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É muito Bela

Seu sotaque, que ela diz que não tem Eu noto e admiro cada palavra  Desde quando ela me liga do trem  Até saindo pra alguma balada Um anjo lindo cativante Dá alegria e tira a dor Está comigo a todo instante Por ela canto em louvor Menina com seus sonhos no céu  Mulher com os pés no chão Ela é doce como mel Mas no frango põe limão Gosto de com ela compartilhar  momentos, eventos, notícias  gestos, carícias… Coisas simples, de se apaixonar  Seu véu dourado cai por sobre mim O céu vem à terra, como numa quimera Ainda mais quando pergunto assim: Sorria pra mim, Isabella?  De Bela ela não só tem o nome Todo o seu ser, lindo é  Ela já até possui uma gatinha  Em sua homenagem, chama-se Belinha Essa é a guria Que salva os meus dias Ora me desejando bom dia Ora pedindo para me ajuizar Durmo com ela na minha cama vazia E sempre com ela acordo após sonhar

É tudo, é nada, é

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A minha religião é a Filosofia Não sei o que de mim seria Sem o lógos , a phýsis , a arché Sem a noite deixando de ser dia Com o Todo, essa ligação O devir, a transformação O ser, o não-ser O ódio, a paixão A transcendência Uma nova essência A falta de recursos  para se expressar A limitação da língua  ante ao pensar Do que mais preciso? Decerto nem de água ou ar É sublime o momento do belo e curto encontro  da razão com a emoção da ação com o pensamento O que me causa a Filosofia? A indiferença entre sonho e realidade Não distinguir a mentira da verdade A lucidez em pleno tormento O conforto após o lamento Que bom é passar os dias sem notar que eles passam Sentir-se a síntese da multiplicidade Mesmo quando só, estar acompanhado Ou estar, dos mitos, deuses e heróis, rodeado Ser analítico, dogmático, aporético Ser a composição do mundo da contradição, o absurdo Ter juízos analíticos e sintéticos Eis

Leia com atenção

Retornando do trabalho, eu me entretia com essas TVs que agora estão dentro dos coletivos. O ônibus, no caso, não estava cheio, mas quase não havia vaga nos acentos. Então sentou-se ao meu lado uma jovem universitária. Eu estava segurando um livro, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx. A moça reparou-o em minhas mãos, olhou mais atentamente para a capa do livro e resmungou algo como que falando com o teto: “comunistinha de merda”. Continuei olhando a TV - menos concentrado, obviamente. Segundos depois ela vira e pergunta: “Uma mulher grávida pode engravidar?” “Nossa! Você viu aquilo?” - Perguntei-a se realmente ela tivera reparado a mesma coisa que eu na TV. “Sim! Vi” - respondeu. Então comentei: “Olha ai um conceito de ‘devir’". Imediatamente ela me cortou e afirmou: “não na visão desse Marx, obviamente” - desdenhando do autor que eu tinha nas mãos. Perguntei-a se ela já havia lido. Ela disse que não. Cordialmente sugeri: “Leia, então”. Ela se virou espantada e perg

Ya zhenshchina, ou seja, Eu sou uma mulher.

Instalei um aplicativo, desses de aprender idiomas, pois preciso aprender a língua cirílica o mais breve possível. Tendo em vista uma excelente oportunidade de trabalho como adestrador de ursos, na Sibéria, é deveras urgente. Peguei meu celular, pus meu fone nos ouvidos e fui praticando. Básicos exercícios (quem já usou sabe como é): “Ele é da Rússia”, “Eu falo russo”, “Ela trabalha em Moscou”, etc. Ainda nas escadas do prédio, surge uma tradução a ser realizada via gravação de voz: “Eu sou uma mulher”. O app retornou com uma mensagem: “não foi possível detectar o áudio, aperte ‘aqui’ e envie novamente”. Tudo bem, vamos nós: “Eu sou uma mulher” - retumbantemente efusivo. Atrás de mim ouço voz, risadas. Tirei o fone dos ouvidos e me virei. Era o casal vizinho. “Cara, que palhaçada é essa? Virou mulherzinha agora? Porque eu não vejo nada aí; cadê os peitinhos, tem vagina agora?” “Fala sério! Esse pessoal da esquerda invertendo valores, fazendo do mundo que Deus nos deu um verda

Porre Nº 5 (acho que perdi a conta)

HOJE cedo saí de casa, atravessei a rua e fui comprar pão. Fi-lo rapidamente. Contudo, ao chegar em casa esquentei a água, pus a mesa e vi que não tinha manteiga e nem café (apesar de eu odiar café. E, também, cá entre nós: comer pão sem manteiga é pior do que sexo com bonecas infláveis). Então voltei à padaria para comprar o que faltava para o meu café da manhã.  Estava saindo pão fresquinho e fui tentado a comprar mais. Percebi que a fila do pão estava enorme. Nela estavam: uma barriga, com bastante tecido adiposo; uma salsicha, tomando guaravita; muitas crianças, parecia dia de São Cosme e Damião; um playboy, que se sentia na fila da entrada vip da boate. E, por fim, o próprio dono da padaria. Isso não é uma imensa fila, mas a quantidade de criança era desesperadora.  Comecei a ficar impaciente, pois o tempo passava e o meu sagrado café tardava em sair. A barriga perguntou aos berros quem ia servir o pão, pois via-se que não tinha nenhum atendente na padaria. O padeiro, obv

Não basta ouvir-te a ti mesmo

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O céu é testemunha  dos passos que o homem deu na terra Como os ventos que vêm do horizonte percorreu litorais, desertos e montanhas Soprando a quente brisa Anunciando a chegada do Sol Aquele que a tudo ilumina caminhos, destinos e pensamentos Sempre em busca de algo oh pequeno humano... Sempre a tudo questionando Porém não sabe o que quer Não sabe por onde começar Mal tem uma pergunta formulada E já quer da grande voz da vida uma resposta determinada Tais respostas surgirão, sim Mas quando a vida realmente for vivida Isso pode custar tempo, ou não Basta um ouvir especial Não somente ouvir a si nem ao que lhe convém Precisa-se de uma sensibilidade Um estado de ser que vá além O homem precisa ser tudo Ser todos, sentir a diversidade Sentir a tenra idade Pressentir a novidade Ser todos os sexos Decifrar todo o complexo Possuir todos os sentidos E desfazer-se por completo Viver na Terra com a cabeça no céu Elevar-se quando preciso É estar no céu inerte Mas atento aos caminhos terr

ATO I - Larghetto

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Um velho moribundo Num quarto simples Isolado do mundo Pobre ao lamento Paredes cinzenta-amareladas: Dado a ação do tempo Mais as velas iluminadas Ao lado do inquieto homem Uma escrivaninha rústica Sobre ela, A divina comédia Um copo d’água e um terço O sofrimento, a dor Desconforto, pavor Porém lúcido, pobre velho À espera da barca Anseia sua chegada Sua partida Sua vida ir embora Mundo afora Uma viagem prometida Ao eterno, ao nada… Ao longe rasgando o ar Nuvens se abrindo O clima a esfriar Se configura um violino Inconfundíveis cordas Suavemente atiçadas por crinas Doce som, do fino aço À velha madeira ecoar Tocando em larghetto Em perfeita harmonia Com as batidas do coração do senhor acamado - já em atenção Ritmo solene Respeitando a ocasião Não um qualquer, se aproxima Alegremente se adentra Não somente no rústico quarto Mas na animosidade do idoso Executando uma reconfortante obra O diabo sorri e continua...