Porre Nº 8: Corote.



Pensando novamente no Brasil de hoje, o que mais me surpreende, em meio a uma pandemia, não é o vírus - que na verdade é uma realidade com a qual coabitamos -, mas certas atitudes de certos seres humanos. Estou um tanto moralista, sim. Eu tentei refletir um posível “foda-se à vida” em meio a uma pandemia: a consciência pesou. A razão se sobrepôs às pulsões, à alguns desejos, vamos dizer, quase que incontroláveis. Realmente… Não consegui largar o "dane-se" e fazer o que me desse na “telha”.

(Vou deixar claro, desde já, que isso é puramente fundamentado na minha opinião. Portanto é debatível, questionável tudo o que exponho aqui. Além de eu não estar querendo transformar isso em verdade máxima e, pior ainda, sobrepor-me às opiniões diversas que existem por ai).

Continuando, olhando para fora agora e fazendo julgamentos pertinentes, não muito recente, notei algumas retóricas relativizando o que está acontecendo agora, com discursos "morre gente todo dia", "basta estar vivo para morrer" e etc. Estes são os mais completos foda-se à vida alheia e quiçá sua própria vida também. Parte da sociedade civil nessas horas parece que perde o senso humanitário - que deveria ser inerente a cada um - e, com isso, se afasta da vida, aproximando-se, assim, da morte.

Primeiro, não devia "morrer gente todo dia" por culpa de um foda-se, de um Estado omisso ou de um foda-se das entidades, sejam da área da saúde ou da segurança pública, em períodos de calamidades. Segundo, a vida não é um grande foda-se que podemos vir a morrer por conta de terceiros, de fatores externos, por descuidos alheios ou acometimentos humanos, não.

Para isso, visando o bem comum, existem leis com intuito de bem preservar a vida. Pois a vida, seja ela como for, tem um valor inestimável (sim, certas pessoas, a cultura da mídia, da indústria e instituições governamentais precisam ler isso): A VIDA POSSUI VALOR INESTIMÁVEL. ESTÁ ACIMA DE QUALQUER CUSTO, DE QUALQUER COISA. ELA NÃO TEM PREÇO. NEM SEQUER ESTÁ À VENDA. Repito: A VIDA, ELA QUEM ESTÁ ACIMA DE TUDO. 


Além do mais, a vida não se resume em comprar e vender, segundo a maneira que as noíticias são veiculadas nessa pandemia, levando a crer que as finanças, os negócios e a bolsa de valores é mais importante que a saúde do ser humano. E outra coisa que seria bom expor também: não “precisa” ou “necessita” trabalhar de forma a arriscar a saúde, ou melhor, o bem mais precioso: a vida. Para essas e outras coisas que, porventura, venham a acontecer na sociedade, é que há pagamento de impostos: casos como epidemia, pandemia, guerras, calamidades em geral. São fatos que estão além da contenção humana e que pedem a intervenção do Estado. Ele é quem detém uma enorme parte da riqueza, das produções. Então, sendo assim, ele que nos remedie, que nos provenha. Isto é constitucional. Em respeito à iniciativa privada, ela que alimente os seus funcionários e, constatando que haja dificuldades para isso, que se recorra ao Estado. Porque a mesma também contribui com seus impostos e existem maneiras como empréstimos, ou de se estancar os custos diretamente do bolso do empregador além de até amortizar dívidas e etc. Isso tudo está protegido por lei, e no momento em que se encontra não é antiético atender trabalhadores/ empregadores em geral.

Deixe-me repetir o parágrafo para ficar mais claro. Vou me extender um pouco mais. Em hipótese, numa eventual crise humanitária, provinda de uma calamidade qualquer, ninguém é obrigado a sair para trabalhar, para se sustentar, não. O Estado e todo seu aparato, toda sua infraestrutura, estarão ao dispor da população. É obrigação, é deveras urgente, a tomada de medidas para suprir o povo e mantê-lo, o máximo possível, sob condições básicas de sobrevivência num caso atípico desses e preservar à vida a qualquer custo. Um parêntese aqui: Assim como é obrigação da população respeitar o momento, ter disciplina e ouvir o que os órgãos de saúde e áreas envolvidas têm a dizer. Não é um momento para anarquia e desobediência civil, salvo em um caso que explicitarei mais adiante. Então, a família ou pessoa na condição de miséria, ou nem tanto, apenas que lhes faltem recursos e coisas básicas - e isso pode atingir a qualquer família comum -, deve ser assistida para não ter que sair às ruas para trabalhar e se sustentar em plena crise humanitária, pondo sua vida em risco. Não é o que se vê no Brasil em plena pandemia. Isso não deveria existir. O que se dá é análogo aos campos de concentração, à escravidão do período colonial no Brasil. A vida tem um valor inestimável, porém é frágil demais. Um vírus, como se está vendo, erradica, se deixar, uma nação inteira, sem distinção e em poucas semanas, talvez. Se não é para ninguém se aproximar um do outro, então não é para ninguém sair às ruas; se, por acaso, um vírus for conduzido pela corrente de ar, for transmitido desta forma, aí mesmo que será devastador. Para isso, em prol da redução de danos, existe o que os cientistas recomendam: “lockdown” (bloqueio total ou confinamento). “Ficar trancado? Qual a solução, então, não sair e passar fome?” - você pergunta. A solução seria, em casos ainda mais extremos, o Estado fornecer alimentos, dinheiro, se preciso, a todos os que necessitam. As forças armadas, as polícias e guardas de cada Estado têm o dever em ajudar na logística, na manutenção e entrega de todas essas demandas. Não se deve pensar mais em compra e venda, lucros, mercado financeiro, folha salarial, em situações onde a vida, bem mais precioso, corre risco, quiçá, de extinção. Não obstante, compreende-se, agora no final de Julho, que o "afrouxamento" do isolamento e dos cuidados ante ao vírus não geraram tanto impacto assim, mas todo cuidado ainda é pouco. No entanto se, ainda em hipótese, porventura, algum grupo social ficar de fora dessa divisão, dessa democracia, é direito de cada cidadão é reclamar sua parte e cabendo à desobediência. (Sim, vale muito arriscar sua vida por sua própria vida, em ato anárquico, por direito, a ter de adoecer ou morrer porque precisa cumprir um contrato entre patrão e “colaborador”; sendo que seu mérito nunca será reconhecido por isso, ou seja, por ter enfrentado à morte para chegar ao escritório e deixar a empresa no “verde” fim de ano). Além do mais, para a pessoa ter a quem recorrer, é que existem partidos políticos, os vereadores eleitos, deputados, prefeitos; os coletivos, movimentos sociais, sindicatos e etc. Estes podem cobrar às autoridades máximas, em nome do povo, que os elegeram. Porque, na hora de pedir votos, de convocar para manifestações que lhes competem interesses, eles são muito ativos. Agora, na hora de lutar em prol daquele invisível aos olhos do Estado, todos somem, relativizam, problematizam e priorizam a lógica da “farinha é pouco, meu pirão primeiro”. Pregam tanto a democracia, mas acabam tornando excluídos os cidadãos que não fazem parte dos seus grupinhos. Incrível como se escancara o famoso “puxar a brasa para a sardinha”, em um momento em que vidas estão sendo perdidas “à lote” e grupos querendo priorizar o seu lamento; querendo falar mais alto porque se acham mais sofredor que o outro. Como não conseguem enxergar que é um momento em que se deve lutar pela vida, ainda mais daqueles que mais carecem de necessidades básicas, e não o lutar pela sua política ou ideologia? Seria um outro foda-se à vida alheia ou uma cegueira de verdade? Portanto, sobre esse “foda-se à vida”, não seria a hora, agora, de largar tudo, de estancar essa priorização ao nada, de veneração ao abstrato e voltar as atenções à vida, ao agora, ao concreto? E por quê? Porque ninguém merece sofrer, muito menos morrer, por causa de capricho de outros ou, pior ainda, de exclusão. 

Recentemente, tenho visto reclames em detrimento dos fechamentos/ cancelamentos de festividades comemorativas. PORRA!!! É óbvio que não se deva comemorar nada. Até Dezembro pode-se passar de mais de 200 mil óbitos, e de bobeira. Só por conta do novo vírus, por causa de um microrganismo. Por mais cauteloso que se seja, agora mesmo, alguém pode simplesmente deixar de respirar; fazer zerar o monitor de sinais vitais. Conta-se 200 mil até fim de ano, mas por baixo! Sabe-se lá o que teremos? A cura imediata que não, e nem remediações. O único “remédio” eficaz qual dispomos é a higienização, máscara respiratória e isolamento. 

Sabe-se que, cientificamente, está descartado um restabelecimento pleno, ou seja, o controle da disseminação do vírus até Dezembro. E, caralho, por mais que se tenha controlado o vírus até lá, eu vou comemorar o que? Festejar o que? Contagem de corpos? Quem tomou ou não Cloroquina, qual país desenvolveu a porra da vacina ou qual país teve menos infectados ou mortos?

A verdade é que vidas se foram, estão indo a cada minuto - não pára por ai - e algumas atitudes continuam infames; desejos às coisas fúteis se elevam, rebaixando o tão poderoso ser humano a um verme. Não houve muito respeito à vida, ao próximo quando os números de óbitos começaram a disparar; a carência e o cuidado consigo mesmo foram reprovados nesse teste. 

Um exemplo, porém menos ultrajante (talvez), a Rede Globo condenou a retomada do futebol carioca em plena pandemia. Os programas esportivos todos deixavam suas opiniões lamentando o retorno dos jogos. A princípio, realmente foi um “baque” saber que tudo ia acontecer. Porém as posições dos clubes envolvidos foram bem transparentes e cumpriram todos os procedimentos e foram além do que se pede quanto as recomendações dos órgãos de saúde. Em minha posição sobre isso, na verdade, eu não curti o retorno. Isolamento é isolamento. Porém não tenho poder sobre uma empresa gigantescas como as dos clubes de futebol. Mas vamos aos exemplos. A final Fla x Flu dia 15 de Julho, 2020, não foi muito bem recebida pela sociedade. Porque a emissora não “comprou a ideia” e através de suas chamadas e transmissões se posicionava contra, influenciando assim o telespectador. Na verdade a Globo “levou pau” de alguns Clubes e da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, onde ela acabou perdendo os direitos de transmissão. Com isso, os jogos passaram a serem transmitidos pelos clubes, via internet cabendo a emissora somente a comentar nos seus programas esportivos. O que deve tê-la deixado muito furiosa. O sucesso para os clubes foi tão titânico que outros já estão pensando nessa nova modalidade de transmissão de seus jogos. Ou seja, a emissora perdeu. Porém, ela não gosta de perder. Agora, veja que incoerente: a partir do dia 22 de Julho, 2020, o futebol paulista também voltou a campo. A TV tinha os direitos. Você viu ou ouvir reclamações? As narrações e comentários, tinham voz de pesar? Pelo contrário, a empolgação e elogios à Federação paulista, aos clubes, estavam batendo lá no céu. Pois bem, vão refletindo… Outro foda-se à vida e glória aos lucros. Foda-se o concreto e um viva ao aparente, ao abstrato.

Por falar em reflexão, sobre a TV ainda, mas mudando um pouco o assunto, muitos refletiram em programas de entrevista e telejornais: “será que nos tornaremos mais tolerantes, mais simpáticos, mais amorosos com o próximo, depois que ‘tudo passar’?” Nem f***! Já vimos que se houver um problema “um pouco mais sério” neste mundo, caso um vírus mais potente e mais letal surja, iremos beirar à extinção, né? Não somente por causa do vírus - que é de sua natureza evoluir, ser o que é e estar entre nós -, mas por atitudes e baixos valores à vida de alguns outros indivíduos e de grupos, como supracitados. 

Contudo, entendo, parcialmente, um argumento tipo "ah, mas quando o vírus for erradicado vou comemorar sim!" Tudo bem. Não quero ser muito moralista e como já disse, uns vão comemorar, outros não. Quem é que não vai querer rever seus amigos e familiares? Fazer uma festa literalmente, ir para casa de parentes, amigos, fazer uma grande reunião? Porém não é disso que estou falando e nem me atendo; impedir o próximo de estar com os seus? Jamais! Contudo, fora isso, é o que é. Não se pode cobrar muito, no que diz respeito às vontades alheias. Cada qual é ciente de seus atos. Com tanto que não se cometa nenhum crime, tudo bem. Porém, quando o vírus (se o vírus) for erradicado, eu não vou ter muito o que comemorar - isso se eu não vier a ser acometido por nenhum infortúnio qualquer e partir dessa... Tudo bem, saudades dos amigos e parentes todos irão sentir e terão com eles momentos maravilhosos. Mas há casos que… Como falei: a razão se mete na frente como uma montanha inescalável. Embora seja também uma questão moral, mas ainda assim requer um mínimo de reflexão em alguns sentidos. 

Por exemplo, existem algumas coisas peculiares e a princípio complexas. Eis que exponho-nas: comemoraram, em Hiroshima e Nagasaki, o fim da segunda guerra? Pós bomba atômica? Porém, parte da população no mundo todo e, creio, todos os militares, comemoraram o fim da segunda guerra mundial, principalmente o fim do regime Nazista. Exércitos comemoram vitória, isso é notório; apesar de milhões de vidas perdidas. Além do mais, uma guerra(*) desse porte não pode ser comparada a tragédias como uma peste bubônica, por exemplo. Dessa forma, comemoraram, aqueles, sobreviventes ou familiares das vítimas do incidente causado pela má gestão da Vale do Rio Doce, em MG? - outro foda-se à vida esse caso da empresa. Por acaso, fizeram festa quando as barragens pararam de se romper? A atitude do então Governador Witzel comemorando o fim de um sequestro, em que inocentes saíram ilesos, mas o criminoso foi abatido. Depois viu-se que o rapaz não tinha antecedentes nenhum, sofria de um mal psíquico e chegou a um extremo na sua vida e tomou tal atitude. Antes de ter levado oito tiros, poderia ele ter se recuperado com oito sessões de psicoterapia. Comemorar tragédia, ou, vibrar após ela ter se findado, carece reflexão. Porque quem saiu ileso, realmente, quer mais é voltar à rotina. Fodam-se os outros. Porém aquele que perdeu um ente querido… Então, essa pandemia está sendo tão trágica e devastadora quanto qualquer tragédia de outrora. Não há o que relativizar enquanto se subtrai vidas aos milhares por dia.. Muito cuidado com o que se festejar daqui para frente. Não façam que nem o Presidente do Brasil, que, ao questionado sobre o número de mortos, que chegava aos 5 mil - isso no fim de Abril, 2020 -, ele respondeu com um foda-se à vida: “'E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” e disse, dias depois, que ia fazer um churrasco com amigos. Logo, há quem celebre a vida (ou não seria a morte?) numa terra onde jaz milhões de corpos infectados. Tudo bem. Isso vai de cada um. Mas tenho certeza que as famílias de mais 642 mil (contabilizadas até hoje, dia 25/07/20 - no mundo) não têm nada a comemorar e, portanto, partindo desse raciocínio, deveriam, os que permaneceram vivos, se compadecer e procurar, no mínimo, respeitar a dor do luto que se dá em escala global.

(*) Sobre as guerras, estamos falando de algo que é concebido por pessoas. Obra humana. É diferente da evolução natural de um vírus que nos circunvizinha, muitos até estão dentro de nós. A guerra advém da ignorância humana, da ganância, do egoísmo. Já um vírus não tem mão humana. No caso do novo COVID-19, está descartada a geração do mesmo em laboratórios, por exemplo, ou por qualquer outro meio, pior ainda com a finalidade de um genocídio. 

Nesse caso, a pandemia aconteceu! O bicho evoluiu e vitimou a primeira pessoa, depois mais outra, outras e assim se seguiu... O que se fez, parte da população e autoridades, efetivamente, foi ignorar esse fato, que foi sua proliferação violenta. Talvez por burrice, ou má fé mesmo. Vai entender? O exemplo dessa ignorância ocorreu na Itália - consultem as notícias de Março/ Abril, no país em questão. Pois, ao invés de se aprender com a história - epidemias ou pandemias do passado - e se atentar aos avisos do governo chinês, da OMS, preferiu-se olhar para o próprio umbigo e a tratar humanos como objetos de baixo valor. Não só a Itália, não! Foda-se, né?

Voltemos ao contexto aqui do nosso país. Tristemente, percebeu-se, devido aos comentários, entrevistas, as opiniões públicas em geral e sem se esquecer dos textões na internet que muitos foram atacados, justamente, por não olharem bem para as relações entre si e a também para interação com a terra (ou a Terra também). Ignora-se o passado e almeja-se gananciosamente o futuro: o presente acaba inexistindo. Alguns apressadinhos já estão pensando no fim do vírus, como se qualquer remédio desse jeito; como uma dor de cabeça que precisasse de um AAS somente. Muitas outras pessoas, parece, que desdenharam da pandemia. Ou caíram no conto do anticientificismo de grupos políticos partidários ou realmente estão pouco de fodendo para a vida. Com isso, acabam entrando num mundo de aparências, um mundo falso; escapam da realidade e vivem ignorando que, a cada mês, o número de mortos dobra absurdamente. Esquecem-se de que um desses corpos podem acabar sendo deles próprios. O fim último do homo sapiens: um número estatístico. Eis o seu mundo aparente, fictício, porém, de certa forma, real. Paradoxal, mas real.

Ademais, na realidade, o que se quer festejar não é o fim das perdas de vidas num momento pandêmico, mas poder voltar a vida "normal": beber, sair pra “balada”, consumir... Fingir essa comemoração é se desligar da realidade. Acho mais sensato “comemorar” o pior que NÃO aconteceu; ou seja, não comemorar nada. Ficar quieto e meditar. Contudo, caso haja uma necessidade mesma para se festejar, as pessoas vão querer é comemorar a si mesmas. Uma liberdade falsificada, egocentrismo escancarado. Pensam estarem livres e que datas festivas darão à vida, de fato, o que se precisa para viver... Leviandade. Tem gente que abriria mão: uma tulipa de chopp na pressão não apaga algumas horas em um aparelho respirador de oxigênio; uma tonelada de fogos de artifícios não se sobrepõe à potência da explosão que é vida ou ao risco iminente do fim da mesma. 

Festas de fim de ano? Carnaval? Por que não requerer uma pura reflexão do que somos e do que ou de quem perdemos? Por que não passar o Natal, ou Réveillon, nos lares sem celebrações comumente feitas, estando apenas com os queridos, sem smartphones, sem televisão? Por que não? Que tal uma queima de fogos àqueles que se foram, e também àqueles anjos, porém, estranhos aos olhos dos outros, que vivem de branco, azul ou verde fazendo de tudo para que infectados não parem de respirar? 

Não só isso, mas também, que tal um “batuque” à vida? Um “carnaval” para volver o pensamento e a solidariedade aos que sofrem com tudo o que está acontecendo e aos que já vinham sofrendo com essa vida? Se faz um minuto de silêncio. Pergunto: depois de tudo que se passou, apenas um minutinho vai dar conta? Aqueles que se foram e também os profissionais de serviços essenciais - que estão de frente, encarando uma doença fatal todos os dias -, merecem sim uma infinidade de minutos de silêncio. Ao invés de pessoas que cismam em afrontar um vírus mortal sem necessidade alguma e agora querem festejar, por que não uma corrente em prol da vida? Que tal, cantar àqueles que são realidade na vida um do outro? Sair da "aparência", ou seja, daquilo que aparenta ser, realidade distorcida; “vamos de música” aos que são reais, que estão aqui. Por que não ignorar alguns discursos vazios e segregadores por um momento e pensar na vida, nas atitudes que se deva de tomar daqui para frente? Infelizmente, na verdade, lamenta-se não poder comemorar a si mesmo, às futilidades. 

Pois bem, essa pandemia ensinou o quê? Primeiro, que, era algo que não era nem para ter chegado as proporções que se chegou; que se podia evitar com consciência e ações coerentes o avanço do vírus - a começar com os governos e suas medidas, suas políticas públicas que falharam. Embora - penso -, por mais que governos e autoridades agissem seriamente, parte da população ainda beira à consciência e atitude de um verme. Agiriam como tal, até mesmo sob leis, decretos e não duvido muito até contra as forças de segurança pública. O que aconteceu de festinha particular, reuniões clandestinas, aglomerações indevidas, posturas antiéticas e, até criminosas, não foi? Tudo em nome de uma aparente autoridade. Completamente distantes de realidade, do aqui, do agora. Um outro foda-se à vida, de fato um “foda-se você”; ou melhor, “sabe com quem você está falando?”

Em suma, me pergunto se essas atitudes estão sendo tomadas somente porque há um perigo iminente de morte, porque se passa por um processo difícil e inimaginável diante de tanto avanço científico-tecnológico, em pleno século 21, acontecer coisas que só se via nos livros escolares de História Antiga, ou se é por desdém à vida? Quer saber? Preza-se muito aparências, ideais, abstrações, mas não a vida de fato, o concreto, o aqui e agora. Além da falta com o respeito mútuo, essa pandemia veio provar que a vida está abaixo de um monte de camadas absurdas de insignificância. Eu ainda tentei ser ignorante, de certa forma, nesse tempo de pandemia, mas falhei. Queria saber como alguém consegue… Como não se preocupar com a vida do próximo, seja amigo ou parente, inclusive a sua própria? O que acontece é real, não é aparente; não tem como se enganar ou se achar enganado, seja por veículos de comunicação ou fofoca da vizinhança. O vírus é! Está acontecendo, é real. Não é abstrato. Tem-se notas, relatórios, e estatísticas sobre o número de infectados, de óbitos; tanto covas, quanto corpos, fazendo um novo cenário realíssimo hoje; vê-se pessoas relatando perdas, seja amigo de um amigo ou amigo de um parente… Todos morrendo, da mesma forma, mas nada disso sensibiliza. Nem sequer assusta. Realmente, certas pessoas, ou atingiram ao nível “Deus” de sua existência, ou a vida do próximo não vale uma caneca barata de chopp.

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