terça-feira, 24 de julho de 2018

Nós, os vermes

“O verme pisado se contorce. Eis aí algo inteligente. Assim é que ele diminui a possibilidade de ser pisado novamente. Na linguagem da moral: humildade.” (NIETZSCHE, Friedrich. O crepúsculo dos deuses. Editora Vozes de Bolso. 2016. p. 13).
Perfeita comparação ao ser humano e suas atitudes, seus feitos, quando não condizente com alguma moral, ou, até mesmo o respeito ao próximo, ou mais além, alguma conduta ética. Por falar em ética e moral, o ser humano não é livre – o animal, não é um ser livre. Todos os seres estão fadados a algum tipo de “coerção natural” à algum fim. Por exemplo: vermes, seres orgânicos, tendem a se reproduzir e só. Buscar abrigo para tal, somente isso. Se instalar e reproduzir; as aves, possuem asas – o sonho de qualquer humano – mas isso não lhes dão liberdade alguma. Estas estão fadadas às condições climáticas, a distâncias, áreas urbanas ou a regiões florestais, etc… E mesmo com o céu aberto às suas frontes, ainda assim, as aves vivem para se reproduzirem, se alimentarem e evitarem de serem servidas como alimentos.
Nós humanos, seres sociais, possuímos uma coisa que nos diferem de todo o grupo de outros seres, que é a linguagem articulada; possuímos a razão. E quanto mais razão, mais o ser humano se eleva à classe social em que vive. Há seres humanos que se intitulam semideuses, mutantes, extra-humanos. É incrível! Em relação ao verme pisado, um super-humano desse não vai se contorcer nunca, – jamais! Pelo contrário, uma pessoa desse nível, irá atacar, como que um leão, o rei da selva, quando, por exemplo, vir alguma “ameaça” numa área delimitada por seus sentidos.
Ai uma pessoa que pensa um pouco questiona: “Mas o ser humano possui liberdade, então…” Sim, realmente todo mundo é livre para fazer o que bem entende, mas há muitas vírgulas após a palavra liberdade. Parece contraditório ao que disse no primeiro parágrafo. Mas a liberdade que nos é imposta acaba nos mantendo presos. Somos prisioneiros de um sistema; temos de seguir regras; “temos que…”,  senão acabaremos como os vermes em contorção evitando o pior, ou muito mais, a dor.
Àquele que é desprovido de humildade, por exemplo, que está no topo da cadeia alimentar – se comparado a outros seres – ou que esteja no topo da pirâmide social, esse jamais se contorce, pelo contrário, se mantém rígido, ereto e possuído de irá. Ai de quem o encarar! Vai virar verme pisoteado. A pessoa que por descuido pisa em outra, tem como retorno uma outra pisoteada, mas bem mais pesada e dolorosa. O que é recíproco na vingança vem à cavalo. Dói mesmo. “Deita ai verme, e se contorça!”
Conforme o tempo vai passando a palavra humildade vai se esvaindo. Se se tirasse cada letra desta palavra, hoje restaria somente a letra H, – de homem, de humano. O que mantém as duas palavras em comum, na verdade é o que as separa naturalmente. O humano não possui humildade. Em sua grande maioria.
Se uma pessoa erra com outra, ela não se desculpa, diferente disso: vocifera e faz com que a vítima, se sinta culpada. Isto, através da força, da ameaça e do poder é casamento feliz e duradouro. Oprimir, ofender, agredir, culpar… Nós vemos isso no trânsito, nos jogos de futebol, na padaria, no trem, no trabalho, em todo lugar. Não há quem assuma: “Errei, me desculpe. Não o farei novamente”. E se outra pessoa questionar, eis uma resposta lúcida: “Por quê? Porque me contorci, me declinei, tomei uma atitude humilde e com isso a resignação”.
A vergonha caminha alheia à soberba, ao orgulho. Quem erra não assume; quem erra morre de medo de passar vergonha; não se suporta ao se deparar, sob olhares alheios, seja de pena, de repreendimento, ou até mesmo de candura, de compaixão. Todo mundo quer ser o leão, a raposa, o tigre, a cobra, a águia. Ninguém quer ser um verme, se rebaixar, se pôr em um “estado abaixo”,  em uma situação inferior, para que, assim, desta forma, tome ciência de que existe humildade e que, com ela, existe uma forma de se rebaixar, servindo de trampolim, ou seja, uma meio para elevar-se. Para que se dê um salto, é necessário elevar os pés para baixo, contra o solo, se preciso pisar no buraco mais fundo, para que se alcance um salto maior.
Se elevar de forma lúcida e não agressiva, nem irracional eis o ponto central da questão. Se contorcer, se rastejar, é um ato muito feio, muito horrível, mas é assim que muitos conseguirão se elevar, e estar digno na sociedade, vivendo em comunhão para com todos, – desde um verme ao rei da selva. O coração de quem se declina sabe a importância de um inseto, de um animal qualquer e, também, vê a si mesmo como essencial nesse processo de caminhada, “contorções” e (r)evolução.

Ou como se filosofa com uma agulha

Eu queria falar com os animais, porque, falar com os homens está impossível. Ora ninguém me compreende, ora não compreendo ninguém; ninguém se entende. Está difícil!

Eu queria viver sozinho numa caverna. Caverna produz eco. Só assim eu teria um bom diálogo. Com isso eu ia compreender e ser compreendido.

Vivem-se agarrados ao passado, porém anseiam o futuro. Logo o presente é um momento esquartejado.

De onde se tira tanto ânimo para vida? Duvido que não seja um antídoto contra o medo da morte.

Na verdade nós temos medo é da vida. A morte é apenas uma ilusão, uma história que inventaram para frearem nossos impulsos e nos domarem com suas rédeas torturantes.

-De onde vem tanta dor?
-Vem do medo de se perder um mísero de segundo de felicidade. Felicidade essa, advinda da ausência da dor.

-Amor existe?
-Mas o que é amor? Defina-o e saberás.

-O que é cólera? 
-Definindo o amor, entenderás a cólera.

Não há nada mais irritante e desestimulante, do que uma imposição (óbvio) contrária a toda tua vontade, ou essência. Seja um pedido de forma delicada, ou seja um ordem dada; até mesmo por clemência.

Não sou obrigado. Obrigado! Não se é obrigado, obrigar nada a ninguém. Na vida, a liberdade é plenitude; reconhecer e agradecer, as maiores virtudes.

Insultar é o certo. Remete à força, coragem e bravura. Elogiar é errado. Denota fraqueza a essa lisura. Na luta entre gladiadores aplaude-se àquele que vence sem piedade e que enfrenta a morte; ao derrotado, que antes, suplicou pela vida, há desprezo, aspira indignação. Pobre coitado!

O desejo é olhar para fora. Contudo é negar-se, afastar-se de si mesmo. O desejo é sempre algo externo. Mas o EU, está dentro de cada um. Ninguém ousa buscá-lo.

O pior enfrentamento é aquele do EU contra si mesmo. O embate é épico, silencioso e eterno. E o pior: quem perde é sempre você.

Quando criança não temos a idéia do quão puro e maravilhoso é o nosso ser. Quando mais velhos, queremos ser criança. Tarde demais.

A música é a melhor coisa que o homem criou. Mas saiba que até a música é nos imposta. Não ouvimos qualquer música, não podemos ter o nosso próprio gosto, pelo contrário. Não somos livres para criar ou ouvir música. Temos de seguir o rebanho.

O Homem inventou Deus e o Diabo; a guerra e a paixão; a beleza e a feiura; o fim e o eterno; a luz e a escuridão; o som e o silêncio; o sim e o não:
-Escolha!
-Não, obrigado. 
-Por quê?
-Obrigado, não sou.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Quando o fim se aproxima...

Nunca nada será o suficiente
o tempo, a vida, a natureza
A nós não pertencem
Nem possuímos certeza

Se nos restasse apenas uma semana?
Diriam: “os dias mais plenos iremos viver;
Dedicados aos mais belos sonhos,
Às mais belas caridades”.

A um dia do fim, não obstante,
Só derramar de lágrimas e pavor.
Iríamos sofrer de ansiedade,

Por achar que não fizemos o bastante,
Por ansiar mais tempo, mais vida…
Fazer valer qualquer instante.

Ontem e hoje

Ontem eu estava sem vida
Corpo opaco ocupando lugar
Esperançoso rumo a partida Para longe do sistema solar. Porém hoje eu te conheci, amor A plenitude, vizinha da paixão Meu coração pulsa com ardor Vida que apequena a imensidão. Brilho teu imenso que faz cegar Ébrio fico junto ao teu sorriso És um universo belo a explorar. Eternizei-me em teu abrigo Seio da paixão, meu doce lar Onde tudo agora faz sentido.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

TODAS


Cada brilho de estrela no céu
Cada brilho de areia na praia
Uma a uma o coração ardeu
Só, iludido, em acolhedora tocaia.

Após o Sol, a noite, apaga-se 
o brilho das estrelas, das areias
Ouve-se da negra profundidade
O doce canto das sereias

Junto ao cintilar das flores
Das altaneiras flores noturnas
Longínquas, mas dentro de mim
Uma mais brilhante que a outra
E tão cheirosas quanto Gardênias e Jasmins

Todas elas:
Mimosa, Rana, Ksora,
Vega, Alya, Talitha Australis,
Lucida, Meissa, Mayara,
Talitha Borealis…

Por elas um sentimento peculiar
Seja em profundo desalento
Ou na sublime hora de amar
Paixão para cada momento

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Por exemplo

O que dizer do sofrimento?
Muitos querem escondê-lo,
porquanto, explícito é.
Nada irá satisfazê-lo,
enquanto se carece de fé.
Será?
Portanto, qual seria o apelo,
se, se nadam contra a maré?
Por favor:
Fé, apelo ao Senhor?
Nada disso é labor.
Necessário é:
Amor.
E com o pé estar;
o chão que faz andar;
sentir o sabor;
da vida, do sangue...
Da flor.
Ciente de tudo:
Do pesar à alegria.
Sê cético, e razoável.
Mantenha-se,
sem festa ou louvor.
Entretanto, apenas uma coisa:
Vida sem dor.
Por quê?
Sofrimento, lamento e apelo:
É dor, é pavor.

sábado, 19 de maio de 2018

Soneto em dó maior

Tamanha saudades sinto de mim.
De épocas em que o céu me acalentava;
que, mesmo em terra, parecia que nele eu pisava;
quando em minha torre, a vastidão de um imenso jardim.


Hoje, só, sinto minha falta;
mergulhado estou, num momento de reflexão.
Com a baixa estima em alta,
algo segue contra qualquer comunhão.


Os pensamentos se colidem com o nada;
Ao fundo, Tchaikovsky flutua sem sentido;
sigo sem o eixo das abscissas e ordenadas.


Sinto-me como a um violino partido,
numa sinfonia bem orquestrada;
ou num pequeno soneto destruído.

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...