Porre nº 3
Hoje foi tão bizarro que eu me flagrei extremamente compenetrado, imaginando-me, sentado na Lua, assistindo a Rússia metendo míssil nos norte americanos. Em resposta aos camaradas russos, a mãe das guerras, lançou também toda a sua ofensiva destrutiva pelos ares. O louco foi ver o líder russo, gargalhando, ao perceber que os mísseis americanos, de tão potentes, deram duas voltas no globo terrestre, perdendo seu rumo e caindo: um na Coreia do Norte, o segundo em Israel e o terceiro acertou ao próprio Estados Unidos. O planeta Terra, visto da Lua, ficou irreconhecível em meio às diversas luzes que se destacavam, explosões em toda parte, mísseis desenhando os céus, e o nobre presidente russo sentado, no Kremlin, jogando “Angry Bird” com seu "tablet", de fabricação nacional. A Terra, de azul ficou cinza. Bizarro! No lugar do verde, foi acrescido o vermelho. Mas não, não é uma alusão! Mesmo porque a Rússia nunca foi comunista e nem sequer está perto de ser. E não, também! A Rússia não venceu esta guerra. Nem os E.U.A., nem ninguém. Nós perdemos. O ser humano perdeu, se destruiu e, não só, levou consigo o planeta Terra.
E por falar em planeta, Terra e vida, cá estou. Agora pensando, (e não delirando... Sera?), em algo que acontece conosco desde o nosso nascimento: a guerra. Já nascemos em meio à disputas, combates, conflitos e etc. Tudo nos é imposto. Penso: não seria a nossa própria vida, uma imposição? Quem caralhos achou que eu queria nascer? Quem raios me tornou à existência sem a minha permissão? Então nascer já é uma batalha, conclui-se. É uma experiência a contra-gosto, pode-se dizer que há uma força maior que venceu, nos empurrando à uma vida sem perspectiva, aliada ao sofrimento cercada de tentações que, com certeza serão-nos cobradas. E após isso, no nosso primeiro instante, a tudo é imposto o nosso esforço. Sim, compreensível. Não nascemos para procrastinar, viver inerte, também não. Mas o que nos é exigido é uma luta sem necessidade alguma, e o pior, luta de uns contra os outros, quiçá contra nós mesmos.
Isto posto, na verdade, não temos "querer", não temos liberdade e não possuímos nada. É assim quando nascemos. Salvo raríssimas exceções, (já até elucidado nos porres anteriores). Pois bem, uma pergunta: para que a vida, então, se nascemos sem nada do que deveria nos ser peculiar? Nossas faculdades, conforme vamos vivendo, nos levam a "querer", a "ser", a "poder". Mas nada disso nos é dado assim de forma gratuita, benevolente. Na verdade não temos querer. Para se ter, tem de se conquistar, óbvio! Tudo se é conquistado (a própria palavra “conquista”, já nos remete à ideia de disputa). O que eu passo a ter, foi, por mim, conseguido. Mas de que forma, qual método, qual meio, o que eu fiz para merecer, ou melhor, para conquistar tal coisa? Foi através de méritos? Outros também tentavam obter o mesmo que eu? Ficou implícito, desta forma, que eles perderam, uma vez que eu tenha adquirido algo? O que na verdade se ganha em um duelo: a glória ou o objeto, alvo da disputa? Sobre o poder, principalmente, este último, não se é doado, ou recebido. Ele é conquistado, ou melhor, algo que se é apoderado. Essa conquista é dura, penosa, requer muito esforço, muita luta. Vide a história, perceba os detalhes de uma conquista, da chegada de alguém ao poder. Onde que, para tal, por outro lado, uma pessoa, ou muitas, até uma nação, saem muito magoadas, feridas e derrotadas.
Vejamos… Pense no que quiser, até em coisas abstratas, como a felicidade ou o amor. A felicidade, (lembrando a pirâmide de Abraham Maslow, citada no primeiro porre), pode se realizada por conta de um prato de comida, ou por uma boa noite de sexo. Diferente disso, uma pequena experiência, a felicidade existe, simplesmente, por se estar em algum lugar qualquer. O lugar ou, apenas a imagem deste lugar, seja lá qual for, nos remete a extremas sensações de satisfação e bem estar. Acontece, isso é real. Tente! Pense em um lugar, ou vá, de fato, a um lugar que lhe é aprazível e saberás. Já o amor… Bem, o amor… Sinto -lhe informar, mas ele não existe. O amor é uma fantasia do humano. Sim, olha aqui… Claro, existir, existe! Porque, se o amor é uma fantasia, ele existe, pronto. No imaginário. Mas não do modo como nos é ensinado, ou qual achamos ser de fato. Então o que fazer para encontrá-lo? Uns dirão: basta te olhar no espelho que encontrarás o amor sublime. Eu complemento: o amor é uma espécie de egoísmo que se fermenta, vez ou outra, em nossa consciência. Não sentimos "amor" pelo próximo, sentimos "amor" por nós mesmos. Isso nos trai. A caridade - que dizem ser irmã gêmea do amor -, que é feita para com o semelhante, na verdade, ela é para nós; feita em nós mesmos; na mesma forma e intensidade que se diz que é para o próximo. Você não ama "aquela pessoa": você ama a vontade em estar com essa pessoa; você quer satisfazer teu desejo, o arbítrio, ou suprimir o tesão que lhe arde em estar próximo à pessoa em questão. É por si, e não pelo próximo.
Ademais, surge o tema: o amor pela própria vida (basta olhar-se diante do espelho, não é?). Não exatamente! Há outra hipótese fortíssima que, verdade não possuímos o amor pela vida, pois a vida já é. É uma vontade por natureza, é uma potência. É um sentimento meio que involuntário. O que nos ilude e acaba por nos passar essa sensação de amar é, de certo, o medo da morte. Esse medo é combatido, diariamente, é vencido, é aniquilado. A todo instante. Senão, que caralhos ia ser de nós se vivêssemos, a todo segundo de nossa vida, com medo? Nenhum ser vivo ia ter estômago para passar 24 horas com medo extremo. Nesse caso, derrota-se esse medo através da razão, o que nos dá a falsa sensação de amar a vida. Somos apenas racionais, só isso. Pense que glória: todo dia uma vitória! Ou seja, “venci a morte, estou vivo e saudável”. Todo santo dia você vai dormir dizendo: “Venci! A missão de hoje foi cumprida”. A sensação desse triunfo é quem move a vida e vagueia por ai enquanto vida existir. É o medo de morrer que nos faz dar valor à vida. E esse valor é quem nos dá, aparentemente, a sensação de amar a esta amarga vida, transbordada em tragédias com dose cavalar de sofrimento. Quem estiver livre disso, por favor, levante a mão, se apresente ai, porque... Você é uma divindade na Terra.
Portanto, conforme dito nos primeiros parágrafos, estamos sempre em uma disputa, em guerra. Eu comecei o porre com intuito em falar da desgraça da vida que nos agride todos os dias, mas no meio do caminho, sem querer, guinei ao triunfo, ao sucesso. Tudo bem que de uma forma extremamente pessimista (em virtude de amar Schopenhauer [risos] e ser feliz por causa da morte. Quanto paradoxo!), mas expondo a superioridade da razão sobre o medo (da morte) e a sua supremacia sobre a quimera qual todos acreditam ter consigo: o amor. O amor, no sentido de relacionamento, a paixão entre pessoas, já se é costume dizer que tudo começou com uma conquista. "Conquistei minha/meu namorada/namorado”; “seduzi fulano, ou fulana”. Ou seja, alguém teve de ceder, não resistiu. Se, caso essas condições aconteceram, havia, assim sendo, um embate naquele momento da conquista/rendição, portanto, há guerra!
***
Mas voltando, então, à disputa, à luta do dia-a-dia. O que dizer da minha pífia posição na sociedade? Se hoje eu estou, se eu possuo, com certeza foi porque alguém teve de ficar para trás. Se eu consegui tal emprego, se eu me alimento, foi porque outros foram derrotados. Não tiveram dinheiro para tirar o alimento das prateleiras. "Só lamento, cheguei primeiro e com poder de compra". Ou não? O que dizer da oferta e demanda? Será que esta existe em prol de todos, atendendo a todos? Não me refiro somente a 1 kg de arroz, ou feijão. Aponto minhas armas à cultura da indústria e da mídia. Pois é desproporcional, por exemplo, em um país como o Brasil, subdesenvolvido, receber violentas cargas de informações sobre bens de consumo extremamente acessíveis, mas à população de países desenvolvidos. Tudo bem, já se tornou normal... Mas que é surreal é! A pessoa em casa, na humildade, às vezes sem saber o que fará para o almoço do dia seguinte, se deparar com ofertas de produtos cujo seu valor daria para alimentar um bairro inteiro. Não é somente na TV. É via rádio, jornais, revistas, internet... Tudo que nos cerca é voltado a este consumo esquizofrênico. Isso gera guerra!
Contudo, há outro exemplo simples: uma entrevista de emprego. Na verdade isso é um coliseu (colisão) entre quatro paredes, com uma mesa, algumas cadeiras e um responsável, RH (RECURSOS HUMANOS) tsc... O que é o “Big Brother” (“reality show”), senão um conflito entre os participantes, a todo instante? O que é um desfile de escolas de samba, senão uma disputa pelo título de melhor do carnaval, Sendo o mesmo um espetáculo multicultural, considerado um dos maiores espetáculos áudio-visuais do mundo? Se mantêm das rivalidade entre si. Não só isso, veja que para alguém ser o melhor, toda a galáxia tem de ser pior, segundo, isso nos é imposto diariamente. O que é meu “smartphone”, senão o melhor aparelho? O que é a ganância, senão a disputa por ser/ ter o melhor do universo? E não somente, o que dizer das brigas para entrar no trem? (Chega a ser violento!). Disputa para quem faz e/ou termina mais rápido; duelo para ver quem é o melhor/ mais belo/ "mais perfeito". Tudo é tão banal - e normal... A vida se tornou um Fla x Flu, com direito a briga de torcida, tiro porrada e bomba, após um fatídico zero a zero no placar. Banal... Disputas sem necessidades, guerras desnecessárias. Vida inútil.
Enfim, o mundo corre, o tempo voa, tudo passa muito rápido, por causa de rivalidades, guerras, embates por pequenas coisas, a todo instante. A luta move, o diferente faz girar o planeta, a dialética, Heráclito de Éfeso (risos), os opostos. Seria maravilhoso se tudo fosse de uma forma salutar e compreensível. Sem vencedores e sem derrotados. Sem o biscoitinho após a tarefa, sem o biscoitinho como prêmio e, por acaso, se for para distribuir doces, guloseimas, que o seja para todos e não para transformar um bombom, por exemplo, num motivo de combate e todo o tipo de barganhas e meios injustos de conquista. Se tudo é possível, ou melhor, se vale tudo, para se conquistar um doce como prêmio de melhor "alguma coisa", imagina o que se faz por dinheiro, fama e poder? Precisa-se, urgentemente, de um planeta pacífico por meio da igualdade e justiça social. Um lugar horizontal e não vertical. Poderíamos, nós, olharmo-nos sem ter de abaixar ou levantar a cabeça. Sem ter de correr para chegar à frente do próximo, podendo ao seu lado caminhar. Poderíamos muito mais. Uma vida bem mais saudável e prazerosa. Daria sim para se criar um mundo maravilhoso, sem disputas malditas e criminosas. A maioria ainda não despertou, ainda não olhou para o alto da pirâmide para perceber que lá existem poucos, dezenas, quiçá. Entretanto ninguém percebeu que a base desta pirâmide, feita por milhões de cidadãos, é quem sustenta todo o resto, que é irrisório. E para esta equidade acontecer, não precisa de armas, ou mortes, guerras, disputas, golpes, trapaças... Para isso é fundamental, é extremamente necessária a educação. Já Étienne de La Boétie diz que basta não fazer nada. Se lhes derem ordens, não obedeçam. Apenas não façam nada. Pois como pode um tirano tecer a vontade de milhões? Apenas obedeça a si, obtenha conhecimento e não o sirva. Aqui no Brasil, como já dizia Brizola "A educação é o único caminho para emancipar o homem"; Darcy Ribeiro, Paulo Freire, entre outros também apostavam na educação. Educação para todos. Isso seria como se entrar numa guerra que não existe, com armas imaginárias e fazer sentir, o então adversário, idêntico a ti. Na verdade, todos estando em pé de igualdade, elimina-se a ideia de adversidade. Consequentemente de guerras, disputas e etc. Todos, sem privilégios, sem benefícios. É através dela que haverá o despertar da inteligência, da cultura, da elevação do homem no sentido de superar-se como tal. É como se fosse um meio que acelerasse a capacidade de aprender, de compreender melhor os fatos. E a inteligencia é algo que não se toma, se arranca; pode-se apontar todas as armas, detonar todas as bombas, a educação não se arranca de ninguém. Ela é naturalmente flexível, ou seja, pode-se alcançá-la e aperfeiçoá-la de alguma forma, trocando e não subtraindo do próximo. Sendo assim, não haveria motivo para se ter nada dos outros, tendo cada um a sua. É a única faculdade dada a todos, sem distinção. Basta estar vivo para que ela surja. Desfrute-a!
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