sábado, 27 de maio de 2023

Ferro de Madeira

 


“Para mim não faz diferença que o tipo de homem mais míope, talvez mais honesto, certamente mais ruidoso que hoje existe, nossos caros socialistas, pense, espere, sonhe, principalmente grite e escreva mais ou menos o contrário; pois o seu lema para o futuro, SOCIEDADE LIVRE, já pode ser lido em todos os muros e mesas. Sociedade livre? Sim! Sim! Mas sabem os senhores com o que ela é feita? Com FERRO DE MADEIRA! Com o famoso ferro de madeira! E nem sequer de madeira…”. (Nietzsche, A gaia ciência, §356, trad. Paulo César de Souza, São Paulo, Companhia das letras, 2001).

 

O termo "FERRO DE MADEIRA" foi a expressão usada por Nietzsche para se referir a algo que parece sólido, forte e confiável, mas que na verdade é fraco e pode se desfazer facilmente. Em outras obras ele usa o termo "pés de barro" - como na Gaia Ciência e, salvo engano, no Crepúsculo dos Ídolos - como mesmo sentido. 
No entanto, no trecho citado acima, Nietzsche usa a expressão para criticar a noção de sociedade livre, afirmando que ela é feita de uma falsa liberdade, ou seja, de uma ilusão que se desfaz facilmente. (Logo, percebe-se que não há liberdade alguma). 
A leitura das obras de Nietzsche é complexa e toca em questões profundas. Para compreender suas ideias, é necessário entender o contexto em que foram escritas e compreender suas críticas feitas em sua época. Apesar de ser um pensamento provocador e chocante, é fundamentado e tem um certo fundo de verdade. Nietzsche escreveu seus textos de maturidade enquanto estava doente, mas sua lucidez é notável e cabível nos dias atuais. Suas críticas podem deixar o leitor mais revoltado, seja com ele ou com seus algozes. Em resumo, CUIDADO! Nietzsche é um filósofo que pode machucar.

Rede da Vontade


 

A vontade move toda uma rede interconectada que também nos impulsiona. Cada nó representa uma singularidade ligada a outras através de conexões simbolizando interações e afetos mútuos. Essas conexões podem ser de dependência, competição, cooperação, entre outras.


A Rede da Vontade está constantemente em fluxo, com os nós se movendo e se rearranjando à medida que os desejos e impulsos singulares são afetados. Os nós podem representar desejos específicos, como a fome, a sede, o desejo sexual, a busca por poder ou qualquer outra motivação que impulsiona os seres vivos.

Ademais, a Rede de Vontade é caracterizada pela cegueira e irracionalidade. Os nós e as conexões não possuem uma compreensão consciente das implicações de suas ações. Eles simplesmente respondem aos impulsos e desejos que emergem, buscando atender às suas necessidades imediatas, sem racionalizar.

Essa Rede faz emergir comportamentos tanto conflituosos como afetivos. Por um lado, os nós singulares competem por recursos, buscam vantagens e podem afetar fortemente a outros para atingir seus objetivos; por outro lado, as conexões na rede permitem formas de cooperação e interdependência. Os conflitos refletem a cegueira e irracionalidade subjacentes à vontade, e também podem levar à busca de objetivos comuns. Essa cooperação resulta em uma estrutura mais complexa da rede da vontade, com nós especializados e troca de recursos entre eles.

Assim como na Teoria da Complexidade, a Rede da Vontade é dinâmica e adaptativa. Os nós e as conexões estão em constante mudança, respondendo às influências do ambiente e às interações singulares entre si. Essa dinâmica pode levar o emergir de padrões complexos, onde ações individuais se combinam para formar fenômenos coletivos imprevisíveis, o caos - não confundir com desordem ou aleatoriedade.

Portanto, a Rede da Vontade, como uma força cega e irracional, destaca a natureza complexa e imprevisível dos impulsos e desejos que a tudo co-move. Através das conexões e seus afetos, emergem realidades tumultuadas, onde singularidades buscam satisfazer seus desejos de forma inconsciente e sem a noção de uma finalidade ou do todo absoluto. 

@silumatias

quinta-feira, 30 de março de 2023

Saudade





A saudade é sofrimento,
sentimento bem amargo,
De um súbito afastamento,
ou apenas um embargo.

A saudade é um paradoxo,
um misto de dor e alegria,
nos faz lembrar do que foi vivido,
e daquele que se foi um dia.

É um sentimento complexo,
que mexe com nossa emoção,
às vezes traz alívio,
outras, solidão.

Embora haja sofrimento,
há beleza na saudade,
nos lembra do que é importante,
e nos faz buscar a felicidade.

Então, abrace a saudade,
e deixe-a te guiar,
pois ela é parte da vida,
e pode nos ajudar a continuar.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Porre 2023: Escolas de Samba, meu Carnaval


"Nos confins do submundo onde não existe inverno/ Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno/ Atiçou o cão cá-trás, fez furdunço/ E Satanás expulsou ele do Inferno
O jagunço implorou lugar no Céu/ Toda santaria se fez de bedel/ Cabra-macho excomungado de tocaia no balão/ Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação [...] Eis o destino do valente Lampião"


Parabéns GRES Imperatriz Leopoldinense! 🇳🇬🏆🎉🎊 .

Festa em Ramos, Olaria e adjacências. Depois do jejum de 22 anos a Imperatriz volta ao topo. Sempre luxuosa, exuberante, pompas dignas de uma imperatriz realmente.

Que Samba, que Enredo! Que desfile! Fantasias e alegorias impecáveis! Comissão de frente uma das mais belas também (embora este ano veio nivelado por baixo heim. Quase nenhuma apresentou-se bem neste quesito - além de quase todos os outros - devido às muitas notas com perdas de 2 décimos em grande parte).

O carnavalesco Leandro Vieira é outro gigante. Ganhando vários títulos com trabalhos riquíssimos e com uma assinatura particular. Nada muito tecnológico, futurista, mas carnaval à moda antiga. Muito luxo e muita história do Brasil. 

Além, também, do samba muito bem composto, muito bem gostoso de se ouvir e com uma riqueza de linguagem, de cultura nordestina, de cordel, de saber popular, que, confesso, achei muito criativo e ao mesmo tempo legal de se cantar: “O aperreio do cabra que o Excomungado tratou com má-querença e o Santíssimo não deu guarida”.

Ainda sobre composições, senti falta de boas assim em outras Escolas. Sim, estavam legais, mas deixaram a desejar. Venho percebendo isso há muito tempo e, inclusive, até Neguinho da Beija-Flor já comentou em entrevista sobre estas questões em respeito às composições e grupos de compositores. Sobre isso, eu já digo que o que acontece é "samba de fôrma", o próprio meio do samba diz ser "samba de escritório". Talvez, segundo alguns críticos, a causa das quedas de qualidade na produção, nas composições, se dê por este motivo: sambas feitos em formas já prontas - engessando a criatividade. Só que partindo disso, não sei se pode ser diferente, o fato de haver escritórios, porque, este método ou forma de composição tomou conta já, realmente, e não sei se há composições sem que sejam advindas destes escritórios - e confesso que algumas delas se destacam sim. Raro, mas sai umas coisas legais. Portanto, com escritório ou não, a Imperatriz se destacou estratosfericamente das demais co-irmãs no quesito Samba de Enredo.

Mas... Vamos mudar aqui o rumo da prosa. Como são as coisas não é? Vou falar a vocês que a Viradouro (que veio espetacular) perdeu por 1 décimo heim. E eu sei bem onde foi. Vamos lá... 

Se a Bateria do Mestre Ciça - na Viradouro - não perde pontos consideráveis este ano... hummm sei não heim. Este 1 décimo ia sumir facilmente e a história poderia ser outra, com o título parando do outro lado da baía. Mas, o f*** é que o Mestre Ciça perde décimos todos os anos.

Daí vocês podem se perguntar: "Ué? Então o Ciça mereceu perder os pontos". Olha... Pera aí: Sim, o Ciça sempre perde ponto dos jurados. Fato. Como eu havia dito acima. "Mas aí! Prova-se que o cara não é bom" - vocês podem reforçar vossos argumentos. Ok. 

Só que lhes digo, pode confiar, e o mundo do samba também, "O Ciça não é bom. Ele é ótimo!" É um mestre consagrado, um monstro! Sua bateria passa sempre muito limpa. As vezes sim tem um deslize, mas é nota a ser descartada. Porém, (eis um dos "badados do carnaval") rola um papo nos bastidores que ele aborreceu a Liga, foi malcriado com eles e seu castigo eterno ficou sendo este: você nunca será nota 40 (ou as notas 10 dos 4 jurados).

Agora, infelizmente, não se tem como saber a fé dos jurados, quando se trata de Ciça, porque suas justificativas são um tanto exageradas. As deste ano, ninguém sabe ainda, porque as justificativas não saíram. Mas, por exemplo, as últimas que temos (dos carnavais passados), são tão esquisitas que, enfim… a de 2022 foi assim, "A acentuação rítmica das caixas com os seus acentos característicos que configuram o “swing” peculiar da bateria ficaram sem o referido destaque” - Julgou Rafael Barros Castro. 

Isso foi uma firula para tirar décimo. Esta situação nas caixas da Viradouro é algo muito difícil acontecer e, quem ouve e curte bateria sabe que não foi bem assim que aconteceu. Algumas escolas passaram cadenciadamente excedidas, bem "retas", sem muito destaque para suas acentuações e "swing", mas não perderam pontos. E cá entre nós: a maioria das baterias nivelaram-se de uma forma tão alta, que é bem raro elas virem sem "swing". Pode acontecer, mas é difícil e não foi o caso da Viradouro no carnaval passado - e creio deste ano também. 

No caso do Ciça, o julgamento citado acima, só aquele jurado viu aquilo. O outro disse ter rolado desencontro entre carro de som e a bateria. E assim vão tirando décimos do Ciça - além de outras justificativas sem cabimento de outros carnavais.

Com estes "tira-décimos" todos os anos, o Mestre Ciça fica comprometido e acaba ameaçando, inclusive, um carnaval de uma Escola que às vezes vem exuberante, apoteótico, com pegada para ser campeão. Complicado isso e, infelizmente, hoje, (mais uma vez) a bateria do Ciça foi penalizada e de fato afastou a possibilidade de título à Escola de Niterói. 

Olha, não quero dizer nada de que foi injusto, que tenha sido errado, nem nenhum julgamento, nem nada. Apenas relatar uma história e um fato curioso. Porque, não quero também ser injusto com a magnífica Imperatriz  Leopoldinense (título muito merecido). Samba gostosinho, luxuosa, alegre, irreverente, histórica, legitimamente brasileira - sobre o Enredo do nordeste, com a figura de ninguém menos que Lampião.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

C A R N A V A L

 

Foto do desfile da GRES Beija-Flor de Nilópolis, 1989.

 

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música” ~ Friedrich Nietzsche.


Eu li e vi ontem no UOL uma matéria numa espécie de manual (ou sei lá o que posso dizer daquilo), ou algo policialesco mesmo, do que NÃO PODE e do que PODE usar no C A R N A V A L. "Carnaval" com letras em caixa alta e separadamente para reforçar-nos o significado disso. Por que, o que querem pessoas ou grupos com o Carnaval? Algo que é do povo, feito pela diversidade do povo, por todos e para todos? Qual o intuito pegar uma festa que é popular, múltipla, e querer tornar sui generis?

Sei la, carnaval é o avesso, o profano, "o que não pode", a descarga mental e completa manifestação corporal (tanto é que a nudez, ou a quase nudez, é muito comum), as expressões musicais, a irreverência, o humor e tudo mais que nos faça desligar do cotidiano, da nossa vida desmascarada pelo resto dos 360 dias do ano - e no carnaval a gente usa as máscaras. 

Ou, filosoficamente às avessas, os 360 dias a gente vive de máscara para uma vida relativamente chata, corrida, cíclica e rotineira; e quando no Carnaval, a gente tira essa máscara e liberamos desejos contidos e pulsões retidas que, por meio da arte, da criatividade, extravasamos: homenageamos o que na rotina achamos belo, ou digno, e que não alcançaríamos no dia-a-dia; louvamos o que nos é dito o ano inteiro que é profano, baixo e imoral - louvamos desde o lixo até o resto do luxo (como diz a faixa da foto do desfile da Beija-Flor); tornamos o que é dito da loucura a nossa régua medidora; adotamos imagens daquilo que não somos, mas que queríamos ser - ao menos um dia; produzimos uma bela cópia do que os grandes artistas (famosos e anônimos) fazem nas avenidas, ou melhor, nos Sambódromos, desfilando oficialmente por uma Escola de Samba, mas o fazemos de modo caseiro, a nossa maneira. Carnaval é isso! Nos fantasiamos e saímos às ruas em busca das notas 10 em todos os quesitos. Portanto, rendemos e louvamos à diversidade, ao múltiplo e à ímpar e peculiar característica que possuimos: - repito - criatividade, senso de humor e irreverência.

E o que nos dizem ser o certo, o moral, o sagrado, o justo, pelos 360 dias do ano, nós - no carnaval - debochamos, fazemos críticas humorísticas, piadas, paródias, fantasias cômicas, beirando o ridículo, justamente por que isso é C A R N A V A L - a festa da carne, do humano ele mesmo, do indivíduo escondido lá dentro de si mesmo pelo resto dos 360 dias. 

Fora isso, esta imposição politicamente correta - esta "censura do bem" -, não é carnaval. Não é o cidadão que espera, muitas vezes, 360 dias para a chegada do tão sonhado Carnaval. O que há  agora e mais forte a cada ano, é uma ditadura do que se deve ser ou não ser; é querer controlar a vida alheia em prol de sua pequena vontade utópica, birra de criança, por fim, é o ressentimento das pessoas pobres de espírito.

***

Abaixo, uma considerável crítica ao policiamento às irreverências e loucuras alheias no carnaval:

https://gilvanmelo.blogspot.com/2023/02/eduardo-affonso-fantasia-identitaria.html?spref=fb&fbclid=IwAR25Fxtdjc6HvBFZIWEsc5-rCw0XNXEIWiu7gPffvBbAv2T5A9sVljdYuSw&m=1

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Desejo


Imagem: Paul Husband


O mundo não está "nem aí" para nós. Seres humanos, nós. Ele não está "nem aí" também para os demais animais. Sabe por quê? Porque Ele não existe.

Portanto, não há conspiração. Não há sorte ou revés. Nem há corrupção ou qualquer viés. Não há guerra ou paz; fiel ou sagaz.


Há Desejo…


O que há somos nós. De várias gerações, adaptações. Singulares, representamos um mundo sob os nossos olhares.


Desejo…


Tudo o que há é edificação. Tudo o que é, é pura representação. O mundo externo é o eu interno e o eu interno é pulsão.


Desejo…


Porventura, chegamos e, da mesma forma, partimos. Antes, não existíamos; agora, de repente, sumimos. Ademais, outras coisas surgirão, mas nunca porque mereceram. Nada explica também por que pereceram. 


Desejo…


Diante disso tudo, o mundo não se importa. Por nós, Ele não rezará; nem flores nos dará; muito menos irá chorar. Contudo, vejam! Com a nossa partida, também o mundo. Sem nós, não há Ele. Sem Ele, não há nós; nem passado, presente, nem o pós. Por isso Ele não existe e sim nós.


Desejo…


Somente o agora, conosco presente, potente, é que certeza temos. Temos isso porque fazemos, agimos e sofremos.


O sofrimento mede nossa existência. Em nosso íntimo sussurra a carência; 

grita o quanto estamos vivos. Joga para longe nossa sapiência. Com o sofrer, saber viver - e o que é viver


Desejo…


Antes do saber, sentimos: tesão, potência, vontade.

Uma força de verdade.

Algo que pulsa nosso coração.


Uma única força afim

Onipotente, operante, latente

Sem início, meio ou fim 

Que nos abarca plenamente 


Desejo…

sábado, 31 de dezembro de 2022

Porre N⁰ 2023


Durante a chuva de opiniões que alagaram as redes sociais, onde a língua afiada caía do céu como canivete, eu me refugiei em conversas íntimas com amigos. Longe do enxurrada de cancelamentos e apontamentos de dedos na Internet, compartilhamos nossas reflexões sobre a morte do Pelé, um evento que despertou sentimentos profundos e diversas interpretações.

Como o luto é um terreno movediço, onde a saudade e a dor se entrelaçam, discutimos a tênue linha entre o respeito e a irreverência nestas horas. Há aqueles que se indignam com as piadas sobre os mortos, enquanto outros veem nelas uma forma de amenizar a tristeza. Há fãs que se desesperam com a perda de seus ídolos, e há aqueles que seguem em frente, como se a vida continuasse inabalável.

eu sou um caso que pisa lá e cá neste terreno. Direi! É claro que meu próprio coração se aperta com cada vida que se extingue. A angústia me assalta, me fazendo questionar: "Será que essa pessoa sofreu?" "Estou ciente de que isso irá acontecer comigo algum dia!" Ou seja, é um lembrete constante de nossa própria mortalidade, uma verdade assustadora que paira sobre nós.

Talvez seja por isso que o luto, em nossa cultura, seja marcado pelo silêncio, pela rigidez e pela solenidade. É um momento para refletir sobre a fragilidade da vida e para honrar aqueles que se foram.

No entanto, nos dias de hoje onde impera as opiniões e os dizeres das redes sociais, sempre haverá aqueles que se seguirão a linha da solenidade e, com isso, se revoltarão com quem faz chiste com a partida de uma pessoa famosa. Pois, embora não seja comum zombar ou celebrar a morte de um vizinho, a fama de outros parece tornar as pessoas mais vulneráveis a críticas e julgamentos.

Dito isso, diante das tantas emoções que acompanham as mortes de figuras públicas, é natural que nossas reações variem. Alguns eventos nos atingem profundamente, enquanto outros passam despercebidos; alguns nos tocam mais por conta de alguma afinidade, outros não.

Por exemplo, quando Ayrton Senna morreu, o Brasil inteiro ficou em choque (o mundo, na verdade). No dia seguinte ao seu enterro, uma piada bem-humorada circulou, sem intenção de ofender ou debochar. Na época, todos levaram na esportiva. Apesar da tristeza pela perda e das saudades das manhãs de Fórmula 1, a piada colou. Legal! Ok. Olha que eu acordava todo domingo de manhã para vê-lo correr. Era nosso ídolo no esporte àquela época e ainda hoje para muitos. Agora, se não o fosse, provavelmente, não me importaria tanto com sua morte. Se eu nem gostasse de F1, nem ia me importar com o fato de terem feito piadas, ou de não terem se comovido tanto.

Outro caso foi a morte de Maradona. Fiquei triste porque gostava dele desde criança. O futebol sempre fez parte da minha vida, eu me identificava com ele em campo. Havia uma conexão emocional, memórias de infância e o orgulho de ver um latino brilhar no esporte.

Por outro lado, a morte de Marília Mendonça não me afetou tanto. Eu não conhecia sua música e só soube de sua existência após o trágico acidente. Não é uma questão de falta de empatia, mas sim de uma conexão pessoal. Ou, sei lá, de realmente não saber que a pessoa existiu e o que ela fazia. (Desculpem-me, fãs. Depois até descobri que ela cantava muito! Mas sua morte me chocou mais pela forma que foi do que propriamente saudade).

Portanto, nossas reações à morte são influenciadas por nossas experiências e valores individuais. Não há uma resposta certa ou errada, pois cada pessoa vivencia o luto à sua maneira. É importante respeitar as diferentes formas de expressar emoções, mesmo que não as compartilhemos. E não quero ser moralista e ficar condenando ou cancelando aquele que tem uma "sacada" e faz uma piada sobre o caso, isso acontece. Ninguém é um monstro por fazer piadas ou simplesmente ignorar uma fatalidade.

Outra coisa, sobre estes casos acima, houve questões éticas envolvendo a vida destes famosos? Não sei a fundo. Até onde sei, Maradona ainda teve uns problemas nesse sentido, mas nada como o fato paterno do Pelé.

Na verdade, sobre o Pelé, o Rei do futebol, o conheci antes do escândalo da paternidade. Eu conheço o Pelé como aquele gigante brasileiro em campo que eu via no Canal 100. Lembro-me de vê-lo jogando, quando eu era pequeno, nas fitas cassetes com meu pai e meu irmão... De como eles também achavam f*oda como o Pelé jogava e tudo que ele representava; me contavam histórias do futebol de outras épocas e de como o nosso 10 se destacava. Agora, sobre seu escândalo, fiquei sabendo recentemente! Muito tardio, inclusive. 

Então, como dissociar isso? Como desfazer o Pelé que conheço do Pelé que estão dizendo hoje? Só com o tempo, talvez. 

Por exemplo, se hoje surge um "B.O." ai do Ayrton Senna, sei lá, se surge uma filha bastarda dele? O cara já marcou minha infância, minha geração, há muitas memórias afetivas... Não vou me auto-cancelar, nem cancela-lo por isso. Não dá.

Querem mais exemplos de cancelamentos que eu não faria? Por falar em "traição" e "filho bastardo" temos um alemão queridíssmo (e também odiado rs) muito citado e lido aqui no Brasil: Karl Marx. Sabiam que este notório homem traiu sua esposa com a governanta de sua família, a Helene Demuth? A traição gerou, um sétimo e bastardo filho: Frederick Demuth. O caso foi tão sério que o bastardo foi adotado por Engels - amigo de Marx. Mas já li e curti Marx numa boa. Pois, eu iria fazer o que? Desler Marx? Desfazer suas ideias da minha mente?

Temos também Alan Kardec, foi racist4. Ele escreveu e foram publicadas suas ideias racista4s. Eu li suas principais obras numa boa (a das coisas racist4s? As li também. Mas ignorei completamente. Ignorei tanto que nunca mais li nada de Kardec).

Outros dois gostos pessoais que eu estou pouco me importando: eu AMO Pantera (banda de Rock), mas seu vocalista, o Phil Anselmo, é o maior naz1sta. Soube disso há um tempo já, só que não foi durante a minha adolescência. Entre as suas proezas recentes, estão algumas saudações n4zistas e frases exaltando os brancos como superiores. Seria o caso de eu ir a um show do Phil Anselmo? Ia depender do meu humor e da minha disposição financeira, mas provavelmente eu não iria olhar pra esse cara sem ficar com muita raiva. Além de Pantera, existe a banda norueguesa chamada Burzum. Os cara são muito xenófobos, inclusive com brasileiros. Eu não sabia que eles eram assim quando comecei a ouvi-los. Atualmente, não tem como eu deixar de gostar. Pode ser o caso, mas não com Burzum e, se for para desgostar deles, não será porque eles são escrotos. Pois, as emoções em suas músicas e os afetos criados variaram bastante. Com Burzum a coisa pegou firme. Enfim, eu iria a um show Burzum? Ia depender também, como no caso do Pantera - mas se eu fosse em ambos os shows eu ia levar a bandeira do Brasil, com certeza.

Ah! Saindo música e indo para a Literatura e Filosofia. Não posso me esquecer de Nietzsche (mais alemães). Adoro ler esse cara. Sempre fui meio ("meio" pra menos rs) nietzscheano na vida e no sentido de questionar a moral religiosa; as questões relacionadas ao status quo; as nossas individualidades e nossa maneira de ser no mundo - independentemente do que a moral e os costumes vigentes pregam. Mas este estimado filósofo era muito m1sógino, machista. No entanto, o leio com gosto, mas ignoro solenemente sua m1soginia.

Outro que acho sensacional (outro alemão rs) é Immanuel Kant. Homofóbico! Escreveu coisas baixas sobre isso. Leio-o e acho demais suas obras. Não tenho como deslê-lo mais. Nem rasgar seus livros. Até porque alguns me custaram muito rs... Agora, quanto a sua homofobia, ignoro a ponto de esquecer que ele fora isso em vida.

Sem contar o caso do filósofo Heidegger, que foi membro do partido nazist4, mas deixou uma das obras mais fantásticas e das mais difíceis de se compreender na Filosofia, que é Ser e Tempo.

Então, em resumo, não há como desver Chaves, Xuxa, Silvio Santos, Seinfeld, The Office, e desler/ desver e cancelar ninguém menos que WOODY ALLEN.

Puxa, lamento, mas não vou cancelar qualquer filho da mãe que marcou minha vida, que me deixaram ótimas lembranças, porque, suas vidas particulares possam ter havido alguma merda e, porventura, magoado alguém atualmente. Me desculpe! Ainda mais cancelá-los para dizer aos quatro cantos que o fiz somente para agradar grupelhos, hastear a bandeira da virtude, ou para ficar bem na foto com a sociedade inteira.🖕

Por conseguinte, vejam só! Não tenho como largar meu celular da Samsung agora (onde digito esta merda aqui inclusive); nem jogar meu PC com o Windows fora; não tenho como me despir da Nike, Adidas, Reserva (embora eu não use isto em abundância), além das roupas e calçados do mercado ilegal. Não dá pra eu viver como um mendigo ou nu, por conta destas atitudes-protesto. Porque, o mormal seria eu me desfazer de tudo isso (inclusive deste app de rede social), porque muitas dessas coisas estão fundadas em injustiças, descasos e, quiçá, até em crimes.

Assim, abaixando a guarda aqui, dá pra até cancelar um ou outro, mas vai ser como eu quiser e quem eu quiser; se me apetecer. No mais, vou abstraindo certas coisas e agindo conforme as coisas a mim convém. Assumo mesmo!

E, de novo, não posso tomar as causas pelos outros. Não posso agir querendo ser os outros - já falei: eu, sou eu. Logo, faço o que me convém. E isso não me torna mais humano, com super ideais humanitários, nem o mais antiético, ou um ser baixo, vil. Não é o caso.

Com isso quero dizer que não irei adotar a misoginia de Nietzsche, não vou carregar amor ao estado Naz1sta que o Phil Anselmo também o faz (provavelmente), ou ser homofóbico porque leio Kant. 

Pelé morreu, lamentei porque gosto de futebol e isso não quer dizer que eu seja um insensível a crianças abandonadas por seus pais. Por favor, né?! 

Enfim, o que eu vir de r4cismo, homofobi4, mis0ginia, irei denunciar. Irei defender a vitima dentro do que estiver ao meu alcance, como uma pessoa que acredita no peso da lei.

***

Ah, a tal piada sobre o Ayrton Senna posterior a sua morte foi "Ayrton Senna estava Amil, bateu na publicidade e morreu Assim".

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...