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Perdido em si

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Eis que no vão das sombras, onde o ser se desvela, Em meio à névoa do cotidiano lamento, O homem vagueia, na angústia, na refrega, Perdido em si, em busca de alento. No peito, o eco do etéreo medo, Que ronda como espectro, silente e frio, Da morte, que se avizinha em segredo, Trazendo consigo o derradeiro vazio. Oh, pavor dos mortais! Oh, desespero! Na encruzilhada da existência efêmera, A cada passo o temor primeiro, da finitude que nos cerca e golpeia. Nas horas gélidas do dia que declina, O ser se afoga na miragem do amanhã, Na incerteza que espreita e domina, Sob a fumaça sombria da própria chama. Quanto mais próxima a hora derradeira, Mais nítida se torna a face da verdade, Somos frágeis, efêmeros, na vasta ribanceira, Da vida que nos arrasta, sem complacência ou piedade. E assim, entre suspiros e lamúrias, O homem se perde em sua sina, Na busca vã por fugidias aventuras, Sob o olhar impassível da morte divina.

O vazio essencial do mundo

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Ante a desolada vida, um grito sai de mim. Onde a esperança se esvai com astúcia, em um mundo hostil, um abismo sem fim, Somos frágeis, condenados à angústia. Venturas fugazes em estrelas cadentes, brilham por um minuto, depois se apagam. A frivolidade nos consome, implacável e ardente, deixando-nos perdidos, cegos, sem afago. Sabemos que somos frágeis, perecíveis, Que a morte nos espreita a cada esquina. Mas o mundo continua, indiferente e impassível, nossa existência apenas é, e tão somente mesquinha. Neste vazio abissal, nosso rumo se perde, sem propósito, sem luz, apenas dor e incerteza. E num piscar, o mundo nos mata de fome e sede, deixando um eterno vazio, sem mais dor ou tristeza. Pois, nosso fim não finda o mundo; nossa existência não torna o real; nossa importância não vale um segundo. O mundo sem nós se torna essencial.

A Dança da Verdade com a Mentira

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Na valsa da vida, onde a verdade e a mentira se encontram, Eu danço com passos incertos, sem saber o que é real. A aparência, uma máscara que esconde a essência, Distorce minha visão, tornando o falso natural. Sob um véu, a mentira se disfarça, Vestindo o manto da verdade, enganando meus olhos. Mas em meu coração, uma chama arde, Questionando tudo que meus sentidos alarde. Posso acreditar em uma mentira, achando-a verdadeira, Pois quem sou eu para julgar o certo ou errado? Minha lupa da verdade é falha, a erros está sujeita, e o que eu vejo pode ser apenas um reflexo alterado. Assim, danço com a mentira, com cautela e desconfiança, Pois sei que sua sedução pode me levar à tormenta. Mas também reconheço que a verdade pode se esconder por trás de uma fachada de engano, esperando ser descoberta. Na verdade, na dança da vida, não há certezas absolutas, Apenas sombras e luzes que se confundem entrelaçadas. Como um viajante num labirinto de ilusões à luta Busco a verdade, seja ela uma menti

O minúsculo poder

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Em meio à penumbra, um brilho surgiu,  Um anel de ouro, um presente do destino. Com ele, o poder de ocultar-me, Um sonho antigo, um desejo divino. Diante disso, a moralidade me reteve, Uma questão de certo e errado. Pois com o poder de desaparecer, Poderia fazer o bem ou o mal sem ser notado. Inicialmente, minha mente se agitou com uma torrente de possibilidades.  Eu poderia roubar riquezas, cair em vulgaridades. Porém, à medida que as horas passavam,  a questão moral me atormentava. Pois bem, usei anel. Um segredo profundo, enquanto minha mente corria idéias, sem parar. Mas em todas as possibilidades que passavam, a velha ética vinha me afrontar. Um dia, passei por um espelho dourado, Com ornamentos bem detalhados, um espetáculo para ser visto. Olhei para o meu reflexo, nada havia notado. Apenas um vazio, um espaço que sempre me via bem quisto. A princípio, pensei que o anel estava em minha mão, Porém não! - percebi com espanto. Eu era invisível, sim, mas não por um anel, Era minha es

A centelha que move a vida

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  A angústia emerge como um grito da nossa pífia sensação liberdade e da consciência necessária de nossa finitude. Ela transcende o mero estado emocional, revelando-se como catalisadora de questionamentos profundos sobre o propósito da vida e sobre o confronto inescapável com nossa própria dolorosa existência. De fato, a angústia se revela como a força motriz que impulsiona a roda da vida, incitando-nos a buscar significado e compreensão em meio às complexidades do ser. A angústia, portanto, é a centelha primeira que acende a luz da vida e vai queimando até os confins da nossa existência. (Imagem: Washington National Cathedral Gargoyle)

Ato primeiro: amizade colorida

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Desenvolver um sistema filosófico para abordar questões tanto pretéritas quanto atuais, considerando os diversos contextos, é deveras desafiador - como fazer uma peça teatral. É um trabalho árduo, ardiloso e muito difícil e... delicioso. Assim sendo, pode-se aventurar nos palcos da Ética, da Lógica, da Estética, da Epistemologia ou adentrar-se no abismo Metafísico. No entanto, é importante que qualquer indivíduo estimule em si mesmo um sistema filosófico, um mero ato de filosofar; ter sua linha de pensamento, seu método de palavras e escritas onde que neste sistema encontra-se o mínimo de respostas à problemas conflitantes, seja dentro de um domínio específico e variante - levando em conta as circunstâncias do nosso tempo -, seja de uma forma mais abrangente e fixa - recorrendo a outras antigas épocas. É preciso filosofar. Deve-se ir de encontro para ser encontrado. Como um ator indo de encontro a sua personagem. Para tanto, é necessário um verdadeiro amigo - não necessariamente uma pe

Eu só queria comprar pão

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HOJE cedo saí de casa, atravessei a rua e fui comprar pão. Fi-lo rapidamente. No entanto, trouxe pães frios, aqueles já do fim da cesta. Ao chegar em casa e depois de esquentar a água, pôr a mesa para o café, vi que não tinha manteiga e nem café. E, cá entre nós, comer pão sem manteiga e café é pior do que fazer sexo com bonecas infláveis da Shopee. Então, eis que voltei à padaria para comprar o que mais faltava para o meu café da manhã. Notei que estava saindo pão quente - devido ao forte cheiro de pão no forno - e fui tentado a comprar mais. Percebi que a fila do pão estava enorme. Nela estavam: uma barriga, com bastante tecido adiposo; uma salsicha, tomando água de salsicha com gás; muitas crianças, parecia dia de São Cosme e Damião; um playboy, que se sentia na fila da entrada VIP da boate, e, por fim, o próprio dono da padaria. Isso não seria uma imensa fila, mas a quantidade de crianças era desesperadora. Comecei a ficar impaciente, pois o tempo passava e o meu sagrado café tarda