quinta-feira, 24 de maio de 2018

Por exemplo

O que dizer do sofrimento?
Muitos querem escondê-lo,
porquanto, explícito é.
Nada irá satisfazê-lo,
enquanto se carece de fé.
Será?
Portanto, qual seria o apelo,
se, se nadam contra a maré?
Por favor:
Fé, apelo ao Senhor?
Nada disso é labor.
Necessário é:
Amor.
E com o pé estar;
o chão que faz andar;
sentir o sabor;
da vida, do sangue...
Da flor.
Ciente de tudo:
Do pesar à alegria.
Sê cético, e razoável.
Mantenha-se,
sem festa ou louvor.
Entretanto, apenas uma coisa:
Vida sem dor.
Por quê?
Sofrimento, lamento e apelo:
É dor, é pavor.

sábado, 19 de maio de 2018

Soneto em dó maior

Tamanha saudades sinto de mim.
De épocas em que o céu me acalentava;
que, mesmo em terra, parecia que nele eu pisava;
quando em minha torre, a vastidão de um imenso jardim.


Hoje, só, sinto minha falta;
mergulhado estou, num momento de reflexão.
Com a baixa estima em alta,
algo segue contra qualquer comunhão.


Os pensamentos se colidem com o nada;
Ao fundo, Tchaikovsky flutua sem sentido;
sigo sem o eixo das abscissas e ordenadas.


Sinto-me como a um violino partido,
numa sinfonia bem orquestrada;
ou num pequeno soneto destruído.

sábado, 5 de maio de 2018

Hoje fui honesto

Rompi com a dissimulação.
Como é bom!
Dar um passo a frente,
sem olhar a direção;
seguir serenamente.
Sem medo das ruas,
das encruzilhadas;
do sinal fechado…
A mente turva?
Por hoje, não mais.
Seguir em frente ou fazer a curva?
Tanto faz...
Ser, vontade, pulsão.
Acabar com os filtros;
saber que o devir é mera ilusão.
O ser é.
Seu estado é bruto.
Não precisa acreditar, ter fé,
para depois ficar de luto.
Mudar-se para a sociedade;
transformar-se para si mesmo:
Um ato vil, de desonestidade,
o autêntico ser funesto.
Não preciso viver na vitrine;
não desejo me modelar.
O mundo é uma dada cabine,
qual eu pretendo estourar.
E muito grato,
não pretendo mudar.
E não vou por alguém caminhar;
atravessar os rios da vida.
Por mim sim. O farei.
Sou o autêntico veleiro.
No verão, ou no inverno;
sem a tentação ou algum padroeiro;
sem céu, nem inferno.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Hoje eu menti

À uma escultura não me declarei.
Nada fui capaz de dizer, eu sei,
o quanto ela é bonita, estática!
Espirituosa, maravilhosa, estética.
Devido a essa incapacidade eu menti.
A mim mesmo, enganei.
Disse então em tom de ilusão:
Não me declarei por um motivo;
um motivo fútil, bobo, sem noção.
Tramei uma escultura bruta;
indigna de qualquer exposição.
E passei a acreditar nesta burla.
Que pecado!
A loucura mora ao lado (ou dentro).
Não, melhor dizendo:
A loucura sou eu!
Me ludibriar, e achar salutar...
A que ponto cheguei?
Por que fingir?
Por que mentir?
Declarar-se é saudável,
é viver!
Neste mundo espúrio,
revolucionário é ser autêntico.
Porém hoje, só hoje,
eu menti.
Há veracidade em minha confissão,
pelo menos.
Mas a confusão, tenho em mente.
Amanhã mentirei novamente?
Serei sincero?
Não há uma resposta lúcida agora,
mas não mentir, espero.

domingo, 29 de abril de 2018

Sem nome

Infância;
uma época;
alegria.

Amadurecimento;
outra época;
melancolia.

A tristeza atual se deve a um passado magistral.
Visto que, quando criança, a tudo se detém;
dona do mundo, do céu, do Sol e das estrelas.
Porém não se discerne o que é perder;
não se sabe, que as coisas perecem;
nem possui o tato para as diversas mudanças.
Mas chega uma hora...
E a sensação é sempre de que algo fora arrancado.
Fica aquela saudade;
é sempre doloroso largar a inocência.

Infância;
uma época;
melancolia.

Amadurecimento;
outra época;
alegria?

Pode-se existir júbilo se há um passado mau?
Visto que, quando criança, nada se tem;
dona do mundo, do céu, do Sol e das estrelas?
De fato, sabe-se somente o que é perder;
não só, também, que todos perecem;
nem possui o tato para as diversas mudanças (óbvio).
Mas chega uma hora...
A sensação é sempre de nenhuma bem-aventurança.
Surge, então, um leve desapego (eis a questão):
É sempre doloroso largar a infância?

domingo, 22 de abril de 2018

Nietzsche, um soneto diante de tudo




Não preciso abrir os olhos para ver Nem para chegar tão cedo, correr A bruta consciência não sou eu O leve pensamento não é meu O que é que na verdade eu sou? O suave som que desliza pelo ar? O revolto rio que encontra o mar?
No tempo, a potência no apogeu Nenhum céu ditoso sobre mim paira Ou sob uma terra infausta piso Que a Terra suba ou que o céu caia O que é o bem, o que é o mal? Quem está acima de um ou de outro? Ninguém é mais digno por sua moral

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Sempre a essa hora



Sei que é noite porque está escuro
Sei que está silêncio porque não há barulho


O céu chora gotas de diamantes
O tempo suspira como dois amantes


Tudo se encontra estático
Parece o mundo estar inativo
Desde a uma criança sem brinquedo num pátio
A um apaixonado coração partido


“Eppur si muove”, sabemos Galileu
Porém, agora, nem se move uma folha
Será que o tempo morreu?
Ou nos encontramos dentro de uma bolha?


Essa quietude não amedronta
Nem a nada, também, ela anima
Não a considero como uma afronta
Tendo como prova esta rima

ATUALIZAÇÃO BETA v.5.7.0: AGORA MEUS ELETRODOMÉSTICOS SÃO PÓS-ESTRUTURALISTAS

Dizem, os pós-estruturalistas , que a linguagem constrói a realidade. Isso é ótimo, exceto nos dias em que eu preferiria que minha realidade...