Um dia, um fantasma

(Ilustração do filme "Os Caça-Fantasmas III" para servir de contrapeso)

Um dia qualquer eu peguei no sono
Sono profundo
De repente me abre uma imagem: 
Eu me olhando, me encarando no espelho do banheiro
Seria um sonho? 
Que medonho! 
Seria sim um pesadelo…
Fiquei poucos segundo me olhando 
Então uma transformação foi começando
Tão depressa que de pronto me assustou
Eu passei de um belo rosto jovem a um rosto velho
Assustador demais! Cadavérico... 
Rugas, tão profundas, iam talhando-me 
Meu rosto, nova expressão foi tomando
Em apavoro, eu fugi da frente do espelho
E me afastando, a partir dali, começou algo a fazer sentido
Eu não pisava o chão, não caminhava, 
Ou, pelo desespero no momento, eu deveria estar correndo, mas não… 
Levemente eu me deslocava
Tão sutil que como se eu não me saísse do lugar
Mas a tudo eu podia alcançar
Olhei onde deveriam estar minhas mãos 
Não conseguia vê-las 
Meus pés… Nada, somente o chão 
Só via o que de material existia em meu apartamento 
Me senti leve, uma fantástica sensação 
Sem dor, sem preocupações, sem angústias, sem sofrimento
Não havia o medo do amanhã e o remorso do passado também não 
As dores físicas, o peso do corpo, as batidas do coração… Não mais
Havia tudo morrido 
Apenas algo permanecia, isso eu não tinha perdido
Não sei definir
Eu apenas flutuava, de verdade!
Finjamos que somente meus olhos e meu cérebro estivessem ali
Óbvio, porque eu pensava e sentia vontades 
Uma delas foi a de acordar meu marido
Eu sabia que ele se encontrava na cama
Fui até meu quarto
Eu queria estender-lhes as mãos,
(Mas eu não as tinham)
Lhe chamar, lhe acordar...
Era tudo em vão
Não conseguia soltar um ruído sequer
Nem forçando muito a mente
Uma tentativa inútil, incoerente
Então a única sensação triste foi a da despedida
Esta eu não ia poder realizar
Olhei para trás a fim de meu corpo encontrar
Nele me apoderar
Retornar ao quarto, abraçar ao meu amado
Beijar-lhe, tocar seu rosto, suas mãos um bocado
Dizer o quanto amo e que nos veríamos em breve
Mas não: fui deixando tudo inclusive minha consciência
Fui embora muito leve
Tudo foi embranquecendo, tamanha eminência
Por algo fui muito grata, de verdade:
mereci um último suspiro que valeu por toda eternidade

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