode?
Algo que não se vê
Nada que se esconde.

É o Sol,
é a Lua.
É o farol,
é a grua.

Ou o ar,
e o pensamento.
Ou o mar,
e o sentimento.

O Sim,
e o não.
Enfim...
Em vão.

É mortal,
é vivaz.
Não letal,
mordaz.

Não é de chumbo,
Nem é leve.
Não é profundo,
nem se mede.

O que seria, então?
Ilusão, suposição?
Pode ser tantas coisas...
Sábias ou não.

Não é vida.
Não é morte.
Nem Margarida,
ou má sorte.

Não é gelo,
Nem é brasa.
Nem selo,
nem carta.

Não é mudo,
mas fala.
Pode ser tudo,
Contudo não é nada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O fascismo





Muitos autores e estudiosos do assunto dizem ser complexo definir o fascismo em si. Contudo numa coisa todos concordaram e acabaram, vamos dizer assim, por mapearem alguns fundamentais "modus operandi" deste regime. O que nos dá certa previsão, como uma espécie de termômetro, ou um alarme, quando algo desse tipo está por vir (ou já se instalou e está camuflado aguardando o "dia D" para virar a chave de fato para o tão temível, por alguns e, querido por outros, regime fascista). O fascismo é um conjunto de modos, de propostas, de atitudes. Não basta somente se enquadrar em um caso, mas também não precisa ser todos os casos (e mais além destes). Não que eu esteja com propósito de taxar fascistas, de fato, pessoas ou líderes que hajam desta forma, mas que o modus operandi, ou seja, o modo, as ações, as replicações de gestos e atitudes são semelhantes. E o que deveria ser cauteloso, hoje, está abundantemente sendo praticado.

Portanto citei aqui 10 itens para podemos ter uma ideia do que prega o fascismo enquanto sistema político:

1 Pode ter o apoio da elite, dos grandes capitalistas. Não é liberal no sentido econômico, pois prega e preza um estado controlador das economias e políticas sócio-econômicas. Ou seja, o fascismo controla o Estado, tem o poder estatal consigo, porém detém a liberdade da população, censura, ameaça, freia o intelecto do povo através de duras leis e reprimendas, - como se terá mais abaixo alguns exemplos. No contexto de econômico-financeiro, fica difícil analisar, portanto. Por um lado fascismo pode derrubar os grandes capitalistas (com a detenção do lucro de um indivíduo); por outro se alia a eles formando um só corpo (oferecendo-lhes posição no governo ou realizando negócios entre si de forma ilegal onde ambos acumulam riquezas). O fascismo é o avanço da EXTREMA-DIREITA, uma vez que não compactuam com o liberalismo, ou nos tempos de hoje e não é de esquerda porque pregam sempre em "impedir o avanço do socialismo" ou "ameaça comunista". (Pelo menos esse é um dos discursos, quando o fascismo surge).

2 Os fascistas têm o controle dos meios de comunicação (ou conta com o apoio das famílias. Por exemplo, aqui no Brasil, a Rede Globo apoiou a Ditadura Militar em 1964); têm o controle dos meios de produção e de toda a mão de obra (a mais barata possível). Os fascistas são as forças armadas, ou, as forças armadas são o fascismo. Sempre caminham juntos. Não haveria ditadura, golpe, fascismo sem o apoio militar. Ou melhor, o fascismo não nasce sem antes deter o controle bélico, armamentista e todo contingente militar. 

3 É completamente oposto às doutrinas do liberalismo político e social, conforme dito acima, mas há outra forma: justamente porque os fascistas sempre estão aliados aos dogmas da igreja católica ou islã. (Ou você conhece algum ditador ateu, anti-cristão? rs). Diferente do liberalismo econômico, o liberalismo social sempre é oprimido por este tipo de política autoritária. É também avesso ao que prega o Socialismo/Comunismo. Até porque, o socialismo prega a igualdade (jurídico e sócio-econômica) e a liberdade (sócio-cultural e etc); já o Comunismo é uma etapa, um momento pós-socialismo, onde não existe mais a ideia de Estado. É a ausência completa do Estado como o conhecemos hoje. 

4 Busca sempre um alvo fixo, para ter motivos de pregar o nacionalismo. Por exemplo, o combate ao "Comunismo". Seja o motivo interno ou externo, há sempre um meio de se pregar o ufanismo, o patriotismo em exagero. Ser patriota ao extremo, porém ser xenofóbico, homofóbico e misógino. Por falar em "problemas externos", vale lembrar as transações comerciais, embargos e sanções a países vizinhos levando-os ao prejuízo, e fortalecendo-se industrialmente, belicamente, comercialmente... E também, nada entra no Estado, só saí. Exportação somente, e não importação (geralmente). 

5 Autoritário, centralizador de poder; ignora a constituição vigente, que foi aceita e utilizada democraticamente; cria suas próprias "leis", ignora os direitos humanos (seria bom saber mais sobre os direitos humanos também. Que foi criado justamente pós o Nazismo de Hitler, com o fim da 2ª Guerra); controla os direitos trabalhistas, impede greves e quaisquer manifestações populares em busca de DIREITOS (que foram rasgados), inclusive ataca diretamente aos sindicatos, que vai contra o interesse da elite, dos patrões, dos capitalistas.

6 E expansionista! Não costuma fixar-se somente em seu território. Busca expandir-se. Tomando terras ou fazendo alianças. Prega o unipartidarismo (óbvio! Sendo o Estado, fascista, o único partido, único a impor as regras, as leis) e não aceita oposições, oprimindo e aplicando duras penas e regras àqueles que pretende se reerguer, ou sequer existir.

7 Impõe limites às liberdades e todas as ações humanas; sempre ataca o pós-modernismo; ou qualquer pensamento liberal, social ou progressista. Cria uma "ditadura do pensamento", impondo à sua nação um único modo de pensar, quebrando a liberdade do cidadão em se comunicar, se expor, se manifestar livremente. Isso geralmente é reforçado por dogmas religiosos, novamente, como já citei. As artes em geral sempre sofrem condenações, a não ser que passem por censura que não vão de acordo com o pensamento único do fascismo e seus seguidores. Por exemplo: ateu, comunista, ecologista, libertário, educador (professor tem de ensinar somente o que o fascismo quer. Lembre-se também das queimas de livros no regime nazista, ou o "Bücherverbrennung"); gera o fim de culturas regionais, culturas advindas ou herdadas de outras nações e etc, pois o nacionalismo extremista, não permite divergência, ou uma nação multicultural. São todos pelo país, e o país por todos! Uma só nação! (vide a queima das bandeiras na era Vargas).

8 O fascismo ganha força em períodos de crise – econômica, social ou política - sempre propondo uma solução radical, sem muita coerência, e sem consultar a população (óbvio, é regime autoritário). Neste caso, se aproveitam, os fascistas, pois a população está sempre em busca de justiça, de algum herói, de algum messias. Então quando surge alguém com propostas sempre radicais de um bem comum, enfatizando a ideia de "grupo forte unido, jamais será batido", sensibiliza o senso-comum e ganha adeptos. Contudo as vezes não há mal algum, apenas uma má gestão política, ou muito menos isso e o fascista se aproveita para aparecer, crescer, propagando seu ódio contra o próximo, através da xenofobia e principalmente o seu ódio contra ideais comunistas/ socialistas/ liberais/ progressistas (No caso do comunismo, este nunca foi posto em prática extremamente. É um contra-senso o fascista propor fim a algo que nunca existiu de fato, - a não ser no imaginário das pessoas afins a este regime. O comunismo que se pratica está mais para contenda das ações neo-liberais e agendas trabalhistas do que propriamente tomar os meios de produção, as propriedades privadas, os latifúndios, derrubar o Estado etc etc etc.).

9 É populista porque de alguma forma atrai pra si as massas com promessas trabalhistas (porém sem garantias), de avanço capital, avanço tecnológico e bélico. Se autopromove. Vide as propagandas nazifascistas; utilização de TV e Rádio, Jornais e Revistas. Cativa os mais humildes com promessas de segurança, contra o inimigo (como já citado: o comunismo); ou de outra forma: através do medo e receio de estar correndo risco de morte, o cidadão acaba apoiando. Ainda que esse perigo seja externo ou, pior, que esteja no imaginário.

10 É dogmático. Tudo o que ataca aos ideais da igreja, (ou seja qual for a religião predominante aderida pelo fascista) e ao regime em si e suas premissas (uma vez rasgada a constituição e destruída a democracia), tudo em oposição se torna inimigo e será exterminado. Não há espaço para vozes, para pensamentos, para oposições, para arte, manifestações quaisquer. Nada! Nada além do que o fascismo permite. Tem que ser o que eles (fascistas) querem e ponto final.
 

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...