sábado, 20 de julho de 2019

Não basta ouvir-te a ti mesmo




O céu é testemunha 
dos passos que o homem deu na terra
Como os ventos que vêm do horizonte
percorreu litorais, desertos e montanhas
Soprando a quente brisa
Anunciando a chegada do Sol
Aquele que a tudo ilumina
caminhos, destinos e pensamentos

Sempre em busca de algo
oh pequeno humano...
Sempre a tudo questionando
Porém não sabe o que quer

Não sabe por onde começar
Mal tem uma pergunta formulada
E já quer da grande voz da vida
uma resposta determinada

Tais respostas surgirão, sim
Mas quando a vida realmente for vivida
Isso pode custar tempo, ou não
Basta um ouvir especial

Não somente ouvir a si
nem ao que lhe convém
Precisa-se de uma sensibilidade
Um estado de ser que vá além

O homem precisa ser tudo
Ser todos, sentir a diversidade
Sentir a tenra idade
Pressentir a novidade

Ser todos os sexos
Decifrar todo o complexo
Possuir todos os sentidos
E desfazer-se por completo

Viver na Terra com a cabeça no céu
Elevar-se quando preciso
É estar no céu inerte
Mas atento aos caminhos terrestres

As pegadas são deixadas
Os caminhos da vida marcados
Porém elas são apagadas
Seja por virtudes ou por pecados

O tempo há de a tudo corrigir
O Sol irá se pôr e a Lua surgir
É assim desde o início, homem
Acalma-te as respostas irão fluir

sexta-feira, 19 de julho de 2019

ATO I - Larghetto




Um velho moribundo
Num quarto simples
Isolado do mundo
Pobre ao lamento
Paredes cinzentas-amareladas:
Dado a ação do tempo
Mais as velas iluminadas

Ao lado do inquieto homem
Uma escrivaninha rústica
Sobre ela, A divina comédia
Um copo d’água e um terço

O sofrimento, a dor
Desconforto, pavor
Porém lúcido, pobre velho
À espera da barca
Anseia sua chegada
Sua partida
Sua vida ir embora
Mundo afora
Uma viagem prometida
Ao eterno, ao nada…

Ao longe rasgando o ar
Nuvens se abrindo
O clima a esfriar
Se configura um violino
Inconfundíveis cordas
Suavemente atiçadas por crinas
Doce som, do fino aço
À velha madeira ecoar
Tocando em larghetto
Em perfeita harmonia
Com as batidas do coração
do senhor acamado - já em atenção

Ritmo solene
Respeitando a ocasião
Não um qualquer, se aproxima
Alegremente se adentra
Não somente no rústico quarto
Mas na animosidade do idoso
Executando uma reconfortante obra
O diabo sorri e continua...

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A música sem vida ou a vida sem música?

Sabe aquela música que você ouve desde criança?
Que, já nas primeiras melodias, te remete a tão maravilhosas sensações; lembranças ou sonhos em lugares esplêndidos; pessoas maravilhosas momentos fascinantes, sabe?
Pois é! Hoje esta mesma música já não faz mais sentido. Não traz mais essas memórias, ou esses acalentadores pensamentos.
Note, no dia em que a música que lhe apraz não mais fizer sentido;
não lhe inspirar e, pior, angústia trouxer...
Saiba que é o anúncio do perigo.
Talvez a chegada da hora. 
Pois, tem música que serve como termômetro em nossas vidas:
Medem o nosso humor, as nossas emoções e até pretensões.
Percebemos que algo de bom se foi em nossa vida, quando essa música tocada não nos toca mais.
Ela soa como um disparo e nos acerta como um tiro letal.
Não sei o que é pior: se é perder um amigo ou o tesão pela música favorita; se é desgostar de um grande amor ou se o amor pela grande música da tua vida, vem a perecer...
Tudo pode vir a acontecer, tudo se é contornável.
Contudo, não o dissabor pela música tema da vida; a melodia principal, a trilha sonora que vibra no íntimo da alma.
Antes surdo do que em perfeita audição; antes moribundo a ter que, a música da tua vida ouvir e, por ela, nada sentir.
E o medo de ouvi-la novamente e estar ciente de que nada de bom se lembrará e que nada de prazeroso sentirá.
Somente dor e desespero 
Isso é triste e devastador...
Portanto evitá-la é o melhor dos prazeres.
Um prazer horrível, eu sei, porque a consciência de que o pior está por vir é iminente.
Quando a música não faz mais sentido, é porque a vida já não tem mais valor.
Pobre daquele, que não tem olhos para admirar, boca para cantar e ouvidos para sonhar. 
O que só se ouve, no entanto, são explosões.
Todas geradas por um interno conflito.
Uma guerra travada por dois exércitos,
sob o comando de um só general.
Em ritmo marcado, em meio aos gritos desesperados, eis o fim da batalha.
Bem como também o da bela música.
Então, nada mais resta:
é a hora do eterno silêncio chegar e desta vida partir.



Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...