A guerra eterna...
Eu estava dividido. De um lado meus aliados. Do outro os meus inimigos. Mas ora meus aliados poderiam me matar, caso eu me enfurnasse no abrigo.
Eu estava na guerra mas não queria lutar.
Não queria dar um tiro não queria morrer e nem matar.
Só que, ou eu matava, ou eu morria.
Eu tinha que ir em frente.
O inimigo matar.
Ou seria morto pelos próprios colegas de farda.
Caso eu quisesse da guerra voltar
(Essa é a lei dos cães de guerra: “atacar!!! se voltar, eu mesmo te mato”)
Eu lutava por uma potência bélica
Alemanha Nazista
O exército mais temido da época
Mas eu não queria estar ali, de verdade.
Eu queria meu lar, o campo;
Estar com minha família;
Apreciar o Sol se pondo...
Pois o que eu vi na guerra foi somente sangue.
Não há nada de belo na guerra.
Nem a sua conquista é bela;
Pois quando se olha para trás,
Se vê um rastro de sangue,
Corpos, escombros e nada mais.
Na guerra, o vermelho e o verde-oliva se combinam; as flores exalam um delicioso cheiro de pólvora; todos, lindamente, dançam à música dos tiros; a raiva e a graça se unem e deixam de ser inimigas.
Perdi amigos, perdi um amor, família...
Perdi a mim mesmo.
Enquanto eu estava vivo, eu era um morto.
Agora que eu estou morto, na verdade me sinto vivo.
Pois na guerra não somos humanos, não somos mais homens. Somos mortos-vivos que atiram. Somos monstros, assassinos, sanguinários, que só pensa em matar, e matar, e matar… Mata-se sem nada saber.
Mesmo quando se sabe, ainda se mata perguntando ”por quê?”
Os coronéis e generais estão lá comendo lagosta.
Se embebedando com os mais caros e melhores vinhos.
Nós, soldados, parecemos umas moscas,
Passando por milhares corpos pelo caminho.
Eu estava no centro nervoso do inferno. O “Füher” estava há algumas centenas de metros de mim. Eu o defendia. Eu defendia Berlim. Minha missão não podia deixá-la ruir. Mas o meu pelotão foi arrasado e eu fui o primeiro a cair.
Anos antes eu pilotava um “Panzer” - tanque de guerra alemão. Tivemos de retornar após à “recuada” de Saltingrado. O contingente diminuiu brutalmente. Além das forças soviéticas, o frio intenso também fez muitas vítimas. Então, de 1943 à 1945, fiquei nas forças de defesa do próprio Füher. Eu já havia sido treinado. Tiros à média/longa distância. Designaram-me a reforçar as defesas da excelsa Berlim.
A invasão a Berlim, foi em 1945:
Foi onde tudo começou, (ou terminou), para mim.
Foi, para os inimigos uma devastadora conquista
Foi, terrível, mas libertador a chegada do exército comunista.
(Na verdade que alívio!)
Eu não ouvi o tiro, nem soube de onde veio.
Senti um estalo muito forte em minha fronte; um zunido no ouvido muito alto e…
Fim da guerra para mim.
Mas para o resto do mundo ela estava próxima. O fim da vida sofrida, animalesca. Enquanto os soldados morriam, viravam lixo, Marechais, Coronéis, bebiam champanhe, comiam lagosta.
Mesmo já abatido, eu pude ouvir os os soviéticos nos intimidando.
Eles não pareciam nada amistosos.
Estavam Furiosos, com os olhos sangrando.
Naquela hora, eu não sabia, mas já estava morto.
Mas minha mente achava que o tiro fora de raspão.
Fiquei ali clamando por um médico, por socorro, pedi até perdão.
Fiquei nesta situação por uns dez anos.
A guerra passava na minha cabeça como um filme sem fim.
Eu criava todas as situações. Imaginava a tudo.
Chegou resgate, com certeza um anjo salvador, mas eu não queria, mesmo que eu quisesse, não conseguiria sair daquele lugar. O medo me tomava. Medo de tudo, de mudar, de me virem, medo de me tornar uma pessoa comum, medo de… morrer - sim, eu cria ainda estar vivo fisicamente. A morte é uma coisa muito complexa, muito enigmática. Pois você morre fisicamente, mas mentalmente não. Mas o pior disso tudo é quando você nada disso tem noção. A morte não existe. Algumas coisas sim, terminam, materialmente, fisicamente, mas a essência mesmo, nunca, jamais, principalmente o medo.
Depois que você veste a farda, tua identidade é rasgada.
A vidinha que você sente falta, termina.
Depois que você volta da guerra, se é que volta, você sente falta dela. É tudo ou nada!
O mundo real não mais tem graça ou qualquer valor.
Estou sendo contraditório, mas é a realidade.
Enquanto em guerra, sonhamos - com nossa casa, mulher, filhos, com o amor...
Fora dela (guerra), desejamos-na - como um moribundo deseja morfina. Sente falta do cheiro de sangue, das explosões, da adrenalina, do gosto amargo do fel.
No campo de batalha, ou nas trincheiras, até mesmo no quartel general é assim: morra ou fique doente mental.
Essa é a realidade, essa é a guerra. É letal!
Sobre mim, eu morri sem dor:
Tive de atirar contra o exército vermelho. Um tiro sem ódio, sem rancor. (Olha, se for pra ser assim, não entre em guerra).
Então atirei a esmo. Sem pontaria, sem mirar em nada.
Não devo ter atingido nenhum “camarada”.
Mas o tiro deles foi certeiro, e que me livrou de certa forma.
Os “Comrades” tomaram toda Berlim.
Fizeram milhares de prisioneiros de guerra.
Executaram outros nazistas,
E extirparam todo o mal da terra.
Mesmo depois de morto, eu ainda estava em Berlim.
Meu pobre espírito… Atormentado.
(Como já havia vos comentado)
Ouvia ainda muitas canções soviéticas.
A comemoração daquela guerra e seu fim.
E o sorriso de cada soldado comunista por sua luta.
Vi também muitos soldados abatidos, corpos e mais corpos.
Feridos, mutilados… Mas estranho, pra mim.
E eles estavam “vivos” e não conseguíamos nos comunicar.
Óbvio, foi então que vi que éramos defuntos!
E tudo veio a calhar.
Rogo para que todas as nações fiquem em paz
Rogo para que cada cidadão viva em harmonia um com o outro
Que não haja nenhuma desavença e nenhuma discórdia.
Nenhuma disputa, nenhuma guerra.
Pois só eu sei o que vi;
Sou eu sei o que eu passei;
E o que a guerra fez comigo;
Não adianta falar aqui sobre a violência contra a vida
O que aquela guerra fez com ser humano
Não preciso mais falar do sangue escorrido,
Das mutilações, queimaduras e cérebros destruídos.
Isso já é mostrado todo dia.
A maldade... a que ponto chegou a maldade humana?
O exército vermelho que eu achava selvagem
Quando chegaram em Berlim, pareciam anjos de verdade.
Não adianta lembrar as atrocidades da “SS Nazista”;
Nem do ódio ao povo judeu;
Isso tem de ser esquecido e temos de orar por um novo dia, peçamos a Deus! Por Novos Tempos; para haver somente um reino, o da paz.
Morri em 1945, mas há pouco, - tempos atuais - creio que por volta de 2012, fui resgatado por anjos do altíssimo. Pois realmente aceitei minha condição, roguei ajuda com todo amor e resignação.
Nessas décadas todas, vaguei muito por um lugar que, comparado a guerra, era o paraíso. De “Dante Alighieri”, o “Purgatório”. Conheci tudo isso de ponta à ponta. Um paraíso! Comparado à Europa da II guerra? Luxo! Tudo é muito relativo. Céu e inferno é tão relativo quanto o tempo.
Fui soldado do “Heer” (ou seja, exército Alemão). Primeiro na IV Divisão Panzer (conhecido também como “PzKpfw IV”); anos depois, alocado à Wehrmacht (Força de Defesa Alemã). Nosso símbolo, era uma cruz, reformulada, da pavorosa “Cruz de Ferro” usada pelo III Reich. Eu e mais aproximadamente 18,2 milhões nazistas servimos ao Wehrmacht.
Eu era um Cristão Ortodoxo. Ninguém sabia. Resisti até o último dia da guerra. No tanque eu apenas pilotava. Havia um atirador. Logo nunca dei um tiro nesta guerra doentia. No máximo eu devo ter atropelado alguns feridos, já em estado terminal, ou aqueles o que se fingem de mortos no campo de batalha… Em determinados lugares, não havia mais caminhos, ruas, etc… A trilha era um monte de corpos, sim! Eram os asfaltos daquela época. Depois disso, eu fui transferido, e defendi Berlim. Eu nunca havia usado meu rifle de longa/média distância em nenhuma ocasião real. Berlim viveu sob respectiva “paz” por longos anos. Mas do “Dia D, até a invasão dos soviéticos é que as coisas ficaram tensas. Tanto é que foi o fim da Alemanha Nazista.
O “inferno vermelho” chegou, então, em Berlim e com ele muitos óbitos. Cidadãos, militares, animais, insetos… Todos morriam. Devastou-se tudo. Quando chegou a minha vez…. Enfim, descarreguei toda minha munição, em nenhum alvo. Eu não queria matar ninguém. Mas descarregaram todo chumbo em meu batalhão, em meio aos palácios do Füher, já sendo destruído por tanques e artilharia de infantaria pesada.
Vi muitos se suicidarem, pois creio, igualmente a mim, muitos daqueles jovens não tinham ideia do que faziam ali, ou do porquê da guerra. Bastou ela bater em nossa porta que...
Fiquei por décadas me chamando de covarde, de impostor, de fraco, por não ter enfrentado o inimigo, ou querer ter fugido da guerra. Eu não me dispus a servir como piloto de tanque, mas na época achava que era apenas para segurança nacional. Jamais imaginei tais proporções. Nunca achei que eu ia de fato pilotar um tanque. Inocente… Muitos anos me condenando… Eu queria me matar, mas não podia. O pior de se ter a consciência pesada depois de morto é essa. Não há mais mortes, não há como subtrair tua própria vida.
Por favor, clamemos por, paz. À Jesus, Nosso Senhor, aos seus Anjos… Só eles têm esse poder, em nos assistir. Vamos lutar, mas por paz. Sejamos unidos e sejamos mais humanos. Chega de Guerra. Por favor! Caridosamente, paz.
Nao lembro meu nome. Mas no pelotão eu era conhecido como “Einzel 36” - ou seja - O individual, assim que cheguei em Berlim, após eu deixar a posição de piloto de tanque. “Einzel” também se dava pelo fato de eu ser solteiro. A palavra também possui esse significado. Mas na verdade eu gostava muito de servir sozinho, como os famosos franco-atiradores. Eu ficava muito sozinho realmente, na guerra. Nao tive amizades. Apenas colegas de fardas. Como atirador, eu escolhia um lugar e ali permanecia por dias… Minha pontaria era excelente, à média distância. Mas eu não era um atirador da elite nazista. Até fui treinado para tal, após o remanejamento da condição, (solitária, diga-se de passagem), de piloto de tanque. Por isso meu nome de guerra, “Einzel 36”- a dezena 36 era o número do tanque qual eu conduzia.
Minha identidade verdadeira se foi quando vesti a farda em nome do Füher. Depois de minha morte, passei muitas décadas perturbado e revivendo a guerra todos os dias. Como, só me chamavam por “Einzel”, pois bem, assim ficou meu nome. Prefiro esquecer o que já fui.
Eu tenho poucos registros em memória do que me sobrou no pós-guerra. Do que fui, do que fiz. Esta avassaladora guerra, onde há mais doentes da cabeça e da alma, do que feridos por bala de fogo. O que consegui lembrar, com muito esforço e ajuda celestial, está aqui sendo registrado.
Nenhum ser humano, nenhum animal, vegetal, nada merece a guerra.
Fiquemos em paz.
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