Expectativa de vida (no mercado de trabalho): Mais vida, mais lucro.


Dados do IBGE apontam que o número de idosos superará o de crianças em 21 anos. E a expectativa de vida aumenta gradativamente. Atualmente ela está em torno dos 75 anos de idade. Em 2060 estima-se em torno dos 80 anos. (Creio que isso parte, em parte, da taxa de mortalidade infantil, que, em 2010 estava próximo aos 18% e foi reduzida 12%, em 2018). Mas como a pauta não é sobre infância, ou mortalidade, e sim o contrário, em princípio, isso desperta atenção para debater diversos assuntos. E o principal é a aposentadoria, afinal, falou em idosos, pensou aposentadoria. Ou não?

Porém, diferentemente deste assunto, o canal GloboNews, em programas como Estúdio i, essa discussão desencadeou opiniões dos  jornalistas/ comentaristas e a maioria refletiu que os 65 anos de idade já tem de ser revisto, porque isso “não é mais ser idoso”. Uma vez que os números do IBGE indicam uma crescente na expectativa de vida. Provavelmente o analista do programa deve ser matemático ou economista financeiro (nada contra esses profissionais, quais eu admiro muito), porque, analisar gráficos/ estatísticas deve ser para este comentarista algo beirando a religiosidade, como se fosse a verdade eterna e absoluta.

Digo isso pois muitos destes economistas de finanças, liberais econômicos, estão dando “pitacos” em casos que dizem respeito à sociedade. Todavia, sociedade, pessoas, não são produtos ou mercadorias (há controvérsias, eu sei), e gente, povos, indivíduos, cidadãos, devem ser vistos por um prisma político-social, ou, no mínimo, por uma CIÊNCIA SOCIAL, para começar. Bem díspar das pizzas, das roscas, linhas, colunas e radares dos gráficos do Excel, que é um recurso, mas não a razão plena.

Possivelmente os jornalistas seguiram uma lógica, rasa, tendo em vista os dados do IBGE: Se a esperança de vida ao nascer aumentou, ou seja, se ao longo dos últimos 10 anos ela vem numa crescente, quando em 2060 se chegar aos 80 anos, essa esperança, então, o que é ser um idoso? A pessoa que temia morrer aos 60 anos, ganhou 20 anos de vida! Logo, ter 60 anos nas próximas décadas, é o que dizemos ser os 40 - 50 anos hoje, em termos de vida bem vivida?

Indubitavelmente, esse raciocínio tem fundamento. Não discordo. No entanto, como salientado acima, analisar uma sociedade, não é como se faz defronte a um notebook no escritório, no meio corporativo, ou na bancada do telejornal, cercado de números, previsões, estatísticas.

Então, com 20 anos de idade - tendo em vista que 80 anos de vida se terá facilmente - ainda não se terá alcançada a maioridade? Alterarão a lei, por conta disso também? Porque a previdência já está na ponta da agulha. Agora, a maioridade: reduzirão, ou aumentarão? - considerando o raciocínio dos jornalistas. Pense! Se hoje, 18 anos é maioridade, com uma vida prevista para o fim com 75 anos; com uma esperança de se viver até os 80 anos, 18 anos, então seria maior de idade? Lembrando que, se considerarmos que uma pessoa com 65 anos, não é idosa para a sociedade. Se os anos de vida se "esticaram", de 70 para 80, deveria-se considerar, então, estes quesitos fundamentais sobre o cidadão? Achas que haverá alguma revisão na constituição, alguma
PEC, alguma reforma neste sentido, estimando o indivíduo que goza de direitos civis e políticos?

De fato, há diversos pontos preocupantes em respeito à saúde, lazer, enfim, o bem estar em geral que o Estado (não) provê aos idosos, (e consequentemente atenção às crianças e adolescentes também), mas o píncaro do assunto foi a aposentadoria/mercado de trabalho.

Primeiramente, um homem, com 65 anos, na visão do programa jornalístico, pode muito bem estar trabalhando, servindo de mão de obra, sendo explorado, pelo mercado de trabalho. Segundo, não só homens trabalham no Brasil de hoje. As mulheres ocuparam seus espaços (ainda que pendente em algumas esferas da sociedade), e sua aposentadoria é diferente da do homem. Se, 65 anos, para tais jornalistas, ainda não é considerado um idoso, a mulher com 60 anos não seria idosa também. (Entende-se que para a aposentadoria por idade, o INSS, além da idade, requer também a comprovação de no mínimo 180 meses de trabalho. 60 anos de idade para as mulheres e 65 para os homens. Isso hoje, pois a Reforma da Previdência ainda não entrou em vigor). Logo, deixa subentendido, que o cidadão, seja, com 60 anos, ou com 65, ainda pode muito bem trabalhar, buscar seu lugar na indústria, no comércio, nos serviços em geral e deixar de “mimimi”. Estes dados do IBGE podem ser um prato cheio para estes governos entreguistas, neoliberais. Mais exploração, mais força de trabalho, menos custos… Mai$ lucro$!

Se com 65 anos um homem não é idoso, nem com 60 uma mulher, o que seria um idoso então, senhor jornalista? Imagine, um senhor, seja com 50, 60, 70 anos, tendo que acordar cedo todo dia, enfrentar trem lotado, ônibus cheio, estresse, foice e martelo, todo santo dia, para se sustentar? Subsistência depois dos 50 anos, já é foda de se crer, imagina com 70 anos?


Se não acreditas, então leia a nova reforma da previdência e trabalhista. Tente sintetizar estes 3 elementos: idoso, trabalho, e aposentadoria (se é que isso vai existir).

Deixo convosco essa reflexão e sua conclusão...

Referências:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/07/25/ibge-projeta-brasil-com-mais-idosos-do-que-criancas-em-21-anos.htm

https://www.inss.gov.br/beneficios/aposentadoria-por-idade

https://www.cartacapital.com.br/especiais/reforma-da-previdencia

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