quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Onde fica o cemitério?



Rock and Roll, músicas obscuras, sinistras, gênero musical peculiar. Death Metal, Black Metal, Grind Core, Gothic Metal e etc… Uma bela adolescente, rotulada como "roqueira gótica", inteligente, intelectual; com ar rebelde, mas bem caprichosa; boa vivant, uma mulher independente... Esta jovem moça curtia - além das músicas citadas - livros de grandes escritores existencialistas, os de terror também e filmes do gênero. Além do mais, era costumeiro passar a noite em cemitérios com amigos roqueiros em alguns fins de semana. Ela não possuía medo algum enquanto no cemitério ou medo de o que poderia surgir como sobrenatural, sombrio e etc. Afinal seu hobby era lidar com esses assuntos, seja na música, no cinema ou literatura. Tornou-se hábito. 

Então, passaram-se alguns anos.

Eis, numa dessas belas noites no cemitério ela avistou algo disforme, de aparência horrenda no pé do cruzeiro das almas. O ser não refletia luz alguma, muito menos dotado sua própria (natural em visões mediúnicas, em se tratando de seres - como o nome já diz - iluminados); a aparição era muito opaca, muito escura... Se contorcia, como que movimentos parecidos de alguém sofrendo muita dor e, na medida que esvaia, paradoxalmente, se recompunha; ora como uma fumaça, indo em direção ao céu, ora como uma chama preta plasmática se retraindo para o interior da Terra. 

A jovem não conseguia identificá-lo. Sequer via o que poderia ser um rosto claramente; algo como se fosse uma boca aberta como num gesto de um grito doloroso, as mãos saindo do que seria o tórax do ser; "pernas" se debatiam; assim como o que seria a cabeça também. Só a jovem roqueira conseguia ver tal cena, de fato. Ninguém mais. Por mais que ela apontasse, explicasse o que se apresentava a ela, seus amigos não conseguiam enxergar nada além do cruzeiro das almas - que permanecia solitário, solene. Então, ela desmaiou de tanto medo que sentiu. Seus amigos se atentaram à gravidade da coisa, deixaram o lazer no meio da madrugada e levaram-na para casa. 

Enquanto no seu quarto, após muita reflexão, adormeceu como um anjo. Acordou beata. Queimou tudo o que foi discos, camisas e livros. Largou todos os seus costumes, sua ideologia e foi para a igreja evangélica. Só que a coitada ainda permanecia vendo tais fenômenos parecidos com o que viu no cemitério, até mesmo dentro da igreja; ou dentro das igrejas católicas, nos terreiros de umbanda ou candomblé que ela passara a frequentar depois de ter largado a igreja evangélica achando que não solucionaram seu caso. Por onde ela ia, volta e meia, se deparava com cenas e fenômenos de tal natureza. Não só em locais de cunho religioso.

Por fim, o “problema” não era a música, filmes ou os livros - pensava a jovem - muito e seus amigos. Puta da vida, voltou a comprar suas camisas de rock, ouvir suas músicas "pesadas”; voltou a ler seus livros prediletos, assim como os filmes do gênero de terror, suspense… Readotou sua filosofia de vida de outrora, qual era muito feliz e sentia-se viva. Então a pergunta que ficou no ar, por conta dos amigos, foi esta: Vais frequentar cemitérios conosco? Ela respondeu: E por que não? Dentro e fora dele para mim agora é tudo uma coisa só.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Trovoada sem estrondo


É no silêncio que minha voz entoa;
retumbantemente afora ecoa,
advinda da mais pura fonte.

Pensamentos — não mais que lamentos,
tormentos, quaisquer ócios do dia —
traduzem-se em música, em poesia.

Fatos de outrora, enevoados,
rompem ansiosamente tais barreiras;
voando como venenosos dardos,
abrem-me à fronte uma clareira.

Momentos dolorosos, tristes,
que no inconsciente dormem,
despertam em minha vigília,
advertindo-me à noção do ser humano.

E, por ser humano, a dor compartilho.
Dói, contudo…
O que seria da alegria, não fosse a dor?
Do perfume, sem a flor?
Ou do dia sem a noite?

Nada é tão desesperador.
Vivem: o infeliz, o injusto e o sádico —
todos em perfeita harmonia.                

domingo, 26 de janeiro de 2020

Então...

Quando eu me sinto assim
Vontade me dá de ficar bem:
As vezes para longe ir
Ou não falar com ninguém

Ir tão longe onde finda o infinito
Ficar mudo como um retórico
Ser aquele feio mais bonito
E o lendário ser sem histórico

Quando assim me sinto 
Nada é menor que meu recinto
A pressão é deveras aviltante
Aos sentidos excita os cinco

Tudo se repete nesta vida
Como um fugaz retorno, enfim
É bom é ruim desde a partida
É ruim é bom até seu fim

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

É muito Bela



Seu sotaque, que ela diz que não tem
Eu noto e admiro cada palavra 
Desde quando ela me liga do trem 
Até saindo pra alguma balada

Um anjo lindo cativante
Dá alegria e tira a dor
Está comigo a todo instante
Por ela canto em louvor

Menina com seus sonhos no céu 
Mulher com os pés no chão
Ela é doce como mel
Mas no frango põe limão

Gosto de com ela compartilhar 
momentos, eventos, notícias 
gestos, carícias…
Coisas simples, de se apaixonar 

Seu véu dourado cai por sobre mim
O céu vem à terra, como numa quimera
Ainda mais quando pergunto assim:
Sorria pra mim, Isabella? 

De Bela ela não só tem o nome
Todo o seu ser, lindo é 
Ela já até possui uma gatinha 
Em sua homenagem, chama-se Belinha

Essa é a guria
Que salva os meus dias
Ora me desejando bom dia
Ora pedindo para me ajuizar
Durmo com ela na minha cama vazia
E sempre com ela acordo após sonhar


Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...