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Ya zhenshchina, ou seja, Eu sou uma mulher.

Instalei um aplicativo, desses de aprender idiomas, pois preciso aprender a língua cirílica o mais breve possível. Tendo em vista uma excelente oportunidade de trabalho como adestrador de ursos, na Sibéria, é deveras urgente. Peguei meu celular, pus meu fone nos ouvidos e fui praticando. Básicos exercícios (quem já usou sabe como é): “Ele é da Rússia”, “Eu falo russo”, “Ela trabalha em Moscou”, etc. Ainda nas escadas do prédio, surge uma tradução a ser realizada via gravação de voz: “Eu sou uma mulher”. O app retornou com uma mensagem: “não foi possível detectar o áudio, aperte ‘aqui’ e envie novamente”. Tudo bem, vamos nós: “Eu sou uma mulher” - retumbantemente efusivo. Atrás de mim ouço voz, risadas. Tirei o fone dos ouvidos e me virei. Era o casal vizinho. “Cara, que palhaçada é essa? Virou mulherzinha agora? Porque eu não vejo nada aí; cadê os peitinhos, tem vagina agora?” “Fala sério! Esse pessoal da esquerda invertendo valores, fazendo do mundo que Deus nos deu um verda

Porre Nº 5 (acho que perdi a conta)

HOJE cedo saí de casa, atravessei a rua e fui comprar pão. Fi-lo rapidamente. Contudo, ao chegar em casa esquentei a água, pus a mesa e vi que não tinha manteiga e nem café (apesar de eu odiar café. E, também, cá entre nós: comer pão sem manteiga é pior do que sexo com bonecas infláveis). Então voltei à padaria para comprar o que faltava para o meu café da manhã.  Estava saindo pão fresquinho e fui tentado a comprar mais. Percebi que a fila do pão estava enorme. Nela estavam: uma barriga, com bastante tecido adiposo; uma salsicha, tomando guaravita; muitas crianças, parecia dia de São Cosme e Damião; um playboy, que se sentia na fila da entrada vip da boate. E, por fim, o próprio dono da padaria. Isso não é uma imensa fila, mas a quantidade de criança era desesperadora.  Comecei a ficar impaciente, pois o tempo passava e o meu sagrado café tardava em sair. A barriga perguntou aos berros quem ia servir o pão, pois via-se que não tinha nenhum atendente na padaria. O padeiro, obv

Não basta ouvir-te a ti mesmo

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O céu é testemunha  dos passos que o homem deu na terra Como os ventos que vêm do horizonte percorreu litorais, desertos e montanhas Soprando a quente brisa Anunciando a chegada do Sol Aquele que a tudo ilumina caminhos, destinos e pensamentos Sempre em busca de algo oh pequeno humano... Sempre a tudo questionando Porém não sabe o que quer Não sabe por onde começar Mal tem uma pergunta formulada E já quer da grande voz da vida uma resposta determinada Tais respostas surgirão, sim Mas quando a vida realmente for vivida Isso pode custar tempo, ou não Basta um ouvir especial Não somente ouvir a si nem ao que lhe convém Precisa-se de uma sensibilidade Um estado de ser que vá além O homem precisa ser tudo Ser todos, sentir a diversidade Sentir a tenra idade Pressentir a novidade Ser todos os sexos Decifrar todo o complexo Possuir todos os sentidos E desfazer-se por completo Viver na Terra com a cabeça no céu Elevar-se quando preciso É estar no céu inerte Mas atento aos caminhos terr

ATO I - Larghetto

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Um velho moribundo Num quarto simples Isolado do mundo Pobre ao lamento Paredes cinzenta-amareladas: Dado a ação do tempo Mais as velas iluminadas Ao lado do inquieto homem Uma escrivaninha rústica Sobre ela, A divina comédia Um copo d’água e um terço O sofrimento, a dor Desconforto, pavor Porém lúcido, pobre velho À espera da barca Anseia sua chegada Sua partida Sua vida ir embora Mundo afora Uma viagem prometida Ao eterno, ao nada… Ao longe rasgando o ar Nuvens se abrindo O clima a esfriar Se configura um violino Inconfundíveis cordas Suavemente atiçadas por crinas Doce som, do fino aço À velha madeira ecoar Tocando em larghetto Em perfeita harmonia Com as batidas do coração do senhor acamado - já em atenção Ritmo solene Respeitando a ocasião Não um qualquer, se aproxima Alegremente se adentra Não somente no rústico quarto Mas na animosidade do idoso Executando uma reconfortante obra O diabo sorri e continua...

A música sem vida ou a vida sem música?

Sabe aquela música que você ouve desde criança? Que, já nas primeiras melodias, te remete a tão maravilhosas sensações; lembranças ou sonhos em lugares esplêndidos; pessoas maravilhosas momentos fascinantes, sabe? Pois é! Hoje esta mesma música já não faz mais sentido. Não traz mais essas memórias, ou esses acalentadores pensamentos. Note, no dia em que a música que lhe apraz não mais fizer sentido; não lhe inspirar e, pior, angústia trouxer... Saiba que é o anúncio do perigo. Talvez a chegada da hora.  Pois, tem música que serve como termômetro em nossas vidas: Medem o nosso humor, as nossas emoções e até pretensões. Percebemos que algo de bom se foi em nossa vida, quando essa música tocada não nos toca mais. Ela soa como um disparo e nos acerta como um tiro letal. Não sei o que é pior: se é perder um amigo ou o tesão pela música favorita; se é desgostar de um grande amor ou se o amor pela grande música da tua vida, vem a perecer... Tudo pode vir a acontecer,

Corpus Christi

Boa intenção, caridade Respeito, gesto fraterno Alegria e amabilidade Isso tudo há no inferno Pensamos no mal e no bem Esquecemo-nos do primeiro De atitudes que vão além Se o bem mudasse algo Do Senhor viveríamos ao lado Porém nem fingindo inocência Dor, ou qualquer amor Não conseguimos enganar: Primeiro, a nós mesmos Segundo, ao Criador Terceiro, por fim, o destruidor Não se engana a Deus, nem ao diabo! Ser humano imundo, coitado Verme consumidor Onde pisa corrói, distorce Juntos, sociedade Unidos, atrocidades Mentiras viram verdades As verdades, de fato, são escondidas em atos Ato falho E o desejo inato De corromper-se Deixar-se levar facilmente Lutando uns contra os outros Contra vizinhos, parentes Por terra, lama, lixo Grama, grana, luxo Ser humano… Verme, praga, câncer… Doença maligna Imune a cura É falha qualquer tentativa Solução falida Nem com intervenção divina Porque o inferno é aqui Deus

O inverno não tira férias

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O uivar dos ventos chega a ensurdecer É frio, e este atravessa os limites do corpo Tocam as folhas, arrancando-as dos galhos Violenta tempestade, esconderá o amanhecer Parece não ter fim o sopro voraz da natureza Também não anseio o alvorecer, A luz… Um novo amanhã não basta Prefiro a noite calma, a silenciosa madrugada Esta torna melhor os meus sentidos Em meio à escuridão, acende a chama interior e manifesta A tudo ouço e vejo, mesmo o coração partido Milhões de sensações vão além Lembranças explodem, melhores até de quando as vivi Elas vão e vem, como o vento e as folhas esvoaçadas Da rústica janela de minha casa a tudo aprecio Ora com medo, ora com bravura Ainda não tão escuro, à luz da Lua Brota a síntese destes opostos Esta loucura ante a um belo quadro natural Vivo, surreal, do qual me encanto, me espanto E não me canso de olhar Horas que não passam, perduram Semelhantes a um emocionante longa metragem Que a gente torce para qu