terça-feira, 29 de agosto de 2017

A (re)negação

Após algumas leituras de autores como Fiodor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, tentei expor, no papel, É CLARO, algumas coisas que me impressionaram, alguns temas tratados por estes estudiosos, filósofos, de maneira tão normal.

O extremo, ou alguma coisa que simulasse a dor maior ou qualquer ameaça à vida não é nenhuma leitura agradável ou de se louvar. (Apesar de ainda eu entender coisas do tipo. Pois, para mim, arte não está empregada só em flores e céu azulados com lindo Sol, sorrisos e leveza).

De fato é muito estranho desejar a auto-destruição. O desejo de acabar consigo mesmo, ou com sua própria essência, é insano demais. Mas isso acontece e são atitudes que levam a outras ilustres pessoas a se dedicarem, às vezes, a vida toda, estudando tais atos a fim de elucidar a população, aos demais, e também tentar de uma forma diminuir isso. (Na verdade o homem quer sempre vencer a morte, quer burlá-la, tornar-se Deus. "Trágico, se não fosse cômico")

A morte, diga-se de passagem, poeticamente falando, nao é necessariamente dar cabo à vida material. Pode ser tratada de uma outra forma. Pode simbolizar outro aspecto, pode significar o fim para varias coisas abstratas também. Ou alguma coisa material na vida de alguém. Ou, até mesmo alguém de fato. Que é o mais lamentável. 
Sobre esse tratamento para com este fenômeno terrível para quem está vivo, muitos, alguns gênios, na verdade, o fazem através da música, da pintura, da dramaturgia, cinema, ou na própria TV, (e em horário nobre. Até ao vivo a morte é transmitida...)

Aqui tentei expor algo sem cabimento, alguma coisa inimaginável dentro de uma mente sã (ou não?). Assusta, mas... É a vida (ou a morte) e repito, muitos fazem-na, tratam-na, como arte. Vide os autores que citei acima.
Lamento trazer-vos esta obra tétrica, funesta...
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Aquela vontade de morrer...
Chega! Não aguento mais padecer
Sumir deste mundo salutar
Nunca mais aparecer

Doloroso será
ver a perfeita natureza de mim se afastar
O céu azul, o verde das matas
O mar, os rios
A fauna, a flora
Tudo onde o homem não pôs as mãos
Sentirei apenas por isso quando eu for embora

Eu sou a doença
Eu não tenho cura
Não adianta nenhuma crença
Nem nenhum ato de bravura

O alívio da melhora
A alegria que sucede a dor
Esforço não se requer para a cura
Não carece rezas ou simpatias
Tudo muda após a partida
Sozinho sem peso, sem culpa

Ninguém me contaminou
Ajudar alguns até tentaram
Sou o pior do que sobrou
O inútil que todos notaram

A invisibilidade impossível
É o sonho deste ser
Passar despercebido
Iluminado pela sombra
Escoado ao lugar mais calmo do mundo
No subsolo da Terra esse é o clima
Onde jaz apenas esculturas sobrepostas
Embelezando o cenário sete palmos acima

Não culpo a ninguém
O mundo é perfeito e belo
As pessoas o são também
Apenas crio para mim o inferno

Diversas tentativas, como num jogo viciante
Desde psicanálise, drogas, psicotrópicos
Até a Bíblia, guias e impecáveis roupas brancas
A derrocada é notória
Tal qual o ácido quando beija o estômago
Proveniente da latente alma inglória

Não consigo fazer nada
Desnecessário, não produzo, nulo causo
Uma vida desperdiçada
Viajante do caminho falso

Quando o espelho reflete a dor
Tudo ao redor se quebra, se despedaça como vidro
Mas continua intacto este objeto que a retrata
Eternizando a penosa imagem
Tão repulsiva quanto ratos e baratas

Não consigo mais me enganar
Nem a qualquer pessoa
A falsa vida há de acabar
Levada por uma pesada e lenta garoa

À uma formosa caminhada, difícil fica
O cérebro ganha peso de chumbo
O coração friamente se petrifica
O peito, no cais do báratro se ancora
A gravidade só puxa para baixo
Duas pernas apenas não resistem a essa natureza

Que angústia! Que dor horrorosa!
Os existencialistas estão certos:
A profunda ciência da vida torna-a penosa
E isto fez de mim o próprio dejeto

Na verdade, da vida não se deve achar um padrão
Deixar o caos tornar-se natural
Ser completamente idiota
Viver sem previsões, sem rotinas
Ser livre
Livre inclusive, para morrer
Despojar-se da dor, da inteligência letal
Deixar de viver, na verdade, é deixar de sofrer

Fatídico ser
Sou o coitado que sonha
No mundo real não se dá pra viver
Sentem por mim tamanha vergonha

Explorar é fantástico
A descoberta mais ainda
Mas análogo à Lua, existem dois lados
O iluminado, apreciável e o escuro, temível
Igual quando me conheci de verdade
Não foi brilhante, nem sequer legal
Foi melancólico, obscuro, triste realidade

Sem brilho, sem orgulho
O sangue mal corre minhas veias
Meu cérebro aturdido é um entulho
Valho menos que um grão de areia

Já passei da hora
Estou doido para ir embora
Não posso mesmo ficar aqui
Isso tem que ser agora

Troco a noite pelo dia
À madrugada, vida se possui abundantemente
É nela, ao menos, que sei que respiro
Que, vivo! Ouço meu coração pulsar
Me animam, estes fúteis eventos
Trocaria também isso tudo por um túmulo
Visto que ninguém iria incomodar a um sucumbido
Extinguir o silêncio, abortar a paz, daquele que jaz, seria o cúmulo

Que seja suave como uma brisa
Leve como uma pluma
A plataforma bem firme e lisa
Para que não haja dor nenhuma

O caminho para a glória é difícil é estreito
Logo, para a desgraça é livre, espaçoso
Não deveria haver sofrimento para se conseguir algo, qualquer coisa
Muito menos à felicidade
Caminhar por onde se quer eis a maior delas
Tudo o mais é incitação ao medo e à barbaridade

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Além do inferno de Dante

Queria que o inferno de Dante fosse real
Mas será que não é de fato?
(Assim como existe um céu chato)
Se ele realmente existe
Logo terá quem o visite
Eu sou humano
Humano é imperfeito
Humano cria e também mata
Mulheres e homens têm defeitos
Há arma de fogo, veneno e faca
Não matamos somente a nós mesmos
O abstrato também some em nossas mãos
Destrói-se tudo, até o que não existe

Temos o poder de mudar as coisas
A felicidade em tristeza
O quente em frieza
O oprimido em opressor
Transformamos também
A vida em morte
O lento em pressa
O amor em sorte
E vice-versa

Eu torço para que chegue um dia
E que transformemo-nos em diabo
No inferno sintamos o calor
o fedor, o horror, o revés ao nosso lado

A humanidade falhou, definitivamente
Única coisa a ser feita foi esquecida
Desde a sedução lançada pela serpente
Neste mundo, amar, parece obra de suicida

É difícil, penoso, gostar do próximo
Ter apreço e afeição é doloroso
É mais fácil matar, destruir, viver no ócio
A andar para frente como irmão atencioso

Humanos contra si mesmos
também contra os animais, a Terra
a água, o ar que respiramos:
O mundo sempre esteve em guerra

O inferno é logo ali, devemos fazer lá nossa morada
(Se o inferno já não for aqui neste mundo)
Pois a maldade aqui é alta e refinada
de deixar o diabo inútil, moribundo

Na verdade o inferno de Dante existe sim
E estamos vivendo nele
Somos parte dele
As flores nunca existiram
O Sol nunca brilhou
A Lua é uma imensa bola de gelo
A vida ideal na Terra, na verdade, nunca vingou

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Jazz



O ambiente sereno se torna
Ao suave som aprazível que domina
A mente voa madrugada afora
Apesar do frio a música é o clima

As madrugadas são as melhores
Ela produz um prazeroso silêncio profundo
O tenro sereno é quem me acolhe
Momento em que me desligo do mundo

Nessas noites sou mais atrativo
Apesar do meu coração cativo
Preso às platônicas paixões
Ainda assim sinto-me vivo

Nesta atmosfera não existe riqueza
Muito menos pobreza
Também não há vida, porque não há morte
Sublimemente há apenas uma natureza

Voando alto ou rés
Batendo asas ou com os pés
É inexplicável como um gosto musical
É atraente e sutil como música de Jazz

Algo que não se pode explicar
Muitos podem dizer que é Deus
Nota-se que é tão simples e peculiar
Tão real e próximo ao que é meu 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Com o temer...

O pavor venceu a esperança
O surto faz parte do improviso
O que será dos idosos e das crianças
Num mundo onde não há mais sorriso?

O que devemos temer?
A noite escura?
O novo amanhecer?
É depressão ou tudo frescura?

O que nos preocupa?
A ansiedade, a loucura?
Em quem pôr a culpa?
No vírus ou não remédio que não cura?


O verdadeiro malfeitor sorri
Nao conseguem achá-lo
O coração há de partir
A verdade escoa pelo ralo


Quem está preso é livre
E quem está na rua detento é
O primeiro sabe mais que o detetive
O segundo vive de correntes no pé


O individualismo no solo pisa firme
Esmaga povos e seus frutos
Nao é ficção, nem novela ou filme
É a triste realidade dos brutos


Não dê tiros, dê flores
Não grite, recite amores
Pense no próximo antes de ti
Evite gerar grandes dores

Pensemos assim antes de confirmar
Reflitamos antes de a "tecla verde" apertar
O que será, amanhã, de ti e de mim
Se o que tememos, passamos a votar?

sábado, 22 de julho de 2017

Pobre rico amor

Eu queria lhe dar tudo
Jóias, carros, iates, mansões
Por você morreria, mudaria o mundo
Mas nada posso além de algumas palavras e canções

Elas brilham mais que diamantes
Que o ouro valem muito mais
Eis o mais perfeitos dos amantes
Um pobre e sonhador rapaz

É como uma estrela o meu amor
Por ti irradia intensa luz e calor
Um brilho que vive mesmo após seu fim
Depois de anos e anos de esplendor

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Quando ele vem...


Quando vem, é de mansinho
Vem de longe, sem avisar
Tapando o Sol, redemoinhos
Está na hora do frio se instalar


Flocos de neve
Manto de nuvem, friagem
Dia cinza muito breve
Noite longa, sem estiagem


Do alto da montanha há uma prévia
Chega devagar, da o tom, anuncia
Mesmo a noite vê-se sua névoa
O frio traz sua fantasia


O frio, a chuva, esse clima
Gotas na janela, alta umidade
A serra manda o recado lá de cima
Banhando de prata toda a cidade


No inverno nada pode ser diferente
A temperatura cai carentes ficamos
Ansiamos sempre por um corpo quente
Que esta estação perdure por anos e anos

domingo, 16 de julho de 2017

A plenos pulmões, em plena madrugada



O que é uma madrugada silenciosa, leve, fresca e com um único e solitário canto de um bem-te-vi?
Sim, o pássaro, ou não dorme, ou acorda em plena madrugada e seu canto de longe há de se ouvir

O céu é de inverno, porém estrelado e com uma iluminada Lua cheia
Sua luz, que bate na terra fresca, na grama úmida, brilha no asfalto e às mentes mais loucas, clareia

Uma madrugada tão singular
Uma pena (ou muitas penas) ela tão pouco durar

Mas as madrugadas se repetem
Há nas folhas, orvalhos onde as mesmas luzes refletem

As estrelas são as mesmas, o céu e também a Lua
Toda terra fresca, a grama úmida, a paisagem, a rua

Nada muda, é tudo um ciclo
Desde o mais sensato ao mais ridículo

São assim as madrugadas
Feitas para chorar ou para rir
Na cama, corpo coberto e cabeça deitada
Sejam em silêncio ou com o canto do bem-te-vi

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...