Eu torno a vida muito complicada...



Na psicanálise, em consulta, recebi um choque de realidade. Esse confronto, que tive de mim mesmo, do meu “eu” para comigo, foi tão grande, que, ao descobrir que EU era o “problema” (e ainda o sou) fiquei mais deprimido que no primeiro dia. Ou seja, fui me tratar e fiquei mais doente. O que pensar de um remédio que, ao invés de curar, adoece? Contudo, a vida segue. Mas a consulta, deixou-me um legado: a ciência do pessimismo. É uma dialética entre favorável x desfavorável. As vezes é bom ser otimista. Sim, só às vezes. Porque, quando o pessimismo está com a razão, e o otimismo cai… É uma queda violenta e dolorosa! Dói mais que a “pancada” advinda da frustração, quando se descobre que se é pessimista. Prefiro ser feliz e pessimista a ser um otimista iludido, cheio de dores. Quase nunca o otimismo é o guião da minha vida. Basta seguí-lo para me frustrar. Por isso, para qualquer situação, “entro logo com pé atrás”. Desconfiado. Visto que, otimismo demais, o mundo conspira contra. Digo isso, pois algo não gosta de mim nesse mundo e só de raiva, – ou por pura diversão – ele me contraria e acaba com minhas esperanças, dando razão ao avesso, sendo contra tudo o que eu possa imaginar. Então tenho tipo uma superstição às avessas: se eu pensar que tudo vai dar certo, dá o contrário. Assim, inteligentemente, eu penso o contrário a fim de conseguir um resultado até certo ponto, positivo, agradável, próspero e, também, que me satisfaça nesse conflito diário. E assim sigo em frente, um passo de cada vez. Às vezes, dois passos para trás e um bem cauteloso à frente.
Um bom exemplo que posso dar aqui é que quando essa tempestade paira por sobre minha alma acontece algumas coisas tão incríveis! Tipo, eu nunca sou visto. Sou uma pessoa pacata, discreta e simples. Às vezes até demais. Simplicidade não atrai a ninguém neste mundo em que vivemos. As pessoas buscam o luxo, o belo, o reluzente, a visibilidade, ter, ostentar e tudo o que há de mais fútil. Devido a isso, com meus modos, meu sistema de vida, quase que subterrânea, passo batido. (Óbvio!). Sem olhares atentos ou coisa qualquer. Por mais que eu queira, deseje muito, citando exemplos: uma conversa legal, conhecer alguém, uma paquera, atenção… Nada acontece. Nem um sinal sequer! Um fantasma, sou. Muitos dizem: “Ah, tome atitude! Você tem que se permitir. Saia da toca!”. Ok! Me dou por vencido e o otimismo desperta. Sigo os planos dessas caridosas almas, e… Nada! É só derrota.
Entretanto, nos dias em que desejo visitar infinitamente o inferno, aqueles que minha âncora abarca, que tento me transferir àquelas terras inférteis de solos pútridos, acontece a surrealidade: eu recebo milhares de sorrisos, cantadas; pessoas puxam conversa; olhares que brilham feito estrelas; rosas desabrocham quando passo, exalam perfumes. Encontro todo tipo de charme e almas interessadas, surge sempre algum contato. Ah! Carinho, atenção e compreensão, também… Eventualmente, nos períodos obscuros de minha consciência e da minha própria vida, surgem pessoas para me oferecerem empregos, algum tipo de caridade, para iniciar um romance, e todo tipo de sortilégio. Mas, relembrando o segundo parágrafo quanto a isso tudo, seria como contradizer-me, em respeito a “conspiração do mundo contra mim”. Então, o que quero dizer, neste caso, é o seguinte: o mundo sorri para mim quando estou péssimo e não quando estou com certa dose de otimismo. Logo, seguindo o raciocínio, quando há otimismo, há desgraça; quando não, graça. Provavelmente o mundo está de palhaçada comigo. Deve ser bem hilário para ele quando me vê com um sorriso sincero, largo, com a áurea resplandescente, bem aparentado, bem vestido, perfumado, com a auto estima lá no céu. O que ele, (mundo) faz? Produz o revés. E ri de mim. Tudo bem, não me importo mais… Mentira… Fico puto sim. Até “par ou ímpar” no espelho dá derrota pra mim.
***
Já na segunda consulta psicanalítica choquei-me mais ainda. E parece ter-me despertado uma nova consciência, um novo eruditismo! (Ou, na verdade, apedeutismo). Desse ponto entrarei em um assunto embolado, (tão escroto que nem sei como consegui pensar tanto esta merda): Pois bem, saí da consulta com sentimentos e reflexões de coisas como: Por que é que eu existo? Por que eu “sou”? Sei que todo mundo estuda o fenômeno da morte, todos falam sobre a morte. Religiões, Filosofia, toda essa sabedoria e/ou ciência existem por causa da morte. Mas ninguém quer saber do propósito da existência, do nascer, o devir. “Por que eu sou”? Fala-se muito pouco sobre isso, o que antecede à vida, a causa, o que gera a vida, – não material –  mas o sentimento, o propósito, a natureza do ser. Poucos, senão ninguém, fala do porquê da existência, do que nos levou a existir de fato.
A priori, religiões de cunho espiritualistas podem até elucidar o porquê de existirmos agora, mas explicam nossa atualidade justificando-a a um pretérito. Mas se “voltarmos a fita” até a primeira existência, como explicaremos uma existência anterior? O que aconteceu antes do nosso primeiro instante? Nada? Tudo tem um começo, ok? Portanto, antes desse começo o que havia? Nós podemos ter tido um milhão de vidas passadas, reencarnações, segundo o espiritismo kardecista, ou até mesmo crenças budistas, mas se voltarmos tudo até a primeira vez, até o primeiro milésimo de segundo do primoroso dia em que passamos a existir? Poderíamos ter uma conclusão ou, uma resposta, do que éramos antes disso? Não éramos nada? Se não, assim sendo, pergunto: sempre existimos? Somos eternos?

Primeiramente, há milhões de explicações para a morte. Todos falam sobre a morte, sobre a vida após ela, sobre o além-túmulo, ressurreição, reencarnação, vida no inferno, vida no céu… Tudo isso após a morte. Isto é, tudo isso após uma vida encarnada, que, uma dia perece. Mas e o antes dessa vida? O que dizer do motivo do nosso nascimento? O que pensar sobre existir ou, qual o propósito da nossa existência primeira? Por certo, o espiritualismo diz que reencarnamos porque devemos ter uma vida de provas e expiações; que devemos concluir uma coisa a que prometemos no plano espiritual; missão ou algum débito. Mas antes de prometer, antes de termos realizado alguma coisa, no passado, antes de ficarmos devendo algo, antes de existir para ter plantado e colhido a isso tudo, já pré-existíamos? Ou seja, contraímos dívidas desde a nossa primeira chegada? Suponhamos que sim. Mas antes dela, o que fazíamos, o que éramos? Seres adormecidos? Se dormíamos, éramos, logo, éramos alguma coisa. Caso contrário… 

Segundo, sobre essa resposta sobre o “nada” é que devemos nos atentar. Se nada éramos, por qual motivo “virmos a ser”? Por qual propósito passamos a nos tornar algo? Assim… Simplesmente passamos a existir!? Do nada! Por quê? Certamente, é interessante pensarmos não no fim, mas no começo. Ou, mais ainda: antes do começo. No nada. (Mas não se pensa no nada, rapaz!). Porém, seria de suma importância saber quem ou o que nos deu início. Ou o nada agora possui atributos para criar vida? Se o nada cria, o nada também destrói. E destruição nos remete ao efeito à alguma causa. Portanto o nada é, existe. Isso seria um contrassenso.
***
Alguns seres viventes, têm ciência de que são, respondem ao meio, possuem sensibilidade e etc. Já os animais racionais são os únicos a saberem que morrem. Nós, seres humanos, somos os únicos que evoluímos (nem parece) e a cada dia adquirimos conhecimento, saber. A inteligência é obtida em nosso curso de vida e arrisco a dizer, cada dia melhor do que outrora. Então, pensemos: nada disso existia antes de nos tornarmos algo, de sermos criados. E nessa não-existência, quem foi o canalha que nos criou? Nos pôs a uma rotina doentia, um curso a ser seguido cheio de entraves, desgraças e incertezas? Eu iria achar o termo “vida” diferente e coerente se, somente houvesse a plenitude. Mas não. Existem anomalias, falhas, doenças e infortúnios. E se nos criaram sem a nossa compreensão, sem o nosso “aval”? Poderíamos reclamar a nossa existência!? Mas, estranho! Como iríamos reclamar sobre algo, se não existíamos? Ou reclamar de algo que nuca existiu? Mas salvo essa situação, já depois de possuir vida - ter nascido, crescido, evoluído... - o que nos fez e o que nos mantém presos aqui a ponto de não querer largar esta vida? E por fim, realmente, se nos criaram não nos deram nem a opção de escolha. Crueldade!
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Alguns têm ciência de que depois da morte existe continuidade, a nossa consciência permanece viva. Outros não têm essa ideia do ser infinito. Algumas vertentes religiosas pregam que a vida continua sim, mas elas estarão fadadas ao sucesso ou ao fracasso dependendo da vida atual. Bonito! O ser humano após sua morte, poderá desfrutar de infinitos dias, no céu ou no inferno. Ou seja, alguns ainda têm a “sensibilidade” de prever o eterno futuro… Apontam seus dedos para seus próximos, julgando-os, cheios de falsos moralismos e pregações irracionais.

Vejamos uma coisa então... Supondo que haja vida após a morte e, que a vida não tenha fim, – pensando ainda como os espiritualistas - pergunto: a vida teve um começo? Supondo que sim, volto a perguntar: quem disse que eu quis existir? Quem achou que podia me fazer a seu modo, me tornar algo, me criar? Será que eu existo contra própria vontade? Muitos irão dizer que não. “Toda a vida é criação de Deus, Ele assim o quis; ou, se tu és, então foi porque quiseste e etc…” Porém indago à essa nossa criação aos céus: por que Tu, oh Criador, me criaste? Não foi por mérito. Fato! Porque antes de todos nós existirmos, nada existia, éramos todos iguais. Ou melhor, nem éramos. Não existíamos. Logo, não havia comparativos, nem melhores, nem piores. E creio, a escolha não ter sido aleatória… É o que costumo refletir: “Bem aventurado aquele que não foi criado. Louvemos o nada! O nada não sofre, não morre, não mata, não fica doente…” Mas infelizmente, uma coisa é certa e empírica: nós somos, ponto final. Só que a questão é: por que passamos a existir? A quê, passamos a viver? Há respostas? Claro! Por exemplo, a que nós fomos criados para evoluir. Mas reafirmo: para que evoluirmos se nós viemos do nada antes de nascer e - seguindo este raciocínio - iremos para o nada após a morte? Isso não tem muita lógica no caso de a vida ser finita. Pense! “Surgir do nada e seguir um processo de evolução para um dia se findar, voltar a ser nada novamente, não mais existir em essência?”. Tá bom, você insiste, a vida é eterna, ok! Então viemos do nada e passamos por um processo de evolução, de perfeição, por toda eternidade, tudo bem. Tipo assim, qual o intuito de ser perfeito eternamente? Isso não teria fim… Por que ser um eterno perfeito, um perfeito eterno? Perfeição é bom, é salutar, mas não tem sentido essa “perfeição” “evoluir” eternamente. Sempre haverá algo mais perfeito do que se já é, – a não ser que a vida tenha um fim. A perfeição então não nunca seria alcançada de fato: se eternamente tentamos buscá-la, por mais perfeitos que sejamos, sempre haverá uma perfeição maior e melhor. No que daria a outra coisa sem fim. Logo, a vida não tem fim, se partimos desse princípio? …

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