Porre nº 4
(É o porre nº 4 mesmo? Acho que sim… Estou um tanto bêbado, mas dá pra levar).
Hoje o porre vai ser um porre! Por quê? Está frio, chove, e é domingo! Não pela chuva ou o frio, mas é que odeio o domingo. E esse porre, na verdade, é mais em homenagem aos camaradas russos, que derrubaram 71 dos 103 mísseis de cruzeiro lançados pelos EUA e seus aliados (Reino Unido e França), contra a Síria, na sexta-feira à noite. E que não haja mais um tiro. Nem na Síria, nem aqui no Brasil, nem em lugar algum. Igualmente em guerra, nós, a Síria, EUA, Reino Unido, Rússia e etc, morre-se centenas de inocentes. Este circo todo armado ai pela superpotência é uma tragédia fantástica. Lamentável! O foda é que tem-se ciência de que a investida da galera do ocidente é puro e somente interesse próprio. Ou seja, lucro e demonstração idiota de poder. Escravizar mais um estado-nação, mais um território, mão de obra barata e etc.
Além, também, da necessidade de embebedar seus brinquedinhos de quatro rodas e foguetinhos que vão ao espaço tirar foto, o Tio Sam, busca ficar bem no "selfie" e intimidar todo o resto do mundo. Quanto ao petróleo, este ouro preto, não serve somente para encher os tanques. Há o gás, entre outros derivados. O que é mais ainda motivo de invasão, expropriação e destruição.
Lá nos EUA se embebedam os automóveis, aqui no Brasil se embebedam os pobres. E já que estamos no quarto porre, que tal, mais um gole de vodka? Saiba, tu, camarada, que na Rússia também, é alarmante o caso de alcoolismo. Sim, pessoas lá bebem mais que os automóveis americanos. Hoje há uma forte campanha do governo russo. O Presidente Putin tenta seguir o caminho de Mikhail Gorbachev para diminuir o grande consumo de álcool que, lamentavelmente, assola as vidas dos camaradas.
Infelizmente, vai ser mais fácil o presidente russo acabar com a porra do frio, a dar fim ao alcoolismo. Eles devem beber dessa maneira por causa do frio, so pode! Não posso precisar, é um hipótese. Se não for a principal causa, com certeza está entre as maiores.
Sendo assim temos algo em comum com os russos, no quesito virada de copos. Porém, olha a loucura: aqui no Rio, 21º C, é considerado frio. Na Rússia, o bagulho chega a ficar abaixo de 0º C. Beber vodka russa aqui com 21º C, é a mesma coisa que fumar crack. Lá no país dos antigos socialistas beber vodka, é como beber água. No entanto o governo têm a ciência de que é preciso enfrentar uma indústria multibilionária que só lucra. Mas ainda assim, os barões do álcool encontram formas de continuar lucrando mesmo com as limitações estatais. Enquanto que aqui, o que fazer? Foda-se, continuar bebendo, é Brasil porra!
Pausa para respirar e filosofar: O que mais me assusta não é o fato da luz se apagar sozinha, mas sim ela acender sem motivo algum. Estou em casa de boa, no breu, incenso indiano soprando mágicos aromas, Tchaikovsky rolando, bebendo aquela vodka russa e de repente… A LUZ ACENDE!? Porra é essa?!
Enquanto bebo, vejo aqui uma foto, do meu celular, em uma matéria de revista, de um menino muito jovem (uma criança), que está vendendo doces na rua. Na entrevista o jovem conta que sua vida é difícil, mas que seu trabalho é compensador. Porra! Trabalho nenhum, em nenhuma época supera a mínima dificuldade de vida. Se a vida está difícil, ainda que se esteja trabalhando, porra… Fazer o que? Trabalhar mais? Trabalhar até adoecer? Ou ganhar mais dinheiro para devolver ao patrão na compra de Iphones, smart TVs, drones? Isso, de fato, é motivo de felicidade, a vida melhorará junto a obtenção destes objetos? Ao invés de o boleto todo mês a ser pago, irá se gerar mais lucro na conta corrente? Se apesar do trabalho, a vida ainda permanece difícil, a tendência é piorar mesmo.
Além do mais, a tal foto já foi parar nas redes sociais. Está lá, estampada! E não só. A própria edição da revista online também foi muito comentada. Os comentários sempre os mesmos: Dignidade! Que exemplo! Trabalhador! Esse é o verdadeiro herói! Etc. Sim, concordo com alguns adjetivos, mas a realidade é triste. Os valores estão invertidos e isso se tornou tão normal que, quem é capaz de ver com outros olhos os contrários alheios, acaba se passando por louco ou até uma pessoa desleal. Confesso que não vejo nada legal nesta foto. Um adolescente se orgulhar de vender doce a 2 ou 3 reais e achar isso digno e libertador… Não!
Primeiro porque o jovem daquela idade deveria estar numa escola. Não é moralismo. Mas é bem notório que a educação fundamental é inegável. É fácil para algumas pessoas olhar a foto de uma criança negra, moradora de uma comunidade, vendendo bala ou doce na rua e achar que o que ela vê é um trabalho digno. Digno é aquela criança, ou aquele adolescente, estar em uma sala de aula resolvendo questões de Matemática, resolvendo fórmulas Física, formando cadeias de carbono, discutindo Filosofia, Sociedade, Cidadania, Política e Economia. Ou vocês acham que só ricos, ou filhos de ricos é quem podem/ devem fazer isso? Um negro, morador de comunidade não deve sair das ruas. Ele deve permanecer lá vendendo a você biscoito à 3 reais, ou uma bala à 1 real. Entregando pizza, lanche no condomínio do engenheiro, do médico… Não é? Agora, diga quão digno é um menino desses, que veio de uma situação de miséria, de subsistência, vestir um jaleco e salvar vidas, criar uma nova vacina para cura de algum mal; viajar de ônibus, espacial, trazer do universo perspectivas novas para nossas vidas. Pensa-se que essas coisas é somente para filhos de coronel, senhor do engenho. É surreal imaginar um negro, um pobre, mesmo que um branco em situação de miséria (que é quase raro), atuando nas altas camadas da pirâmide social. Sem contar que o recalque geral, advém, da visão de que negro, pobre, na faculdade é mais uma vaga de um filho rico ocupada.
Segundo, entendo que o trabalho informal não é de todo o mal. As pessoas sim tem de trabalhar. Trabalhar até nobre sim, é bonito reformulador, renovador, revolucionário. Trabalhar enobrece o cidadão. Não estou dizendo que não concordo com o adolescente na rua vendendo bala ou doce, infelizmente é uma necessidade. Mas, paradoxalmente, por isso mesmo, por esta necessidade, é que eu concordo que uma criança deve estar uma sala de aula desenvolvendo mais. Caso o jovem seja maior de idade, que ele esteja formalmente trabalhando, recebendo salário, tendo a certeza de que amanhã vai comer alguma coisa, de que vai comprar alguma coisa no mercado, que vai poder ter uma vida melhor; a certeza de que receberá assistência médica quando tiver um problema de saúde, o bem-estar quando que no fim do mês ele terá na sua conta o seu salário; quando um jovem desses, negro, baixa renda, morador de comunidade, estiver cruzando os corredores da Universidade da Federal, ou da Estadual, tratando assuntos da sociedade com propriedade, falando como um doutor, isso sim é digno e louvável. Mas coisas assim ninguém aplaude. Ninguém ninguém se quer dá valor. Mas um negro, pobre, vendendo a 2 reais, algo que nem ele mesmo produziu, que é uma desgraça social, se torna objeto de grandes dissertações e os mais belos sonetos. Agora, a sociedade se inferniza mesmo é quando se depara com a relação candidato/ vagas por cotas para negros e índios. Ah! Para criticar isso daí a pessoa vira até PhD, Doutor em Ciências Sociais…
Não me atento somente à criança da foto, da imagem aqui das redes sociais. E quantos milhões de crianças e adolescentes estão na mesma situação? Não devemos aprovar isso. Lugar de criança e adolescente é na escola, e não nas ruas vendendo bala ou seja lá o que for. Devemos olhar com mais sensibilidade para essas coisas. Repito não é moralismo. Cada qual sabe onde o calo aperta. Seja o chinelo de dedo do “menor”, seja o sapato do nobres, do clero, ou a bota dos combatentes. Contudo, todos os pensadores, filósofos, sociólogos concordam que a educação é a base de tudo; que é a grande fonte emancipadora, é o grande elixir da vida e não há mal nenhum em se embebedar desta fonte. Todavia é uma grande falta não matar a sede daqueles que estão desprovidos.
Alguns passam por necessidades, é muito explícito isso. Não têm o luxo de escolher se vão estudar ou trabalhar. A vida lhes impõem. Infelizmente. O Brasil carece desta atenção para com os seus filhos. Não pode ser normal o índice de analfabetismo que temos atualmente (e ainda há aqueles que reclamam das cotas). Não pode ser normal o dia-a-dia de um adolescente hoje: trocar uma sala de aula por uma caixa de isopor cheia de “cervejaaaaa, águaaaaa, refrigeranteeeee…”
Quanto será que um jovem desses fatura? É o mínimo para sua sobrevivência? E tem escravocratas que aplaudem, que exaltam e exclamam: “É melhor estar trabalhando do que está roubando”. Isso é uma desgraça infernal de um preconceito impregnado nessas pessoas. Quem raios é capaz de olhar para um jovem, humilde, e pensar que ele estaria roubando se não estivesse vendendo doces na rua? Quem raios de pessoas são capazes de achar normal uma criança ganhando R$ 10 por dia para sobreviver? Isso não pode ser normal. Há outros jovens, grupo bem menor, claro, que estão trabalhando formalmente ganhando 200 vezes mais sem contar os privilégios e benefícios. Por mais que o que ganha R$ 2000 por mês esteja infeliz e, o que ganha R$ 500 por mês esteja muito feliz, não esconde a injustiça a desigualdade social e o preconceito de uns e outros ao se depararem com este cenário. A miséria, a pobreza não são sinônimos de felicidade. A riqueza também não. Mas a injustiça social não pode ser perpetuada…
Boa noite!
Comentários
Postar um comentário