sábado, 30 de setembro de 2023

Seja aqui e agora



Ele parece feliz, sabe fingir.
Felicidade é categoria máxima
que alguém pode sentir.
Apenas um predicado, que vem numa caixa.

Lá está! Tão só em meio a um lugar repleto de gente
Cheio de tantas colocações,
cheio de si, de emoções,
que a si mesmo nem sente.

Vai ele… Perdido em caminho reto.
Vive escorado em muletas;
confunde céu com teto.
Desfila em sua categoria perfeita.

Belo dia, um espelho.
Encarou-se de repente.
Pensou num conselho.
E o fez a si carente:

Amigo eu, meu íntimo,
Exponha-te, apareça!
Cadê o você legítimo?
Surja, antes que eu me esqueça.

A ti não vejo, meu eu.
Por que não te refletes?
Não és um espelho meu?
Queres uma prece?

Seria isto um espelho?
Por que esta vastidão?
Não queres meu conselho?
És uma quimera, ilusão?

Medo eu não tenho, portanto.
Sinto que agora me encontrei.
Olhei para meu ser de pronto,
assim que das facetas larguei.

Agora me noto,
acordei do sono.
Sou o númeno,
não mais fenômeno.

O mundo é real.
Tudo é aqui.
Eu sou aqui.
Eu sou real.

Sou único,
sou diverso;
do meu jeito, porém,
no todo universo.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Terror noturno



O que eu sinto? 
O que me toca? 
Talvez um certo instinto,
um medo que me corta.

Um abrupto pesar,
porém intenso medo.
Não consigo respirar
nem guardar segredo.

Tudo me corrói,
me alucina.
Medo que destrói,
terror que me atina.

Não tenho coisas bonitas pra contar,
por mais que as tenha.
É possível me sabotar;
não há paciência que me detenha.

Meu pavor acordaria os mortos,
meu grito ecoaria nos confins.
Deterioraria os corpos,
os anjos fariam motins.

Já estou acostumado.
Sonhos, nem tenho mais;
dessa dose estou viciado,
pavor ao invés de paz.

O vento me confunde lá fora:
parece passos, traços, anúncio.
Ouço coisas... ou está silêncio?
De lugar nenhum quero ir embora.

Sim! Quero fugir, mas de quê?
De todos, do meu próprio ser?
Eu não estaria livre, certamente;
a solução seria não nascer.

Depois do breve espetáculo,
uma mão invisível surge.
Me põe num receptáculo
e a passageira paz urge.

Nesse eterno ciclo resido,
nesse breve embate sigo.
Ora apelo ao diazepina,
ora me vejo eu comigo.

Não há luz no fim do túnel,
não há palavra nem sentido.
Há o gosto amargo do fel
e a hora do meu eu inimigo.

Apolítica

Um ato de violência política não revela apenas um crime de uma ação isolada. Ele expõe a fragilidade de nossas crenças políticas. Depois dos...