sexta-feira, 17 de março de 2017

Terror

Viver longos dias na escuridão é extremamente horrível, para quem já não possui mais seu corpo físico e suas propriedades, que é meu caso. Agora imagine similar dado a um humano? Doloroso, nefasto, eu sei. Fiquei sem falar durante muito tempo, nem muito menos ouvir nada. Até meu próprio pensamento as vezes era como se apagasse, como se um vácuo surgisse de repente e apagasse tudo. Era assim... Eu, somente eu, no completo escuro, na completa solidão quando me dei conta dessa minha atual situação. Até hoje estou assim… Minha consciência se dividiu em partes que não consigo mais juntar.  Quando tento, não sei o que passou, se horas, um dia, ou meses. No começo eu chorava, me agonizava, sorria de loucura, fingia estar bem, amedrontava-me, enfim... que terror! O eterno terror. Hoje, dotado com um pouco mais de razão, sofro menos.

O escuro é pesado. Ele não deixa você pensar, raciocinar, sorrir, nem chorar. A gente quer fugir, mas acaba ficando preso, porque aqui - e na verdade não sei nem onde estou - o espaço-tempo é relativo. Você corre, corre, corre e não sai do lugar. Você pensa, pensa, medita, porém, nada evolui. Tudo permanece como realmente está.  É como se estivesse querendo buscar água numa fonte em que seu trajeto é infinito, é um destino inalcançável. Você só se esforça, se desgasta e mais nada. Só há escuro, breu. O pensamento lhe acompanha, mas de nada adianta. Isso quando ele não atrapalha. Ele (o pensamento) lhe deixa à sorte, à mercê de algum milagre. Algo impossível por aqui. Não há milagres no inferno. Você se salva, sozinho, por si mesmo, ou... Digo mais: não é fácil atravessar certas cavernas, certos buracos que nos metemos na vida, digo também no pós-vida.

Existe muito escritor, muita gente que fala do medo, cita o medo, faz obras relatando o que é o medo, romanceiam o medo, mas eles não têm ideia do que realmente o é quando se está sozinho em um lugar irreconhecível, inóspito, escuro, sombrio, frio e sem nenhum barulho. A solidão passa a ser a melhor amiga, a maior companheira. É a coisa mais inteligente que temos ao nosso lado neste momento fúnebre. Pode nos salvar, sim! Mas pode nos matar mais ainda se a cabeça estiver fraca.

Os dias se tornam minutos; os minutos se tornam anos. Tudo é relativo, tudo é complexo, nenhum ser humano, o mais inteligente que se tem na aí na Terra, ou que se teve na terra, conseguiria viver em paz e viver serenamente em tais condições aqui. Nao sei quanto tempo já passou desde quando eu tomei ciência de que já tinha morrido. Isso tudo é uma loucura inexplicável. A mente do encarnado e o corpo físico são enigmáticos demais para mentes fracas. O corpo humano é tão perfeito... Mas quem faz uso dele em vida, o torna complexo. E a mente? É tão perfeita que o ser humano que a carrega, não a compreende nem 0,1% de sua capacidade intelectual, mental ou qualquer coisa de si mesmo. Agora imagina um ser com uma consciência normal, dotada de uma inteligência básica, uma pessoa comum, diga-se de passagem, que está sem as amarras do corpo físico, ou seja, que está solta pelo vasto mundo além-túmulo? Basta pensar, que tudo acontece. Tudo mesmo! Então reflita: como é que alguém perturbado vai pensar coisa sã estando no inferno? Não terá paz com sua consciência. Sua própria consciência, a sua própria mente é o agente perturbador. O meu ser, o meu núcleo, o que gera minha vida é algo que me perturba. Isso é tão paradoxal! 

Imagine uma pessoa em completa escuridão e solidão numa hora dessas? Vocês estão em seus lares com suas famílias, não irão pensar nisso nunca e eu desejo que não. Mas aqui… Impossível tentar ficar são. Não cheguem nem perto do que eu estou passando porque não há coisa pior. Portanto, sejam felizes! Mas sejam felizes plenamente. Não enganem, não enganem a si mesmos. O sejam de fato, porque se vier parar aqui por uma "falsa felicidade" ou por falsa esperança, - ou falsidade qualquer - seja por ilusão, egoísmo, vingança, desejos pútridos, o sofrimento terá o tempo de uma eternidade e o peso e a temperatura de Plutão.



Por isso façam ações caridosas, sem desejar nada em troca. Não o façam por vós mesmos. Pensem no próximo, unam-se, amem-se. E vossas orações, mesmo para quem vocês não conheçam, são de suma importância para os mortos e para mim também que estou aqui. Deixe-me tentar explicar: essa situação é como se fosse um livro, ou alguém com sabedoria em certos assuntos. Vocês quando tem problemas, quando tem dúvidas, quando querem ir em busca de alguma informação técnica, ou ajuda, vocês consultam livros, consultam-se uns aos outros, profissionais, amigos e parentes. E com isso as coisas andam, evoluem. Agora eu, aqui nessa escuridão, no silêncio, vou consultar o que em minha consciência perturbada? Vou chamar qual amigo ou parente para me livrar dessa situação? Não dá mais, já morri e meus parentes e amigos estão do outro lado. Nem entes queridos que morreram antes de mim estão me consolando… Deus é maior, mas Ele não pode me ajudar. Na verdade eu não quero ser ajudado. Ninguém pode me ajudar a não ser eu mesmo. Já clamei por Deus, Jesus, Alá, e… Nada mudou. 

Eu cheguei a conclusão de que preciso mudar a mim mesmo em primeiro lugar. Mas é muito difícil. O apego, a luxúria, o prazer… O ego… O remorso, ah o remorso! Minha mente ainda está muito nebulosa. Não estou sadio. E pelo que percebo estou sem fé alguma. Minhas orações e pedidos de socorro são da boca pra fora, eu sei. Sou fraco. Eu sei que existe algo muito mais forte do que minha consciência. Mereço isto tudo aqui. Realmente ninguém virá. Não tenho condições e ninguém tem condições nessas horas. Todavia, uma última esperança. Pode ser que me dê uma luz, consciência mais límpida. Pode me servir como um "diálogo", no mínimo, algo que me distraia, me faça esquecer do que já passou e do que está sendo agora. E quem sabe possa vir a me encorajar um pouco mais. Preciso de mais vozes externas e boas intenções do que essas vozes internas obscuras do meu coração. Só há uma saída, e a última: vossas orações. Uma intervenção. Quem sabe elas aliviem minhas dores. Possa eu obter coragem e força para seguir adiante e ter  vontade e sabedoria para me ajudar de uma vez. Uma luz de vossas orações que chegue aqui já é uma distração, uma esperança - pouca - porém é o que me resta aqui no âmago. Esperança... E lhes adianto: a última. 

Por favor, orem por mim, por nós aqui nesse inferno. Nos ajude e não nos tirem como o maus espíritos. Somos alguém ainda, fomos humanos, somos ainda uma consciência que deixamos a vida material. Deixamos nossos problemas físicos e entrelaçamos em outros espirituais. Todos nós temos problemas. Hoje estamos nós aqui, mas amanhã virão outros. Vocês... Claro, não é um desejo, mas é fato. Torço para que não aconteça isso com ninguém, pois só eu sei! Portanto, quem sou eu para decidir? O que fazem aí, repercutirá algum dia e seus caminhos serão tortuosos e entrevados. Desejo que não, mas do jeito que a humanidade se encontra, do jeito que a humanidade caminha... 

Este lugar aqui, seja lá onde eu estiver e seja lá onde mais existir lugares como estes onde me encontro, nunca deixou de ser frequentado. Essa escuridão toda aqui, esse inferno. Cada dia mais ficará abarrotado de mortos, almas opacas, perdidas, precisando de ajuda. Sempre foi assim. Mas esse número aumenta e confesso que não sei o que será de mim, uma alma realmente perdida. Esse será o fim de milhões de pessoas que aí estão na Terra? 

Dê ajuda, eu lhes imploro. E nós aqui não podemos nos ajudar. Não! Porque nós não conseguimos nos enxergar e ouvir a nada. Nem sentir. E eu sei que não estou sozinho. Concluo isso, pois não sou o único pecador da Terra, nem serei o último. Há muito a ser feito ainda para que as coisas melhorem. Eu sei que não estou só. Sei que isto daqui está abarrotado de "mortos-mortos", ou seja, mortos que não têm mais jeito, mesmo pós sua morte. Não há mais como eu morrer, como eu ter um fim, ainda continuo aqui, pulsando, pensando, emitindo, vibrando, porém, eternamente sozinho. Portanto, repito: dependemos de vocês e vocês dependerão de seus próximos, no futuro. Orem por nós.

Uma eterna gratidão de um ser sem luz e sem ninguém e sem nem a si mesmo para poder seguir em frente. Quero muito sair daqui orem por mim.

Castro.

Eternamente...

Olha meu jovem,

Um belo dia a idade “me pegou”. Havia chegado o tão esperado e pavoroso momento. Pavoroso, porque, ninguém trata esse assunto com esperança ou positividade. Já eu, não vejo-o desta forma. Então, eu estava bem, era um dia qualquer na terra onde pulsa os corações - e me levantei da cama. A alvorada estava despontando e me direcionei ao meu acalentador quintal, com meu pequeno e colorido jardim. Onde os pássaros voam baixo e onde minhas galinhas convivem conosco em seus espaços. 

Vinha por aí, então, uma manhã tranquila e fresca. Começou a sair um belo Sol onde tudo brilhava ao ser tocado por ele. Já sentado na minha cadeirinha, no meu quintal dos fundos de casa, eu apreciava minha pequena horta, as aves e o amanhecer; minhas pequenas árvores, que eu e minha mulher plantamos; as galinhas já cochichando, o meu cãozinho estava quieto me olhando abanando o rabo querendo brincar; tudo estava tão quieto: pássaros já ensaiavam as primeiras notas de seus cantos… Pois bem, tudo rotineiro, porém, tão sublime!

Minha mulher dormia no quarto. Meu filho e netos moravam em outra cidade. Nesse lar, somente eu e minha mulher o cão e as galinhas. Mas então… Eu me sentia tão bem, tão leve, tão feliz que… Um vazio me veio de surpresa. Não um vazio deprimente, algo solitário, angustiante, não! Mas um vazio sereno, pleno. Nada me enchia mais e nada mais, também, havia de me preencher. Sem ansiedade, sem preocupação, sem depressão, nada! Aliás eu nunca havia sentido essas “doenças” modernas, que esteja bem claro. Então, naquele momento, no meu pequeno quintal, eu simplesmente era eu. Pleno!

Pois bem, nessa hora, parecia o Sol ter se aproximado um pouco para me desejar ”bom dia”. Não pelo calor, que a essas alturas derreteria tudo, mas pela luz imensamente forte que se fez ao meu redor cobrindo toda a casa - pelo menos até onde pude ver. Flores caiam sobre mim, chovia pétalas, folhas; que coisa mais linda!; os pássaros cantarolavam ao meu redor. Eu, praticamente, levitava: tinha a disposição de um jovem atleta; a felicidade de uma mãe na formatura de seu filho; a serenidade de um monge budista... Tudo isso somava-se a mim. Aquelas dores chatas, que vêm com a idade? Realmente foram-se embora. 

O que mais eu poderia achar? Pronto, morri! E fiquei procurando meu corpo pelo chão do meu quintal. E nada. Mas era tanta luz ao meu redor, que, mesmo que eu quisesse, nunca ia achá-lo. Eu só via as flores, as árvores, alguns pássaros, insetos voando, aqui, acolá, enfim a vida, a beleza da vida. E eu falei comigo mesmo: ”a morte traz essa felicidade toda? Essa leveza, o Sol bem pertinho? Não, não creio. Deve ser delírio, ou algum sonho muito intenso. Deve ser a idade, ou alguma droga que tomei sem saber”.

Olhei para cima e vi o céu bem mais azulado que de costume. Enquanto que o verde, a mata, a grama, as flores, sob mim, reluziam! Elas emanavam algo como se fossem uma espessa fumaça cintilante - ainda pensei: “será que fez frio nesta madrugada, o sereno... A ponto destas folhas degelarem tanto assim com o calor da manhã?”

Meu caro, tudo onde eu olhava, parecia o “Mundo encantado da Disney”. Eu não sabia o que pensar de tudo o que se passava realmente. Contudo, retornei para dentro de casa para descansar. Achando ser alguma fraqueza, ou alguma coisa da cabeça já cansada, de quase um século de vida.

Passei pela varandinha, entrei na cozinha. Meus passos estavam leves e ariscos. Havia uma disposição, que… Eu parecia ter pulmões de quando eu tinha dez anos de idade - só que a julgar minha idade, as coisas já não eram bem assim. Mas por um momento, eu estava sem peso nenhum. Com uma alegria plena que, há muito não havia sentindo.  De fato, foi notório. Eu sempre fui feliz. Ora uma dor aqui, ora uma tristeza ali… O ser humano não está livre de mazelas, decerto. Há sofrimentos. Mas há graus nesses sofrimentos. E quem manipula estes graus, somos nós mesmos. Sempre mantive um controle. Mas desta vez, a felicidade foi arrebatadora.

Então, adentrando-me em meu lar, com meus caminhos sempre iluminados por uma luz inexplicável, o Sol lá de fora já não penetrava tanto assim. Assim sendo, eu avançava para meus aposentos; minha humilde casa, parecia estar envolta a um grande e brilhoso diamante; os móveis, objetos, tudo, pareciam de ouro também. Até que, para minha surpresa, eu entro no quarto e me flagro lá, dormindo ao lado de minha mulher. Oh, minha velha guerreira, companheira, cúmplice, amor da minha vida. Fiquei confuso nos primeiros minutos, mas logo compreendi. Realmente: "chegou a minha hora!". Eu tinha desencarnado e pela minha aparência, havia sido há algumas horas, bem antes de amanhecer, quiçá a noite logo assim que me deitei. Fiquei ali, me despedindo de minha mulher e de meu corpo afinal… Foram 89 anos... Agora ele dormia, meu corpo estava dormindo sim, para a eternidade. Mas eu, a minha consciência, o meu caminho, o “eu”, permaneço mais vivo do que qualquer ser vivente na Terra.

O amor à minha mulher não me prendeu. Pois eu já sabia que, logo, logo, iríamos nos reencontrar, em outra situação e possivelmente com outros corpos, não físicos, e que ela ia aceitar minha partida primeiro sem nenhuma dor. Nem meu filho me preocupou, nem meus netos, amigos e etc. A dor que meu filho irá sentir com minha perda, eu também senti com a de meu pai. E sei que ele é forte e superará a tudo. E em relação a estes tipos de dores, de perdas, o tempo cura. Meu filho está criado, bem sucedido, e tenho orgulho dele. Vive com uma mulher maravilhosa. Assim como meu netinho ainda na tenra inocência das primeiras idades.

Nada me prendeu à Terra. Até meu cãozinho, consegui deixá-lo, sem apego, sem saudades. Amigo companheiro de todo instante. Onde eu ia, ele surgia logo atrás, mesmo depois de morto. Tadinho, ele ainda me vê! Mas tenho de partir...

Na verdade sei que não deixei ninguém, nem sequer, minha mulher, filho, neto. Não deixamos nada para trás, não é bem assim. Não dá para esquecer as coisas, como se fossem algo descartáveis. Tudo trago comigo, tenho todos comigo. Foram longos anos vivenciando um ao outro, amando, sendo amados. E hoje, já não sinto mais saudades, a qual faz sofrer, por que sei que um dia retornaremos; um dia estaremos juntos e a vida voltará, a felicidade transbordará, querendo ou não. E tudo passa tão rápido… Logo estaremos de volta. Seja como e onde for, é muito injusto que nossos caminhos não se cruzem novamente. Crê. Nada é linear, é tudo um cíclo, a vida, o tempo, alegrias e tristezas. Sim, elas retornam. Contudo, conforme já expus, cabe-nos manipularmos esses sentimentos e tornarmos a vida mais fácil.

Então eu não irei para o além com nada em mim. Irei vazio. Um sublime vazio; não deixarei ninguém. Não! Não estou sendo frio e insensível. Pelo contrário. Estou certo de mim e o que digo é apenas um “até mais tarde”. Muito menos lamento perdas materiais, nem nada do tipo. Enquanto houver Sol, haverá vidas. E vidas vão e vêm. Passam, demoram. Vão e voltam, mas elas marcam. A marcas ficam, e as nossas vidas se esbarram por aí nesse complexo mundo. As “marcas” que ficam, se atraem, se reconectam, e mais importante: se reconhecem. Com isso desfaz-se toda a complexidade. Basta estar conectado àquele que lhe toca o âmago, o coração, aquela pessoa que faz teu coração feliz, tua alma plena e verás. Neste momento pense: "este sentimento vem de longas datas!" 

O Sol, o mesmo que brilhou pra mim, sempre nos refletem, uns aos outros, e transforma-nos em uma imensa família, um todo. Onde todos nós somos os filhos do mesmo Criador, onde todos nós, como num ciclo, estamos sempre nos encontrando, sempre revivendo os melhores dias das nossas vidas marcados para sempre. Somos todos brilhos do mesmo Sol, filhos do mesmo Pai; seres habitantes da Mesma Mãe, filhos da Mãe Terra. Somos todos um só, e todos nós somos tudo.

Até a próxima, meu grande irmão.


Carlos, um espanhol.

quarta-feira, 15 de março de 2017

A guerra eterna...

Eu estava dividido. De um lado meus aliados. Do outro os meus inimigos. Mas ora meus aliados poderiam me matar, caso eu me enfurnasse no abrigo.

Eu estava na guerra mas não queria lutar.
Não queria dar um tiro não queria morrer e nem matar.

Só que, ou eu matava, ou eu morria. 
Eu tinha que ir em frente.
O inimigo matar.
Ou seria morto pelos próprios colegas de farda.
Caso eu quisesse da guerra voltar 
(Essa é a lei dos cães de guerra: “atacar!!! se voltar, eu mesmo te mato”)

Eu lutava por uma potência bélica
Alemanha Nazista
O exército mais temido da época
Mas eu não queria estar ali, de verdade.
Eu queria meu lar, o campo;
Estar com minha família;
Apreciar o Sol se pondo...

Pois o que eu vi na guerra foi somente sangue.
Não há nada de belo na guerra.
Nem a sua conquista é bela;
Pois quando se olha para trás,
Se vê um rastro de sangue,
Corpos, escombros e nada mais.

Na guerra, o vermelho e o verde-oliva se combinam; as flores exalam um delicioso cheiro de pólvora; todos, lindamente, dançam à música dos tiros; a raiva e a graça se unem e deixam de ser inimigas.

Perdi amigos, perdi um amor, família...
Perdi a mim mesmo.
Enquanto eu estava vivo, eu era um morto.
Agora que eu estou morto, na verdade me sinto vivo.
Pois na guerra não somos humanos, não somos mais homens. Somos mortos-vivos que atiram. Somos monstros, assassinos, sanguinários, que só pensa em matar, e matar, e matar… Mata-se sem nada saber.
Mesmo quando se sabe, ainda se mata perguntando ”por quê?”

Os coronéis e generais estão lá comendo lagosta.
Se embebedando com os mais caros e melhores vinhos.
Nós, soldados, parecemos umas moscas,
Passando por milhares corpos pelo caminho.

Eu estava no centro nervoso do inferno. O “Füher” estava há algumas centenas de metros de mim. Eu o defendia. Eu defendia Berlim. Minha missão não podia deixá-la ruir. Mas o meu pelotão foi arrasado e eu fui o primeiro a cair.

Anos antes eu pilotava um “Panzer” - tanque de guerra alemão. Tivemos de retornar após à “recuada” de Saltingrado. O contingente diminuiu brutalmente. Além das forças soviéticas, o frio intenso também fez muitas vítimas. Então, de 1943 à 1945, fiquei nas forças de defesa do próprio Füher. Eu já havia sido treinado. Tiros à média/longa distância. Designaram-me a reforçar as defesas da excelsa Berlim.

A invasão a Berlim, foi em 1945:
Foi onde tudo começou, (ou terminou), para mim.
Foi, para os inimigos uma devastadora conquista
Foi, terrível, mas libertador a chegada do exército comunista. 
(Na verdade que alívio!)
Eu não ouvi o tiro, nem soube de onde veio.
Senti um estalo muito forte em minha fronte; um zunido no ouvido muito alto e…
Fim da guerra para mim. 

Mas para o resto do mundo ela estava próxima. O fim da vida sofrida, animalesca. Enquanto os soldados morriam, viravam lixo, Marechais, Coronéis, bebiam champanhe, comiam lagosta.

Mesmo já abatido, eu pude ouvir os os soviéticos nos intimidando.
Eles não pareciam nada amistosos.
Estavam Furiosos, com os olhos sangrando.
Naquela hora, eu não sabia, mas já estava morto.
Mas minha mente achava que o tiro fora de raspão.
Fiquei ali clamando por um médico, por socorro, pedi até perdão.
Fiquei nesta situação por uns dez anos.
A guerra passava na minha cabeça como um filme sem fim.
Eu criava todas as situações. Imaginava a tudo.

Chegou resgate, com certeza um anjo salvador, mas eu não queria, mesmo que eu quisesse, não conseguiria sair daquele lugar. O medo me tomava. Medo de tudo, de mudar, de me virem, medo de me tornar uma pessoa comum, medo de… morrer - sim, eu cria ainda estar vivo fisicamente. A morte é uma coisa muito complexa, muito enigmática. Pois você morre fisicamente, mas mentalmente não. Mas o pior disso tudo é quando você nada disso tem noção. A morte não existe. Algumas coisas sim, terminam, materialmente, fisicamente, mas a essência mesmo, nunca, jamais, principalmente o medo.

Depois que você veste a farda, tua identidade é rasgada.
A vidinha que você sente falta, termina.
Depois que você volta da guerra, se é que volta, você sente falta dela. É tudo ou nada!
O mundo real não mais tem graça ou qualquer valor.
Estou sendo contraditório, mas é a realidade.
Enquanto em guerra, sonhamos - com nossa casa, mulher, filhos, com o amor...
Fora dela (guerra), desejamos​-na - como um moribundo deseja morfina. Sente falta do cheiro de sangue, das explosões, da adrenalina, do gosto amargo do fel.
No campo de batalha, ou nas trincheiras, até mesmo no quartel general é assim: morra ou fique doente mental.
Essa é a realidade, essa é a guerra. É letal!

Sobre mim, eu morri sem dor:
Tive de atirar contra o exército vermelho. Um tiro sem ódio, sem rancor. (Olha, se for pra ser assim, não entre em guerra).
Então atirei a esmo. Sem pontaria, sem mirar em nada.
Não devo ter atingido nenhum “camarada”.
Mas o tiro deles foi certeiro, e que me livrou de certa forma.

Os “Comrades” tomaram toda Berlim.
Fizeram milhares de prisioneiros de guerra.
Executaram outros nazistas,
E extirparam todo o mal da terra.

Mesmo depois de morto, eu ainda estava em Berlim.
Meu pobre espírito… Atormentado.
(Como​ já havia vos comentado)
Ouvia ainda muitas canções soviéticas.
A comemoração daquela guerra e seu fim.
E o sorriso de cada soldado comunista por sua luta.

Vi também muitos soldados abatidos, corpos e mais corpos. 
Feridos, mutilados… Mas estranho, pra mim.
E eles estavam “vivos” e não conseguíamos nos comunicar. 
Óbvio, foi então que vi que éramos defuntos!
E tudo veio a calhar.

Rogo para que todas as nações fiquem em paz
Rogo para que cada cidadão viva em harmonia um com o outro
Que não haja nenhuma desavença e nenhuma discórdia. 
Nenhuma disputa, nenhuma guerra.
Pois só eu sei o que vi;
Sou eu sei o que eu passei;
E o que a guerra fez comigo;

Não adianta falar aqui sobre a violência contra a vida
O que aquela guerra fez com ser humano
Não preciso mais falar do sangue escorrido,
Das mutilações, queimaduras e cérebros destruídos.
Isso já é mostrado todo dia.
A maldade... a que ponto chegou a maldade humana?

O exército vermelho que eu achava selvagem
Quando chegaram em Berlim, pareciam anjos de verdade.
Não adianta lembrar as atrocidades da “SS Nazista”;
Nem do ódio ao povo judeu;
Isso tem de ser esquecido e temos de orar por um novo dia, peçamos a Deus! Por Novos Tempos; para haver somente um reino, o da paz.

Morri em 1945, mas há pouco, - tempos atuais - creio que por volta de 2012, fui resgatado por anjos do altíssimo. Pois realmente aceitei minha condição, roguei ajuda com todo amor e resignação.

Nessas décadas todas, vaguei muito por um lugar que, comparado a guerra, era o paraíso. De “Dante Alighieri”, o “Purgatório”. Conheci tudo isso de ponta à ponta. Um paraíso! Comparado à Europa da II guerra? Luxo! Tudo é muito relativo. Céu e inferno é tão relativo quanto o tempo.

Fui soldado do “Heer” (ou seja, exército Alemão). Primeiro na IV Divisão Panzer (conhecido também como “PzKpfw IV”); anos depois, alocado à Wehrmacht (Força de Defesa Alemã). Nosso símbolo, era uma cruz, reformulada, da pavorosa “Cruz de Ferro” usada pelo III Reich. Eu e mais aproximadamente 18,2 milhões nazistas servimos ao Wehrmacht.

Eu era um Cristão Ortodoxo. Ninguém sabia. Resisti até o último dia da guerra. No tanque eu apenas pilotava. Havia um atirador. Logo nunca dei um tiro nesta guerra doentia. No máximo eu devo ter atropelado alguns feridos, já em estado terminal, ou aqueles o que se fingem de mortos no campo de batalha… Em determinados lugares, não havia mais caminhos, ruas, etc… A trilha era um monte de corpos, sim! Eram os asfaltos daquela época. Depois disso, eu fui transferido, e defendi Berlim. Eu nunca havia usado meu rifle de longa/média distância em nenhuma ocasião real. Berlim viveu sob respectiva “paz” por longos anos. Mas do “Dia D, até a invasão dos soviéticos é que as coisas ficaram tensas. Tanto é que foi o fim da Alemanha Nazista.

O “inferno vermelho” chegou, então, em Berlim e com ele muitos óbitos. Cidadãos, militares, animais, insetos… Todos morriam. Devastou-se tudo. Quando chegou a minha vez…. Enfim, descarreguei toda minha munição, em nenhum alvo. Eu não queria matar ninguém. Mas descarregaram todo chumbo em meu batalhão, em meio aos palácios do Füher, já sendo destruído por tanques e artilharia de infantaria pesada.
Vi muitos se suicidarem, pois creio, igualmente a mim, muitos daqueles jovens não tinham ideia do que faziam ali, ou do porquê da guerra. Bastou ela bater em nossa porta que...

Fiquei por décadas me chamando de covarde, de impostor, de fraco, por não ter enfrentado o inimigo, ou querer ter fugido da guerra. Eu não me dispus a servir como piloto de tanque, mas na época achava que era apenas para segurança nacional. Jamais imaginei tais proporções. Nunca achei que eu ia de fato pilotar um tanque. Inocente… Muitos anos me condenando… Eu queria me matar, mas não podia. O pior de se ter a consciência​ pesada depois de morto é essa. Não há mais mortes, não há como subtrair tua própria vida.

Por favor, clamemos por, paz. À Jesus, Nosso Senhor, aos seus Anjos… Só eles têm esse poder, em nos assistir. Vamos lutar, mas por paz. Sejamos unidos e sejamos mais humanos. Chega de Guerra. Por favor! Caridosamente, paz.

Nao lembro meu nome. Mas no pelotão eu era conhecido como “Einzel 36” - ou seja - O individual, assim que cheguei em Berlim, após eu deixar a posição de piloto de tanque. “Einzel” também se dava pelo fato de eu ser solteiro. A palavra também possui esse significado. Mas na verdade eu gostava muito de servir sozinho, como os famosos franco-atiradores. Eu ficava muito sozinho realmente, na guerra. Nao tive amizades. Apenas colegas de fardas. Como atirador, eu escolhia um lugar e ali permanecia por dias… Minha pontaria era excelente, à média distância. Mas eu não era um atirador da elite nazista. Até fui treinado para tal, após o remanejamento da condição, (solitária, diga-se de passagem), de piloto de tanque. Por isso meu nome de guerra, “Einzel 36”- a dezena​ 36 era o número do tanque qual eu conduzia.

Minha identidade verdadeira se foi quando vesti a farda em nome do Füher. Depois de minha morte, passei muitas décadas perturbado e revivendo a guerra todos os dias. Como, só me chamavam por “Einzel”, pois bem, assim ficou meu nome. Prefiro esquecer o que já fui.

Eu tenho poucos registros em memória do que me sobrou no pós-guerra. Do que fui, do que fiz. Esta​ avassaladora guerra, onde há mais doentes da cabeça e da alma, do que feridos por bala de fogo. O que consegui lembrar, com muito esforço e ajuda celestial, está aqui sendo registrado.

Nenhum ser humano, nenhum animal, vegetal, nada merece a guerra.

Fiquemos em paz.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Imaginar não dói


Minha flor, meu amor;
Tantos versos, me inspirou.
Agora, tu és mais que poesia;
És a utopia, a luz que iluminou.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

A vida eterna


A vida eterna...
O artista é um dos únicos que consegue tal proeza.
O artista vive, mesmo após sua morte.
Seja na riqueza, seja na pobreza.
É querido, amado, idolatrado. Um ser de sorte.

Mas e aqueles que não foram artistas e se eternizaram?
Fizeram de sua vida um marco negativo?
A vida de muitos horrorizaram.
Deles, não quero ser mais um fugitivo.

Vamos nos lembrar de quem escreveu; 
De quem cantou, pintou e por nós morreu.

Há também aqueles que dirigiram:
Vidas; suas próprias vidas; nações; veículos, e até espaçonaves.
(Isto é arte, diga-se de passagem).

Mulheres que falaram apenas uma frase;
Homens que contaram histórias;
São artistas das palavras, da fala, da voz.
Caminhos traçados com suor e glórias.

Eternos são aqueles que pintam.
Expõem a nós o universo de suas mentes.
Abrem janelas inimagináveis com suas tintas,
Fazem dos pesadelos, sonhos inocentes.

O canto, a dança a arte lúdica;
A arte: mãe de toda emoção.
O que seria de nós sem a música?
Silêncio, monotonia, a vida sem razão?

São eles os eternos,
São os que vivem e viverão para sempre.
Entra ano, sai ano, e séculos...
Os artistas continuam vivos em nossas mentes;

Seguem latentes em nossos corações;
E na memória suas palavras, suas canções.

Seria "arte", tornar-se um desses imortais?
O que farei no mundo, ao mundo, para ser eternamente lembrado?
Ter todo o meu sentimento declarado?
Ou a sensibilidade para traduzir o que é abstrato?
Sei lá… Não sou um artista nato.

O que me tornaria eterno?
E nessa caminhada: usarei jeans, ou terno?
Devo ser elegante?
Ou posso ser arrogante?

O que faria de mim, uma pessoa eterna?
O carinho? O caminho? 
O amor?

O que farei para ser amado, ou para amar?
O que levarei comigo? O que deixarei aqui?
Antes de, imortal me tornar,
Devo me tornar alguém que possa sorrir.

Mas para isso, tenho um dever:
Expressar-me melhor! (Isso devo aprender);

E daqui pra frente ir pensando:
Que bem estarei levando?
O que, na minha vida, estarei ganhando?

O que de bom estarei trazendo?
O que, se eu não tentar, estarei perdendo?

Nisso o tempo passa,
Perco tempo.
A vida vai perdendo a graça,
Inerte, fico ao relento.

O sonho de imortal me tornar,
Deixo, pelas mãos escapar.
Vou tentar mudar,
Tudo no seu tempo, bem devagar.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Humano

Ser humano é diferente do ser-humano
Ser humano é transbordar em virtudes
O ser-humano não mede suas atitudes
Ser humano é amar
O ser-humano passa a odiar
A natureza rejeita o ser-humano
Mas agradece quando somos humanos


domingo, 25 de dezembro de 2016

A Reforma

NOSSA MISSÃO NÃO SERÁ CUMPRIDA
PORQUE ELA SERÁ MUITO COMPRIDA
NÃO SEI SE IREMOS CUMPRÍ-LA
TALVEZ POSSAMOS COMPRÁ-LA
MAS UMA COISA EU SEI:
TEREMOS TRABALHO ATÉ O FIM DA VIDA
METADE DO DIA NA LUTA, NA LABUTA
QUE NEM UM FILHO DA PUTA
TUDO ISSO PARA NADA
PRA ENDIVIDADO CONTINUAR
VELHO E DOENTE FICAR
POBRE, FODIDO, ESFOMEADO
PESANDO UNS 40 QUILOS
MAIS UM IDOSO JOGADO NO ASILO

ESTÁ DOENTE A SOCIEDADE
É UMA DOENÇA SILENCIOSA
QUANDO ELA CHEGA NINGUÉM SENTE
EM TODOS OS NÍVEIS ELA SE FAZ PRESENTE
A UNS ELA LOGO DA FIM
OUTROS SE ARRASTAM...
ACHAM QUE SÃO "FLORES NO JARDIM"
DIFÍCIL, DAQUI PARA FRENTE VAI SER
IREMOS TODOS NOS FODER
AQUELE MISERÁVEL PRINCIPALMENTE
O COITADO QUE NÃO TEM NEM OS DENTES
QUE VENDE A JANTA PARA GARANTIR O ALMOÇO
QUE SE ENCONTRA NO FUNDO DO POÇO
TEM OS QUE PEGAM TREM LOTADO
PARECE QUE O DIABO VIAJA AO LADO
TODO SANTO DIA ASSIM
A MADEIRA É DURA, MAS DÁ CUPIM
NÃO HÁ JASMIM QUE IRÁ PERFUMAR
O AR OU A VIDA QUE IREMOS CHORAR
MAS VAMOS DAR PARTIDA NESSA VIDA
PORQUE A MISSÃO SERÁ COMPRIDA

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...