quarta-feira, 22 de maio de 2024

É assim que tem que ser?




Manhã cinzenta,
clima londrino.
Mas não importa.
Seja lá ou no Rio,
eu estava sendo
apunhalado
por uma canção, mas
sentia compaixão.

Eu seguia. 
Ia a qualquer lugar.
Sem rumo, sem norte;
sem Deus, sem lar;
à própria sorte.

Andorinhas voando,
soltas no ar;
de longe voltando,
fugidas em par;
órfãs de mãe e pai,
Perdidas em meio
ao concreto sujo.

Em volta, tudo feio;
nojento; caminhos,
muitos se cruzam
sob vento fedorento.
Minha Cidade e Cor:
angústia, medo.
Vida incolor:
dor logo cedo.

Contudo, há beleza
Notei na canção
Ela que soava.
Me acariciava.
Ritmos e melodias,
o coro dos enlutados
e a letra mortuária;
fria como o clima;
- bucólico adro.

Ó canto acappella! 
E lamentos.
Junto ao soar do sino,
acima da cama de cimento,
aos pés da bela capela,
de magnífico altar.

Vivamente percebi,
ao longe senti,
ali, todos uníssonos,
em seus goles de saliva
imbricando-se -
e o nó na garganta;
as lágrimas rolavam
como chumbo abalavam.

O chão verde tremia.
Sobre ele, pessoas,
de preto, vestidas.
De luto e dor caiam.

Havia beleza e ruína.
A intempérie sina,
o tilintar do sino,
o ecoar das vozes…

Aquele que partira.
Todo aquele cenário,
todos com seus rosários.
A dilaceração,
e a emoção.

O “eu” em sacrifício;
o “ele” em sepulcro;
o “nós” alienados.
Mas todos buscando-se,
a si, meditando,
e alguns sem fé;
outros pensando,
"Aqui o jaz;
aqui voltarei, não de pé.
Sim… Belo, espero;
sem vida, porém em paz"

segunda-feira, 20 de maio de 2024

O Outono se foi



Outono, impunha-se um Sol resplandecente.
Céu límpido, explodia em azul bem nítido.
Brisa fresca nos abraçava envolvente.
Andorinhas voavam perto do ninho.

Do céu a noite a se notar
as lágrimas das estrelas;
A Lua mais perto a brilhar,
do beijo se expondo mais bela.

Contudo, nada mais adianta,
ó, Outono! Tudo arde.
Joguem fora suas mantas!
A brasa vai embora tarde.

Ora o verão, ora o inverno.
À sombra, o céu,
fora dela, o inferno.
O caos lá fora, e nós ao léu.

Nos áureos tempos, havia Outono
Hoje, somente nos calendários.
Pois, ou se está o verão no trono,
ou o inverno em solo mortuário.

Hoje, não temos controle.
Por sorte, sobre o passado temos um norte.

Não é saudosismo frugal.
Foi-se uma época descomunal.
Havia-se maior ensejo
com a bela estação autunal.

O tempo, eterno presente.
Nós que mudamos, envelhecemos.
O tempo fica, não vai adiante.
Nós que partimos, perecemos.

O Outono sempre será.
O inverno, o verão…
Nós temos que mudar
e respeitar cada estação.

Portanto, antes de partir
olhe para cima.
Reflita-se sobre um espelho d’água.
Perceba-se neste atual clima
e não deixe a natureza com mágoa.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Perdido em si



Eis que, no vão das sombras, onde o ser se desvela,
em meio à névoa do cotidiano lamento,
o homem vagueia, na angústia, na refrega,
perdido em si, em busca de alento.

No peito, o eco do etéreo medo,
que ronda como espectro, silente e frio;
a morte, que se avizinha em segredo,
traz consigo o derradeiro vazio.

Oh, pavor dos mortais! Oh, desespero!
Na encruzilhada da existência efêmera,
a cada passo ergue-se o temor primeiro:
a finitude que nos cerca e golpeia.

Nas horas gélidas do dia que declina,
o ser se afoga na miragem do amanhã,
na incerteza que espreita e domina,
sob a fumaça sombria da própria chama.

E quanto mais próxima a hora derradeira,
mais nítida se torna a face da verdade:
somos frágeis, efêmeros, na vasta ribanceira
da vida, que nos arrasta sem piedade.

E assim, entre suspiros e lamúrias,
o homem se perde em sua sina,
na busca vã por fugidias aventuras,
sob o olhar impassível da morte divina.

sábado, 4 de maio de 2024

O vazio essencial do mundo




Ante a desolada vida, um grito sai de mim.
Onde a esperança se esvai com astúcia,
em um mundo hostil, um abismo sem fim,
Somos frágeis, condenados à angústia.

Venturas fugazes em estrelas cadentes,
brilham por um minuto, depois se apagam.
A frivolidade nos consome, implacável e ardente,
deixando-nos perdidos, cegos, sem afago.

Sabemos que somos frágeis, perecíveis,
Que a morte nos espreita a cada esquina.
Mas o mundo continua, indiferente e impassível,
nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha.

Neste vazio abissal, nosso rumo se perde,
sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza.
E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede,
deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza.

Pois, nosso fim não finda o mundo;
nossa existência não torna o real;
nossa importância não vale um segundo.
O mundo sem nós se torna essencial.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

A Dança da Verdade com a Mentira




Na valsa da vida, onde a verdade e a mentira se encontram,
Eu danço com passos incertos, sem saber o que é real.
A aparência, uma máscara que esconde a essência,
Distorce minha visão, tornando o falso natural.

Sob um véu, a mentira se disfarça,
Vestindo o manto da verdade, enganando meus olhos.
Mas em meu coração, uma chama arde,
Questionando tudo que meus sentidos alarde.

Posso acreditar em uma mentira, achando-a verdadeira,
Pois quem sou eu para julgar o certo ou errado?
Minha lupa da verdade é falha, a erros está sujeita,
e o que eu vejo pode ser apenas um reflexo alterado.

Assim, danço com a mentira, com cautela e desconfiança,
Pois sei que sua sedução pode me levar à tormenta.
Mas também reconheço que a verdade pode se esconder
por trás de uma fachada de engano, esperando ser descoberta.

Na verdade, na dança da vida, não há certezas absolutas,
Apenas sombras e luzes que se confundem entrelaçadas.
Como um viajante num labirinto de ilusões à luta
Busco a verdade, seja ela uma mentira disfarçada.

O minúsculo poder



Em meio à penumbra, um brilho surgiu, 
Um anel de ouro, um presente do destino.
Com ele, o poder de ocultar-me,
Um sonho antigo, um desejo divino.

Diante disso, a moralidade me reteve,
Uma questão de certo e errado.
Pois com o poder de desaparecer,
Poderia fazer o bem ou o mal sem ser notado.

Inicialmente, minha mente se agitou com uma torrente de possibilidades. 
Eu poderia roubar riquezas, cair em vulgaridades.
Porém, à medida que as horas passavam, 
a questão moral me atormentava.

Pois bem, usei anel. Um segredo profundo,
enquanto minha mente corria idéias, sem parar.
Mas em todas as possibilidades que passavam,
a velha ética vinha me afrontar.

Um dia, passei por um espelho dourado,
Com ornamentos bem detalhados, um espetáculo para ser visto.
Olhei para o meu reflexo, nada havia notado.
Apenas um vazio, um espaço que sempre me via bem quisto.

A princípio, pensei que o anel estava em minha mão,
Porém não! - percebi com espanto.
Eu era invisível, sim, mas não por um anel,
Era minha escolha, uma decisão que eu havia tomado.

Havia ali, por fora, um ser sem forma, um não-ente.
Por dentro, um fantasma vivo, um animal decadente;
distante do mundo, angustiado e sozinho.
Um vazio ambulante, um filhote esquecido no ninho.

O anel da invisibilidade, fruto da maldade.
Um símbolo da escolha que eu havia feito.
Preferi a maldição acima da bondade.
Hoje carrego este fardo, um peso que me prega no leito.

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...