Cadê você?
Byung-Chul Han: “O celular é um instrumento de dominação. Age como um rosário”
“Filósofo sul-coreano, uma das estrelas do pensamento atual, se aprofunda em sua cruzada contra os ‘smartphones’. Acredita que se transformaram em uma ferramenta de subjugação digital que cria viciados. Em uma entrevista exclusiva ao EL PAÍS, Han afirma que é preciso domar o capitalismo, humanizá-lo”.
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Já dizia David Hume, filósofo escocês do século 18: “O homem é um ser racional e, como tal, recebe da ciência seu adequado alimento e nutrição”. Porque o homem é, além de racional, ativo; afetivo, sociável. E Hume diz mais, “‘Satisfaz tua paixão pela ciência’, diz ela, ‘mas cuida para que essa seja uma ciência humana, com direta relevância para a prática e a vida social’”. As citações estão em sua obra, Investigação sobre o Entendimento Humano. UNESP. 2004. O contexto se refere às diversas ciências que estavam brotando no seu tempo, umas bem claras e objetivas – com o advento do iluminismo -, outras obscuras e nada benéficas ao homem – tratadas como supersticiosas, abstrusas. No entanto, e hoje? O que nos afeta de modo prejudicial e o que nos traz progresso?
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Em tempos de TikTok, Kwai, Snapchat, Facebook, Instagram, a obsessão por si mesmo faz com que não existam mais o “próximo”, o vizinho, o amigo, o outro. “Os outros”, na verdade, se tornaram apenas Dados, Informações, uma conexão estabelecida, um usuário online. E assim o somos também para o outro, e para o outro, e para o outro… Essa é a Rede.
Com isso, o mundo, a realidade que nos cerca, não passa de um reflexo de nós mesmos. Porque, não existe o próximo, ou alguém vivo e real que emite sons, imagens da mesma forma; bem como emoções reais e vivas, na via de mão dupla que chama afeto. Não afetamos, não somos afetados. Não há mais relações. Há somente alguém isolado, absorto em seus próprios pensamentos e apreensões virtuais.
Por isso, só existimos nós mesmos: ilhados, sozinhos diante de nossas lisas telas de caríssimos (em duplo sentido) smartphones. Tudo o que aprendemos – cada um em sua bolha exclusiva – são, nada mais, que o labor de nossas mentes que captam e interpretam tudo o que está do outro lado de uma outra telinha: geralmente não sincronizado; geralmente irreal; falso (fake). O que tempos diante de nós é um monte de coisas inexistentes, produzidas para nada, em meio ao nada: o virtual.
Portanto, onde se encontra, hoje, o contato íntimo, o cotidiano, o erotismo, o romance, a socialização ao vivo e à cores? As diversas horas conversando com amigos e família, se entretendo… Cadê? Ora vendo e sendo vistos, ora tocando e sendo tocados – mas sem nenhuma “AMOLED” transmitindo algum MP4, MPEG, GIF, MP3; sem nenhum filtro ou likes, views… Não! Não precisamos de nada entremeando nossas relações. Entre um indivíduo e outro, deve-se ter ar e não vidro.
Enfim, cadê “nós”? Cadê os seres humanos – antes dos filtros, das máscaras, de tantas identidades e maquiagens virtuais que estão em criação atualmente? Como nos comunicamos, como sentimos afeto, como amamos, nos dias atuais? Dias onde nos encontramos afogados em Nada, através dos Dados, da Alta Tecnologia, do Virtual. Cadê o ser humano?
Observações. (i) Não que eu seja completamente contra o avanço tecnológico, contra toda a Tecnologia da Informação ou a Internet, não é o caso. Porém, a forma como aproveitamos essas coisas, a forma como usufruímos-na, além de os benefícios que, talvez, estejamos disperdiçando com tudo o que nos cerca, de tecnológico, isso é o que está deixando a desejar, está muito banalizado. (ii) Além do mais, há a crítica do Byung, contra o mercado, contra o capitalismo. Porque, mesmo que estejamos alimentando os nossos próprios carrascos, digo das empresas/ indústrias do ramo e, com isso, fazendo a economia girar, o capital circular – que é muito bom por sinal -, estamos, também, é nos envenenando na mesma proporção. (iii) Deveríamos pensar numa “dieta” para consumir a tecnologia, a Internet? Quais atitudes tomarmos, visto que nossa saúde é, nototiamente, afetada por esses produtos todos? Por outro lado, em se evitar o consumo dos produtos tecnológicos, por exemplo, qual impacto na vida do mercado financeiro tais atutides trariam? Isso, com certeza, iria refletir também na nossa vida, quer queiramos ou não. Iríamos, com esse jejum, definhar, perecer. (iv) Então, como resolver esse, vamos dizer, impasse
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