Somos o vírus
"Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macacos, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos." NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. São Paulo. Companhia de Bolso. 2018.
Quando iremos nos tornar humanos? Ao menos fingir? Tá foda. Os primatas vivem organizadamente bem, desde, sozinhos, em dupla (casal que procria) ou até em grupo. VIVEM EM GRUPOS. São sociáveis, possuem diversas habilidades cognitivas, se comunicam, se solidarizam, possuem sofisticados métodos para convivência mútua. Não morrem de fome por conta um dos outros, não dependem de NENHUMA OUTRA ESPÉCIE para se manterem: se autosustentam. Eles vivem em comunhão. Perfeitamente se ajudam. Mutuamente se organizam em prol de si mesmos. São coletivos.
E o que dizer de nós, entretanto? Cidadãos, seres civilizados, dotados de inteligência, racionais e criadores da religião? Por exemplo: comida não falta no mundo, mas pessoas morrem de fome. E aqueles que podem se alimentar, morrem de diabetes, problemas cardiovasculares, por conta de gordura no sangue. Estes comem até demais, enquanto que para outros há falta. Falta comida? Não. Falta dinheiro. Um só ser humano detém toda a riqueza da Terra para si, no mesmo instante que carece para todo um continente (quiçá). E tem humanóides defendendo estes que estão no topo dessa pirâmide circense, ou a chamada Sociedade. Como podem achar isso justo? Onde um cidadão lá do topo dessa pirâmide consome centenas de milhares de calorias diárias e o coitado na base não consome nem as 2.000 necessárias por dia e que implora por uma MEDIDA, mesmo que temporária. É "serto"? Mas os seres supremos, os Mitos, estão pensando. Só que de tanto pensar, acharam melhor barganhar. Chantagear. "Toma lá, dá cá. Assinem esse Projeto aqui de meu interesse, que eu libero o que vocês imploram."
Além do mais, em épocas de pandemia, um dos únicos "remédios" (álcool, máscaras respiratórias) estão em falta. Tanto porque um ínfimo grupo comprou tudo, quanto por aqueles que podem fabricar mas não o fazem com medo de prejuízo financeiro. Há maravilhosos seres humanos, não só enfrentando a morte somente com a roupa do corpo, como incentivando outros rumo ao suicídio pacífico e alegre.
Enfim... Em épocas de Bacurau, Coringa, O Parasita, O Poço, e das últimas tentativas esperançosas oriundas, pelo menos, do mundo das artes - que segundo o dicionário é a "habilidade ou disposição dirigida para a execução de uma finalidade prática ou teórica, realizada de forma consciente, controlada e racional" -, o homo sapiens, o poderoso e possuidor de toda sabedoria ignora a tudo e retrocede. (Não que as artes sejam a curadora de todo mal, Deusa onipotênte, mas é um poderosa estrutura para servir como chão firme aos seres humanos em épocas de queda). Ignorante, não obstante, em queda, ele se curva, se contorce tanto que fica como a um verme. Vermes! Somos vermes. Corona é apenas mais um ser, micro, habitando, co-existindo. O vírus somos nós. Bem como, por incrível que pareça: um vírus que mata a si mesmo, podendo levar-se a si mesmo à extinção.
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